Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pela passagem do Dia dos Carteiros, na data de ontem. (como Líder)

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Homenagem pela passagem do Dia dos Carteiros, na data de ontem. (como Líder)
Aparteantes
Amir Lando, Heráclito Fortes, Mão Santa, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 27/01/2006 - Página 2304
Assunto
Outros > HOMENAGEM. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, CARTEIRO.
  • IMPORTANCIA, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), MELHORIA, REPUTAÇÃO, ORGÃO PUBLICO, COMBATE, CORRUPÇÃO.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Nem se preocupe, Senador Romeu Tuma, porque não falarei esse tempo todo, para possibilitar que os outros Parlamentares inscritos possam falar. Como amanhã haverá sessão normalmente, estaremos aqui trabalhando normalmente.

Amanhã haverá uma sessão especial em homenagem às vítimas do Holocausto. É um dia de trabalho como outro qualquer - mais especial ainda - e estaremos todos aqui. Observarei quem se fará presente, Senador Sibá Machado.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, não tive a oportunidade de fazer uma homenagem ao Dia dos Carteiros. Ontem, foi uma confusão tão grande aqui na Casa - claro que uma confusão no bom sentido, de muitas votações, muitos debates e muita problematização de idéias e dos projetos que estavam em pauta - que não tive condições objetivas de fazer tal homenagem. Hoje, rendo preito aos carteiros, em nome dos Senadores Mão Santa, Alberto Silva, Flexa Ribeiro, de todos os Senadores.

De fato, o carteiro acaba sendo o principal símbolo dos Correios, e os Correios, que é uma estrutura muito poderosa, com uma clara demonstração de qualidade técnica, acabaram sendo vítima dos crimes patrocinados contra a administração pública por alguns delinqüentes da política, os quais criaram um problema gravíssimo para a imagem dos Correios e, de um modo muito particular, para a imagem dos trabalhadores da instituição, especialmente os carteiros.

Senadores Sibá Machado e Romeu Tuma, às vezes, dirigindo ou atravessando as ruas, no interior ou aqui, encontro vários carteiros amigos meus, que imediatamente dizem: “Nós queremos que apurem o caso para evitar que comprometa a imagem dos Correios”. Isso tudo pode levar alguém a ter a ousadia de falar em privatização ou criar um problema gravíssimo para a imagem dos Correios.

E todos nós temos uma história sobre carteiro, que faz parte da nossa vida desde a infância. Há até música sobre os carteiros, coisas que têm muito a ver com toda gente, desde o cachorro correndo atrás....

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Há até um samba bonito.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senadora Heloísa Helena, permite-me V. Exª um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Pois não, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senadora, é muito oportuna esta homenagem. Ramez Tebet, ontem, recordou também, e, agora, Heloísa Helena, atenta a todas as classes. Mas eu queria lembrar que o filme mais emocionante é “O Carteiro e o Poeta”. Pablo Neruda, o socialista, um homem avançado. Ele ficou exilado lá no Uruguai, Alberto, numa praia distante, como Macapá. Então, era uma dificuldade muito grande para o carteiro chegar até lá. Por ironia do destino, Neruda era quem mais recebia cartas, correspondência do mundo, e nasceu uma grande amizade. Mostra parte importante da vida do grande poeta e socialista que foi Pablo Neruda.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Concedo um aparte ao Senador Amir Lando. Sei que compartilha da homenagem também o Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Nobre Senadora Heloísa Helena, V. Exª, como sempre com acuidade, com emoção, nos brinda esta tarde com este discurso fantástico sobre o Dia do Carteiro, essa figura, muitas vezes incógnita, mas que presta um serviço, é um elo da comunicação, daquilo que é exatamente a carta onde as palavras ficam gravadas. E o homem, quando inventou a escrita, exatamente encontrou na carta a possibilidade de manifestação do sentimento. É essa figura que percorre quilômetros e quilômetros, que tem nas pernas o seu grande instrumento de trabalho, mas tem também no coração esse desejo de servir. O carteiro realmente é o elo da comunicação. Quantos amores unem os carteiros! Quantas saudades matam, trazendo notícias os carteiros! Quanta notícia boa e notícia ruim levam os carteiros! Por isso, neste dia, é justa a homenagem. V. Exª está de parabéns ao fazer esse discurso específico para, mais uma vez, engrandecer essa profissão desconhecida, singela, mas que tem a nobreza e sobretudo o esforço, a dedicação dessas pessoas, homens e mulheres, que trabalham. Levando as notícias, vocês levam as asas da saudade, da esperança e do sentimento humano.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Muito bem, Senador Amir Lando. Agradeço de coração a V. Exª.

Ouço o Senador Heráclito.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senadora.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senadora Heloísa Helena...

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador Heráclito, desculpe-me. A Mesa não poderia interromper, mas é a homenagem mais bonita que posso sentir nesta semana tão difícil. E, quando a senhora falou da música, lembrei-me da Dircinha Batista: “Quando o carteiro chegou, trazendo uma carta na mão...

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - ... e meu nome gritou.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Seu nome gritou.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - ... com uma carta ...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - ... na mão”.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Eu era muito pequenininha, viu? Tuma e Heráclito já eram homens feitos.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - E que Deus abençoe esses carteiros.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Heráclito, querido.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Eu pensava que a Senadora Heloísa não era nem nascida ainda na época dessa música. Tomou conhecimento pela sua mãe, que cantava a música para niná-la.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Ela cantava mesmo, quando eu era pivete. Era ela que cantava. (Risos.)

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Mas, Senadora, V. Exª presta aqui uma homenagem justa e num momento oportuno, num momento da maior justiça. Os carteiros, no ano passado, tiveram um ano todo de adversidade, apanhando por causa da CPMI que levou o nome dos Correios. Injustiçados, incompreendidos, uma Instituição enlameada. Senadora, tive uma convivência muito grande com os Correios e, de maneira muito especial, com os carteiros do Brasil, porque fui superintendente do Postalis, que é o fundo de pensão dos funcionários. Tive essa convivência, para mim, fantástica, numa época da minha vida - foram menos de dois anos -, o que me enriqueceu muito, porque vi a auto-estima que aquela gente tem com a profissão. Recentemente, fui ao interior do Piauí e estava no auge a campanha que se fazia contra os Correios. O Maurício Marinho era símbolo do mal no Brasil, e aquilo contaminou, num primeiro momento, todo o órgão. E um carteiro me chamou aborrecido, chateado e me disse: “Senador, antigamente a gente corria nas ruas com medo dos cães ferozes; agora são os meninos nos chamando de mensalão, de ladrões. Então, eu queria que o senhor fizesse alguma coisa em Brasília para mudar esse conceito, porque não temos nada a ver com isso”. Na época, fiz um pronunciamento na Comissão e na tribuna. V. Exª faz agora, na data de homenagem aos carteiros, um pronunciamento com tudo que tem o seu dedo: o condimento do amor, do carinho e, acima de tudo, o lado humano com que trata os carteiros e essa profissão muito querida. Estamos homenageando aqui o carteiro, a família do carteiro. Não estamos homenageando aqueles que sentam nos tapetes e no ar condicionado, os dirigentes do órgão - se bem que muitos até merecem elogios; a questão, no momento, é o carteiro, que simboliza uma parte muito importante da nossa vida. Nada substitui a figura do carteiro. Não há neste mundo um ser que, de maneira direta ou indireta, não deva um favor ao carteiro pelo que trouxe de bom nas nossas vidas. Parabéns a V. Exª.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço de coração a V. Exª, Senador Heráclito.

Ouço o nobre Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senadora Heloísa, já que havia uma dúvida aqui quanto ao período da música, eu só me lembro muito bem de que quem cantava era Vanusa, pelo menos a interpretação...

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Sibá, você está frito!

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ... a interpretação que eu tenho - pelo menos eu tinha um long play, um LP, interpretado por Vanusa.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - É que o senhor é criança ainda, Senador.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Não, uma das duas louras.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Wanderléa.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Uma das duas louras. Tá bom. Tá ótimo! Duas louras lindas.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Aí eu me lembrei, então, de uma piada do Barnabé. O Barnabé dizia na piada dele: “Ah, minha irmã casou no mês passado. Coitada da minha irmã!” Aí alguém perguntava: “Por quê?” “Porque minha mãe vivia dizendo a ela: ‘Minha filha, você tem que seguir os passos do seu marido’.” “E daí?” “Daí que minha irmã casou com um carteiro. Vai ter que andar demais daqui pra frente.” Senadora, estou aproveitando essa oportunidade também para dedicar aqui minha singela solidariedade e parabenizar essa categoria tão importante, que transporta as correspondências das pessoas, leva as notícias de uma para outra, o que envolve, primeiramente, confiança, pois uma das coisas mais baixas e nojentas é alguém interceptar, abrir, ler uma correspondência de outro. Então, é um privilégio contarmos com o trabalho de um carteiro, que entrega cartas muitas vezes recebido por um cachorro valente, numa porta que bate, e que muitas vezes é até motivo de charges ou de ironias. Quero dizer que, entre as cores da Bandeira do Brasil, a que mais me chama a atenção é a amarela. Chama-me muito a atenção o amarelo. Penso no amarelo, penso na Seleção Brasileira, penso no Banco do Brasil e penso nos Correios, porque acho que transfere para nós, de cara, a visão do País, a visão da Nação, o amor patriótico e tantas outras coisas. Então, quero dedicar estas palavras meio distorcidas, com carinho, a essa brilhante categoria.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço a V. Exª, Senador Sibá.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senadora Heloísa Helena...

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Pois não. Os dois vão decidir agora quem é na realidade.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Eu acho que o Senador Sibá tem razão: a música que envolvia carteiro e carta da Wanderléia é uma que o Mão Santa cantava muito na juventude, que dizia que alguém recebeu uma carta apaixonada de uma pessoa e que no envelope só continha como remetente Teresina, Piauí. Era uma música da Wanderléia da mesma época, são contemporâneas. De qualquer maneira, são duas homenagens que as duas intérpretes prestaram aos carteiros brasileiros.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço a V. Exª e, mais uma vez, Senador Romeu Tuma, só quero deixar registrado: apesar de toda a turbulência por que passa ainda a estrutura dos Correios, em função do banditismo eleitoral, da vigarice política, da articulação promíscua entre setor empresarial, gangues partidárias, relações promíscuas as mais diversas, sabemos o quanto isso causou sofrimento a essa categoria. O quanto causou sofrimento!

A todas as mulheres e homens que fazem os Correios do Brasil, a homenagem de todos os Senadores que estão na Casa, como bem fizeram questão de verbalizar, a homenagem a quem constrói laços, promove encontros, esclarecimentos, tristezas ou alegrias, mas que, sem dúvida alguma, constrói laços. E são tantos carteiros no Brasil, Senador Romeu Tuma. E muitas pessoas ficam à porta esperando o carteiro para ver se a correspondência veio. Já o conhecem carteiro e lhe perguntam: “Veio a correspondência?” E o carteiro às vezes responde: “Não veio”. São tantas as pessoas que conversam, choram ou se alegram com os carteiros diante de correspondências recebidas.

Então, para esses que... E pensemos só no lado positivo, porque a vida da gente tem tantas tristezas, tantas tristezas, que nem vale a pena fazer isso.

Nossa homenagem a quem, de forma muito especial, promove laços, encontros, esclarecimentos, de tristeza ou de alegria, mas, acima de tudo, laços a serem construídos, como o Senador Sibá Machado disse, com muita ética, o que não é uma coisa simples. Não é um trabalho qualquer. É um trabalho que exige um rigor ético muito grande. Não é à toa que aquele ato do Sr. Marinho, que causou tanta tristeza para os trabalhadores do setor - e certamente também para ele e para a sua família -, acabou levando ao esclarecimento de outros fatos extremamente graves dos Correios. O ato do Sr. Marinho acabou levando também ao esclarecimento de mecanismos que possibilitavam a fraude, e talvez, a partir de agora, se minimize o risco das fraudes e dos crimes contra a Administração Pública.

Agradeço a V. Exª e peço desculpas por ter ultrapassado o tempo, Senador Romeu Tuma.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senadora, imagine os Correios chegando a uma praça de guerra no Iraque ou no Haiti. O que deve representar uma carta nessa hora?

Que Deus abençoe os carteiros e que nós possamos sempre receber notícias boas.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Sr. Presidente, apenas para mostrar a importância da TV Senado, Senadora Heloísa Helena, acabo de receber um telefonema aqui de um amigo de Teresina, Acelino Portela, um grande ouvinte e apreciador da música e da TV Senado, como demonstrou.

Ele diz que a música é de 1968. A autoria é de Américo Nunes e Aldo Cabral. E, realmente, V. Exª ganhou, Senador Sibá: quem canta é a Vanusa. A minha é outra; é a do carteiro que fala “Teresina, Piauí”.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Mas, Senador Heráclito Fortes, isso vai significar que V. Exª é mais jovem do que o Senador Sibá Machado. Se eu fosse o Sibá, eu errava de propósito.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/01/2006 - Página 2304