Pronunciamento de José Agripino em 31/01/2006
Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem ao Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela passagem dos 50 anos de sua posse como Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil.
- Autor
- José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
- Nome completo: José Agripino Maia
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Homenagem ao Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela passagem dos 50 anos de sua posse como Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil.
- Publicação
- Publicação no DSF de 01/02/2006 - Página 2554
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Renan Calheiros; D. José Freire Falcão, Arcebispo de Brasília; ex-Senador, ex-Ministro, ex-Presidente do Supremo, nosso sempre estimadíssimo Ministro Maurício Corrêa; Governador Joaquim Roriz; Desembargador José Jerônimo, mui digno Presidente do Tribunal de Justiça de Brasília; Srªs e Srs. Senadores; minhas senhoras e meus senhores; meu Presidente Maurício Corrêa, deixei de propósito de mencionar um nome para cumprimentar, por último, a figura a quem quero dirigir-me para contar uma história: Anna Christina Kubitschek, esposa de Paulo Octávio e neta de Juscelino.
Anna Christina, nós somos, assim me julgo, amigos; sou amigo do seu marido e sou seu amigo. Já convivemos em oportunidades sociais, mas nunca tive a oportunidade de lhe dizer o que vou dizer agora.
Em 31 de janeiro de 1956 - há, portanto, 50 anos -, seu avô assumia a Presidência da República, eleito pelo voto direto. Em 31 de janeiro de 1956, eu me mudava de Mossoró, onde nasci - e morei a minha infância no interior do Rio Grande do Norte -, para Natal. Meu pai acabava de ser nomeado Secretário de Educação do então Governador Dinarte Mariz, a quem ele havia apoiado e que havia ganhado a eleição. Dinarte Mariz, como o meu pai, Tarcísio Maia, eram ferrenhos udenistas, como o meu tio João Agripino, que foi líder da UDN contra seu avô, que era Presidente da República.
Seu avô deixou a Presidência da República em 31 de janeiro de 1961. Nessa época, eu fazia o terceiro ano científico no Rio de Janeiro, fazia o curso de pré-vestibular para o curso de Engenharia e era filho do então Deputado Federal Tarcísio Maia, que morava no Rio de Janeiro e era Vice-Líder da UDN, combatendo Juscelino Kubitschek. Eu digo isso, para que fique ciente de que minha infância e minha juventude, eu as vivi em um ambiente no qual Juscelino Kubitschek não era bem comentado. E aqui estou hoje para falar - e para falar bem - do cinqüentenário da assunção de Juscelino à Presidência da República.
O que fez com que eu nunca me tivesse contaminado pelo vírus com o qual convivi na minha infância e na minha juventude do “antijuscelinismo”? O que fez com que eu, filho e sobrinho de líderes da UDN, ferrenhos adversários de Juscelino, nunca tivesse tido uma posição contra Juscelino? Anna Christina, foram os fatos. Em política, sempre digo uma coisa: não se deve nunca acreditar no que dizem, deve-se acreditar no que se vê.
Quando eu era rapaz, no Rio de Janeiro, eu não tinha dinheiro para comprar passagem e tinha muita vontade de passar as férias de final de ano no meu Estado. Às vezes, eu conseguia uma passagem pela FAB, mas, quando eu não a conseguia, eu viajava de automóvel.
Anna Christina, no começo, em 1957, em 1958, levava-se quase uma semana de viagem pela empoeirada Rio-Bahia. Quando foram se aproximando os anos de 1960, de 1961, a viagem de uma semana passou a ser feita em três dias, porque seu avô asfaltou o sonho do Nordeste, que era a Rio-Bahia. Isso é um fato.
Comecei a freqüentar com mais assiduidade o meu Estado. Eu morava no Rio de Janeiro, estudava no Rio, onde me formei, e voltava a Natal, onde eu havia feito o curso ginasial e onde havia morado por três agradáveis anos da minha vida, mas onde não havia indústria. Quando eu voltava a Natal, eu já via as Guararapes, eu já via algumas fábricas novas portentosas. E isso era produto de quê? De algo que meu Estado não tinha antes, de uma coisa chamada Sudene, que seu avô criou - ele que nem nordestino era!
Anna Christina, o primeiro carro que tive foi um Fusca. Que Fusca? Um Fusca que seu avô trouxe para inaugurar a indústria de automóveis no Brasil.
Foram os fatos, Senador Antonio Carlos Magalhães, que me fizeram juscelinista. Sou, como V. Exª o é, um udenista ferrenho. Nós o fomos. Nunca me atrevi, Paulo Octávio, a emitir uma opinião contra Juscelino Kubitschek, porque os fatos me mostraram que ele era um homem que merecia o respeito do povo do Brasil. (Palmas.)
É por isso que aqui estou hoje, Presidente Maurício Corrêa, para trazer, em nome do meu Partido - aliás, o Senador Antonio Carlos Magalhães já o fez e, é claro, o Senador Paulo Octávio também -, a palavra de homenagem a um cidadão em favor do qual quero dar, aí, sim, um testemunho.
Nunca apertei a mão do seu avô, nunca vi Juscelino. Guardo dele as imagens que a imprensa registra, os discursos que ouvi gravados, as imagens que vi em filmes, mas nunca tive o prazer de apertar a mão de Juscelino Kubitschek, o galante Juscelino Kubitschek, de quem se conta tanta história interessante; o informal Juscelino Kubitschek, que gostava de retirar os sapatos nas solenidades, mas que, acima de tudo, foi amigo.
Senador Mão Santa, Adolpho Bloch eu o conheci e tive boa amizade com ele. Eu me lembro do carinho com que Adolpho Bloch se referia a Juscelino. Conheci o gabinete onde seu avô despachava ou passava a tarde de trabalho, no prédio de Manchete. Isso não lhe custava um real. Era o produto da amizade de Adolpho Bloch, do reconhecimento de Adolpho Bloch ao homem que ele venerava. Era a forma de reconhecer o estadista que foi Juscelino Kubitschek. Ele era, Presidente Renan, amigo dos amigos, e essa é uma marca muito forte no homem público. Ele foi um estadista que quero reverenciar.
Presidente Maurício Corrêa, quando estive, pela primeira vez, em Buenos Aires, fiquei impactado com a porta do Banco da Argentina. Era uma porta, D. José Freire, esculpida em bronze, impactante. E, para nós, brasileiros, era humilhante, porque não tínhamos coisa nem parecida. Buenos Aires era uma cidade portentosa, comparada às nossas melhores cidades. Éramos menores do que a Argentina. Quem fez o Brasil muito maior do que a Argentina foi seu avô, Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Por isso, aqui estou, para homenagear o amigo, o estadista, mas para homenagear, acima de tudo, o democrata.
Seu avô, Anna Christina - e esta, talvez, seja a melhor recordação que possamos nós, homens públicos, ter dele -, nunca teve maioria folgada no Congresso. Ele teve a oposição de homens competentes, que lhe faziam oposição com talento. Mas ele pôde governar. Governou e conseguiu tudo o que quis. Não precisou comprar ninguém, porque tinha talento. Era competente, habilidoso e, acima de tudo, um homem que respeitava as instituições.
Por isso tudo é que aqui estou, para, na sua pessoa, reverenciar a memória de um homem que não conheci, mas que eu poderia dizer que é uma das minhas referências na vida pública: Juscelino Kubitschek, o estadista, o amigo, o democrata. (Palmas.)