Discurso durante a 222ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação em defesa da recriação da Sudene e destaque de sua importância para o desenvolvimento da Região Nordeste.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Manifestação em defesa da recriação da Sudene e destaque de sua importância para o desenvolvimento da Região Nordeste.
Aparteantes
Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2005 - Página 44133
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, HOMENAGEM, CENTENARIO, POLICIA CIVIL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • REGISTRO, HISTORIA, CRIAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), PERIODO, GOVERNO, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, TENTATIVA, REDUÇÃO, DESIGUALDADE REGIONAL, POBREZA, REGIÃO NORDESTE.
  • DESCRIÇÃO, TRABALHO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), BENEFICIO, REGIÃO NORDESTE, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), CONTESTAÇÃO, DECISÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXTINÇÃO, ORGÃO PUBLICO, ALEGAÇÕES, CORRUPÇÃO, EMPRESARIO, POLITICO.
  • PROTESTO, GOVERNO FEDERAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, ABERTURA, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Papaléo Paes, que preside esta sessão, Senadoras e Senadores aqui presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e aqueles que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Romeu Tuma, meus cumprimentos pelo aniversário da Polícia Civil, que completa hoje 100 anos no Estado de São Paulo.

V. Exª traduzia a grandeza da nossa Pátria quando dizia que os governadores eram presidentes. O Brasil se lembra quando Getulio Vargas chegou à Presidência da República, no ano de 1930, pela Revolução, substituindo Washington Luís. Ele ia para as solenidades, levantava-se e dizia: “Presidente do Brasil”! E Olegário Maciel, de Minas, dizia: “Olegário Maciel, Presidente de Minas”.

Ainda bem que Olegário Maciel, que estava velho, morreu em pouco tempo, e Getúlio introduziu Benedito Valadares, que nos trouxe Juscelino Kubitscheck. Tudo isso para chegar onde estamos, Senador Heráclito.

Juscelino Kubitscheck, a mocidade! Na minha infância, ouvi de Bilac: “Criança, não verás nenhum País como este!” Que tristeza nenhum poeta poder dizer isso nos tempos de Lula! Juscelino dizia que era melhor ser otimista, porque o otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errando.

Mas, Senador Romeu Tuma, Juscelino pensou em um tripé. Colocou no Sul, Senador Papaléo - ele, médico como nós -, a beleza das indústrias automobilística e de aeronaves, de que o Heráclito tanto gosta - a Embraer. Colocou Brasília no centro, para interiorizar o Brasil, que era somente São Paulo e Rio de Janeiro; e colocou, Senador Heráclito, lá no nosso Nordeste, atentai bem, a Sudene. Formou, assim, o tripé, Senador Suplicy, para ter segurança: pólo industrial no Sul, Brasília no centro, para integrar o interior, e a Sudene no Nordeste, para tirar a desigualdade, a grande diferença.

Como diz a Bíblia, a casa dividida é facilmente derrubada. Não pode ser metade rica e metade pobre. Abraham Lincoln dizia, Senador Romeu Tuma: “Este país não pode ser metade livre e metade escravo”. Para Juscelino, este País não poderia ser metade rico, no Sul, e metade pobre, no Nordeste. Por isso buscou um dos maiores gênios da Sociologia e da Economia, Celso Furtado, para criar a Sudene e acabar com a desigualdade.

Nesse período de Sudene, o Nordeste avançou.

Apenas no meu Piauí, Senador Romeu Tuma, lembro-me de que consegui apoio para que houvesse energia no Sul do Estado, no cerrado, para a plantação de soja. No auditório da Sudene, interrompi a oratória do Presidente Fernando Henrique, interpelei-o, e ele liberou a eletrificação para o cerrado, onde hoje se tem uma das maiores produções de grãos, a qual cresceu de 10 mil para 400 mil toneladas no meu Governo. Houve a instalação da Bunge, uma multinacional que beneficia a soja. O apoio e os recursos do Finor para a implantação de indústrias de cerveja, jeans, castanhas e óleo; conclusão das fábricas de cimento e bicicleta, que arrecadam ICMS para o nosso Estado; e recursos do Orçamento e plano diretor do Finor para a Usina de Boa Esperança, Senador Heráclito - Boa Esperança de Milton Campos -, que nos trouxe energia. A Sudene ajudou a Cepisa e a Agespisa, e conseguiu recursos para a construção do dique de proteção do rio Igaraçu, em Parnaíba, salvando a cidade das enchentes. Na Prefeitura estava o irmão de Alberto Silva, que era Governador do Estado. Parnaíba era como a Holanda e como Veneza: entravam as águas e fazíamos até jangadas com bananeiras. Seu dique de proteção foi a Sudene que propiciou. Houve apoio ao turismo e recursos para hotéis, como os do rio Poty e o Atalaia, iniciados por Alberto Silva e concluídos no meu Governo, bem como para o artesanato e as microempresas, via CEAGs, transformadas em Sebrae. Atendeu todas as emergências de secas e enchentes para a população mais pobre do Estado, diminuindo suas aflições, levando água, cesta-básica e apoio na hora crítica.

Pois essa Sudene foi extinta. Esse foi o pecado maior de Fernando Henrique Cardoso. Alegaram corrupção, mas na Sudam. Na Sudene, eu não vou dizer que havia, mas, Senador Romeu Tuma, eu li.

Senador Heráclito Fortes, na hora aplicaram Sun Tzu: dividir para destruir - A Arte da Guerra. No Conselho, estávamos eu, do Piauí, o Senador Tasso, Governador, do Ceará, e Jarbas. Aí, percebi que estavam aplicando Sun Tzu. O Conselho reagiu e pediu alguns dias para estudarmos as soluções, mas a truculência do Presidente e do seu Ministro da época fechou-a. Nós tombamos juntos - Tasso Jereissati, eu e o Jarbas.

Eu li o relatório, Senador Romeu Tuma, que o Heráclito deve conhecer, feito por um Deputado do PT. Olha que ele acusava de corrupção muitos empresários e muitos e muitos políticos. Digo que o meu nome era dos poucos que não estavam lá, Senador Papaléo, porque eu era médico de Santa Casa, mas que eu vi, vi. No entanto, Senador Tuma, não havia nenhuma acusação aos funcionários, servidores e técnicos que fizeram a grandeza do sonho de Juscelino e Celso Furtado. Os acusados eram empresários e políticos. Nenhum deles está na cadeia; todos eles riem e querem até abafar o assunto. Querem acabar para começar outra, para esquecer tudo. Atentai bem, Senador Heráclito, o que está por trás disso.

Entendo que houve muitos avanços. Aliás, Lula erra mais uma vez. Lula, lá do Nordeste, de Caetés, onde não há água, durante a campanha disse que iria reconstruir, reinaugurar e refazer a Sudene. Ele deveria ter feito como Cristo diante de Lázaro. Disseram-lhe: “Não adianta mais, Cristo. Há três dias o seu amigo está morto. Está putrefeito, não tem jeito”. Ele disse: “Levanta-te, Lázaro.”. Lula deveria ter dito: “Levante-te, Sudene.”, com uma medida provisória. Ele não mandou, desgraçadamente, quase 300 medidas provisórias para cá? Com mais uma, ela teria renascido a Sudene.

Entendo que a Câmara e o Senado avançaram muito. Nenhuma inteligência é melhor que a de Antonio Carlos Magalhães e a de Tasso, mas há um erro contra a honra dos que lá serviram. Heráclito Fortes, há um erro contra Juscelino, seu criador, Celso Furtado e os homens do seu Conselho: João Agripino, Virgílio Távora, Luiz Viana Filho, Nilo Coelho, Tancredo Neves, João Gonçalves de Souza, Rubens Vaz da Costa, General Euler Bentes Monteiro, General Nilton Moreira Rodrigues, Valfrido Salmito Filho, Paulo Ganem Souto, José Reinaldo Tavares, Cássio Cunha Lima e dezenas e dezenas de brasileiros.

Seria como falar da Polícia Federal... Pode ter havido alguma coisa lá, mas vamos salvaguardar as dezenas de “Romeus Tumas”. Arrastaram centenas de idealistas porque alguém procedeu mal. Por algum escândalo, perde-se toda a história e toda a dignidade. É hora de repararmos a vaidade e dizermos que ninguém é Deus.

Façamos uma emenda, hoje, colocando “reinstituir” no lugar de “instituir”, para salvaguardar a história de Juscelino, Celso Furtado e todos os que fizeram essa grandeza.

Concedo o aparte ao Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Sr. Presidente, apenas um segundo, porque sei que o tempo se esgotou. Quero cumprimentá-lo, Senador Mão Santa, que tão bem representa o Piauí, fazendo com que todos os brasileiros admirem o seu Estado. Com dignidade, responsabilidade e carinho, V. Exª traz não somente para o seu Estado a luta para que se melhore a situação dos menos favorecidos. Hoje, vê-se que V. Exª preserva a imagem do grande brasileiro Juscelino Kubitscheck, buscando restabelecer a verdade a respeito da Sudene, que, infelizmente, foi apagada. Digo isso como paulista, porque muitos empresários paulistas investiram, por meio da Sudene, nos programas de benefício fiscal. Preocupa-me, Senador, se me permitir - e esse foi o protesto que sempre fiz -, o fato de que, quando há incidência de crime, os governantes preferem extinguir, com o objetivo de fazer com que deixe de ser crime “meter a mão onde não devia”, quando deveriam, sem dúvida alguma, apurar e responsabilizar aqueles que fraudaram qualquer processo na Sudene. Os governantes nunca deveriam ter acabado com a Sudene com o argumento de que havia corrupção; isso traz, sem dúvida alguma, falta de coragem para enfrentar a situação. Não me refiro ao Presidente, não, mas a muitas outras questões. Hoje querem liberar a droga e tantas outras coisas, porque assim não se pratica o crime de corrupção. Pelo amor de Deus! Ajudem-nos, como o faz V. Exª, a vencer a criminalidade, a colocar na cadeia os responsáveis, em vez de se acabar com o crime, deixando os criminosos soltos, gozando de toda a liberdade!

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Penso que somente uma discussão imparcial séria e mais profunda, provocada por V. Exª, poderá ensejar a que V. Exªs se apercebam que essa discussão...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Para encerrar, Sr. Presidente, quero dizer que esta discussão deverá recomeçar pelo Amapá com a Sudam. Inclusive sugeri a V. Exª participar da denúncia de que brasileiros do Amapá estão sendo cobaias no uso de medicamentos. Então, V. Exª está sendo chamado para essa luta, que antecede à da Sudam, que pertence a V. Exª.

Apercebam-se que esta é uma discussão da mais alta importância, não só para a instituição que o Presidente Lula prometeu recriar, como para os que a fizeram e precisam ter recuperada a sua honra, a sua dignidade e o seu moral, profundamente atingidos pela justificativa falsa, inverídica, apresentada de forma genérica para explicar a sua precipitada extensão.

Vamos dar início à discussão e, com sensibilidade, procurarmos restaurar a dignidade daqueles que foram corretos quando de sua existência e punir, indo buscar, no passado, empresários e políticos que praticaram falcatruas.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente, com o meu agradecimento pela extensão do tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2005 - Página 44133