Discurso durante a 220ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apoio à preservação dos direitos dos investidores na empresa Avestruz Master. Realização, ontem, de sessão solene do Congresso Nacional tratando da violência contra a mulher.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLAÇÃO COMERCIAL. FEMINISMO.:
  • Apoio à preservação dos direitos dos investidores na empresa Avestruz Master. Realização, ontem, de sessão solene do Congresso Nacional tratando da violência contra a mulher.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 10/12/2005 - Página 43680
Assunto
Outros > LEGISLAÇÃO COMERCIAL. FEMINISMO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, EMPENHO, ORGÃO PUBLICO, DEFESA, CONSUMIDOR, PRESERVAÇÃO, DIREITOS, ACIONISTA, SITUAÇÃO, PREJUIZO, MOTIVO, FALENCIA, SUSPEIÇÃO, FRAUDE, EMPRESA AGROINDUSTRIAL, ESTADO DE GOIAS (GO).
  • COMENTARIO, INVESTIGAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO, DEPARTAMENTO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (PROCON), ESTADO DE GOIAS (GO), COMISSÃO DE VALORES MOBILIARIOS, SITUAÇÃO, EMPRESA, ANTERIORIDADE, FALENCIA, ABUSO, FALSIDADE, PROPAGANDA, DESRESPEITO, ACIONISTA, PROMESSA, FACILIDADE, SUPERIORIDADE, LUCRO, OBJETIVO, CAPTAÇÃO, INVESTIMENTO.
  • IMPORTANCIA, SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, COMBATE, VIOLENCIA, MULHER.
  • COMENTARIO, EVOLUÇÃO, FEMINISMO, BRASIL, REGISTRO, EMPENHO, CONGRESSISTA, DEFESA, DIREITOS, MULHER.
  • NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, MULHER, POLITICA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, ELOGIO, CAPACIDADE, DONA DE CASA, GESTÃO, ECONOMIA DOMESTICA.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesta manhã de sexta-feira, quero tratar de dois assuntos que considero da maior importância. Um deles diz respeito ao que aconteceu há algumas semanas e atingiu quarenta mil pessoas por este País afora.

Há algumas semanas, mais um desses acontecimentos inusitados que deixam apreensivos segmentos da sociedade brasileira vem ocorrendo em Goiás. A sede do empreendimento Avestruz Master, em Goiânia, amanheceu um dia com suas portas fechadas, gerando uma comoção que atingiu não apenas os investidores, mas também grande parte da população de vários Estados, que sempre manteve curiosidade a respeito da polêmica empresa. Nem mesmo os funcionários sabiam do fechamento naquele dia. Durante aquele final de semana, órgãos de defesa do consumidor tentaram, sem sucesso, contato com representantes legais do grupo.

O temor central, que dura até hoje, é de que, apesar de todas as medidas judiciais que foram tomadas - e hoje os principais jornais do dia do Estado de Goiás estampam a prisão dos proprietários -, poderemos estar diante de mais uma daquelas falências que deixam no prejuízo milhares de cidadãos que reúnem as suas economias e as aplicam em negócios considerados rentáveis e acabam tristemente ludibriados em sua boa-fé.

Sr. Presidente, a notícia que temos é de que donas-de-casa, lavadeiras, profissionais liberais, médicos, enfim, representantes de todos os segmentos, aplicaram sua economia, e de repente a empresa fechou suas portas e filas enormes se formaram. Eu mesma, em Goiânia, tive oportunidade de assistir ao triste espetáculo da boa-fé de pessoas que, buscando melhor situação de vida, num país que não tem oferecido, a bem da verdade, oportunidades aos cidadãos, que, em desespero, muitas vezes até correndo riscos, são ludibriados.

            Um dos fatos de maior gravidade no caso a Avestruz Master foi a devolução de cheques, cujos valores chegariam a R$6 milhões, o que aumentou a desconfiança dos clientes.

            A Avestruz Master Agrocomercial Importação e Exportação Ltda é um complexo erguido há oito anos, composto por 24 empresas e 30 fazendas. O plantel seria de 38 mil aves, de que tudo se aproveita, a carne, a pele, tudo. O negócio atraiu a atenção de cerca de 40 mil brasileiros, fascinados por investimentos que possibilitariam ganhos de até 11% ao mês. A remuneração poderia chegar a 140% ao ano, o que é inconcebível em qualquer mercado de capitais. Foi essa rentabilidade que gerou as investigações do Ministério Público Federal, do Procon de Goiás e da Comissão dos Valores Mobiliários.

            Uma fonte oficial estima que os prejuízos causados por uma possível falência será superior a R$1 bilhão. O grupo possui 856 empregados diretos e cerca de três mil indiretos. Nenhum órgão de defesa do consumidor soube estimar a quantidade exata de investidores.

            O assessor presidencial da empresa, Jerson Maciel da Silva Júnior, filho do proprietário, garantiu, em entrevista à imprensa, que a Avestruz Master reabriria suas portas para atendimento aos clientes, o que não ocorreu. As dúvidas sobre a saúde financeira do grupo para arcar com seus pesados compromissos só aumentaram desde então.

Diante de tais acontecimentos, Sr. Presidente, quero, através deste comunicado oficial, fazer um apelo aos órgãos federais e estaduais de defesa do consumidor para que realmente dediquem o melhor dos seus esforços no sentido de preservar os legítimos direitos de milhares de cidadãos que temem perder tudo que aplicaram na Avestruz Master. Que os órgãos responsáveis sejam mesmo rigorosos para não permitir, mais uma vez, que o povo brasileiro seja lesado em face de empreendimentos que prometem rios de dinheiro e depois se demonstram incapazes de arcar com os seus compromissos. É preciso dar um basta à especulação e tudo fazer para impedir que milhares de pessoas percam as economias de uma vida inteira.

            Outro assunto, Sr. Presidente, diz respeito à sessão solene pelo combate à violência contra a mulher, celebrada ontem. Foi uma sessão importante, realizada em razão de requerimento da Senadora Serys Slhessarenko, Presidente da Comissão Especial Temporária do Ano Internacional da Mulher Latino-Americana e Caribenha, e que marcou também o encerramento das comemorações deste ano. Contou com a presença do nosso Presidente do Senado, Senador Renan Calheiros, do Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Aldo Rebelo, do Deputado Inocêncio Oliveira, da delegada Jane Barbosa, da Delegacia da Mulher, da reitora do Instituto de Educação Superior de Brasília, Eda Coutinho, e das Embaixadoras das Filipinas, Teresita Barsana, e da África do Sul, Lindiwe Zulu. Várias mulheres se fizeram presentes.

Sr. Presidente, eu gostaria de tecer algumas considerações a respeito. Tive a oportunidade de lá comparecer e de falar naquele momento. Mas o que me chama a atenção - e gostaria de compartilhar com as pessoas, principalmente com as mulheres que nos assistem agora pela TV Senado - é o fato de que avançamos muito em todas as áreas, e temos conseguido, por meio de ações políticas, modificar concepções e cabeças. A mulher tem avançado, tem conquistado espaço na área jurídica, de comunicação, na medicina, nas universidades. Quando comparecemos a um evento de formatura nas universidades, vemos que o número de mulheres que se formam em determinados cursos muitas vezes é bastante superior ao de homens, mostrando que hoje vivemos em uma sociedade que caminha para o reconhecimento dessa parcela tão importante da população que somos nós, mulheres.

Neste exato momento, preside a sessão a Senadora Lúcia Vânia, do meu Estado. Aliás, Goiás é o único Estado que tem duas Senadoras. E gostaria de lembrar de todo o trabalho, de todo o empenho, de reuniões, de mobilizações que realizamos. Eu mesma encerrei em Goiás, na última semana, o 7º Encontro de Mulheres, que percorreu o Estado todo, levando inclusive uma cartilha de esclarecimento sobre o trabalho da mulher.

Buscando essa participação política, chego à conclusão de que a nossa dificuldade e a de todos os setores que abrangem o papel da mulher está exatamente na questão política. Deve haver representação política correspondente aos 54% do eleitorado que nosso segmento representa. Representativamente, somos poucas. Acabei de falar da exceção do Estado de Goiás, do interior do País, que tem duas Senadoras. Nesta Casa, se não me engano, somos dez Senadoras. A Senadora Marina Silva está ocupando o Ministério do Meio Ambiente. Somos minoria no Senado. Na Câmara, há ainda menos Deputadas Federais em relação ao número expressivo de Deputados Federais.

Temos de centrar nossa atividade no sentido de que a mulher perceba que, enquanto não estivermos igualitariamente divididas na mesa de decisões - onde se decide, se vota, se estabelecem as políticas públicas para homens ou mulheres -, estaremos engatinhando e promovendo encontros e falando sempre para platéias femininas. Acredito que chegaremos à condição de igualdade quando, numa platéia em que se discuta a questão da mulher, possamos encará-la, vendo que há um número igual de homens e mulheres. Senão estaremos falando para nós mesmas.

O papel da mulher dentro da política diz respeito à participação dela mais efetivamente. Que não se faça isso apenas ocasionalmente, quando se promovem encontros de mulheres. É necessário que isso seja feito também dentro dos partidos políticos. E chamo a atenção dos partidos políticos para um fato que acontece rotineiramente. Chega a época da eleição e é aquela corrida desenfreada para montar os tais comitês femininos, porque não se faz uma movimentação política realmente qualificada e expressiva se não existir o trabalho das grandes mobilizadoras que são as figuras femininas. E, se nós somos as grandes mobilizadoras, é porque devemos ter discurso para fazer isso, e discurso competente, Senador Cristovam Buarque, a quem concedo, com muito prazer, um aparte neste momento.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senadora Iris de Araújo, como político e mesmo como professor que tem se dedicado muito ao estudo de como transformar este País em uma nação integrada, incorporando as massas de excluídos nos benefícios da modernidade - e isto tenho colocado em trabalhos, até em livros -, digo que uma das coisas que nos falta é uma lógica feminina no exercício da política e da economia, lógica essa referente à urgência. Alguns podem achar que isso de lógica feminina e masculina pode parecer algo preconceituoso; não; até porque entendo que alguns homens têm essa lógica, e algumas mulheres não têm. Essa urgência a mulher aplica no exercício da administração da casa, lugar onde as exigências são muitas e onde ainda estão muitas mulheres. É a solução no dia. Não se pode deixar para o dia seguinte. Os homens, em geral, podem dar um tempo à solução. Quando falta comida em uma casa, o homem vai em busca de um emprego, trabalha um mês, volta para casa, pára no boteco e, com o que sobra, compra comida. E aí já morreu todo mundo. Com a mulher é diferente: se falta comida em casa, naquela noite ela dá um jeito, manda o menino pedir esmola, pede emprestado ao vizinho, faz o que for possível. Essa urgência está faltando na busca de soluções para o Brasil. Continuamos acreditando, nessa lógica que chamo de masculina, que o crescimento econômico, um dia, gerará renda suficiente para erradicar a pobreza. Talvez seja por isso que a Senadora Lúcia Vânia foi a líder do Programa Peti, que é a maneira de tratar com urgência o problema da infância abandonada. Não devemos esperar que o crescimento econômico gere emprego para os pais para haver uma renda e um salário e poderem colocar os filhos na escola. Ao contrário: devemos dar renda aos pais para que o menino possa estudar. Fico feliz ao ouvir o discurso de V. Exª e de ser testemunha aqui de duas Senadoras do Estado de Goiás, que é como se fosse o meu Estado, por ser brasiliense, uma na Presidência e a outra na tribuna. Não poderia deixar de participar.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Senador Cristovam Buarque, agradeço, e falo também em nome da Senadora Lúcia Vânia, pela referência elogiosa que V. Exª faz ao nosso Estado no que diz respeito a essa representatividade.

Gostaria de estender um pouco mais o tema, pegando um gancho do que V. Exª acabou de dizer. Essa lógica feminina tão bem explicada por V. Exª em seu discurso em relação à administração pública e que costumo colocar como “olhar feminino” significa o sentimento feminino e diz respeito a ações políticas que poderiam ser encaminhadas por meio de um trabalho organizado, competente, preparado de todas essas cabeças femininas, que hoje são as grandes economistas do País, como V. Exª acabou de reconhecer, que são as donas-de-casa. Essas mulheres conseguem, a partir de um pequeno salário, transformá-lo em um bem que vai atender à sua criança, à sua família, e nós nem os economistas conseguimos ainda decifrar essa mágica, que não vem da cabeça. O raciocínio dos economistas é apenas da cabeça, e o raciocínio da mulher, da mãe de família é o coração. Muitas vezes, ele não pode ser bem entendido e, pior ainda, aplicado dentro da representatividade pequena que temos na mesa de decisões.

Agradeço a oportunidade do aparte, Senador Cristovam.

Encerro minha fala desejando que ela hoje tenha calado no coração das mulheres. Que as mulheres assumam o seu papel, a sua presença e estejam, dentro dos partidos políticos, não apenas como comandadas, mas como comandantes.

Obrigada.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/12/2005 - Página 43680