Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela passagem dos 50 anos de sua posse como Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela passagem dos 50 anos de sua posse como Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 01/02/2006 - Página 2551
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, DEMOCRACIA.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores aqui presentes, quero saudar a Mesa aqui composta e todos, carinhosamente, na figura da Anna Christina, mulher presente nessa Mesa e que traz no seu sangue a história de Brasília.

Senhoras e senhores, entendo que é sempre oportuno evidenciar a figura de Juscelino Kubitschek de Oliveira, o Presidente JK. Não devemos nunca perder qualquer oportunidade de falar deste homem, deste político, deste governante que marcou de forma tão profunda a História de nosso País.

Juscelino dá-nos sempre a oportunidade de discorrer sobre o processo democrático brasileiro que, aliás, foi tão falado aqui, mas que não custa rememorarmos sempre. Um processo que está sempre a requerer e a exigir o melhor das nossas capacidades.

Nesta comemoração dos 50 anos do Governo JK, que se estendeu de 1956 a 1961, é importante destacar:

1 - A relativa estabilidade política do período em todo o mundo;

2 - A ênfase no crescimento econômico com distribuição de riqueza;

3 - O respeito à democracia;

4 - O lugar especial ocupado pelo reconhecimento da cultura e dos valores nacionais;

5 - O novo papel ocupado pelo Brasil no cenário das nações.

O Presidente Juscelino Kubitschek teve um papel de relevo quando elencamos esses pontos. O mundo vivia sob a guerra fria, conflito mundial camuflado pelos Estados Unidos e a União Soviética. Era uma época de relativa paz ou, se preferirem, de escaramuças entre Estados Unidos e União Soviética. As políticas de enfrentamento dos Estados Unidos para ofuscarem o crescimento da União Soviética abriram novas possibilidades para o Brasil no plano externo. Internamente, as forças populares, o movimento operário, a juventude, as organizações de bairro, o movimento campesino passaram a ocupar um papel de destaque por intermédio de suas lutas e de sua organização.

Só que democracia, senhoras e senhores, não cai do céu. Democracia se constrói, democracia se conquista. Os trabalhadores e as trabalhadoras, os brasileiros e as brasileiras conhecem bem o significado dessas palavras. Juscelino foi um democrata. Sem dúvida, um grande democrata, um estadista, um político que conseguiu combinar crescimento econômico com estabilidade política, promovendo desenvolvimento com democracia e abrindo espaço para a livre expressão cultural e o desabrochar dos nossos valores.

Acima das críticas e das restrições que se façam a JK, e elas não são poucas, estará sempre a imagem de um presidente civil eleito pelo seu povo, amado pelo seu povo, que cumpriu o seu mandato até o final, sabendo superar de forma altaneira todas as crises que o acometeram. Estará sempre a imagem do Presidente que foi alvo de ódio e perseguição por parte daqueles que implantaram e sustentaram o Regime Militar no Brasil, e que morreu de forma trágica e ainda nebulosa, porque não dizer, por volta das 18 horas do dia 22 de agosto de 1976, no quilômetro 165 da estrada Rio-São Paulo, quando muitos ainda eram os brasileiros que sonhavam com a oportunidade de tê-lo novamente como Presidente da República.

Nada mais apropriado do que falar de Juscelino neste Senado Federal, neste Parlamento, encravado na paisagem de Brasília, paisagem que foi uma das paixões de Juscelino.

O compromisso de Juscelino com a democracia e o seu projeto de desenvolvimento marcaram o Brasil para sempre. Recentemente, nosso querido companheiro, o nosso querido companheiro, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, resumiu da seguinte forma seu entusiasmo pela personalidade de JK: “Acho que o melhor presidente que o Brasil já teve foi Juscelino Kubitschek. Não acredito em quem não tem objetivos, em quem não tem projetos, em quem não sonha alto. Eu acredito em gente como Juscelino.”

O Presidente Lula, também uma das grandes personalidades de nossa história contemporânea, em sua análise, destaca os objetivos que guiaram a trajetória de JK, objetivos plenamente realizados por meio das modernizações que implementou, com inegável ousadia.

Na China, o Presidente Mao Tse Tung, o grande guia e inspirador do povo chinês, tinha como um de seus slogans mais conhecidos a máxima “Ousar lutar, ousar vencer”. Foi com ousadia que os chineses construíram uma nação que hoje cresce de forma acelerada, destacando-se com uma das economias mais dinâmicas deste planeta, tendo como base principal dessa sua arrancada o trabalho e a criatividade do seu povo.

Ao pararmos para analisar a trajetória de JK e os exemplos que ele nos legou, devemos tomar como maior referência também a sua ousadia, a disposição com que soube construir as bases de um Brasil moderno que, desde então, vem se impondo como uma das principais e mais importantes nações da atualidade.

Eu, que represento o Estado de Mato Grosso neste Senado Federal, não posso deixar de registrar a gratidão de minha comunidade para com a ousadia administrativa de Juscelino.

Sei que a pujança que se observa hoje neste vasto interior do Brasil, a pujança que se observa hoje no Estado de Mato Grosso, com a expansão demográfica, com a ocupação dos espaços anteriormente vazios e com o fortalecimento da produção agropecuária, que faz com que regiões como Mato Grosso e também o Mato Grosso do Sul, Rondônia, Tocantins, Roraima e o Acre despontem diante do mundo como novos celeiros da humanidade, são frutos da visão antecipatória de Juscelino, da ousadia que fez dele um dos mais capacitados administradores que este Brasil já teve. Ao implementar a transferência da Capital para Brasília, ele implementou também a integração do Brasil.

Que fique bem claro: nós de Mato Grosso, nós do interior do Brasil somos devedores de JK e temos de agradecer a ele o impulso que deu à integração das mais diversas regiões do Brasil, um processo que está em andamento cada vez mais acelerado e mostra a sua força por meio dos resultados alvissareiros com que vem marcando a nossa economia.

Quando um lavrador planta sua roça no interior mais profundo de Mato Grosso, quando um caminhoneiro cruza as estradas que mergulham nas mais diversas direções que se abrem no Centro-Oeste e no Norte deste Brasil, quando famílias e mais famílias expressam o orgulho de terem trocado as angústias do Sul do Brasil pelas imensas possibilidades que caracterizam a vida em solo mato-grossense, certamente que são os sonhos e os ideais de JK que se cristalizam no cotidiano destes brasileiros e destas brasileiras.

JK sempre buscou unir nossa gente, ampliando as fronteiras do desenvolvimento de nosso País. Com o seu famoso Plano de Metas, JK abriu todo um novo campo de possibilidade para o Brasil e para todos os brasileiros e brasileiras, que nunca antes havia sido experimentado.

Entendo, todavia, que tanto quanto o desenvolvimento das forças produtivas, que JK tanto favoreceu, é importante destacar, nesta Casa política que é o Senado Federal - como lição sempre oportuna para todos nós e para as novas gerações que se aproximam agora da política partidária -, que o Presidente JK não permitiu que se turvasse a sua fé democrática, apesar de todas as tensões políticas que viveu em seu período de Governo.

Quem viveu o Governo JK, quem viveu aqueles anos que são chamados de “anos dourados” jamais poderia esperar que, no espaço de uma década, no início dos anos 60, em 1964, cairia sobre o País a carga terrível de uma brutal ditadura. Ditadura que viria a cassar e perseguir o próprio JK, um dos defensores da abertura democrática liberal.

Os historiadores são unânimes ao nos mostrarem que tolerância e discernimento foram qualidades políticas fundamentais de Juscelino. Neste momento em que o terrorismo tanto nos sobressalta, tanto o terrorismo de Estado quanto a violência incontrolável dos homens-bomba, devemos nos recordar de JK para firmar que tolerância e discernimento são cada vez mais necessários aos líderes políticos de nosso tempo, no Brasil e pelo mundo afora.

Por tudo isso é que, em memória de JK, em respeito à sua trajetória, a tudo que nos legou em exemplo e em dignidade, devemos nos empenhar firmemente em um processo que nós, do PT, costumamos definir como de “radicalização da democracia”. Um processo que deve valorizar o diálogo político, centrando nossos esforços para que tenhamos a reforma política, para que tenhamos o aprimoramento e a consolidação dos partidos políticos, para que nos empenhemos na busca incessante de um sistema de representação política que não permita decisões que atraiçoem e nulifiquem a vontade soberana do povo.

Uma sociedade que honre a memória de Juscelino não haverá jamais de ser a sociedade do mensalão, da corrupção política, da venda de sentença, da falta de transparência nos negócios públicos. Jamais!

Para que honremos a memória de Juscelino, é necessário que ampliemos cada vez mais os espaços de participação da sociedade na formulação, no acompanhamento e no controle das políticas sociais, hoje muito facilitadas pela existência de tecnologias chamadas da informação, que fazem com que haja acesso imediato por parte da cidadania às decisões de Governo e permitem o controle dessas decisões. E, quanto mais democrática a nossa sociedade, quanto mais acesso às decisões do Estado vier a garantir a nossa sociedade, mais estaremos, todos nós, dando cumprimento ao legado de Juscelino Kubitschek.

Juscelino, que ousou tanto, deve nos servir de inspiração para que impulsionemos o combate às desigualdades regionais; para que todos tenham oportunidades iguais de vida e de trabalho em todos os rincões do Brasil; para que se acabe de vez com o trabalho escravo que sobrevive em muitas fazendas do interior do Brasil - e mesmo lá em Mato Grosso; para que se atinjam os objetivos de educação plena, com todos os brasileiros e brasileiras alfabetizados, com todos os filhos e filhas dos brasileiros nas escolas e nas universidades; para que não exista fome nem miséria no lar de qualquer brasileiro ou de qualquer brasileira sequer. Que os filhos e filhas desta terra não tenham mais que cruzar nossas fronteiras em busca de melhores condições de vida em nenhuma outra nação do mundo. E que todos tenhamos orgulho de viver à sombra da bandeira desta Pátria, “gigante pela própria natureza”.

A melhor homenagem que podemos fazer à memória de JK é assumir as mesmas grandes aspirações que ele sempre soube manter vivas em seu coração.

A melhor homenagem que podermos fazer à memória de JK é ousar, ousar a cada dia, a todo momento, na luta incansável para que este Brasil seja uma nação forte e soberana, capaz de garantir vida digna e fraterna a todos os seus filhos e a todas as suas filhas.

Muito obrigada, Sr. Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/02/2006 - Página 2551