Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a questão da reeleição do Presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a questão da reeleição do Presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 25/01/2006 - Página 1721
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PREVISÃO, INSUCESSO, COMENTARIO, DADOS, PESQUISA, AVALIAÇÃO, FALTA, APOIO, POLITICA PARTIDARIA, EXPECTATIVA, DECISÃO, VOTO, POPULAÇÃO.
  • AVALIAÇÃO, PERDA, CONFIANÇA, POPULAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGLIGENCIA, CORRUPÇÃO, CRITICA, ANTECIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, PREJUIZO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • APREENSÃO, FALTA, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL, PARALISIA, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL, INEFICACIA, REGULAMENTAÇÃO, CONCESSÃO, SERVIÇOS PUBLICOS, INFRAESTRUTURA, PREJUIZO, ATRAÇÃO, CAPITAL ESTRANGEIRO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM - Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, entendo que é completamente prematura, desnecessária e, para usar a linguagem jurídica, despicienda toda essa discussão sobre eleição. Deixo a agonia da eleição para o Presidente Lula, que deveria governar para tentar se legitimar. Prefere, no entanto, entregar a sua alma na luta insana por uma reeleição que, sinceramente, não vejo atingível. Não vejo atingível por uma razão bem simples.

Senador José Agripino, nós conhecemos a raiz política do País. Quem está com o poder na mão, sobretudo disputando uma reeleição, e não conta com 55%, 57% dos votos, está fadado, sinceramente, ao fracasso. O Presidente Lula, quando candidato em 1998, enfrentou o Presidente Fernando Henrique, candidato à reeleição, que vivia claramente dificuldades de popularidade. E o Presidente Fernando Henrique, em nenhum momento, deixou de ter menos de 51% de apoio. Sempre teve de 51% a 54%, e derrotou Lula com 54% dos votos no primeiro turno. E não vivia o seu melhor momento de popularidade. O Presidente Lula vive assim como o doente que sai da UTI e volta para a UTI. Numa pesquisa tem 30 e não sei quantos, noutra não chega a 30%. São números que demonstram claramente que Sua Excelência não tem mais uma conformação majoritária para vencer uma eleição.

Senador Antero Paes de Barros, sabemos que haverá um momento em que as candidaturas todas serão postas, as oportunidades de mídia serão equalizadas, serão mais proporcionais, e a tendência é se esvaziar mais e mais uma candidatura que, repito, não tem compleição majoritária.

Se eu fosse jornalista e tivesse que fazer uma pergunta ao Presidente Lula, uma pergunta só ao Presidente Lula numa entrevista coletiva, que ele não concede - então estou sendo surrealista - eu diria: Presidente Lula, Vossa Excelência, se eleito, mais uma vez - Deputado Silvio Torres - governará com quem? Com o seu Partido emagrecido pela metade, com sua legitimidade cassada por esses fatos todos arrolados de abril para cá? Governará com parte, no máximo parte, do PMDB? Governará com que partidos? Governará com aqueles que, porventura, escapem das cassações? Qual é a qualidade da governabilidade que Vossa Excelência pode oferecer a esta Nação? Qual é, portanto, a tranqüilidade - Deputado Paulo Magalhães - que Vossa Excelência, Presidente Lula, pode oferecer ao País? Como poderá falar em governo se não tem governabilidade para oferecer?

Este é o fato, Senador Antonio Carlos: não tem governabilidade a oferecer. E, se não tem governabilidade a oferecer, estaria chamando a sociedade para uma aventura. Mas a sociedade brasileira é madura o bastante para não se meter em aventuras. Por isso entendo como um esforço tolo, um esforço inglório do Presidente Lula o de vender a alma ao diabo para disputar uma eleição que não lhe dará vitória. Mas ele tem o direito de fazer isso. Vamos ver se estou certo ou não quando as urnas se abrirem.

Acredito muito, Senadora Heloísa Helena, no equilíbrio das coisas; acredito muito. Acredito muito que o Brasil, como nação, é uma Nação madura, a sociedade é exigente. Mas, até na minha vida pessoal acredito muito no equilíbrio. No momento em que estou equilibrado com a alimentação, equilibrado e harmonioso com a minha família, rendo mais intelectualmente, sinto-me melhor fisicamente. Acredito muito na interação com a natureza, na prática de esportes. Acredito muito na relação afetiva. É preciso ter afeto em torno das pessoas para que elas se sintam bem. Eu, portanto, acredito muito no equilíbrio que o Brasil está a cobrar.

O Presidente Lula deve ser, hoje, uma mente torturada porque o Presidente Lula não tem capacidade de vencer uma eleição. Está fazendo o impossível para se convencer do contrário. Ele não está querendo convencer ninguém, não. Ele quer convencer a si próprio. Quando vai a um canal de televisão, quando dá uma entrevista e insiste em negar o “mensalão”, insiste em fugir pela tangente diante de tantas acusações tão pesadas que literalmente desmoralizaram o seu Governo, arranharam e rasgaram a sua biografia, Sua Excelência, cada vez mais, perde em conceito.

Eu aprendi que governantes podem ter popularidade ou não, podem perder a popularidade momentaneamente e recuperá-la mais adiante ou podem perder a popularidade para sempre e, ainda assim, saírem populares e respeitáveis de um governo. O que não se pode perder é a credibilidade. O Presidente Lula perdeu a credibilidade diante do seu País, da sua Nação e do seu povo. Senador Juvêncio da Fonseca, esse é o fato irretorquível, inegável e inescapável!

Eu me constranjo com toda essa parafernália de movimentação eleitoreira, licitações deixadas de lado. De repente, vê-se a urgência de tapar buracos, como se não fosse urgente antes.

O Presidente Lula diz que não houve nada, que tudo é denuncismo da imprensa, que tudo é injustiça da Oposição. No entanto, seu Primeiro Ministro virtual cai; no entanto, dezenas de dirigentes de empresas estatais são demitidos por acusações pesadas de corrupção contra eles; duas direções do PT são alteradas em poucos dias. Um tsunami varreu a vida e a biografia dessas pessoas. E ele insiste, com ar brutal de cinismo, que não houve nada, que não há nada, que não deve nada, que não tem de explicar coisa alguma e ainda diz que teríamos de pedir desculpas a ele. Fiquei imaginando: pedir desculpas ao Senhor Presidente do que e por quê? Perdoa-me por me traíres? Perdoa-me por teres tratado mal este País? Perdoa-me por teres fraudado a expectativa de 53 milhões de brasileiros? Perdoa-me por não teres resposta adequada para tantas denúncias de corrupção, as mais inusitadas, as mais complexas e, ao mesmo tempo, as mais bem elaboradas e sistêmicas que já se viu nesta República ao longo de todo o seu tempo? O Presidente logo é desmentido por novos fatos, por novas denúncias.

Percebo, Senadora Heloísa Helena, que quando houve esse bombardeio - certamente em parte justo - contra o Congresso nesse episódio da convocação extraordinária, de repente, mudou-se um pouco o foco. Se quiséssemos fazer uma estatística, veríamos que o percentual de notícias negativas do Governo decresceu. A tribuna foi silenciada. Viaja de lá para cá como uma lançadeira. O foco está em cima do Congresso. Melhorou um pouquinho. Mas não vejo onde estão os percentuais convincentes. Nem na pesquisa do Ibope percentual nenhum foi convincente. Acabei de ver os dados de uma pesquisa feita pelo meu Partido, pelo Instituto Ipsos. O Governador Geraldo Alckmin vence no segundo turno com mais de cinco pontos de vantagem. Serra tem 18 pontos de vantagem, no segundo turno, em relação ao Presidente Lula. Vi a pesquisa. Margem de erro para cá, margem de erro para acolá.

Volto a dizer que me lembro, em 1998, quando o Presidente Fernando Henrique, homem sempre respeitável, tinha tudo, menos popularidade. Não era popular em 1998, mas não teve a menor dificuldade de eleger-se Presidente da República contra o Presidente Lula. Ele jamais teve menos que 51% e ganhou com 54%. E não estava popular. A reeleição é um instrumento muito poderoso nas mãos de quem detém o poder. O Presidente Lula, com tudo o que faz, com toda a falta de escrúpulo para usar a máquina, tem 30% ou 27% numa pesquisa ou 32% noutra pesquisa. Quinhentos cenários contra o Presidente Fernando Henrique, que não é candidato - ele está em Genebra neste momento e candidato tem de estar aqui, não tem de estar em Genebra. O Governador Aécio Neves tem 75% dos votos em Minas Gerais, isso, sim; ele não é candidato a Presidente da República. Contra não sei mais quem, não sei mais quem. O fato é que o Presidente Lula, por parte do PSDB, enfrentará o Governador Geraldo Alckmin ou o Prefeito José Serra. Será um dos dois. Ele perde dos dois no segundo turno, nas pesquisas sérias que conhecemos. Ele perde do Prefeito José Serra, em qualquer pesquisa, até nas menos sérias.

Agora, eu diria para deixar ele brincar de candidatura. Mas isso só atrapalha o País: o uso da máquina. São R$30 bilhões torrados em ações ditas emergenciais que revelam irresponsabilidade administrativa. São R$30 bilhões! Jogam por terra parte do esforço fiscal que o País faz, para não se chegar a resultado duradouro qualquer, para não se chegar a resultado duradouro nenhum.

Passando em revista todos os fatos, Deputado Sílvio Torres, vejo que o Brasil - aí tem a crise política no meio, uma excessiva ortodoxia econômica no meio, a paralisia e a incapacidade de se gerenciar a máquina - mas o Brasil cresce, neste ano, certamente menos que 2,2%, menos que a América do Sul, o que é lamentável, menos do que a América Latina, o que é grave, muito menos do que os emergentes, o que tem sido uma praxe, infelizmente. E dois dados começam a aflorar: menos do que a média do mundo, ou seja, menos do que a média entre emergentes e ricos e menos do que os ricos sozinhos, menos do que os Estados Unidos.

O Brasil, portanto, está vendo desperdiçar o mais virtuoso momento da economia internacional de que já tomei conhecimento em toda a minha vida. Poderíamos estar agora, neste momento, atraindo investimentos para infra-estrutura, preparando o País para o crescimento sustentável acima de 5%, por dez anos ou mais. E não soubemos fazer isso, porque faltou lucidez à Ministra Dilma Rousseff ao compor os marcos regulatórios, os quais atrairiam capitais para sustentar o desenvolvimento econômico brasileiro. Faltou lucidez! E depois a crise econômica estiolou a confiança.

Dizem eles que caiu o risco-Brasil. Está tão bom o momento internacional que o apetite pelos papéis de maior risco está permitindo esse índice. Contudo, a Venezuela do Coronel Chávez apresenta hoje risco menor do que o brasileiro: 279, o Brasil; 272, a Venezuela.

As razões internacionais têm aliviado - e muito - agruras que seriam maiores se este Governo incompetente e incapaz estivesse governando sob crise de fora para dentro.

A máquina não anda. A máquina não funciona. Se essa máquina funcionasse, quem sabe mais 0,5% de crescimento positivo pudesse ser acrescentado ao País. Mas a máquina não funciona, o Governo não governa, o Governo não se governa, o Governo não governa o País. E se a máquina não funciona, nós temos outro dado: a falta de marcos regulatórios convincentes deixa de atrair os capitais que permitiriam ao País um crescimento maior do seu PIB sem inflação adicional.

Portanto, Sr. Presidente, não posso deixar de comentar esse quadriênio perdido. Quadriênio perdido, sim, porque, desperdiçando todas as oportunidades que de dentro para dentro e de fora para dentro jamais se apresentaram tão virtuosos, o Brasil cresce mais do que o Haiti. Esse é o prêmio de consolação de um Governo que é o retrato da falência administrativa.

Os casos e os escândalos se sucedem com desdobramentos; casos novos ou desdobramentos novos para casos velhos. Esse caso de Santo André, por exemplo. Onde está o tal rapaz que disse que não matou ninguém? Desapareceu. Onde está ele? Alguém o está homiziando? Alguém o matou? Onde está esse rapaz?

Hoje esteve aqui o legista e mostrou a deformação que impuseram ao Prefeito Celso Daniel. E todos do Partido do Governo dizem: - “Ah! Estamos contristados, era nosso companheiro”. Mas não vejo um grande afã em investigar até o final, doa a quem doer. Não vejo. Não vejo uma decisão política firme de investigar até o final, doa a quem doer, custe o que custar, dê no que der, haja o que houver. Não. Ao contrário, a tentativa é de postergar, a tentativa é de desmoralizar as investigações, a tentativa é de impedir que elas cheguem ao seu curso mais profundo, ao seu leito mais profundo.

Portanto, Senador Mão Santa, nós aqui praticamente reabrimos o debate de onde estávamos. Vejo um poder desesperado, que não tem nenhuma razão para se manter a não ser os interesses talvez pouco confessáveis de alguns e o egoísmo de outros tantos. Eles não têm legitimidade para postularem à Nação o retorno a um poder que não merecem, mas quem vai dizer isso é o próprio povo e vai dizer na hora certa. O povo vai dizer o que quer. O povo tem o direito de viver os seus dramas e viver suas soluções.

Sempre digo que o Brasil é um país muito triste, porque temos dramas cotidianos que ainda não deram nos grandes épicos. Eu me refiro, por exemplo, às mulheres de Leningrado. Eu me refiro a tantos heróis que o mundo inteiro canta e louva. Os nossos heróis morrem todos os dias, morrem de alcoolismo pelo desemprego, morrem por causa da prostituição, nossos heróis morrem perdidos no desalento a que lhes lega uma ordem de coisas secularmente injusta no País, uma ordem injusta de coisas, que concentra renda em poucas mãos, que procura manter apartadas das possibilidades de ascensão na vida as grandes massas populares. Tudo isso é absoluta verdade. Tivemos uma oportunidade fantástica de dar um grande salto, e o Brasil não consegue mais do que crescer acima do Haiti. O Brasil não consegue mais do que, pelo seu Presidente da República e seus acólitos, dizer que quer investigar, e obstaculiza as investigações. Limita-se a um jogo que nega o mais elementar amor próprio e se satisfaz ao dizer: Fulano do meu partido não presta, mas Beltrano do outro partido também não presta, num jogo de negação quando imaginamos homens públicos que têm orgulho de suas biografias e de suas vidas. O importante para mim é saber que eu presto e é claro que tenho o dever de denunciar quem eu julgue que não presta. Não me consolo em admitir que, porventura, não prestando, Fulano de tal não presta também. É uma decepção muito grande até para aqueles que não votaram no Presidente Lula, uma decepção muito grande.

De repente, os acólitos dizem: “Presidente, com o seu carisma o senhor vai para as eleições. O senhor vai para as esquinas, o senhor fala, a gente libera não sei quanto, até porque, Senador Pedro Simon, querem eleger Deputados, querem eleger Governadores, querem eleger Senadores, até porque estão pouco preocupados com o que vai acontecer com a eleição do tal Presidente Lula. Querem saber de se manterem vivos politicamente. Digo e repito que é insano o que vem fazendo o Presidente: torra R$30 bilhões, joga ao léu, ao vento, ao lixo, em obras ditas emergenciais, muitas sem licitação, para tentar ganhar uma eleição, não para melhorar a qualidade de vida do povo e não para infra-estruturar o desenvolvimento econômico do País; torra porque tem um projeto que é inconfessável no interesse de alguns e é, ao mesmo tempo, decorrência do egoísmo de outros tantos, a começar pelo próprio Presidente.

            Menos agonia e mais governo, é o que o País esperava, mas eu já parei de esperar qualquer coisa desse Governo. Venho e retomo hoje, com muita força, o meu mandato de Líder do PSDB. Venho para dizer com muita clareza que farei oposição denodada, sempre ética, sempre firme, mas denodada a uma ordem de coisas que apodreceu, ...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - … a uma ordem que se revelou incompetente, a um Presidente que perdeu a legitimidade, a uma ordem de coisas a cujos dirigentes tem faltado nobreza, compromisso, seriedade, revelando quase uma incapacidade de olhar nos olhos da Nação brasileira.

            Nós vamos fazer como sempre fizemos ao longo de três anos. Mesmo quando muitos julgavam que esse era um trabalho inútil, porque, afinal de contas julgavam que o Presidente da República era um ser inexpugnável, nós fizemos oposição a ele, e vamos continuar a fazer oposição, porque entendemos que, mais do que nunca, é preciso que vozes se levantem para dizer que o Brasil vai dar um basta ao esquema sistêmico, endêmico, epidêmico de corrupção que se montou neste País e que se alia a monumental incompetência administrativa.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Isso tem que ser denunciado conjuntamente, firmemente, por todos aqueles que têm legitimidade, caráter e decência para lidar com uma Nação que tem que ser respeitada pelos brasileiros.

Obrigado, Sr. Presidente.

Era o que eu tinha a dizer.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/01/2006 - Página 1721