Discurso durante a 224ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre as desilusões do povo brasileiro, com a política exercida pelo PT.

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Reflexão sobre as desilusões do povo brasileiro, com a política exercida pelo PT.
Publicação
Publicação no DSF de 15/12/2005 - Página 44797
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • BALANÇO ANUAL, ATUAÇÃO, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), FRUSTRAÇÃO, POVO, CORRUPÇÃO, PREVISÃO, INSUCESSO, ELEIÇÕES.
  • ANALISE, EVOLUÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IDEOLOGIA, ETICA, CONTRADIÇÃO, CORRUPÇÃO, ACESSO, EXERCICIO, PODER, GRAVIDADE, FALTA, PROGRAMA DE GOVERNO.
  • DETALHAMENTO, CORRUPÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PREFEITURA, ESPECIFICAÇÃO, CRIME, HOMICIDIO, EX PREFEITO, MUNICIPIO, SANTO ANDRE (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), TESTEMUNHA, REGISTRO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
  • PROTESTO, IMPUNIDADE, CRIME DE RESPONSABILIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o ano de 2005, prestes a se encerrar, entrará para a História do Brasil como o ano da desilusão, o ano em que caiu a máscara mais convincente da República: a máscara de guardião da moralidade, que ostentava o PT.

Desde sua fundação, há 25 anos, o Partido dos Trabalhadores fez da ética e da moral a viga-mestra de seu discurso político - um discurso implacável e, muitas vezes, injusto e impiedoso para com os adversários. Firmou, dessa forma, sua imagem perante o eleitorado - imagem de vestal da República -, conquistando-lhe, pouco a pouco, a confiança e a admiração. Satanizando, indistintamente, os adversários, jogando todos na vala comum do descrédito público, cresceu e se fortaleceu, debilitando o conceito das instituições políticas e de seus agentes.

Saiu, dessa forma, das portas das fábricas para a Presidência da República, numa ascensão gradual, de baixo para cima, em trajetória heróica e triunfal, sem precedentes em nossa história.

Era um Partido que se pretendia diferente dos outros, melhor que os outros, detentor do monopólio da virtude e da ética. Tornou-se, pouco a pouco, arrogante, soberbo, moralista.

Nada, porém, como o exercício do poder para repor a verdade. Hoje, após três anos do Governo Lula, o PT, como bem lembrou a Senadora Heloísa Helena, vive situação bem distinta, ironicamente distinta: já não se pretende melhor que os outros, mas luta para provar a si mesmo - e ao País - que é, pelo menos, igual à maioria dos outros Partidos, que ele, PT, antes, execrava.

E o que é pior, Sr. Presidente, não consegue.

O turbilhão de denúncias deflagrado pelo ex-Deputado Roberto Jefferson expôs a face real do Partido dos Trabalhadores. Dispunham de um projeto de poder, mas não de um projeto de governo. Enganou a Nação.

Aparelhou o Estado desde os escalões mais modestos até os superiores. A partir daí, passou a assaltá-lo sistematicamente. As prefeituras municipais, que o PT conquistou gradualmente, serviram-lhe de laboratório.

Lá, no âmbito municipal, ensaiou a rapina que, a partir de 2003, passou a praticar em âmbito federal. Está aí, Sr. Presidente, a emblemática situação de Santo André, com o assassinato de seu prefeito, Celso Daniel.

O que lá ocorreu é em tudo semelhante ao esquema de corrupção que se desvendou em âmbito federal. A diferença está em que, lá, em Santo André, há o cadáver do prefeito. E não apenas o dele, mas diversos outros, que se lhe seguiram, na tentativa de esclarecer o episódio. Nada menos que sete testemunhas estão mortas.

Em outubro, morreu o legista Carlos Delmonte Printes, cujo laudo, atestando torturas ao prefeito, desmontara a versão inicial de latrocínio. Morte estranha, a exigir esclarecimentos. Antes dele, numa seqüência impressionante, foram assassinados:

1. Dionísio Aquino Severo (apontado como seqüestrador de Celso Daniel, morto na prisão três meses após o crime);

2. Sérgio “Orelha” (que abrigou Dionísio em casa após o crime);

3. Otávio Mercier (investigador de polícia, morto por homens que invadiram sua casa);

4. Antonio Palácio de Oliveira (garçom do restaurante Rubayat que atendeu Celso Daniel e seu ex-segurança, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, que ali jantaram antes do crime);

5. Paulo Henrique Brito (única testemunha da morte do garçom);

6. Iran Moraes Redua (agente funerário que reconheceu o corpo de Celso Daniel);

7. E por fim o legista Carlos Delmonte Printes.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todas as mortes relacionam-se ao crime que o Partido dos Trabalhadores insiste em dizer que foi “crime comum”. Não foi. Na CPI dos Bingos, que presido, tenho tido a oportunidade de me aprofundar sobre as circunstâncias daquele sombrio episódio. Não há dúvida de que lá vigorava um esquema semelhante ao do “valerioduto” federal.

Cobrava-se propina, achacavam-se empresários e o Erário - e o apurado com a rapina ia para a caixa do Partido dos Trabalhadores, para dar sustentação a um esquema de poder, um esquema que pretendia se eternizar no poder, a partir de uma megaestrutura econômica.

Os irmãos do falecido Celso Daniel - homens de bem e respeitados em seu ambiente comunitário e profissional - não hesitam em apontar hoje o secretário particular do Presidente Lula, Sr. Gilberto Carvalho, como um dos personagens-chaves desse esquema.

Ele e o Sr. José Dirceu, recém-cassado pela Câmara dos Deputados.

Mas o Presidente Lula diz que não sabia de nada. Diz que foi traído - e não diz os nomes dos traidores. Ora, Sr. Presidente, quem trai o Presidente da República, trai a Nação.

Não se trata de ação de foro privado. A Presidência da República é uma instituição - a mais alta do Estado. Quem a trai deve ser punido - e o Presidente tem o dever de apontar o infrator, sob pena de crime de responsabilidade.

Mas nada disso acontece. O Presidente age como se o assunto estivesse encerrado. Não está. As duas CPIs em atividade - a dos Correios, presidida pelo Senador Delcídio, e a dos Bingos, por mim presidida - tiveram sua vigência prorrogada até abril do próximo ano.

O volume de documentos e de denúncias é considerável e estamos certos de que há ainda muita faxina por fazer - e, não tenham dúvida, será feita. Essa não é uma exigência apenas nossa, da Oposição. É uma exigência da sociedade brasileira, da cidadania.

Cada um desses episódios - e citei apenas Santo André, mas há São Paulo, Campinas, São José dos Campos, entre outros exemplos - gerou desencantos, decepções e desilusões.

Considero, porém, Sr. Presidente, sem deixar de me compadecer da dor do eleitor que votou no PT achando que elegia a causa da ética e da moralidade, que a desilusão é sempre um ganho. Não se pode viver iludido.

Estou certo de que a sociedade brasileira, daqui por diante, será mais cética diante de salvadores da Pátria, dos políticos messiânicos, que prometem o Paraíso, mas acabam entregando o inferno.

Sr. Presidente, o PT era uma vivência incontornável. Tínhamos que passar por ela - e estamos passando. Mas, como sarampo e catapora, só dá uma vez. São múltiplas as lições que o purgatório político nos está transmitindo. Não há fórmulas, Senadora Heloisa Helena, milagrosas.

Um país se constrói com o esforço gradual da sociedade. Quem pretende dividi-la para melhor reinar, como pretende o PT, presta-lhe um desserviço. Monstruoso desserviço.

Concluo, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dizendo que o País sai de 2005 mais maduro, mais ciente e consciente da sua realidade, e mais determinado a não se deixar levar pelo canto da sereia dos demagogos e populistas.

Sr. Presidente, a crise, dolorosa crise, se não nos imuniza de maneira definitiva, pelo menos nos torna menos vulneráveis à pior das fraudes políticas: o populismo. Em 2006, ano de eleições gerais, é hora de a cidadania brasileira dar o troco aos que o iludiram. E que assim seja, Sr. Presidente!

Era o que tinha a dizer!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/12/2005 - Página 44797