Discurso durante a 225ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Retrospectiva das realizações no ano de 2005 e votos de Feliz Natal. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Retrospectiva das realizações no ano de 2005 e votos de Feliz Natal. (como Líder)
Aparteantes
Gilvam Borges, João Batista Motta, Magno Malta.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2005 - Página 45341
Assunto
Outros > SENADO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, SENADO, ENCERRAMENTO, SESSÃO LEGISLATIVA, ESPECIFICAÇÃO, ELOGIO, ATUAÇÃO, SENADOR.
  • BALANÇO, ATIVIDADE, CONGRESSO NACIONAL, PROTESTO, RESULTADO, VOTAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, ABSOLVIÇÃO, CASSAÇÃO, MANDATO PARLAMENTAR, DEPUTADO FEDERAL, COMENTARIO, DECISÃO, COMPROMETIMENTO, LEGISLATIVO, PERDA, REPUTAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA.
  • REGISTRO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, CUMPRIMENTO, DEVERES, VIGILANCIA, GOVERNO FEDERAL, INSUCESSO, GOVERNO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPROMETIMENTO, REELEIÇÃO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje é mesmo dia de prestação de contas e, para mim, tem um significado especial porque eu o encerro como comecei, fazendo o meu papel de Senador da Oposição brasileira. Pela confiança dos meus companheiros tucanos, fui reconduzido, pela quarta vez, para o exercício da liderança do PSDB. Termino como comecei, procurando defender o meu País, fazendo aquilo que julgo acertado aos meus olhos. Portanto, tendo que evidenciar as inúmeras e clamorosas falhas de um Governo que, em um momento virtuoso da economia internacional, poderia ter sido um Governo, sim, do espetáculo do crescimento, mas terminou sendo o Governo da decepção acumulada.

Esse episódio ocorrido na Câmara foi lamentável. Eu estava ontem na confraternização natalina na casa do Presidente Renan Calheiros, como V. Exª e os demais Senadores, quando me disseram que o quorum estava baixo na Câmara. Julguei que o quorum baixo poderia resultar na absolvição do Deputado, talvez, pelo jogo matemático, mas nunca poderia supor que os 240 Deputados presentes eram contra a cassação, ou seja, faltaram 97 votos. Houve uma decisão pela cumplicidade e isso vai custar muito caro à imagem do Parlamento. Tenho certeza absoluta de que os Deputados vão voltar de suas bases retemperados pelo choque que vão receber da opinião pública, que, nos shopping centers, nas feiras, nas escolas, vai dizer a eles com clareza que a sociedade não tolera essa idéia de que o delito é desimportante e que a cumplicidade é perdoável.

Srª Presidente, ouvi o Senador José Agripino ainda há pouco discursar e falar da relação fraterna que tem com V. Exª, que tem comigo, que tem com tantos colegas Senadores nesta Casa, relação perfeita e justa com colegas que são do lado do Governo e também com outros que amargam as agruras da luta de oposição. E o Senador José Agripino, competente Senador que é, falava de um receituário a ser seguido pelo Presidente Lula. Uma das recomendações era: não se envolva com a improbidade, não tolere improbidade. E o Presidente tolera a improbidade e convive ela e, mais do que isso, o Presidente faz tudo para desviar a atenção da improbidade do seu Governo. Ele não tem vontade de punir ninguém, não revelou vontade nenhuma de punir ninguém e em nenhum momento foi sincero quando disse que queria apurar qualquer coisa, porque seu gesto de não apurar era muito mais forte do que a sua palavra de mandar apurar.

Foi isso o que nós vimos o tempo inteiro. Agora o Presidente, sob a forma de pesquisas, está colhendo o que plantou. O Presidente imbatível, da história bonita, que ia se reeleger...

Eu lembro que o Dr. Marcos Coimbra, o “sapientíssimo” sociólogo do Instituto Vox Populis, teve a ousadia de, em dezembro de 2002 (dezembro de 2002!), dizer a uma coluna do jornal O Globo que não adiantava ninguém concorrer com Lula em 2006, porque Lula já era Presidente reeleito. Eu pensei com os meus botões: meu Deus, e se ele esfaquear alguém, e se ele enlouquecer, e se ele resolver declarar guerra ao Paraguai? Não pode acontecer de a sandice tomar conta de um cérebro? Não pode acontecer algo de muito nefasto à economia brasileira? Mas a convicção, a vontade de estar perto do poder era tão grande que o “sapientíssimo cientista político e homem de pesquisa disse: “Já venceu as eleições”. Eu disse: Meu Deus, ele nem tomou posse!

E olhe que eu sou filho de político, sou político, sou pai de político, sou bisneto de político, quer dizer, não sou um marinheiro de primeira viagem, propriamente dito, quando se trata de previsão de voto, de sensibilidade em relação aos humores da opinião pública. Diziam que Lula era imbatível e não adiantava discutir. Comecei a fazer, portanto, oposição a ele aqui em um momento em que quase ninguém acreditava que fosse possível se obter qualquer êxito nisso. Eu não estava aqui para obter êxito nem para chegar ao fracasso, Senador João Batista Motta; eu estava aqui para cumprir o meu dever. E meu dever era muito claro: meu candidato à Presidência da República, José Serra, perdera as eleições. Meu Partido ia fazer o quê? Ia se pendurar na Petrobrás? Ia assaltar os Correios? Ia furtar a fundação não sei de quê?

Meu papel, como Líder, era o de liderar o meu Partido na vigilância sobre os atos do Governo que se elegeu. Só me cumpria fazer isso. Fora disso, seria o adesismo, seria a desfaçatez. Vim para cá cumprir o meu papel. Se vai dar em eleição, se vai dar em derrota, se vai dar em vitória, não é o importante; o importante é que meu papel foi cumprido e o de meus companheiros também.

            Quero agradecer, Senador João Batista Motta, na pessoa de V. Exª - lembro aqui o nosso Presidente Nacional, Senador Tasso Jereissati, -, a todos os meus companheiros de Partido, a todos os meus companheiros da Oposição. Agradeço a V. Exª, Senadora Heloísa Helena. Temos muitas divergências no campo ideológico, mas, em muitos momentos, temos convergido quando se trata da probidade, quando se trata da vigilância sobre os erros do Governo. Não há como não nascer, nessa hora, uma relação de fraternidade, de solidariedade. Somos empurrados para isso pelas agruras de ser Oposição, pela exigência do gesto e do ato de sermos Oposição ao Governo. Cada um com sua visão, mas convergindo para a idéia de que se tem de pôr cobro ao estado de descalabro a que chegou este País.

Senadora Heloísa Helena, tenho certeza de que procuramos cumprir o nosso dever.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com muita honra, Senador Gilvam Borges.

 O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª é o primeiro Senador que aparteio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - O que é uma alegria para mim.

 O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - E o faço, com muita honra, porque o País muito deve a V. Exª. Deve-lhe a disposição, a coragem, a ética com que faz o contraponto. V. Exª faz com que o País possa, realmente, ter um líder confiável, que é V. Exª. Esse minibalanço que V. Exª faz nesta noite é realmente digno de um aparte. Eu o aparteio com a honra de parabenizá-lo e de dizer que o Estado do Amazonas está muito bem representado em V. Exª e o País, de um modo geral. O Senado Federal tem um líder da envergadura de V. Exª que realmente abrilhanta, fermenta o discurso nacional da Oposição coerente, responsável, séria, combativa e flexível quando tem de ser. Portanto, não vou me estender, mas só quero me congratular com V. Exª e parabenizá-lo pelo excelente desempenho. Quando estava lá fora, ficava vendo V. Exª pela televisão, aqui na luta, no embate. Na última caminhada que fiz a Santiago de Compostela, 920 quilômetros, durante trinta dias, pode ter certeza de que pensei em V. Exª, porque pensava como estavam as discussões e como V. Exª brilha nesta Casa. Parabéns! Não vou me estender porque a emoção é muito forte e estou me preparando para um discurso rápido. Continue, Senador. V. Exª é um excelente Senador e muito honrado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Gilvam Borges, agradeço de coração a manifestação tão fraterna de V. Exª e lhe digo que meu mandato recebe estímulos significativos a partir da opinião de V. Exª e, portanto, é de coração que recebo a sua manifestação.

Senador Magno Malta.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Senador Arthur, hoje o espírito é festivo, e é com esse espírito festivo que o abraço todos os dias. Então a minha fala neste momento, com relação a V. Exª, é chover no molhado, nem vale muita coisa porque sou suspeito, porque sou seu fã. Eu sou evangélico, não acredito em reencarnação, mas se esse negócio de reencarnação tem sentido - eu não creio - e se a eloqüência, um dia, nasceu e viveu, ela morreu e deve ter reencarnado em V. Exª. Então V. Exª é a própria reencarnação da eloqüência, pois é um orador de mente arguta, um pensador moderno, com a capacidade de ironia acentuada no que fala, mas uma ironia coerente com a tese que defende e com os debates que faz. Se V. Exª tiver que assassinar um dia alguém, esse alguém vai morrer com um tiro no peito.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Estou batendo na madeira!

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - É verdade que isso não vai acontecer. Mas o que eu quero dizer com isso? Que V. Exª nunca age pelas costas, V. Exª nunca age no escuro, V. Exª não é dissimulado, V. Exª não bate com a mão dos outros, V. Exª não é falso. Na verdade, V. Exª é amigo, V. Exª tem a capacidade do abraço, do bom-dia, do boa-tarde, de ouvir um companheiro mais novo, menos experiente, até um indouto como eu, que, no momento de debates acirrados, cheguei ao seu ouvido e, com a intimidade da nossa amizade - porque a Bíblia diz, Senadora Heloísa Helena, que alguns são amigos mais chegados que irmãos, e para mim você é mais chegado que irmão -, soprava no seu ouvido e dizia: Arthur, eu acho que essa não é a linha. E falava isso sem esperar ouvir uma coisa positiva da sua parte porque a sua experiência é muito maior. E tal a minha surpresa que, em nome e no exercício da sua humildade, tantas vezes você disse: “É verdade, vou-me retirar do debate”. Fez muito bem a Bancada do PSDB em reconduzi-lo, até porque o que seríamos de nós sem Arthur Virgílio na tribuna todos os dias no horário de Liderança? O que seria do Brasil, onde V. Exª já formou uma galeria de fãs e de fãs-clubes de pessoas que assistem à TV Senado e que, ao longo das minhas andanças, seja fazendo shows ou sei lá o que pelo Brasil, ouço as melhores referências, e as pessoas perguntam se sou seu amigo, e algumas até me perguntam se você é de carne e osso? Tem fã-clube do Mão Santa - aliás, o fã-clube do Mão Santa é maior do que o de todos nós. Tem pessoas que tomam remédio para não dormir, para esperar a reprise da sessão para ouvir Mão Santa, que é um intelectual sem preocupação nem com o português nem com a concordância, que é um irônico poeta da literatura de cordel e que junta tudo isso para fazer o discurso vigoroso que ele faz com o sotaque piauiense. E ninguém fala melhor para dentro, para o seu Estado, do que Mão Santa fala para o povo do Estado do Piauí. Então, Mão Santa é que tem um fã-clube maior do que o de V. Exª. Eu não tenho nem preocupação com o tempo, porque Heloísa Helena, presidindo, certamente temos até meia-noite. Temos ainda o discurso do Gilvam, depois o discurso da Presidente, que vai concorrer com Serra ou com Alckmin, não sei com quem, mas ela vai concorrer, e eles precisam se preparar muito para enfrentá-la num debate. Ela tem conteúdo, é valente. Diz que, quando está cuidando dos filhos, é uma gatinha, mas se for provocada aqui dentro vira bicho. Então, nós teremos, sem dúvida alguma, Senador Arthur Virgílio, a felicidade de em 2006 tê-lo novamente como Líder do seu Partido e líder de todos nós, pois quem nasce líder é líder, não tem por que pedir licença. Orgulho-me muito de ser seu amigo, de termos convivido como Deputados Federais e nos reencontrado aqui. Saiba que o ouço, o vejo, espero as reprises, guardo as suas palavras, e se eu tivesse a capacidade de raciocínio de V. Exª, imagino que Senador seria um posto muito pequeno para mim. Mas como eu sou indouto, nunca passei num vestibular, tenho as minhas dificuldades, já cheguei longe demais. Mas privilégio maior do que estar sentado aqui é ouvir V. Exª. Muito obrigado pela sua amizade.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Magno Malta, eu é que fico comovido com o seu gesto, mais do que natalino, porque é permanente de amizade. Reputo V. Exª como um dos homens mais inteligentes que já conheci. E eloqüente, sim. Se existe na verdade a expressão da eloqüência, eloqüência do palavreado simples, do raciocínio sofisticado, adapta-se a V. Exª como uma luva.

Também observo V. Exª como ninguém e percebo esse sentimento fraterno que o une a mim. E isso vem desde os tempos em que não convivíamos. Eu era Deputado, Líder do Governo Fernando Henrique, depois Ministro, e V. Exª envolvido sempre com o seu combate ao narcotráfico e ao crime organizado. Nós tínhamos pouca convivência de plenário. Mesmo assim, a que tínhamos era carinhosa e aqui já trocamos figurinhas positivas.

V. Exª tem razão, em alguns momentos me advertiu sobre equívocos. Eu, julgando que os cometia, deles recuei. E V. Exª me atendeu várias vezes em cima da capacidade que nós estabelecemos de dialogar um com o outro. Portanto, sabem que o carinho é recíproco. E eu quero mesmo creditar toda essa manifestação que V. Exª faz de admiração muito mais à amizade mesmo, essa amizade que é sólida, que é forte, ao carinho e a ternura que o une a mim, porque é o que eu sinto também em relação a V. Exª. Muito obrigado pelo aparte.

Senador João Batista Motta e Senadora Heloísa Helena, não me alongo, eu apenas digo que essas pesquisas já vão mostrando um pouco o que o Presidente colheu: o que plantou. Plantou a resposta não incisiva à crise ética, colheu descrédito. Plantou a figura marqueteira em relação à economia e colheu a decepção. Plantou as promessas fáceis de campanha e colheu a desilusão do povo.

Não tem como. O Brasil é uma democracia consolidada porque o povo está cada vez mais exigente. Eu volto a dizer, os Deputados vão às suas bases e ouvirão muito a respeito do gesto de ontem na Câmara dos Deputados.

Não pense alguém que me apraz ver um Deputado cassado ou ver um Senador cassado ou punido. Não me apraz. Não tenho esse sentimento. Não faz o meu gênero, mesmo! Nós temos uma instituição a preservar. Temos respostas a dar à sociedade, e essas respostas têm que estar acima do compadrio, acima da figura da cumplicidade corporativa. É por isso que a Câmara, ontem, pela maioria dos votos que estavam disponíveis, errou e é por isso que lhe será cobrado. É por isso que será cobrado a todos nós esse preço tão alto. É por isso que entendo que haverá uma reação forte da sociedade que vai repor os pingos nos is. Ou seja, longe de surgir a tal megapizza! Não! Não vai surgir, não. Vai surgir é uma reação da sociedade, fazendo com que repensem os próximos processos, Senador João Batista Mota. É a convicção que tenho. É a convicção muito clara.

Senadora Heloísa Helena, eu hoje fiquei aqui esse tempo todo, para ouvir os companheiros. Para mim, havia muito da força, essa força do símbolo, Senador Gilvam Borges. Se no primeiro dia do meu mandato de Senador, falei, considerei justo falar no último dia deste terceiro ano de mandato, para dizer as mesmas coisas, com tom de fraternidade cristã, mas anunciando que ano que vem será um ano de muita luta, que o ano que vem será um ano de coerência, ano que vem será um ano de embate, ano que vem será um ano de nós mantermos nossas posições, mantermos os nossos princípios.

Devo a seu respeito lhe dizer da amizade pessoal muito grande que me une a V. Exª hoje. Ela independe da posição política. Às vezes, fico pensando: V. Exª é candidata, provavelmente à Presidência da República pelo seu Partido, num gesto de enorme desprendimento, fazendo um Partido. Um gesto de enorme desprendimento. Sei de sua posição privilegiada em Alagoas. Sei, por adversários seus, que me dizem das pesquisas e da posição que V. Exª tem tanto para o Governo, como, sobretudo, para o Senado, e como seria portanto fácil V. Exª disputar o Senado e recompor o seu mandato. Eu sei disso. E sei como V. Exª fará falta ao Senado, porque, se se candidatar a outro cargo que não ao Senado, pode ganhar ou não a eleição, mas não estará no Senado. Isso a todos os seus Colegas dará uma dor muito grande, porque eu não a conhecia e, de longe, eu não tinha razões maiores para ter essa simpatia pessoal por V. Exª, pela forma com que eu vi a sua luta exposta e pela forma com que eu exponho a minha própria luta. Nada contra no pessoal. De repente eu travei conhecimento com V. Exª e percebi o ser humano solidário e percebi a figura de enorme conteúdo cristão, percebi a figura com preocupação pela pessoa que está ao seu lado e a preocupação com o drama familiar, a preocupação com o detalhe da saúde, a preocupação de como vai se sair, até do ponto de vista político, bem ou não aquela pessoa que às vezes V. Exª nem sequer aprecia politicamente, mas que ganhou o seu amor fraterno, a sua estima...

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Mãe dedicada.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E eu tenho a honra de conhecer um dos seus filhos e de ter por ele uma amizade muito grande.

E, portanto, eu hoje quero na verdade homenageá-la, homenageando as Senadoras e os Senadores e homenageá-la também, porque é muito feliz que neste gesto, neste fim de noite, ou fim de sessão, porque é começo de noite, eu poder estar aqui e dizer que vejo em V. Exª uma Senadora completa. Conhece o Regimento como ninguém, é arguta como poucas pessoas eu já vi na minha vida, corajosa como poucas pessoas com quem já me deparei. Alguém que defende seus pontos de vista. Se eu ficar agora arrolando as minhas posições em contraposições às suas, talvez eu não concorde com 10% delas, se formos ao econômico, se formos à forma de se abordar a economia do País. Mas eu poucas vezes vi alguém abrir mão das comodidades, como V. Exª fez. Era tão fácil. Eu olho para este PT e digo: Meu Deus, esse Partido não tinha ninguém para liderá-lo com mais competência do que V. Exª. Mais ninguém. Mais ninguém e mais ninguém.

V. Exª teria sido a grande Líder desse Partido, para nos enfrentar inclusive, com a sua experiência de Senado, com a sua coragem, com a sua argúcia. De repente, pisaram nos seus calos ideológicos e eu a vi abrir mão de tudo que posso imaginar que fossem as comodidades de ser Governo. Abriu mão!

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Senador Arthur Virgílio, para colaborar com esse raciocínio sobre a nossa Presidente, conceitos e posições ideológicas que, durante 24 anos, foram de todos. Aliás, o Presidente Lula obteve 55 milhões de votos em cima do que pregou; e o que ele pregou para ter 55 milhões é o que a Senadora Heloísa Helena continua pregando. Foram 55 milhões de votos em cima do que a Senadora fala ainda hoje. É por isso que eu repito que ela será uma candidata difícil, que dará um grande trabalho, porque foram 55 milhões em cima das idéias que ela continua pregando - ela, Valter Pinheiro e tantos outros. E eles abriram mão.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - A Senadora Heloísa Helena tem causa.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Eles não entenderam que na vida você tem a forma e o princípio. Da forma se abre mão. Pode-se até abrir e negociar. Mas de princípio, não. Ela não abriu mão do princípio; e eles abriram mão do princípio. É por isso que eu penso que quem acreditou nessas idéias, nesses ideais e nessa forma de fazer política em combate, e o elegeu com a maior votação da história deste País, certamente essas pessoas estarão atentas ao discurso dela, às posições dela e à maneira como se portará dentro do processo político de 2006. V. Exª, como sempre, com a felicidade de seus raciocínios, tratando e falando da nossa companheira Heloísa Helena.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado Senador Magno Malta. Eu não acredito nessa mudança tão rápida de tantos lá. Alguns passaram, de repente, a pensar como eu, mas eu já pensava assim. Eu vim de um processo de transição que...Fui um homem classicamente de Esquerda. Deixei de me preocupar com essa coisa de ser de Esquerda ou não ser. Tenho preocupação social funda, sim. Agora, eu tenho uma visão que me faz ver a economia brasileira por um ângulo que até se assemelha a de tantos que estão no Governo hoje.

Agora, eles mudaram de repente, parece que acabou a eleição e tocou assim um apito...E V. Exª não aceitou isso, junto com alguns poucos companheiros, pagando todos os preços que vi, o que não foi uma humilhação. A humilhação da expulsão. Humilhação como? Hoje, V. Exª estaria num Partido tão estigmatizado. Foi tão bom para V. Exª ter sido expulsa.

Eu vi a dificuldade que eles tiveram de expulsar o Delúbio. Não expulsaram o Delúbio coisa nenhuma. Não expulsaram o Silvinho. Eles conversaram com Delúbio e conversaram com o Silvinho e combinaram com os dois uma falsa expulsão. V. Exª que foi expulsa do PT. V. Exª, sim, foi expulsa do PT, junto com a Deputada Luciana, com o Deputado Babá e o Deputado João Fontes. V. Exªs foram expulsos do PT. Os outros não. Foi combinação. Nós sabemos disso, não somos crianças, não somos tolos.

Então eu vejo, Senador Magno Malta, que é muito feliz para mim eu poder dizer isso hoje num momento que nos toca. Fim de ano é sempre fim de ano e Natal é uma data com uma certa cor de tristeza para mim. O Ano Novo sempre me sugere um pouco a festa e eu não sou muito festeiro, mas é bom, é boa essa coincidência. Vou ficar para esperar o Senador Gilvam. Vou esperar o final da sessão. É bom saber que V. Exª preside. E, para mim, foi necessário ter ficado até este momento.

Senador Motta, em seguida encerro.

O Sr. João Batista Motta (PSDB - ES) - Senador Arthur Virgílio, quero dar aqui o meu testemunho por tudo aquilo que vejo nas ruas deste País com relação a V. Exª. Hoje, V. Exª merece o respeito de todo o povo brasileiro, não só pela sua oratória, pelas suas posições firmes, mas, sobretudo, pela Oposição responsável que V. Exª e seu Partido praticam. Fiquei dois anos e meio na base do Governo, no PMDB - eu que fui fundador do PSDB, quando Deputado Federal - apoiando o Governo. Sou testemunha daquilo que V. Exª e o PSDB praticaram nesta Casa. Não vi, em momento nenhum nem V. Exª nem o Líder José Agripino, cravando ninguém do Governo, denunciando ninguém do Governo. Todo o escândalo que veio à tona foi pelas próprias mãos do PT e dos homens do Governo. Sou testemunha até do que falou aqui hoje o Senador José Agripino, quando orientava o Presidente da República como fazer e o que fazer para se sair bem neste Governo, que pertence ao PT. Todos torcemos pelo Brasil e, com isso, torcemos até para que o Presidente Lula se saia bem neste mandato, no que não acreditamos mais pela falta de experiência que tem, pela falta de conhecimento jurídico e técnico, pela falta que tem de respeito pela população deste País. Foi um homem que lutou nas bases, um homem que eu entendia que deveria conhecer as dificuldades dos trabalhadores e dos pobres deste País, um homem que deveria ter assumido a cadeira de Presidente da República para corrigir alguns erros que pudessem estar acontecendo e que poderia até herdado do seu antecessor. Mas não! Ele veio apenas dar ênfase às coisas erradas, como, por exemplo, os desmandos que hoje vemos muitas vezes até em razão dos erros cometidos quando da Constituição de 88. Deveríamos estar aqui, sob a liderança também da Presidência da República, para fazermos a reforma política, a reforma tributária, as reformas necessárias de que este País tanto precisa. Mas, infelizmente, a inércia, a paralisia, a falta de responsabilidade, a falta de coragem, a falta de determinação, pensando que fazer política social é dar esmola, quando o povo rejeita esse tipo de prática. Eu sempre disse: o Governo que tiver que dar a mim, a uma pessoa minha, algo para que eu possa levar um prato de comida para dentro de casa, é melhor jogar na cara desse cidadão. Porque o que nós precisamos é que a economia cresça, o que precisamos é de gerar emprego, o que nós precisamos é nivelar o Brasil às maiores potências do mundo, porque nós temos capacidade para isso. Mas, se Deus quiser, a partir do ano que vem, sob a liderança de V. Exª, este País há de encontrar o seu verdadeiro rumo. Obrigado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Motta, e encerro agradecendo a V. Exª pela contribuição inestimável que tem prestado à Bancada do PSDB e aos trabalhos do Senado Federal, companheiro leal, firme, indiscutivelmente pronto para todos os momentos de luta. É assim que se faz uma Bancada atuante como tem sido a nossa. Desejo ressaltar mesmo o valoroso homem público que V. Exª é, e agradeço a lembrança que V. Exª faz, mais uma vez, do Senador José Agripino, meu companheiro aqui de todas as horas - e eu homenageio a Oposição falando nele -, extraordinário homem público que o Rio Grande do Norte teve que ceder ao Brasil. Pertence, realmente, ao Brasil, como patrimônio do que o Brasil hoje pratica de melhor em sua vida pública.

Desejo do Presidente Renan Calheiros a todos os servidores do Senado um Natal de paz e um Ano Novo de expectativa e de luta - não consigo imaginar que possa haver esperança sem haver a figura da luta -, e que o Ano Novo signifique o Brasil se mexendo, se movimentando pelos seus direitos. O brasileiro tem que acreditar que depende dele o seu destino. Nada cai do céu.

Ainda há pouco vi uma cena, ali no nosso computador de bancada: o Presidente Lula com chapeuzinho de Papai Noel. E lembrei-me de um fato ocorrido com um adversário de V. Exª, Srª Presidente, o Presidente Fernando Henrique. Fui com ele, agora, a Recife, em cuja Assembléia Legislativa foi homenageado. Ao final, depois de uma manifestação de um grupo artístico, alguém o presenteou com um belíssimo chapéu de vaqueiro. Ele agradeceu e disse que ia para o acervo dele. E os fotógrafos lhe pediram que colocasse o chapéu, e ele disse: “Chapéu, nem ex-Presidente deve colocar”. Nem ex-Presidente, porque não é muito bom que, hoje, seja de Papai Noel, amanhã, seja de Rei Momo, depois de amanhã, de vaqueiro, e assim por diante. Entendo que essa questão da compostura formal deva ser obedecida e seguida.

Enfim, pergunto: o que será que esse Papai Noel vai entregar para o Brasil em 2006? Será que entrega, efetivamente, a colaboração para uma conclusão feliz dessas Comissões Parlamentares de Inquérito? Será que entrega, efetivamente, o desaparelhamento do Estado brasileiro feito pelo seu Partido? Será que entrega o mínimo dos compromissos que lhe fizeram obter 53 milhões de votos nas eleições? Será que esse Papai Noel é para inglês ver ou, de fato, encarnaria a figura de, em 2006, procurar atender a desejos básicos do povo brasileiro?

A foto representa pouco; não gosto muito. Penso que a melhor indumentária para um Presidente da República, se estiver visitando uma obra, seja um traje esporte; se estiver trabalhando, paletó e gravata, e não vejo que seja outra. Não tem de receber um rabino e colocar o kipar, aquele símbolo de rabino na cabeça; receber o jogador de futebol e calçar uma chuteira; receber uma bailarina e calçar uma sapatilha. Sinceramente, entendo que não deve. Há uma compostura formal que deve ser seguida com muita tranqüilidade.

Espero que o próprio Presidente da República, ele próprio, tenha um Natal feliz ao lado da sua família, ao lado de sua esposa, dos seus filhos e que ele reflita sobre o Governo que se foi, sobre os três anos que se passaram, sobre a perda de conceito que ele sofreu e ele próprio procure oferecer tudo aquilo que o povo brasileiro está a esperar dele neste final de governo - porque é final de governo, sim -: trabalho, dignidade, decência, probidade.

Se ele fizer isso, ano que vem volto aqui para dizer que terá feito um 2006 melhor do que 2003, 2004 e 2005, que foram defraudados do ponto de vista da esperança. Que, em 2006, resgate, recupere o máximo que possa de uma biografia que um dia eu próprio já admirei muito.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2005 - Página 45341