Discurso durante a 223ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração ao "Dia do Marinheiro".

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração ao "Dia do Marinheiro".
Publicação
Publicação no DSF de 15/12/2005 - Página 44646
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, MARINHEIRO, COMENTARIO, HISTORIA, PATRONO, MARINHA.
  • ELOGIO, MARINHA, PRESERVAÇÃO, SOBERANIA NACIONAL, RIQUEZAS, DESENVOLVIMENTO, CIENCIA E TECNOLOGIA, PROTEÇÃO, POPULAÇÃO.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Excelentíssimo Sr. Presidente em exercício do Senado Federal, nobre Senador Romeu Tuma; Excelentíssimo Almirante-de-Esquadra Euclides Duncan Janot de Matos, Chefe do Estado Maior da Armada; Excelentíssimo Sr. General-de-Divisão do Exército Brasileiro Rubens Silveira Brochado; Excelentíssimo Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, Chefe do Estado Maior da Aeronáutica; Excelentíssimo Sr. Almirante-de-Esquadra Marcos Augusto Leal de Azevedo, Ministro do Superior Tribunal Militar; Excelentíssimo Sr. Almirante-de-Esquadra Kleber Luciano de Assis, Secretário-Geral da Marinha; Excelentíssimos Srªs e Srs. Senadores - saúdo, de modo especial, a Senadora Iris de Araújo, o Senador Augusto Botelho e o Senador João Alberto Souza; Excelentíssimos Srs. Embaixadores - saúdo-os na pessoa do Sr. Embaixador da Polônia; Excelentíssimos Srs. Oficiais-Generais, Srs. Oficiais-Superiores, Praças, senhoras e senhores.

A Marinha do Brasil escolheu a data de nascimento de Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré, como o Dia do Marinheiro. Joaquim nasceu em 13 de dezembro de 1807. Tinha pouco mais de um mês de vida quando, no dia 22 de janeiro de 1808, Dom João VI, com a Família Real e sua Corte, sob a proteção da Esquadra Portuguesa, desembarcou no Brasil, transferindo para aqui a capital do Reino. Cessado o perigo oferecido por Napoleão à Europa, Dom João VI retorna a Lisboa e pouco depois é proclamada a Independência do Brasil.

Na luta que se seguiu com as forças portuguesas, Dom Pedro I inicia a organização da Marinha do Brasil, e Joaquim Marques Lisboa, com quinze anos de idade, ingressa como praticante de piloto na fragata Niterói, sob o comando de João Taylor, ex-oficial da Marinha Britânica, entre muitos outros recrutados pelo Imperador Dom Pedro I.

O futuro Marquês de Tamandaré tem seu batismo de fogo na Guerra da Independência, na luta contra o General Inácio Luís Madeira de Melo, na Bahia, e na perseguição da Esquadra Portuguesa até a foz do rio Tejo. A Marinha do Brasil nasceu, portanto, junto com o Brasil independente e já com a participação, em seus quadros, de seu futuro patrono.

Tamandaré consagrou-se, na História do Brasil graças à sua bravura nas sangrentas batalhas de Riachuelo, Humaitá, Uruguaiana, Curuçu e Curupaiti, integrando as forças da Tríplice Aliança.

Faleceu em 1897, como Ministro do Superior Tribunal Militar.

Sua vida, como foi lembrado, começou pouco antes da Proclamação da Independência e terminou logo após a Proclamação da República. Viveu, assim, no período em que mais poderia ter colaborado para a consolidação da nação e o fez com rara dedicação, bravura, lealdade e disciplina.

Junto com a nação brasileira, também a Marinha cresceu e consolidou-se como força armada e como guardiã da integridade da Pátria, contribuindo para sua integração interna e manutenção da ordem.

Pernambuco, meu Estado, teve origem a partir de um porto, e nasci, portanto, no Recife, em uma cidade portuária. Talássico, criei-me, portanto, admirando e respeitando a Marinha. Nas diferentes funções públicas que exerci, tenho podido avaliar a importância da Marinha em diferentes aspectos e não apenas no campo estritamente militar, conforme dispõe a Constituição.

É, portanto, com orgulho e satisfação, que hoje participo desta homenagem à instituição. Poderia fazê-lo, referindo-me à participação da Marinha, seja na Guerra da Tríplice Aliança, seja nos dois grandes conflitos mundiais do século passado - o que já seria suficiente -, mas prefiro enfocar os aspectos da ação da Marinha voltados para a integração nacional, a defesa do meio ambiente, a pesquisa científica e o cotidiano da paz, que corresponde à nossa vocação comprovada pelos compromissos e posturas internacionais do Brasil e pela forma com que nos relacionamos com nossos vizinhos continentais, em plena harmonia, sem nenhum conflito. É bom lembrar por oportuno sem nenhum conflito desde há mais de 135 anos, a Guerra do Paraguai.

Nas ações em tempo de paz, infelizmente nem sempre se confere a necessária importância a essas ações, não podemos deixar de reconhecer o papel da Marinha. Como aqui foi dito, quando falamos em nosso País, pensamos em um território com mais de 8,5 milhões quilômetros quadrados, cuja área se entende desde os muitos quilômetros de fronteiras terrestres até os muitos quilômetros de litoral.

E nos esquecemos, muitas vezes, do território que começa aí e se estende por baixo do Atlântico, terrenos e águas sobre os quais temos plena autonomia ou direitos, reconhecidos pela ONU, nos termos da Convenção das Nações Unidas, sobre os Direitos do Mar.

Esses domínios são depositários de grandes riquezas ainda pouco exploradas e, na maior parte ainda, infelizmente, desconhecidas. Correspondendo ao mar territorial, à zona contígua e à zona econômica exclusiva, temos cerca de 3,5 milhões de quilômetros quadrados, extensíveis de mais de 900 mil referentes à plataforma continental, superfície equivalente a mais da metade do território nacional, com imensas riquezas naturais, em grande parte desconhecidas e inexploradas.

Temos aí grandes reservas de petróleo e gás natural, enriquecidas pela tecnologia da Petrobras de operação em águas profundas, na qual o Brasil é líder mundial. Há, também, enormes jazidas de minérios e uma flora e fauna só comparáveis aos recursos da biodiversidade da Amazônia.

Vemos, assim, nossa Marinha participando da integração em todo o território nacional, nas suas bacias fluviais, em particular na Amazônia, atendendo nossa população em locais somente alcançáveis pelos rios e, no mar, numa área equivalente a meio Brasil no terreno firme. Daí a necessidade de uma Marinha bem equipada e treinada, com recursos financeiros que lhe dêem o suporte adequado a suas múltiplas e estratégicas atividades.

Sr. Presidente, Exmºs Srs. Convidados, Srªs e Srs. Senadores, permitam-me agora fazer uma breve referência a projetos especiais afetos à Marinha. Geralmente quando se analisa o papel das Forças Armadas, sempre se enfatiza - é natural - aquilo que está expressamente consignado na Constituição. Mas algo que nem sempre é reconhecido é o papel que as Forças Armadas desempenham no campo da ação social e também - faço questão de frisar este item -, no campo do nosso desenvolvimento científico e tecnológico. Houve um grande pensador político, falecido no início deste ano, que foi talvez um dos melhores formuladores no campo da ciência política do século passado que disse que o mundo já se dividiu entre fortes e fracos, ricos e pobres e que agora o mundo se dividirá entre aqueles que sabem e os que não sabem.

Com isso, Norberto Bobbio, pensador a que me refiro, queria chamar a atenção para a importância da ciência e da tecnologia. E, sob esse aspecto, não podemos deixar de reconhecer o notável papel que as Forças Armadas desempenham nesse campo, muitas vezes, sem o destaque que deveria ser dado.

Além da destinação legal de defesa da Pátria, de garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem, as Forças Armadas, de um modo geral, e a Marinha, em particular, desenvolvem outras ações derivadas e imprescindíveis, entre elas, friso, mais uma vez, a de pesquisa científica nos campos vinculados, com uso eficiente de seus meios, visando ao cumprimento de suas finalidades constitucionais, atividades de ensino, treinamento, atividades culturais e, como se salientou aqui pela palavra dos oradores que me antecederam, atividades assistenciais junto à população.

Gostaria de, além de a missão de paz no Haiti, de que a Marinha participa, através da Brigada Haiti, um Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais, mencionar também outras missões que a Marinha desenvolve ou desenvolveu. No campo assistencial e social, destacaria o Projeto Rondon, com participação, de modo particular, na Amazônia, com navios-patrulhas fluviais, helicópteros e por meio de assistência hospitalar; patrulha naval, anteriormente designada de patrulha costeira, que tem a finalidade de implementar e fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos de nossas águas jurisdicionais na plataforma continental brasileira e no alto mar, em respeito aos tratados e convenções e atos internacionais ratificados pelo Brasil.

O Serviço de Busca e Salvamento da Marinha, o Salvamar, tem a missão de prover ações de salvamento de pessoas em perigo no mar e nos rios, nas áreas marítimas ou fluviais de responsabilidade brasileira. O serviço inclui também operações de socorro e salvamento nas hidrovias da Amazônia Ocidental prestado pela Marinha do Brasil. Esse é um serviço que tem reconhecimento mundial.

Análises e previsões meteorológicas de produção e divulgação para a área marítima de responsabilidade do Brasil a fim de atender os compromissos assumidos pelo País perante a comunidade marítima como integrante da Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar. O Programa Antártico Brasileiro, Proantar, em função do Tratado de Antártida, o Brasil trabalha com outras nações que se comprometeram a ocupar o Continente Antártico apenas para fins pacíficos e através de cooperação internacional para o desenvolvimento das pesquisas científicas. Nesse programa, a Marinha do Brasil tem fundamental responsabilidade logística e científica, em parceria com outras instituições nacionais. Sob a responsabilidade da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, além da Marinha, integram a equipe brasileira: o Ministério de Ciência e Tecnologia, por meio do CNPq, e a Universidade de São Paulo, a USP, além de outras instituições.

Por fim, entre muitas ações que a Marinha desenvolve no campo assistencial, no campo educacional e, de modo particular, no científico e tecnológico, me referiria ao Projeto Aramar. Sei que esse projeto, ali e acolá, desperta alguma polêmica, como, aliás, todos os projetos que dizem respeito à utilização da energia nuclear.

Desde muito cedo, entendi que essa é uma área que não devíamos ignorar. Pelo contrário, deveríamos investir nas pesquisas nesse campo e, mais do que isso, buscar promover o desenvolvimento científico e tecnológico nesse campo.

Tive já oportunidade de visitar o Projeto Aramar, o trabalho de pesquisa no campo da física nuclear, em parceria com outras instituições científicas, visando ao emprego da energia nuclear para fins pacíficos e o aproveitamento das nossas jazidas de urânio, talvez, as maiores do mundo.

Acredito que esse projeto, que, aliás, não tem andado, até por falta de recursos, com a velocidade necessária, é muito importante para o País que possamos nos desenvolver sob o ponto de vista científico e tecnológico, intercambiar experiências e aumentar a nossa inserção na sociedade internacional. O Brasil precisa exercitar o seu papel, nestes tempos, de mundialização em que vive o planeta. Essa parece ser a fronteira que devemos ultrapassar para realizar o sonho de termos a Nação com a qual sonhamos, de realizarmos aquilo que o Hino Nacional diz: “o nosso sonho intenso”. E acredito que é fundamental, nessa área, investir mais em ciência e tecnologia e reconhecer, como aqui foi dito pelo Senador Romeu Tuma, o papel que as Forças Armadas desempenham nesse campo e, especificamente - já que falo sobre a Marinha -, o papel que a Marinha desenvolve no que diz respeito ao desenvolvimento científico e tecnológico do País. Faço questão de enfatizar, o Projeto Aramar e assim estaremos reconhecendo a importância desse setor.

Stefan Zweig escreveu uma obra que era leitura obrigatória na minha geração - e isso já faz muito tempo -, chamada Brasil, País do Futuro. A sociedade brasileira sempre se pergunta quando esse futuro se torna presente, quando o futuro começa a habitar dentro de nós. Na realidade, podemos dizer que esse futuro, para que seja devidamente viabilizado e transformado em realidade, passa pelo processo de se investir cada vez mais em ciência, tecnologia, pesquisa e inovação. Obviamente, tendo como pressuposto uma grande prioridade na Educação.

Sr. Presidente, sem querer me prolongar em considerações, gostaria de me congratular com a Instituição que tem Tamandaré como patrono, Marcílio Dias como ícone, nos dois extremos da hierarquia da Força, e o altivo e sereno cisne branco deslizando em nossas águas como símbolo para mostrar que nossas armas estão a serviço da paz e de nossa soberania. O momento serve para refletir sobre a questão do reaparelhamento da Marinha do Brasil - aliás, objeto de uma observação do Senador Tião Viana, que, como Vice-Presidente do Senado Federal, abriu esta sessão e, a esse ponto, se referiu em seu lúcido pronunciamento. Isso é fundamental para que a Marinha possa cumprir as missões que lhe estão afetas. Essa preocupação também, é óbvio que se precisa dizer, se estende às demais Forças: o Exército e a Aeronáutica.

No caso específico da Marinha, urge que o Governo Federal conclua os estudos sobre o Programa de Reaparelhamento da Marinha (2006 - 2025), que se destina prioritariamente a repor os diversos navios que foram desincorporados ao longo dos últimos anos, bem como aqueles que, a curto ou médio prazo, também terão que ser retirados do serviço ativo devido ao elevado grau de obsolescência ou longo tempo de operação que atingirão.

A execução desse programa, além de viabilizar a eficiência operacional da Marinha, certamente produzirá reflexos positivos para a economia nacional, estimulando um sem-número de setores da cadeia produtiva associada à indústria marítima. Os dispêndios com o programa deverão ser compensados pela salvaguarda do imenso patrimônio que temos no mar sob nossa soberania ou jurisdição.

Encerro minhas palavras cumprimentando, mais uma vez, a Marinha, aqui representada pelo Exmo Sr. Almirante de Esquadra Euclides Duncan Janot de Matos, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, tendo em vista o fato de o Sr. Comandante da Marinha se encontrar neste momento em outra dependência do Senado Federal, expondo na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional as questões relativas às Forças Armadas Brasileiras.

Rendo homenagens à Marinha pela passagem de data tão significativa ontem transcorrida e desejo votos de continuado êxito em sua missão, que tantos e reconhecidos serviços tem prestado ao País e a suas instituições. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Muito obrigado, Senador Marco Maciel.

Concedo a palavra, como Líder do PMDB e da Maioria, ao ilustre Senador Ney Suassuna.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente Senador Romeu Tuma, Exmº Sr. Almirante-de-Esquadra Chefe do Estado-Maior da Armada Euclides Duncan Janot de Matos; Exmº Sr. General-de-Divisão Rubens Silveira Brochado, Exmº Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica Juniti Saito, Diplomatas, Senadores, senhores militares, demais cidadãos, o mar, a mais ampla cobertura da superfície do Planeta; o mar, manancial inesgotável de vida, de riquezas inimagináveis; o mar, ainda hoje, desafio para o ser humano em pleno século XXI, monotonia majestosa, esconde tantos segredos a desvendar. O mar é o espaço do marinheiro; é o seu destino. Se a vida nos diz: “A ciência veio do mar”, o marinheiro sente a compulsão de voltar à origem, de reinventar a vida individual e coletiva a partir do mar.

Pelos caminhos do mar que se abrem e apagam com rapidez, os marinheiros portugueses descortinaram nosso País, tiveram fundamental desempenho na sua construção. Navios trouxeram pessoas de outros continentes para as terras brasileiras, levaram pau-brasil, açúcar, pedras e metais preciosos, café; trouxeram bens diversificados, materiais e culturas da Europa, da Ásia e da África. No processo tantas vezes violento e desumano da colonização, uma Nação foi sendo forjada.

Desde o início, Sr. Presidente, senhoras e senhores, os interesses de outras nações européias voltaram-se para riquezas que se sabiam nas terras brasileiras por meio do mar e procuraram apossar-se delas.

A Marinha da metrópole portuguesa teve importante papel para ajudar a garantir, ao longo de alguns séculos, a unidade do nosso vasto território. Mas a Marinha do Brasil nasce verdadeiramente, Srªs e Srs. Senadores, nas lutas da independência contra a mesma metrópole. Nessas lutas, um marinheiro se destaca por sua bravura e dedicação à causa patriótica: Joaquim Marques Lisboa. Entra como voluntário na esquadra brasileira comandada pelo Almirante Lord Cochrane, enfrentando a esquadra portuguesa no mar da Bahia e depois nas amplidões do Oceano Atlântico. Ali, na fragata Niterói, passa pelo seu batismo de fogo e marca com a medalha recebida por D. Pedro I o início de uma gloriosa carreira militar.

Depois de atuar na Guerra Cisplatina, livrando-se em fuga espetacular da prisão inimiga e de combater várias reformas internas, Joaquim Lisboa, já tendo recebido o título de Barão de Tamandaré, é nomeado Comandante-Chefe das Forças Navais no rio da Prata, obtendo, nessa condição, memoráveis vitórias na campanha oriental e na penosa Guerra do Paraguai.

Alçado ao posto de Almirante em 1867, feito Marquês no último ano do Império brasileiro, Tamandaré reúne em si todos os atributos do líder incontestável em vulto glorioso da Marinha, razões pelas quais sua data de nascimento, 13 de dezembro, será consagrada, como o foi, como o Dia do Marinheiro.

Além do Marquês de Tamandaré, Patrono da Marinha brasileira, são muitos os marinheiros que se destacaram pela bravura em defesa da pátria, particularmente em nosso maior conflito bélico. Basta aqui citarmos dois deles: o indômito Almirante Barroso e o heróico Marcílio Dias. Seu corajoso exemplo inspira cada um de nós e cada um dos nossos marinheiros que aprenderam a amar a paz e a garanti-la pelo preparo permanente e pelo destemor do combate.

Referimo-nos, Sr. Presidente a essa vinculação entre o mar e o marinheiro, entre Marinha e o mar.

Dizíamos da importância do mar para a ocupação do nosso território, por meio do qual se foi conformando a Nação. Hoje, a Nação plenamente constituída precisa debruçar-se sobre o mar em sua volta, precisa conhecer as riquezas do mar e saber explorá-las tanto como saber defendê-las.

Garantir a posse da terra pátria é preciso fazer ao mesmo tempo em que se faz com o mar que, de direito, nos pertence.

Longe de estarmos num tempo em que o País podia se conformar com o domínio de uma faixa de mar que se estendia por um tiro de canhão, hoje e desde os finais dos anos de 1950, passaram a ser discutidos no âmbito da Organização das Nações Unidas os direitos dos países litorâneos sobre o mar que os cerca.

Sentíamos, nessa época, que deveríamos proteger-nos das ações dos pesqueiros estrangeiros na faixa brasileira da Plataforma Continental. O Brasil antecipou-se à vigência da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar para declarar como seu o mar territorial de 200 milhas a partir da nossa costa. Isso ainda no início dos anos 70.

Hoje, adotada há mais de duas décadas a Convenção da ONU, lutamos por mais amplos direitos. A própria Convenção sobre o Direito do Mar abriu a possibilidade a que os Estados costeiros reivindicassem um prolongamento de 150 milhas para além das 200 milhas da zona economicamente exclusiva.

Essa faixa a que se prolonga o país costeiro detém o direito exclusivo de exploração do solo e subsolos marinhos, mas não de recursos vivos daquelas águas. Essa considerável ampliação, de qualquer modo, abriria perspectivas ainda mais fabulosas de benefícios econômicos para o nosso País. Se for acatada a proposta apresentada à Comissão dos limites da ONU, esse será o nosso limite.

Um resultado favorável a todas as pretensões brasileiras que se esperam deve ser conhecido no próximo ano e representaria a incorporação da jurisdição nacional de uma área de cerca de 900 mil quilômetros quadrados. A área total, já dizia aqui o Senador Marco Maciel, cresceria para 4 milhões e 400 mil quilômetros quadrados, metade do território nacional. Teríamos dessa forma, Sr. Presidente, sobre as águas, uma área equivalente a Amazônia, uma Amazônia azul, como tem a ela se referido a nossa Marinha.

Se são imensas as perspectivas de exploração econômica que se abrem, aumenta também a nossa responsabilidade de defender aqueles recursos e utilizá-los de maneira eficiente e harmoniosa com o meio ambiente aquático.

As tarefas que se abrem para a Marinha brasileira e seus correspondentes desafios alargam-se junto com o nosso mar. Com a bravura dos nossos marinheiros, com o preparo cada vez mais exigente que eles recebem, bem como a lucidez dos seus comandantes, podemos contar, tenho certeza, que venham boas novas sempre para o Brasil oriundas desta faixa.

Tive a honra, Sr. Presidente, Srs. Senadores e todos os demais, de ir a Antártida com a Marinha e vi a importância da pesquisa, a importância de estarmos lá junto a um elenco de nações que estão lutando para descobrir cada vez mais novidades, inclusive - isso é muito importante - para a determinação do clima que temos no Brasil e no mundo, que está apresentando um clima mutante.

Estive na Amazônia e vi o papel da Marinha naquela região.

Já tive até um certo temor em relação ao despreparo das nossas Forças Armadas frente a outras nações do próprio continente. Estive na Argentina na época da guerra das Malvinas, onde vi a Marinha armada com exoset, quando a nossa não tinha isso. Não estávamos com esse poder, e eles tinham um poder muito maior do que o nosso. Nós nem sabíamos que a guerra havia sido deflagrada. Graças a Deus, hoje, a Marinha e o País estão se preocupando com o poder nacional. E ai de um país que não cuida do seu poder nacional. Os nossos militares, muitas vezes, por não estarmos em conflito permanente, ou nunca estarmos em conflito, ficam um pouco esquecidos. Mas ai do país que faz isso. Não me conformo em ver que, embora a lei nos permita 35 mil militares, não temos na Marinha mais do que 32 mil. E, hoje, cerca de oito mil civis que trabalham na Marinha têm o seu contingente para cuidar de uma infinidade de espaço e para defender toda a nossa costa.

E quando se refere a recursos, a revolta minha é um pouco maior. Já duas vezes fui o relator aqui de verbas para a Marinha, junto ao banco tal, dinheiro de nação tal. O dinheiro é aprovado, mas não é internalizado, e as defesas de que precisamos não saem. Precisamos de fragata, precisamos de mais submarinos, precisamos de nos impor a um mundo que por hora, na nossa banda, parece pacífico, mas tormentas vão surgindo. Uma hora é na Colômbia, outra hora é na Venezuela, outra hora ali, outra hora é acolá. E ai do país que for apanhado de surpresa; ai do país que não fabricar os elementos de que precisa para sua defesa.

Vimos, quando do conflito da Argentina, o que aconteceu com quem precisava de dependência externa. O que aconteceu? Os fornecedores não chegaram, e, de repente, não adiantava, não havia mais os armamentos necessários para a sua defesa, embora tivessem iniciado.

Tenho, todo o ano, brigado, juntamente com um grupo de Senadores, por emendas para a nossa Marinha, porque o orçamento sempre é menor do que gostaríamos. E não se trata só da Marinha. Aqui tenho falado, dependendo da ocasião, que não me conformo de ver um piloto descer do avião, onde recebe um treinamento caro, e ter que enfrentar um subemprego, às vezes até de motorista de táxi. Isso não é diferente para um oficial do Exército, isso não é diferente para um oficial da Marinha. Mas na Marinha, além de todos os problemas que estão vivendo, ainda há a beleza dessa farda branca. Hoje mesmo, vi um falar para outro que lhe botou a mão na farda: “Não ponha a mão no meu branco”. E a gente sabe o quanto é difícil manter a fleuma dessa uniforme tão bonito, mas tão difícil. Fico imaginando o trabalho que as mulheres dos marinheiros e dos oficiais têm para mantê-los impecáveis, todos tão bem-cuidados, nesse uniforme tão bonito e tão garboso.

Assim, precisamos ter mais cuidado, mais amor à primeira Arma que nós tivemos. Com certeza, se não estivermos dando à Marinha as verbas necessárias, não teremos a pesquisa da Antártida, não teremos a pesquisa atômica, em que a Marinha está muito bem-entrosada e sempre à frente.Tenho certeza de que, cada vez mais, vamos nos convencer disso.

Convoco mais colegas para que lutemos não só com as emendas lá nas Comissões, mas também no Orçamento. Eu vou estar lutando por isso no Orçamento, porque todo dinheiro ainda é pouco para quem tem uma missão tão grande e tão gloriosa como defender as costas brasileiras.

            Viva a Marinha! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/12/2005 - Página 44646