Discurso durante a 14ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o trabalho desenvolvido pelo Comitê para Democratização da Informática - CDI.

Autor
Romero Jucá (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Considerações sobre o trabalho desenvolvido pelo Comitê para Democratização da Informática - CDI.
Publicação
Publicação no DSF de 02/02/2006 - Página 2895
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • ELOGIO, TRABALHO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), UTILIZAÇÃO, INFORMATICA, EDUCAÇÃO, COMUNIDADE, BAIXA RENDA.

            O SR. ROMERO JUCÁ (PMDB - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se almejamos encontrar soluções para nossos problemas de desenvolvimento, temos que investir maciçamente na qualificação de nossa mão-de-obra e na melhoria do acesso da população ao mercado de trabalho. Tarefa aparentemente difícil para Governos, mas, para a qual, a sociedade parece encontrar soluções simples e eficazes.

            Sr. Presidente, a vida de Marcos Antônio Nascimento da Silva poderia ser igual à de centenas de outros jovens brasileiros que, sem perspectivas de formação escolar e de emprego, são arrastados para a marginalidade. Marcos, contudo, um jovem de 21 anos de idade, é um exemplar funcionário da subsidiária brasileira da PricewaterhouseCoopers, umas das maiores empresas de auditoria do mundo. Marcos trabalha como auxiliar administrativo no escritório da capital paulista.

            E sobre esse jovem, assim se expressa o Sr. Wander Teles, sócio da empresa: “Marcos foi o primeiro estagiário efetivado no programa de inclusão social da empresa e é uma prova viva do potencial das ações conduzidas em conjunto pela iniciativa privada, instituições públicas e organizações não-governamentais”.

            O Sr. Teles falava do programa PWC-Cidadania, operado por sua empresa, em parceria com o Comitê para Democratização da Informática (CDI), a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) e a Câmara Americana de Comércio (Amcham).

            Após uma trajetória em que tudo conduzia para uma vida de marginalidade, Marcos acabou internado na Unidade Educacional 9 da Febem, no Tatuapé, em São Paulo. Dentro da Unidade, o rapaz conheceu e passou a freqüentar a EIC - Escola de Informática e Cidadania - instalada na Febem por convênio entre o CDI e a Fundação.

            O empenho de Marcos despertou a atenção dos responsáveis pela EIC que resolveram investir em sua formação profissional. Assim, logo que saiu da Febem, em setembro de 2001, Marcos ingressou no programa de estagiários da Price e, um ano depois, era efetivado como assistente administrativo. Hoje, Marcos é remunerado em dois salários mínimos, conta com os benefícios concedidos pela empresa, retomou os estudos e conclui o ensino médio, além de estar reformando a casa em que cresceu. Manter-se do “lado certo” da vida é um desafio diário, frisa o rapaz, que se mostra decidido a agarrar a oportunidade e cursar administração para fazer carreira na empresa em que hoje trabalha.

            Srªs e Srs. Senadores, utilizo a narrativa do caso do jovem Marcos Antônio Nascimento da Silva para ilustrar como projetos bem feitos podem gerar e multiplicar frutos na sociedade, transformando para melhor, muito melhor. Ao mesmo tempo, parece que projetos eficazes brotam sistematicamente da sociedade organizada e trazem a reboque o Governo. O estranho nessa lógica e que nos parece que o Ente motivador de tais iniciativas deveria ser o próprio Governo, seguido pela sociedade motivada pela ação pública.

            A história que acabo de reproduzir é uma das muitas que surgem do trabalho desenvolvido pelo CDI, uma organização não-governamental dedicada à inclusão social pela via da informática. Iniciativa surgida no Rio de Janeiro, em 1995, pelas mãos de Rodrigo Baggio, empresário e professor de informática, o CDI tem como filosofia utilizar as tecnologias da informação e comunicação como instrumentos para que o próprio grupo social reflita sobre sua realidade, procurando meios de enfrentar os obstáculos. As escolas, EICs, são centros difusores de uma cultura digital e de transformação social, cuja condição precípua é que estejam ligadas a entidades enraizadas nas suas comunidades.

            Sr. Presidente, ao longo de dez anos de existência, o CDI vem desenvolvendo um trabalho de educação popular em comunidades menos favorecidas, aplicando em sua metodologia conceitos e valores fortemente fundamentados na pedagogia de Paulo Freire, de educação para a conscientização e a transformação social.

            A missão a que se propõe o CDI é investir na capacidade das comunidades, principalmente de seus jovens, para que possam exercer ativamente sua cidadania no cotidiano, diminuindo os níveis de exclusão a que estão submetidos. Para atingir tais objetivos, a equipe do CDI capacita e assessora moradores das comunidades para atuarem como educadores das EICs e procura fortalecê-los por meio de leituras, pesquisas e debates. O intuito é que aprofundem o conhecimento sobre a realidade em que vivem, percebendo-a em sua dimensão histórica e contexto sociopolítico amplo. O resultado esperado é que os educadores possam motivar e desafiar seus alunos a se engajarem em projetos e ações capazes de promover um mundo menos injusto e desigual.

            Meus nobres Pares, iniciado como um pequeno projeto no Rio de Janeiro, o CDI, hoje, está presente em 20 Estados brasileiros e em 11 países diferentes. Atuam no CDI quase dois mil educadores e mais de mil voluntários. Já foram implantadas e funcionam, no Brasil, 800 escolas EICs, e, no exterior, 146 outras. Foram formados mais de 600 mil alunos, agentes multiplicadores em suas comunidades.

            Sr. Presidente, recebi, há alguns dias, um mui bem editado livro comemorativo dos dez anos de conquistas sociais do CDI. Vale a pena lê-lo, por todas as razões possíveis, desde a qualidade da edição, até a excepcional ação proposta e levada a cabo por todos os que participam desse magnífico projeto de inclusão social e cidadania.

            Se as autoridades públicas, em particular os responsáveis pela educação pública, lessem e se inspirassem nas ações e resultados obtidos pelo CDI e seus parceiros, talvez conseguíssemos iniciar uma verdadeira revolução neste País. A revolução que os pobres e excluídos tanto desejam e que lhes é subtraída diuturnamente pela permanência do status quo opressor.

            Sr. Presidente, fosse possível ao Governo, em todas as suas esferas, aplicar as idéias e práticas desse projeto educacional para a cidadania, teríamos, em muito pouco tempo, um Brasil renascido.

            Nas EICs, há um processo contínuo de integração e união do grupo e de estímulo ao exercício da cidadania crítica e ativa. A metodologia utilizada convida os educandos a saírem às ruas para conhecer melhor sua comunidade, seus problemas, sua história, seus valores, seus projetos, seus movimentos e seus sonhos. Realizam-se pesquisas com todas as fontes disponíveis - jornais, revistas, livros, Internet e entrevistas locais - e a reflexão sobre a informação reunida, depois de contextualizada histórica, social e politicamente, leva o grupo a ampliar a consciência sobre a realidade e a definir possibilidades de ação sobre ela. Após percorrer esse caminho, o grupo seleciona uma das ações que identificou e trabalha com a comunidade para colocá-la em prática. Ao longo desse processo - no qual o sujeito não é o indivíduo, mas a comunidade -, o grupo se apropria das tecnologias da informação e comunicação de forma questionadora e inteligente, decidindo quando, como e para que utilizar tais ferramentas.

            Srªs e Srs. Senadores, quando o Estado brasileiro, ou melhor, as pessoas investidas da autoridade do Estado, decidirem que a educação é formação da cidadania, projetos como os do CDI poderão servir de modelo para a verdadeira e única revolução de que o Brasil de fato necessita - a revolução pela educação.

            Sr. Presidente, desejo, entusiasticamente, congratular-me com todos os que fazem parte da grande rede do CDI e seus parceiros. Esse é um projeto de brasileiros para brasileiros e para o Brasil. Construamos alguns outros e teremos um País mais justo e de reais oportunidades de inclusão e ascensão social para todos.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/02/2006 - Página 2895