Discurso durante a 220ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Transcrição do editorial intitulado "Desatinos verbais", publicado no jornal O Estado de S.Paulo, edição de 9 do corrente.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Transcrição do editorial intitulado "Desatinos verbais", publicado no jornal O Estado de S.Paulo, edição de 9 do corrente.
Publicação
Publicação no DSF de 10/12/2005 - Página 43708
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, CONDUTA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEMONSTRAÇÃO, INCAPACIDADE, DESPREPARO, EXPLICITAÇÃO, PENSAMENTO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a reduzida ou quase nenhuma intimidade do Presidente Lula com a língua portuguesa não seria nenhum impedimento ao exercício efetivo do seu mandato.

O que, ademais, falta ao Presidente, além dessa capacidade para formar frases com sentido, claras e objetivas, é algo fundamental, que ele poderia até tentar superar. Falta-se preparo.

A estrutura administrativa do Palácio do Planalto e do Governo, como um todo, dispõe, por exemplo, de recursos suficientes até para preparar os pronunciamentos do Presidente, com critério, clareza e mesmo sem escapar ao estilo dele, naturalmente com a supressão de rebarbas ou impropriedades, essas impropriedades em que Lula vive tropeçando. Tropeça e tenta justificar, nivelando por baixo a cultura dos brasileiros.

            Esses destampatórios ou desatinos, esses repentes trôpegos, todos desastrados, a Nação já os identifica na exata dimensão. Identifica e se preocupa. E muito. Não queremos um Presidente que se compraz com o chulo.

No editorial de hoje, o jornal O Estado de S. Paulo trata essas manifestações de mau tom como uma espécie de espetáculo de desatinos verbais. E conclui que isso se deve, ao lado do despreparo, ao uso abusivo do palanque exclusivo que lhe confere a sua condição de chefe do Estado brasileiro,.e com isso vai erodindo a sensibilidade da audiência para os seus desatinos verbais e para o que já se chamou, com absoluta propriedade, a quase-lógica dos seus argumentos.

            Nem de longe, estou pretendendo que o Presidente deva ser um erudito, i.é, alguém com muita erudição e que domine, como pré-requisito, o idioma pátrio. 

Nada disso. A inabilidade no uso das palavras poderia ser superada com o sentido que elas viessem a ter. E, no caso, não têm.

O mal de Lula não é só o mau uso da língua portuguesa. É, antes, a predisposição do seu temperamento, fazendo reagir de maneira muito pessoal à sua incapacidade. Ora se fantasia com bonés e jaquetas, ora pensa que deve se confundir com as maneiras que melhor ficariam com os legítimos artistas dos picadeiros. 

O mal que cerca Lula é o mau aconselhamento dos que lhe são próximos e teriam o dever de orientar o Presidente. Já me disseram que ele tem aversão aos livros. E até há quem duvide que ele tenha lido ao menos um livro.

A sugestão que faço aqui quem sabe pode ser dirigida aos auxiliares da intimidade de Lula. Se ele, que tanto fala em se candidatar à reeleição, por que não procura, desde logo, buscar o necessário preparo?

Enquanto isso, Sr. Presidente, anexo a este pronunciamento o editorial de O Estado de S. Paulo de hoje. Para que não digam que não falei de espinhos ou de flores. É bom que constem dos Anais do Senado a opinião do grande jornal, que, sem dúvida, retrata o pensamento dos brasileiros, a todo instante agredidos com uma frase das muitas, despropositadas e do agrado pessoal de Lula

Era o que eu tinha dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do inciso I e § 2º do art. 210 do Regimento Interno.)

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Matéria referida

“Desatinos verbais.”

Sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

“Desatinos verbais”

De tanto que ele se faz ouvir - usando e abusando do palanque exclusivo que lhe confere a sua condição de chefe do Estado brasileiro -, o presidente Lula vai erodindo a sensibilidade da audiência para os seus desatinos verbais e para o que já se chamou, com absoluta propriedade, a quase-lógica dos seus argumentos. Por isso, quem sabe, raros comentários nos jornais de ontem sobre a entrevista presidencial da véspera a emissoras de rádio atentaram para as "barbaridades", como escreveu no Estado o jornalista Rolf Kuntz, que deram o tom e, com perdão da palavra, a substância de suas declarações.

Tome-se, por exemplo, a revelação de que chamou a atenção do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, por ter anunciado o programa de ajuste fiscal de longo prazo "antes de se transformar em política de governo". E, lembrando o velho Chacrinha que não vinha para explicar, mas para confundir, Lula "explicou" a razão do puxão de orelhas, com as seguintes - e antológicas - palavras: "Eu não posso pensar uma coisa e sair falando, eu até posso, mas nenhum ministro pode pensar uma coisa e sair falando... "É um retrato irretocável - longe de ser o primeiro - do seu despreparo total para a função que exerce.

Antes de mais nada, se há alguém no Brasil que efetivamente não pode pensar uma coisa e sair falando é o presidente da República, ou porque se exporá ao ridículo quando pensar bobagem - caso crônico do atual titular do Planalto - ou porque, sendo o primeiro e não o último a falar, perderá a autoridade para arbitrar eventuais divergências na sua equipe a respeito de tais pensamentos. O que conduz ao mérito do episódio específico em má hora relatado por Lula. Ministros não cometem impropriedade alguma quando levam a público não idéias ao léu, mas projetos articulados, já objeto de exame dentro e fora do governo - e rigorosamente da alçada de sua pasta.

Se se tratava de chamar a atenção de um colaborador, pelos motivos alegados por Lula, admoestada deveria ter sido a Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, depois de suas rombudas e intrometidas afirmações a este jornal sobre o caráter supostamente "rudimentar" do plano de que falou Bernardo. Mas isso o presidente não podia fazer porque, a julgar por tudo o que se sabe, não é crível que ela tenha atacado o colega sem a anuência prévia ou o incentivo, mesmo, do chefe deles todos. Aliás, pouco depois da entrevista de Lula, certamente por encomenda sua, Dilma voltou a falar, desta vez como se já tivesse assumido a Pasta da Fazenda.

Mas, voltando à entrevista de quarta-feira, ainda falando de política econômica, Lula informou que a meta das metas é "devolver à sociedade o estado de bem-estar social que ela perdeu nos últimos 25 anos". Saibam os sociólogos e economistas, portanto, que o Brasil era um"estado de bem-estar social"em1980. Ou seja, há um quarto de século, sob o regime militar, o quadro social brasileiro lembrava antes a Escandinávia do que a imaginária "Belíndia" de que falavam os críticos. E saibamos historiadores que era um desinformado o general-presidente que afirmou: "A economia vai bem,mas o povo vai mal."

Em dado momento, fazendo o que mais gosta - se auto-elogiar -, Lula se gabou de ter boa memória. Tão boa, por sinal, que, se ouvisse um dado naquele momento, seria capaz de repeti-lo ao interlocutor daí a 30 anos. Então, se a memória não lhe falta, só pode ser por alheamento que ora situou a taxa de juros oficial em 18%, ora em 19%. Foi preciso que um colaborador pressuroso colocasse diante dele um papel com números bem grandes: 18,5%. Isso, isoladamente, teria escassa ou nenhuma importância. Só que faz parte de um padrão que é uma versão piorada - para um dirigente nacional - do "Livre-pensar é só pensar", o mote do humorista Millôr Fernandes. No caso do presidente, é "Livre-falar é só falar".

Daí, por exemplo, ele dizer, em (tardia) defesa do deputado cassado José Dirceu: "Ora, se a gente não sabe as coisas que acontecem dentro de casa, por que num Estado o ministro tem que saber de tudo que acontece no território nacional?" Ora, ninguém cobrou isso - apenas era óbvio que, no partido do qual continuava a ser o homem forte, ele sabia de tudo que valia a pena saber.O que, nos governos, se espera dos seus dirigentes máximos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/12/2005 - Página 43708