Discurso durante a 225ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de passagens da Bíblia e citação de Jesus como lição para os dias de hoje.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Leitura de passagens da Bíblia e citação de Jesus como lição para os dias de hoje.
Aparteantes
Alberto Silva, Almeida Lima, Antero Paes de Barros, Augusto Botelho, Cristovam Buarque, Flexa Ribeiro, Gilberto Mestrinho, Heráclito Fortes, Jefferson Peres, Juvêncio da Fonseca, Romeu Tuma, Wellington Salgado.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2005 - Página 45314
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • IMPORTANCIA, PERIODO, FESTA NATALINA, CRISTÃO, DEBATE, VALORES, RELIGIÃO, JUSTIÇA SOCIAL, IGUALDADE, SOLIDARIEDADE, ETICA, PAZ.
  • ENCERRAMENTO, SESSÃO LEGISLATIVA, AGRADECIMENTO, SENADOR, SERVIDOR, SENADO, POVO, LEITURA, OBRA LITERARIA, POETA, ESTADO DE ALAGOAS (AL).

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, como estamos próximos do Natal, mesmo com convocações e coisas mais, o Senador Marcelo Crivella, logo no início, falou sobre essa questão de lembrar do Menino Jesus, e resolvi, Senador Tião Viana, também lembrar do Menino Jesus. E digo, Senador Gilberto Mestrinho, Senador Alberto Silva, Senador José Agripino, que, se o menino Jesus estivesse hoje por aqui - e me refiro não ao Menino Jesus que nós temos que ver, porque é claro que nós temos obrigação de ver o Menininho Deus, o Menininho Jesus não apenas nas decorações natalinas, mas em cada menininha que vende o corpo por um prato de comida ou em cada jovem pobre que é tragado pela marginalidade como último refúgio -, se a expressão de Jesus Cristo, o homem, filho de Deus, se traduzisse no dia de hoje, Jesus Cristo, como dizemos no popular, estaria frito, lascado, condenado, jogado nas cadeias ou no hospício, como lunático.

Hoje, mais de dois mil anos depois, Senador Jefferson Péres, é muito fácil celebrar o nascimento de Jesus, tanto como um compromisso pela fé, como por hipocrisia, tais quais os sacerdotes, os fariseus e os sicofantas faziam. Mas imaginem se estivéssemos hoje com a configuração daquela época. Primeiro Maria. Imaginem a situação de Maria hoje. O que haveria de boca podre, chula, de línguas ferinas e maldosas a condenarem, a amaldiçoarem Maria! Imaginem, prometida a José, um carpinteiro, de repente, Maria aparece grávida e diz que está grávida pelo Espírito Santo, porque um anjo disse que a ela seria dada a graça, a benção de trazer o Filho de Deus ao mundo. Estaria lascada, condenada pelas bocas podres, pelas línguas chulas e malditas, pelas línguas ferinas que geralmente condenam nas mulheres o que muitas vezes celebram nos homens.

Depois, toda a situação. O que é o significado de Jesus? Um rebelde. O significado de Jesus, realmente, é uma coisa maravilhosa, em vários momentos de toda a Bíblia, do Sermão da Montanha. Olha, imagine, Senador Jefferson Péres, o que significaria fazer as boas obras em segredo? Imagine o significado disso.

Ele dizia:

Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles (...)Quando, pois, deres esmola não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas(...) Em verdade vos digo, já receberam a sua recompensa.

Mas quando tu deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita.

Agora, imagine o significado disso no templo com aqueles fariseus, aqueles sicofantas, aqueles que se achavam os sábios, os escolhidos, os ungidos pelos deuses do universo! Chega lá Jesus Cristo, filho de um carpinteiro...

Hoje é muito fácil dizer: “Viva Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia. Certamente, se Jesus chegasse hoje, aconteceria a mesma coisa. Muitos dos que botaram os ramos para que ele entrasse em Jerusalém e que gritavam “Jesus, o Filho do Senhor; Jesus de Nazaré, o profeta sagrado”, no outro dia, no momento de escolher entre Jesus e o poder, representado por Pilatos, não repetiriam. Eu tive a oportunidade de dizer que Pilatos, Senador Jefferson Péres, foi pior do que Judas, porque Judas traiu por dinheiro e, quando viu as humilhações por que passava Jesus, pegou o dinheiro, devolveu aos sacerdotes e se suicidou. Enlouqueceu. Pilatos, não; trocou Jesus pelo poder, para continuar de bem com o poder, com aquilo que significava o cargo, o prestígio, o poder. Portanto, obteve o apoio da multidão que ali estava, ensandecida pelos sacerdotes hipócritas e fariseus. E Pilatos, da forma mais covarde, omissa e cúmplice, lavou as mãos para ficar de bem com o poder. Ele não lavou as mãos simplesmente para depois ser punido por isso, mas para ficar de bem com o poder.

Imaginem outras passagens que são belíssimas. Por isso foi crucificado. Lindo, lindo, lindo! É por isso que eu digo, Senador Jefferson Péres, que é aquela história que muitas vezes pessoas acham muitas pessoas exageradas, mas é tal qual Jesus Cristo. Ou quente ou frio; o morno eu vomito, era o que Jesus Cristo dizia.

Ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Olhe que passagem belíssima.

Não podeis servir a Deus e à riqueza (Os capitalistas estão lascados, vão todos virar churrasco do demônio). Portanto (diz), eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? (Olha que lindo) Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Não valeis mais do que muitas delas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?

E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles. Se Deus veste assim (com tanta beleza) a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Mt 6.24-30

             

            E depois há muitas passagens maravilhosas. São tantas passagens lindas! Por exemplo, quando Ele diz:

            Eu vos envio como ovelhas no meio dos lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas.

Ele diz, já imaginando o que ia acontecer:

            Sereis odiados de todos por causa do meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo”.

Ele também desafia o moralismo, ou falso moralismo - como já me disseram, o próprio moralismo é falso -, o moralismo farisaico, essas cantilenas enfadonhas e mentirosas. Como Ele ostenta rebeldia em relação ao sábado! Toda aquela coisa ridícula, aquelas tradições, como se as tradições fossem feitas.

Fala também da Parábola belíssima do pastor e da ovelha. Se um pastor perdesse uma ovelha em dia de sábado, não iria ele atrás dessa ovelha também. E quando Ele diz isso... Não é Senador João Batista Mota? Imagina, tinha que ser crucificado. Imagina se fosse hoje! Estava frito. Ele olhar para todos os poderosos da época e dizer assim: “Raça de víboras - Imagina! Tinha que se lascar - maus como sois, como podeis dizer coisas boas? Porque a boca fala mais do que lhe transborda do coração.” (Mt 12.34)

Imagina o que é Ele dizer em relação à família, quando Ele estava reunido e foram chamá-lo dizendo: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora. E ele dizendo: quem é minha mãe e quem são meus irmãos. E apontando com a mão para os seus discípulos acrescentou. “Eis aqui a minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”

E muitas outras passagens, muitas passagens lindíssimas, como quando Ele fala sobre a renúncia. Claro que tem aquela outra passagem que é muito linda, Senador Lobão, quando Ele é tentado pelo demônio também. Quando o demônio está com Ele lá na montanha e tenta-Lhe mostrando toda a riqueza do mundo. Imagina: toda a riqueza do mundo (Rindo)! Era dono de tudo, mas não era dono do que era terrestre, porque o que era terrestre, isso é que move mentes e corações.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) (Fora do microfone.) - Será que isso não está acontecendo agora?

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - E tem aquela passagem muito linda quando Ele diz assim:

Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro se ele vem prejudicar a sua vida?

De que adianta a um homem ter toda a riqueza do mundo a seus pés, se ele perde o que ele tem de melhor, o de mais digno, aquilo que realmente é capaz de mover a sua mente, o seu coração.

As passagens de fé são passagens belíssimas, como quando Ele fala que se tivéssemos a fé de um grão de mostarda - é claro que é representação, porque um grão de mostarda vira uma árvore imensa. Por isso que Ele queria falar sobre a fé como um grão de mostarda. Ele dizia assim:

Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: Transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será impossível.

E naquela passagem, Senador Romeu Tuma, quando Ele fala da humildade. Quando Ele falava de humildade, virava o escândalo da época. Perguntam a Ele o porquê da relação d’Ele com as crianças. Primeiro, naquela passagem quando Ele entra no templo, na chicotada - imaginem mais de trinta anos de heróica paciência - e Ele chega no templo, cheio de vendilhões, de sicofantas e de hipócritas, todos com aquelas roupas lindas e compridas, todos que se sentavam nas primeiras filas das sinagogas, para aparecer melhor perante os outros e perante Deus. Quando Ele chega lá, Ele chega expulsando todo mundo no chicote. Quem vai junto com Ele? Quem é que faz o gesto d’Ele? A algazarra das crianças. Imaginem a cena: Ele entrando no templo com o chicote, e aquela multidão de crianças na maior algazarra, na maior gritaria, a celebrar hosana nas alturas.

E quando Ele andava pelas ruas, e as meretrizes, os pecadores, os piores, as crianças tentavam tocá-lo - tinha também a base bajulatória que já tentava tirar as crianças - ele fala passagens belíssimas como:

Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no reino dos céus.

            São várias e belíssimas as passagens. Pois é, o Presidente da República atual e Presidente anterior não tiveram cuidado com as crianças. A Senadora Patrícia já está abençoada...

Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face do meu Pai que está nos céus. Mt 18.10

Quando ele dizia:

Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que crêem em mim, melhor fora que se lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar. Mt 18.6

Pois é, é a execução orçamentária. O Congresso Nacional poderia ver isso, ou então, se jogar logo no meio do mar com uma pedra no pescoço, porque a execução orçamentária para as crianças é uma maldição. É uma execução orçamentária pífia, ridícula, absolutamente infame. As nossas crianças nas ruas vendendo o corpo por um prato de comida, os nossos meninos pobres matando outros meninos pobres, porque a vida já lhes tirou tudo que poderiam ter de bom, de generoso, de terno e de afeto. A vida vai tirando absolutamente tudo.

Outra passagem. São tantas passagens lindas! A hipocrisia dos fariseus... Oh, gentalha! É a mesma representação hoje de toda a estrutura do poder. São passagens belíssimas.

Então, penso que, nesta época de Natal, é muito importante quando Ele fala das tradições, quando faz uma zombaria, Senador Jefferson Péres, sobre a questão dos fariseus, aquelas tradições todas, lavarem as mãos, todas aquelas coisinhas. Ele faz o maior deboche em relação a eles.

Realmente, são passagens belíssimas, lindíssimas que Jesus nos ensina a cada dia. E Jesus, que foi um homem maravilhoso, generoso, rebelde, corajoso, teve medo. Olha, devemos refletir sobre isso.

Aquela passagem no Monte das Oliveiras, onde Ele já sabe que seria condenado, Ele teve tanto medo do que Lhe iria acontecer que suou sangue. Já imaginaram o que é suar sangue? Ele suou sangue de medo do que Lhe poderia acontecer. E teve temor. Quando estava crucificado, Ele também ficou temeroso. E a prova de que também teve medo é o que Ele disse: “Pai, se for da Tua vontade, afasta de mim o Teu cálice”.

E foi também naquela hora que Ele mostrou quem era o primeiro escolhido Dele, que era o pobre. Quem primeiro Jesus levou ao reino do Seu Pai foi Dimas, o mais pobre, o mais lascado, o ladrãozinho, e o tratou de forma diferente.

Já com Zaqueu, Ele mandou devolver quatro vezes o que tinha roubado para compensar os roubos que havia praticado. Com Dimas não, como não tinha absolutamente nada a restituir, foi a quem primeiro Jesus disse: “Estarás comigo hoje no reino dos céus, no reino do meu Pai”.

Então, nessa época de Natal, com decorações natalinas, muito luxo, muita ostentação, que também consigamos ver a história de Maria, de José, de Jesus Cristo, a história de luta e de libertação do povo de Deus. Todas as vezes que olharmos a tão linda, delicada e preciosa representação do Menino Jesus da Lapinha, espero que consigamos ver a menina Jesus em cada menina pobre arrastada pela prostituição, pela miséria e pelo sofrimento e consigamos ver o Menino Jesus também em cada um dos jovens que, em função da omissão e da cumplicidade de muitos, acabam sendo jogados na marginalidade como último refúgio.

Concedo o aparte a V. Exª, Senador Alberto Silva.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Senadora Heloísa Helena, nós estamos acostumados a ver seu trabalho nesta Casa. V. Exª está sempre lutando, com vigor, em favor do mais pobre, do humilde, das crianças. Pensamos como essa menina é tão forte, conhece tudo, combate o bom combate. No dia de hoje, nesta Casa, V. Exª levanta algo que merece, de nossa parte, não diria aplausos, mas a consciência do que V. Exª está falando. Neste dia em que todos estamos encerrando um ano cheio de complicações, de tantas CPIs, de tantas denúncias, é necessário que V. Exª esteja combatendo o bom combate, sempre séria, honesta, competente e com fé. O que sinto agora é a fé que está no seu coração. E quando V. Exª fala em Maria, no dia de hoje, enternece o coração de todos nós cristãos, católicos, que queremos sentir e fazer como Ele recomendou. V. Exª retirou de cada pedaço da Bíblia uma passagem, cada qual mais bonita. Mas, simplesmente, a maior delas é aquela em que fala da família, daquele menino, de José, da Sagrada Família, e, portanto, eu queria dizer, Senadora Heloísa Helena, que eu gostaria que o povo das Alagoas a trouxesse de volta. V. Exª faz falta nesta Casa. E no dia de hoje, mais do que nunca, eu recebo, todos nós recebemos a sua alusão à Sagrada Família: Maria, José e Jesus como um exemplo para todos nós. Eu não diria parabéns não, eu diria muito obrigado, Heloísa.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Oh, flor... Obrigada, Albertinho.

Senador Romeu Tuma, depois Senador Mestrinho e Senador Jefferson.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Heloísa Helena, V. Exª é um exemplo nesta Casa. O carinho e o amor com que V. Exª leva o seu mandato, o respeito e o carinho com que trata os seus colegas de Senado trazem reflexões importantes a cada um de nós, cristãos ou não. Porque são histórias de fatos, que, se pudermos analisar, nos permitirão verificar que a história não muda. São histórias que hoje ocorrem e que estão na consciência de cada um de nós. Quando V. Exª fala desta passagem cristã A minha mãe e os meus irmãos, nós nos lembramos de que todos, nesta Casa, somos irmãos, porque aqueles que dependem do nosso trabalho também são os nossos filhos. Confiaria que os nossos eleitores são os nossos filhos. Temos de nos dedicar como se pais fôssemos deles. Quando fala das crianças - e, outro dia, estava a Senadora Patrícia Saboya Gomes na Comissão discutindo sobre um problema, dei uns exemplos sobre Febem e outros órgãos, de Casa de Custódia de Menores, onde não se recupera nada, e citei Jesus: “Deixai vir a mim as criancinhas, pois é delas o reino dos céus”. O que estamos oferecendo a elas? O inferno, porque não há uma dedicação no sentido de que se possa sentir a força do Governo, ao mostrar que essas crianças precisam de assistência. Na medida em que os anos passam, elas vão crescer, e, sem dúvida, não haverá qualquer obstáculo para que elas partam para a marginalidade. Cada um, sem dúvida, pagará um alto preço por isso. Gostaria de que calassem fundo no coração de cada uma das autoridades e daqueles que se encontram nesta Casa as leituras que V. Exª fez no dia de hoje.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-Sol - AL) - Obrigada, Senador Romeu Tuma. Concedo a palavra ao Senador Gilberto Mestrinho e, em seguida, ao Senador Jefferson.

O Sr. Gilberto Mestrinho (PMDB - AM) - Senadora Heloísa Helena, desde que V. Exª compareceu ao Senado pela primeira vez até hoje, viemos juntos para cá, passei a admirar a sua coerência. V. Exª é coerente e acredita no que diz. V. Exª se destaca por ser uma pessoa desinteressada, por defender o interesse coletivo e, sobretudo, o dos mais pobres. Isso é muito bonito. Cristo foi assim. Embora fosse uma época distante, uma sociedade diferente, também já havia o que há hoje. A humanidade é a mesma. Não importa a cor nem a religião, a humanidade é a mesma, com suas qualidades e seus defeitos. Cristo pregou uma doutrina que permanece há 2.000 anos. Tive a felicidade de visitar todos os locais por onde Cristo andou, na Palestina. A Palestina e a Cisjordânia, àquele tempo, eram muito pequenas. Ia-se quase a pé. Mas, apesar de não ter os meios de divulgação que há hoje, teve intérpretes, os Apóstolos, que fizeram os Evangelhos depois. Alguns Evangelhos são contestados, outros não. Mas, na verdade, pela similitude das colocações, parecem reais. Assim, sou cristão, mas a vida de Jesus muito bonita, excessivamente bela,...

(Interrupção do som.)

O Sr. Gilberto Mestrinho (PMDB - AM) - ...assim como a coragem, o sacrifício, a história que Ele pregou para a humanidade, que é única ideologia verdadeira. Mas também admiro outros líderes, como Buda, que era um Cristo, no bom sentido. Então, que homenageemos todos aqueles que se preocuparam com as pessoas, em bem servir às pessoas. Eu quero cumprimentá-la e dizer que foi uma beleza ouvir a citação das passagens da Bíblia por V. Exª.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Obrigada, Senador Gilberto Mestrinho.

Ouço o Senador Jefferson Péres.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senadora Heloísa Helena, é muito bom que neste último dia da sessão legislativa deste ano possamos ouvir um pronunciamento diferente como o seu, no qual V. Exª transborda todo o seu profundo sentimento de amor ao outro. Esta é a essência do cristianismo, afinal, tão esquecida, tão ignorada nessas festas que supostamente celebram o seu nascimento e tão distante do que Ele pregou. Creio que a essência do cristianismo é a solidariedade. Eu e V. Exª somos tão diferentes e tão parecidos. Há tanta coisa que nos identifica, a mim e a V. Exª, na essência do cristianismo - talvez V. Exª com mais fé do que eu, que me aproximo mais do agnosticismo. Mas é aquilo que alguém já disse: há pessoas que nasceram para ser gauche na vida, cada um à sua maneira. Considero-me também, às vezes, Senadora, pelo menos no mundo político, um gauche na vida política. É esse sentimento de indignação permanente com todas as formas de injustiça. Penso que mantivemos esse sentimento, que é raivoso, às vezes, só no gesto, mas, na verdade, o que exprime é muito amor que sentimos pelos nossos pobres membros desta espécie humana. Fiquei muito comovido com o seu pronunciamento. Parabéns por ter feito um discurso diferente. Só lhe peço que, como V. Exª rememorou a passagem do tempo, não comece a brandir o chicote, porque vai ser muito contrário ao espírito natalino. Meu abraço muito comovido, querida Heloísa.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-Sol - AL) - Ouço o Senador Cristovam Buarque, o Senador Flexa Ribeiro, o Senador Wellington Salgado e o Senador Almeida Lima.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senadora Heloísa Helena, o que tenho a lamentar é que sua fala seja no último dia. Seria bom que tivéssemos começado o ano por um debate como esse. No próximo ano, então, gostaria que o repetisse. Afinal, o espírito de Natal não deve ser apenas em dezembro. A idéia de solidariedade deve ser o tempo inteiro. Lamento dizer que aqui nesta Casa não vemos muita solidariedade, mas não entre nós, porque isso seria corporativismo, entre nós tem que haver disputa de idéias, de propostas. Lamento que não vejamos muita solidariedade com o conjunto do povo brasileiro. Se somarmos aquilo que aprovamos aqui, e aí parte é responsabilidade do Poder Executivo, sem dúvida, talvez a maior parte, o balanço do resultado deste ano inteiro para as condições de vida do povo brasileiro não é tão positivo. Eu diria que o resultado do trabalho desta Casa não é tão cristão. A sua fala pelo menos traz o cristianismo na retórica, como V. Exª traz em suas ações. Aliás, se eu fosse escolher uma matéria aprovada aqui neste ano que de fato tem o impacto de solidariedade com o povo, seria a sua proposta de reforma à Constituição que assegura a qualquer criança brasileira o direito de ter um atendimento mantido pelo Estado, quando a família assim preferir ou assim necessitar. Então, quero pedir que no próximo ano V. Exª faça esse discurso nos primeiros dias para tentar ver se desperta um pouco o coração de cada um de nós, Senadores e Senadoras.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Eu vou continuar, porque já o faço, Senador Cristovam.

Concedo um aparte ao Senador Almeida Lima. Depois, concederei aos Senadores Flexa Ribeiro, Wellington Salgado e Juvêncio da Fonseca.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Nobre Senadora Heloísa Helena, vejam V. Exªs, meus Pares, como as palavras traduzem a beleza que o interior de cada pessoa possui. E V. Exª, hoje, dá uma demonstração de que a dureza das palavras não decorre de sua estrutura vocabular, nem de sua semântica. As palavras, às vezes, parecem cáusticas não porque o sejam em si, mas pela interpretação que os fatos merecem ter, pelo objetivo que as palavras possuem na comunicação. V. Exª dá uma demonstração hoje de ternura, de doçura, porque as palavras do Evangelho, sem dúvida, acalentam nosso espírito, embora se trasladássemos os fatos vividos na época de Cristo e por Cristo para a realidade de hoje, como V. Exª soube muito bem fazer diante da hipocrisia vivida hoje, como também se vivia à época do nascimento e vida de Cristo, perceberíamos, numa dualidade, que elas podem representar instantes de ternura, de doçura - como V. Exª soube muito bem expressar - e, ao mesmo tempo, podem apresentar um sentimento cruento, cáustico, como interpretação dos fatos. Portanto, entendo que V. Exª soube viver muito bem esses dois momentos e dá uma demonstração não apenas para o Brasil, mas para si mesma, o que é muito importante, sobretudo àqueles que a consideram radical, como se radical fosse um defeito. Não. Diante da hipocrisia e da maldade, precisamos ser radicais como Cristo soube ser diante dos fariseus. Mas V. Exª deu uma demonstração para que o povo brasileiro possa compreendê-la melhor, sobretudo naqueles momentos em que V. Exª, de forma firme e vigorosa, também saca de sua chibata e dá naqueles que merecem. Parabéns a V. Exª.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Aproveito a oportunidade para desejar a V. Exª e ao povo brasileiro um natal de felicidade. Muito obrigado. V. Exª está de parabéns.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Amém.

Concedo um aparte ao Senador Flexa Ribeiro.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senadora Heloísa Helena, não poderia deixar de pronunciar-me neste instante em que V. Exª demonstra o amor que envolve sua vida e sua atividade em favor dos mais humildes, dos menos favorecidos. V. Exª foi buscar, como faz quase diariamente, os ensinamentos da Bíblia e fez com que cada um de nós tivesse que fazer um registro neste momento. O Senador Cristovam Buarque, de forma muito oportuna, mencionou que seu pronunciamento deveria iniciar - e não terminar - o ano legislativo. Neste clima de Natal, paramos para refletir, toda a humanidade pára para fazer uma reflexão. Talvez seja um momento para pedir perdão pelo que se fez, assim como temos que perdoar aquilo que nos fizeram. Este é um momento que deveria, até por vontade divina, estar presente em cada dia das nossas vidas. Seria tão bonito se o dia de Natal fosse permanente no coração e no espírito de cada um de nós. Penso que o mundo seria muito melhor. É importante que a Nação brasileira conheça a Senadora Heloísa Helena, que aparentemente é brava na defesa dos seus conceitos, na forma - como bem disse o Senador Almeida Lima - de brandir o chicote na tribuna, mas que age com doçura no convívio com todos, não só com seus Pares aqui no Senado, mas com todas as pessoas que têm o privilégio de conviver com ela e de serem suas amigas. Que Deus a continue abençoando e iluminando e que seu Natal e de sua família seja um Natal santo.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Amém.

Ouço os Senadores Wellington Salgado de Oliveira, Juvêncio da Fonseca e Heráclito Fortes, nessa ordem.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Senadora Heloísa Helena, realmente pedi a palavra só para mostrar o quanto a mulher brasileira tem mudado. V. Exª é uma guerreira, lutadora, mas, ao mesmo tempo, tem momentos de ternura. Lembro-me de quando a conheci. V. Exª me deu um aperto de mão forte, muito forte, e disse: “Prazer. Senadora Heloísa Helena”. No entanto, ao longo desse convívio aqui no Senado, vamos conhecendo o seu outro lado, doce, companheiro, ainda que, na hora de defender suas idéias, V. Exª lute como uma leoa. Isso, realmente, retrata a mulher brasileira. Penso que V. Exª representa bem a mulher brasileira: luta, briga, defende suas idéias, mas, no momento em que percebe que pode ter sensibilidade e que o sentimento tem que aflorar, deixa que ele aflore. Nós, homens, muitas vezes, não deixamos transparecer os nossos sentimentos. Seguramos, brigamos, lutamos e cremos que deixaremos de ser homens se demonstrarmos sentimentos em um momento como este. No entanto, V. Exª, demonstrando-os aqui, contaminou a todos nós - não é isso, Senador Flexa Ribeiro? -, e acabamos todos sentindo este grande momento e a força do seu sentimento passando para todos nós. É um grande momento. Espero que V. Exª e todos os que estão nos vendo tenham um bom Natal. Este foi um ano muito difícil para o Parlamento, para os políticos; tivemos que tomar atitudes muito difíceis. Nós que, quando não discutimos idéias, somos amigos, tivemos que, de repente, ter momentos contrários aqui, no Senado. Mas, graças a Deus, soubemos conduzir, pela experiência de todos os Pares aqui - muitos ex-Governadores, grandes políticos -, que sabem como funciona a política. Saímo-nos muito bem, e nada mais justo que, neste momento, V. Exª tenha conseguido fazer sair do seu coração todo este momento de paz que estamos vivendo. Espero que V. Exª tenha um bom Natal com a sua família. Aproveite-o bastante, porque tenho certeza de que o ano que vem será de luta, quando verei V. Exª segurando o microfone, com a caneta em punho, pedindo a palavra, pela ordem. Será um grande ano para a política. Feliz Natal para V. Exª e para todos os que nos ouvem e que nos estão assistindo.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço a V. Exª.

Ouço o Senador Juvêncio da Fonseca.

O Sr. Juvêncio da Fonseca (PSDB - MS) - Senadora Heloísa Helena, tenho absoluta certeza de que o Brasil todo gostaria de estar com este microfone, falando algumas palavras para V. Exª, porque sua figura já é hoje simbólica para o brasileiro. Neste dia, em que nos estamos despedindo do Senado Federal, da sua atividade normal, V. Exª traz mensagem cristã, traz mensagem de solidariedade e das grandes preocupações sociais. É justamente essa imagem que temos transmitido para nossos conhecidos, nossos amigos, sobre sua figura, porque muitos nos perguntam: “Como é a Heloísa Helena com vocês?” Ninguém acredita que você seja tão amena; ninguém acredita que você faça tanto afago em todos os Senadores e Senadoras. E, às vezes, ninguém acredita que todos aqui desfrutam com prazer da sua amizade. Diante dos problemas sociais que afligem a Nação brasileira, V. Exª é como Cristo expulsando os vendilhões do templo. V. Exª, com sua aguerrida luta e com sua palavra forte, tenta sempre expulsar os vendilhões da Pátria. Parabéns pelo seu trabalho. Que o Natal nosso, já agora enriquecido com suas lições de solidariedade e preocupação social, seja ainda mais enriquecido de princípios éticos, de solidariedade social, de amor à Pátria e de civismo, de que tanto precisamos.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Amém, Juvêncio.

Ouço o Senador Heráclito Fortes e, depois, o Senador Augusto Botelho.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senadora Heloísa Helena, tenho certeza de que o pronunciamento que V. Exª faz nesta hora, nesta Casa, fez-lhe muito bem, porque foi um discurso inspirado em convicções e, acima de tudo, pesquisado. Eu a vi fazendo anotações e procurando na Bíblia respostas e alguns ensinamentos. Fique certa de que esse discurso também fez muito bem ao Brasil. Recebi aqui alguns telefonemas - três, para ser mais preciso - de pessoas que nos estão assistindo neste momento e que comentavam um lado desconhecido de V. Exª, que é esse lado cristão, esse lado gente. Só conheciam o lado guerreiro. Fez bem ao Brasil e a essas pessoas a surpresa de conhecerem esse seu outro lado, esse lado humano, que nós do Senado, no dia-a-dia, conhecemos, mas o Brasil ainda não tinha tido essa oportunidade. Hoje se revela, não para nós, mas para o Brasil inteiro, o lado paz e amor de Heloísa Helena. É muito bonito que isso aconteça em véspera de Natal, que é um momento de reflexão. Quando digo Heloísa Helena paz e amor, é no sentido da palavra, não usurpando os que fizeram desse refrão apenas uso eleitoral ou coisa que o valha. Estou falando aqui no sentido da solidariedade. Sou muito observador - a posição em que me sento no plenário me permite uma visão universalizada do comportamento das pessoas - e vejo que V. Exª se emociona com a dor alheia, com a pessoa que se fere em um incidente em um salão da CPI, ou socorre aquele que, em desespero, grita por fome em nossas galerias.

Assim, esse retrato aberto, de corpo inteiro, que V. Exª está passando para o Brasil, com certeza vai lhe fazer muito bem, mas vai deixar mais confortável e satisfeita a Nação brasileira, que, nos últimos anos, depositou esperanças e vive de frustração e sabe que tem na pessoa de V. Exª um porto seguro, se não na ação, porque o Legislativo não permite, pelo menos nas palavras.

Meus parabéns a V. Exª pelo pronunciamento e desejo a V. Exª e aos milhares de fãs e admiradores que V. Exª tem no Brasil inteiro um feliz Natal e um Ano Novo cheio de paz.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Amém, Heráclito.

Ouço o Senador Augusto Botelho.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Senadora Heloísa Helena, estou pedindo um aparte para desejar a V. Exª que continue sendo essa guerreira, essa mulher que luta pelos filhos da pobreza. A senhora, aliás, é a voz que grita mais alto e mais freqüentemente em nome dos filhos da pobreza nesta Casa. Foi com a senhora que aprendi essa expressão. Realmente, foi assim que eu passei a olhar mais as pessoas, tendo esse mesmo sentimento que a senhora tem. Eu acompanhei aquela fase de sofrimento por causa do PT. Eu não sei se a senhora se lembra, mas eu disse que o PT iria perder sua alma com a saída de V. Exª. Eu não sabia que estava falando de uma coisa tão complexa e que realmente poderia acontecer mesmo de a essência, de a alma do PT se perder. Agora, penso que a senhora deve continuar sendo a mulher que é: autêntica, que fala com o coração, que tem inúmeros fãs em meu Estado, Roraima. Inclusive, todo roraimense que vem aqui quer tirar uma fotografia com V. Exª. Às vezes eu a atrapalho, às vezes fico com vergonha e não a chamo, mas a senhora é querida ali no interior do Estado. Nos locais onde existe uma parabólica, há uma pessoa que gosta da senhora e que a ama. Devo-lhe dizer que nós, brasileiros, em nome dos filhos da pobreza, que a senhora tanto defende, que foram os que nos colocaram aqui nesta Casa, desejamos à senhora e a sua família um feliz Natal e um próspero Ano Novo. E quero pedir para que não mude o seu jeito de ser, uma lutadora. Nem é preciso dizer para ter coragem, porque a senhora já tem de sobra. A senhora não somente aparenta ser brava, como o Senador Wellington falou, mas é uma mulher brava. Mas é também doce. Continue assim. Não mude. Muito obrigado.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Obrigada, Augusto.

Com a palavra o Senador Antero.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senadora Heloísa Helena, inicialmente, quero cumprimentá-la por abordar um assunto extremamente importante. Quero dizer que, pessoalmente, não gosto dessa rotulação do Natal, porque o 25 de dezembro deveria ser a comemoração do aniversariante. E, para comemorar o que o aniversariante quer, diz certa música: “Amar como Jesus amou, viver como Jesus viveu, sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria, e, ao chegar ao fim do dia, sei que ficarias muito mais feliz”. Então, o que quero dizer é que virou uma data dos homens, virou uma data do comércio, virou uma data de Papai Noel, virou uma data para atender o apetite material dos homens. Muitos pensam pouco no aniversariante. Acho que a melhor mensagem que se pode desejar no Natal é que haja 365 natais em 2006. Que nós tenhamos todo dia o exemplo de Cristo. Cristo, independentemente de quem é ou não cristão, que acredita ou não que Ele foi Filho de Deus, existiu na história. Viveu no tempo dos sacerdotes Anás e Caifás, é uma presença na história mundial, comprovada mediante estudos da ciência, e, sem dúvida alguma, o que disse é exemplo para a humanidade. Então, o que melhor podemos fazer é desejar 365 natais em 2006. Claro, com a condição humana, vamos errar; mas que procuremos vivenciar o Natal em homenagem ao aniversariante. Parabéns a V. Exª!

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço a V. Exª, Senador Antero Paes de Barros, e também ao Senador Flexa Ribeiro, que ora preside a sessão, que tiveram essa delicadeza. Agradeço a todos os Senadores que me apartearam. Como disse o Senador Jefferson Péres, existem agnósticos, ateus, pessoas que também têm corações generosos e valentes, independentemente de se reivindicarem determinada religião. Existem mulçumanos, judeus, palestinos, católicos, evangélicos, pessoas que se encontram com Deus pela espiritualidade ou pelas religiões afrodescendentes. O importante, Senador Almeida Lima, é conseguirmos celebrar, permanentemente, a paz e a esperança.

Faço esses votos também a todos os funcionários da Casa, principalmente aos do meu gabinete, que me agüentam mais, aos funcionários do plenário, a todos os funcionários da Casa, a todas as alagoanas, a todos os alagoanos e a todos os brasileiros que nos acompanham pelos meios de comunicação do Senado.

Para terminar mesmo, Senador Flexa Ribeiro, quero ler um pequeno poema de um jovem de 82 anos chamado Lêdo Ivo, lá da minha querida Alagoas. Já tive oportunidade de falar sobre este poema aqui, mas faço questão de retomá-lo. É um poema chamado “A Tempestade”. Todos os Senadores sabem do que vou falar, mas os nordestinos compreendem melhor, porque vêem muito isso lá no Nordeste, quando chove. O título é “A tempestade”.

Para que os cajueiros possam florir

caiu esta chuva

que apagou as estrelas e

encharcou os caminhos.

Água e vento derrubaram as cancelas antigas

quebraram telhas, vergaram árvores, suprimiram cercas,

desalojaram abelhas e marimbondos,

enxotaram os pássaros predatórios

e o galinheiro é um cemitério de pintos amarelos.

Este é o regimento do mundo: relâmpagos e raios antes da flor e do fruto.

É isso que a gente vê no interior. Ele termina com uma frase linda, com o melhor regimento que há.

Que a gente possa celebrar a paz e a esperança neste Natal e neste Ano Novo. É claro que não tenho dúvida de que Natal é todos os dias, que temos de estar celebrando a paz e a esperança todos os dias. E que possamos olhar o Ano Novo nascendo e pensar nas duas filhinhas lindas que Santo Agostinho dizia que a esperança tem. Santo Agostinho dizia assim “A esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem. A indignação de não aceitar a injustiça, e a coragem de remover uma montanha para fazer a justiça”.

Então, que façamos nascer nos nossos corações as duas filhotinhas da esperança, que são justamente a indignação e a coragem. Que possamos, mais uma vez, celebrar a paz, celebrar a esperança.

Atormentamos os anjos dos céus pedindo saúde para os nossos filhos e para todas as pessoas que estão doentes. Hoje, meu filho, logo cedo, mandou-me um e-mail falando de uma senhora que está condenada, em fase terminal de câncer, em um presídio. Ó leis malditas! Ela, em fase terminal - estamos até reapresentando projetos que já tramitaram aqui - de câncer, tem um único pedido: morrer em casa com os filhos. E a Justiça, com seus rituais cínicos e esnobes, feito o Congresso e tantos outros, é incapaz de conseguir flexibilizar a legislação para que essa mulher, que foi condenada sem prova, possa pelo menos ter a oportunidade de, com mais de setenta anos, em fase terminal de câncer, morrer em casa com os seus filhos. É a única que ela quer, e isso ela não pode ter.

Então, que pensemos em cada uma das situações que estão vivenciando as menininhas-jesus e os menininhos-jesus pelo Brasil afora, espalhados pelas dores do mundo, para que possamos pensar em 2005, 2006, 2007, 2010 e muitos anos pela frente sempre assim, celebrando a paz e a esperança. Obrigada e desculpem-me, Senador Flexa Ribeiro e Senador Antero Paes de Barros, que estavam na Mesa, pois acabei passando do tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2005 - Página 45314