Discurso durante a 225ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o discurso de posse do Presidente Lula.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentários sobre o discurso de posse do Presidente Lula.
Aparteantes
José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2005 - Página 45078
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • IMPORTANCIA, COMENTARIO, DISCURSO, POSSE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANALISE, CONTRADIÇÃO, EXERCICIO, GOVERNO FEDERAL, LEITURA, TRECHO, PROMESSA, REFORMULAÇÃO, PAIS.
  • GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, FRUSTRAÇÃO, ELEITOR.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão o orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta é a última sessão deste ano legislativo, é evidente que o espírito da confraternização universal baixa sobre todos nós. Hoje, não vou fazer críticas, mas vou fazer louvação, meu caro Senador Sibá Machado.

Farei louvação ao Presidente Lula, ao que disse no seu discurso de posse. Farei isso porque acredito que as palavras ditas pelo Presidente da República não podem cair no esquecimento da Nação. Senador Delcídio Amaral, como sabemos, é uma praxe no Brasil os presidentes começarem a preparar suas memórias para, quando deixarem os cargos, montar os seus memoriais, os seus institutos e as fundações.

Meu caro Presidente Tião Viana, vou começar com trechos escolhidos do discurso que o Presidente Lula fez e que toda a Nação ouviu no plenário do Congresso Nacional, na sessão de sua posse, que se realizou na Câmara dos Deputados. Não sei por que aqui, Senador Delcídio Amaral, a palavra “mudança” está entre aspas.

“Mudança”: esta é palavra-chave, esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas eleições de outubro. A esperança, finalmente, venceu o medo, e a sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos.

Diante do esgotamento de um modelo que, em vez de gerar crescimento, produziu estagnação, desemprego e fome; diante do fracasso de uma cultura do individualismo, do egoísmo, da indiferença perante o próximo, da desintegração das famílias e das comunidades; diante das ameaças à soberania nacional, da precariedade avassaladora da segurança pública, do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens; diante do impasse econômico, social e moral do País, a sociedade brasileira escolheu mudar e começou, ela mesma, a promover a mudança necessária.

(...)

Vamos mudar, sim. Mudar com coragem e com cuidado, humildade e ousadia, mudar tendo consciência de que a mudança é um processo gradativo e continuado, não um simples ato de vontade, não um arroubo voluntarista. Mudança por meio do diálogo e da negociação, sem atropelos ou precipitações, para que o resultado seja consistente e duradouro.

(...)

Enquanto houver um irmão brasileiro ou uma irmã brasileira passando fome, teremos motivo de sobra para nos cobrirmos de vergonha.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Quem falou isso, Senador?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República Federativa do Brasil, que segue dizendo:

Por isso, defini entre as prioridades de meu Governo um programa de segurança alimentar que leva o nome de Fome Zero. Como disse em meu primeiro pronunciamento após a eleição, se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida.

Estou lendo apenas algumas partes do discurso que devem ser relembradas. Mais adiante, continua o Presidente Lula a dizer:

O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais permanentes do meu Governo.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Peço a atenção do sistema de som para o microfone do orador.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Espero que não seja censura!

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Pode ser a chuva, Senador Heráclito.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - É a chuva, Senador!

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Aqui dentro, não chove, meu amigo. Chove lá fora.

Continuo a leitura:

É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida pública.

Lá embaixo, nesse dia, a Senadora Heloísa Helena o aplaudia.

Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o desperdício continuem privando a população de recursos que são seus e que tanto poderiam ajudar na sua luta dura pela sobrevivência.

Senador José Jorge, do fundo do plenário, gritava o Deputado Babá: “Viva, Lula! Viva, Lula!”.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - O Deputado Babá?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - O Deputado Babá.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Coitados! Eles foram mais enganados que nós.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Continuou Lula em seu discurso:

Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos focados em resultados sociais concretos. Estou convencido de que temos, dessa forma, uma chance única de superar os principais entraves ao desenvolvimento sustentado do País. E acreditem, acreditem mesmo, não pretendo desperdiçar essa oportunidade, conquistada com a luta de muitos milhões de brasileiros e brasileiras.

O noviço Senador Delcídio Amaral, hoje Líder do Governo, dizia: “Isso é que é Presidente! Viva Lula!”. O dia 1º de janeiro de 2003 marcou a estréia de Delcídio Amaral no plenário do Congresso Nacional, para orgulho nosso.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Heráclito Fortes, V. Exª me concede um aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Concedo um aparte a V. Exª, enquanto procuro outro trecho do discurso.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Heráclito Fortes, quero parabenizar fortemente V. Exª por ter tido o trabalho de pegar esse discurso de posse do Presidente Lula. Realmente, para implantarmos a democracia no Brasil, um dos principais fatores é cobrar coerência com aquilo que foi prometido. Devemos pegar não só o discurso de posse do Presidente, como o seu programa de Governo, com tudo aquilo que ele prometeu, e não só o do Presidente Lula, mas também o dos próximos. Mesmo quando ganharmos as eleições e formos governo, vamos querer ter um programa que possa ser cumprido. Não vamos prometer, como foi prometido, o que não possa ser cumprido. V. Exª é um Senador coerente, sempre competente, que, sem dúvida alguma, trouxe hoje esse discurso para encerrarmos este ano. Aliás, daqui a 15 dias praticamente, completar-se-ão três anos do Governo Lula. E o que se viu? O não cumprimento das suas promessas. Muito obrigado.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Continuo a leitura:

Peço a Deus sabedoria para governar, discernimento para julgar, serenidade para administrar, coragem para decidir e um coração do tamanho do Brasil para me sentir unido a cada cidadão e cidadã deste País no dia-a-dia dos próximos quatro anos.

Ele encerrou nesse momento, dizendo: “Viva o povo brasileiro!”.

O nosso Senador Ney Suassuna passava pelo Gedel lá embaixo e dizia: “Está vendo por que queremos apoiar o homem?”. E começou a parceria dele com o PT. O Presidente atravessa com Heloísa Helena, com todos eles, com a Luciana Genro, e sobe ao parlatório e lá continua o seu discurso de saudação aos brasileiros. Em determinado momento, diz:

Mas, ao mesmo tempo, tenho a certeza e a convicção de que nenhum momento difícil nessa trajetória de quatro anos irá impedir que eu faça as reformas que o povo brasileiro precisa que sejam feitas.

Enquanto isso, Delúbio dava os primeiros passos, juntamente com os outros companheiros, fazendo arrecadações entre as autoridades presentes do mundo empresarial, visando a campanhas futuras. Era o nascimento do caixa dois.

Prestem atenção, Srªs e Srs. Senadores, ao que dizia Lula naquela ocasião! O Senador Cristovam Buarque, nomeado Ministro, aplaudia efusivamente o seu plano para mudar a face da educação brasileira.

Mas, ao mesmo tempo, estou convencido e quero afirmar a vocês: não existe, na face da Terra, nenhum homem mais otimista do que estou hoje. Posso afirmar que vamos ajudar este País.

Eu não sou o resultado de uma eleição. Eu sou o resultado de uma história. Estou concretizando o sonho de gerações e gerações que, antes de mim, tentaram e não conseguiram nada.

Que gerações frustradas são essas! Mais à frente, ele diz:

Lá na frente:

Como eu tenho uma agenda a ser cumprida, eu queria dizer a todos vocês [Ana Júlia já estava rouca]: amanhã vai ser meu primeiro dia de Governo e eu prometo a cada homem, a cada mulher, a cada criança e a cada jovem brasileiro que no meu Governo, o presidente, o vice e os ministros trabalharão, se necessário, 24 horas por dia para que a gente cumpra aquilo que prometeu a vocês que iria cumprir.

Waldomiro carregava no bolso do colete os primeiros pedidos de nomeação e já trocava, como moeda da época, aquilo tudo por aprovações do que vocês depois viram.

Sr. Presidente, uma das preocupações do PT, no Governo passado, era pedir a Fernando Henrique que esquecesse aquilo que escreveu. Não sei o que aconselhar ao Presidente Lula, porque não sei se foi Sua Excelência que escreveu aquele discurso que leu aqui.

Já pedi a Sua Excelência que, três anos depois, consiga fazer um quinto do que prometeu nesse seu discurso e encheu de esperança o povo brasileiro. Se não puder fazer tudo, que apenas cumpra o que diz respeito às promessas de combate à corrupção, Senador Alvaro Dias. A Nação se dará por satisfeita. Os brasileiros famintos e frustrados com o Fome Zero ficarão satisfeitos, porque, embora de barriga vazia, saberão que ninguém lhes rouba o dinheiro talvez suficiente para o alimento prometido do dia-a-dia.

Ao encerrar o seu discurso, Lula foi aplaudido no Brasil inteiro por milhares e milhares de servidores públicos, que sabiam que a contagem regressiva começava naquele instante e que, ao final de quatro anos, seus salários seriam dobrados.

Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, como seria bom se o Presidente Lula pudesse voltar aqui, três anos depois, e fazer o mesmo discurso, talvez sem as mesmas companhias: os que lhe deixaram e os que foram deixados pelas punições e pelos escândalos que se sucederam. Seria bom que nada disso tivesse acontecido e aquela esperança que venceu o medo do povo brasileiro não fosse mais um sonho frustrado.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2005 - Página 45078