Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Publicação
Publicação no DSF de 28/01/2006 - Página 2380
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, VITIMA, GENOCIDIO, GOVERNO, NAZISMO, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DETERMINAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), CRIAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, HOMENAGEM, VITIMA, GENOCIDIO, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmª Senadora Heloísa Helena, que preside a sessão; convidados, líderes, autoridades presentes a este evento, confesso aos senhores que a minha atividade aqui, no Congresso Nacional, tem muito a ver com a luta contra todo o tipo de preconceito. Conseguimos aprovar, este ano, o Estatuto da Igualdade Racial, como instrumento de combate àqueles que, por pura ignorância e incapacidade, atuam ainda na linha do racismo e do preconceito.

Por isso, Srª Presidente, Senhoras e Senhores, eu gostaria de dizer que são eventos como este que nos fazem parar, refletir e perguntar por que o nazismo teria levado à morte milhões e milhões de judeus; não só judeus, como também homossexuais, negros e outras vítimas. Que demência é essa que faz com que o ser humano - se assim se pode dizer - cometa atos como esse contra o próprio ser humano?

Povos, raças, comunidades. Famílias destruídas: pais, mães, filhos, avós, tios, amigos, vizinhos, conhecidos... Enfim, sonhos de vida apagados, porque foram assassinados.

Quem de nós não assistiu aos filmes, Senadora Heloísa Helena? E quem não ficava chocado e emocionado com estas cenas: “Mamãe, leve-me com você, dê-me a sua mão, não me deixe”. E a mãe respondia: “Acalme-se, filho, tudo vai ficar bem”. Mas, mamãe, estão nos tirando a roupa. Por quê essa fila? Que fumaça é aquela que sai daquela chaminé? Mamãe, não me deixe só. Será que nos vão matar?” São perguntas que ficaram. E eles morreram.

Entendo também que, nesta reflexão, é de fundamental importância se ter consciência de que esses crimes foram cometidos e que jamais conseguirão apagá-los da nossa memória.

Esta Casa está de parabéns por realizar esta sessão especial destinada a lembrar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

Se os senhores me permitem, quero falar também de um brasileiro e de uma brasileira; quero falar do Diplomata Luiz Martins de Souza Dantas, já falecido, Embaixador em Paris, de 1922 a 1942, que emitiu centenas de vistos durante os anos mais duros da repressão nazista, salvando, assim, centenas e centenas de vidas.

Ao Diplomata Luiz Martins de Souza Dantas, já falecido, brasileiro, por esse grande ato, tomo a liberdade de pedir palmas para ele e para todos aqueles que assim agiram em defesa da vida humana. (Palmas.)

Dantas salvou cerca de 500 pessoas de morrerem em campos de extermínio. Esse verdadeiro herói é reconhecido oficialmente pelo Museu do Holocausto, em Jerusalém, como “Justo entre as Nações”, nome dado aos que arriscaram suas próprias vidas em defesa das vítimas do Holocausto.

Quero lembrar também, Senadora Heloísa Helena, até em homenagem a V. Exª, que é uma guerreira, uma lutadora, que, entre os Justos, também há uma brasileira: Aracy de Carvalho-Guimarães Rosa, que foi assistente do Embaixador Dantas, em Berlim, durante a Segunda Guerra Mundial. E somente ela, por seu próprio arbítrio, emitia vistos para salvar vidas. Por isso, palmas para Aracy de Carvalho- Guimarães Rosa. (Palmas.)

Nem vou falar aqui do grande Oscar Schindler, que todos vimos no filme, que salvou mais de 1.500 companheiros, eu diria, judeus, de serem assassinados covardemente. Ele já é homenageado permanentemente por todos nós.

Mas eu diria para os senhores que são atos como esse, de amor e de humanismo, que nos fazem acreditar que um outro mundo é possível. Um mundo sem crime, sem racismo e sem discriminação, em que negros, brancos, índios, homossexuais, enfim, todos os que são discriminados tenham as mesmas oportunidades e direitos.

Quero aqui, se me permitem, lembrar um fato que me deixou muito feliz: em São Paulo, a Comunidade Bahá’í presenteou-nos com um diploma, uma homenagem, por termos aprovado a Lei nº 9.457, de 13 de maio de 1997, que condena todos os atos de preconceito. E ela é muito dura, inclusive, em relação à famigerada e condenada Cruz Suástica.

Srª Presidente, já vou concluir.

Escrevi um livro, ao qual se referiu o nosso Senador Mão Santa, em que há uma poesia, que ontem resgatei, e que caberia neste momento. É pequenina, e eu a escrevi num certo momento da minha vida.

O nome do livro é Cumplicidade: política em poesia. Penso que tem de haver essa cumplicidade entre os homens de bem.

O nome da poesia é: “Negros, Índios e Judeus”.

Negro, foste afastado, arrancado da tua Pátria Mãe África.

Cortaram abruptamente as tuas raízes que estavam

plantadas na beleza da terra fértil,

banhada por rios, cascatas e mares.

Índio, só querias viver integrado com a natureza!

Mas não te foi dado o direito de viver e nem morrer em liberdade.

Judeu, foste perseguido, arrancado da tua casa, do teu lar,

Dizimaram tua família.

te jogaram não nos porões dos navios negreiros,

mas nos campos de concentração.

Na verdade, campos de extermínio,

com o objetivo de massacrar toda uma nação.

Crianças, jovens e velhos foram covardemente assassinados.

Genocídio que envergonha o homem perante a História.

Nossas vidas estão entrelaçadas pelo sofrimento, pelo sangue

e pelas lágrimas derramadas com o assassinato dos nossos entes queridos.

Na história recente da Humanidade, ninguém sofreu tanto

pelo preconceito como os negros, os judeus e os índios.

Os livros tentaram negar a jornada histórica da

resistência em defesa das suas vidas.

Quiseram apagar o nosso passado para destruir o nosso futuro.

Não conseguiram, e nunca conseguirão!

Ao aprovar a lei contra as discriminações fiquei alegre e triste.

Alegre, por termos conquistado mais um instrumento de

luta na defesa da nossa cidadania.

Triste, porque esta lei demonstra o quanto o racismo está vivo.

É obrigação nossa combatê-lo de forma permanente.

Jamais deixaremos de lutar contra os pobres de espírito

e os preconceituosos.

Peço a Deus perdão!

Perdão, por aqueles que de forma covarde massacraram

negros, judeus e índios.

Perdão, pelos que defendem o “apartheid”.

Perdão, pelos que discriminaram velhos,

mulheres, crianças e minorias.

Perdão te peço também, Senhor, por todos aqueles que são

imbecis, pois somente os imbecis conseguem ser racistas.

Viva aqueles que tombaram na luta contra o racismo!

Vivam os que se dedicam a esta causa.

Vivam os que se dedicaram a ela ao longo de suas vidas.

Muitos tombaram por essa causa.

Termino dizendo: boa sorte, homens e mulheres, guerreiros e guerreiras.

Boa sorte a todos.

Pelos negros, axé!

Pelos índios, suetê!

Pelos judeus, shalon!

Viva a liberdade!

Viva a igualdade!

Abaixo o racismo e o preconceito!

Muito obrigado.

(Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/01/2006 - Página 2380