Fala da Presidência durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela passagem dos 50 anos de sua posse como Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela passagem dos 50 anos de sua posse como Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 01/02/2006 - Página 2536
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CONVITE, AUTORIDADE, PARTICIPAÇÃO, MESA DIRETORA, SESSÃO, SENADO, HOMENAGEM, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONSTRUÇÃO, CAPITAL FEDERAL.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Tenho a honra de convidar para compor a Mesa o Exmº Sr. Governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. (Palmas.)

Convido para compor a Mesa o Exmº Sr. Governador do Estado de Goiás, Marconi Perillo. (Palmas.)

Tenho a honra de convidar também para compor a Mesa a Ilmª Srª Anna Christina Kubitschek Pereira, Presidente do Memorial JK, neta do Presidente Juscelino e esposa do Senador Paulo Octávio. (Palmas.)

Convido também para compor a Mesa o Eminentíssimo Sr. D. José Freire Falcão, Arcebispo Emérito de Brasília. (Palmas.)

Tenho a honra de convidar para compor a Mesa o Exmº Sr. José Gerônimo Bezerra de Sousa, Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. (Palmas.)

Tenho a honra também de convidar para compor a Mesa o Dr. Maurício Corrêa, ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal, ex-Senador e ex-Ministro da Justiça. (Palmas.)

Srªs Senadoras, Srs Senadores, autoridades presentes, há cinqüenta anos, tomava posse o Presidente Juscelino Kubitschek.

O Brasil começava a trilhar o caminho da modernidade pelas mãos de um homem de visão, um político que, desde o início, trabalhou para dar ao País um projeto de nação.

Como esquecer o lema “50 anos em 5”? JK assumia disposto a mudar a cara do Brasil, de um país agrário, que buscaria na industrialização um forte componente do desenvolvimento, para a geração de emprego e renda.

JK foi, talvez, o único Presidente que, ao tomar posse, apresentou um ambicioso Plano de Metas, cujos pilares foram: energia, transportes, alimentação, educação e indústria de base - desafios ainda tão atuais.

Sua marca foi a construção da cidade de que aprendemos a gostar, que aprendemos a amar, seja por nossa atividade, seja por sua sedução, pela qualidade de vida que apresenta, por seus monumentos futuristas, por seus intermináveis gramados e áreas verdes, por seu povo, de diversas culturas.

Brasília, esta obra desafiadora para a época, é hoje o mais importante elo de integração do Brasil. Prova disso é que, nos dias de hoje, a cidade é projeto fundamental para o desenvolvimento da região Centro-Oeste, que representa 7% do Produto Interno Bruto - acima de R$40 bilhões, segundo o próprio IPEA -, tendo na agroindústria o seu carro-chefe. Isso sem falar na agropecuária, cujo rebanho, de 56 milhões de cabeças, é o maior do País.

A implantação da indústria automobilística - outra iniciativa visionária de JK - abriu mercado de trabalho para uma categoria de trabalhadores: os metalúrgicos. E quis o destino que, do meio desses trabalhadores que souberam se organizar em sindicatos em tempos difíceis, saísse um para ser o mandatário do País, assim como Juscelino.

A História - injusta para uns, implacável para outros - reputa a JK a fama de ter sido o único Presidente a tomar posse com um projeto e terminar o seu mandato com esse projeto cumprido. A dinâmica, entre tantos predicados, era uma das marcas de Juscelino.

Teremos, neste ano, eleições presidenciais, e tenho certeza de que muitos subirão nos palanques se espelhando em JK, porque o seu legado é o da modernidade, em que pesem cinqüenta anos de sua posse.

A esse respeito, no entanto, alerta a professora de Sociologia da USP, Maria Victória Benevides, autora do livro O Governo Kubitschek: Desenvolvimento Econômico e Estabilidade Política, em recente entrevista:

Na campanha presidencial deste ano, todos vão querer tirar uma casquinha de JK. Mas ninguém pode ser equiparado a ele.

Depois de Juscelino, nenhum presidente realizou um plano de desenvolvimento com política industrial. Ele foi um grande político, independentemente de suas qualidades e seus defeitos. Teve um grande sentido de construção de nação.

JK foi assim: amado, ousado, arrojado, sonhador, administrador, polêmico até, mas inigualável. Falem ou não, o Governo Juscelino impôs ao País um crescimento anual de 8%.

No plano político, JK agiu com habilidade sem igual. Vivíamos uma crise política de proporções gigantescas também.

O trauma da morte do Presidente Getúlio Vargas ainda não havia sido superado. Duas rebeliões militares e uma tentativa de golpe não foram suficientes para abalar o equilíbrio e a capacidade de JK de contornar a crise.

O Presidente Juscelino Kubitschek soube, como poucos, preservar o Estado Democrático de Direito. Para o historiador Cláudio Bojunga, também em recente entrevista:

...é impossível reunir em um mesmo presidente as três grandes dimensões de Juscelino: o crescimento com planejamento, o respeito absoluto ao Estado de direito, sob as nuvens negras da política mundial, e uma efervescência cultural. Juscelino vivia cercado de artistas.

JK, como muitos sabem ou podem acompanhar pela eletrizante série da Rede Globo, nasceu na cidade mineira de Diamantina, em setembro de 1902. E trilhou uma vida digna de muitos longas-metragens.

Uma face pouco lembrada de Juscelino é a de Senador. Eleito por Goiás, depois de passar a faixa presidencial para Jânio Quadros, JK trouxe para esta Casa a mesma dinâmica que imprimia ao seu trabalho no Executivo. O Golpe de 1964 interrompeu por dez anos os direitos políticos de JK, que se exila no exterior, de onde só retorna em 1967.

Desde que seus direitos políticos foram cassados, Juscelino nunca mais exerceu mandato político. Morreu em 1976, num acidente automobilístico na via Dutra.

Mas não quero encerrar esta homenagem ao Presidente Juscelino Kubitschek com fatos tristes. É preciso lembrar que ele é símbolo de uma época. Dos Anos Dourados. Da Bossa Nova, esse estilo musical que ainda hoje encanta a todos nós. Do Brasil Campeão do Mundo pela primeira vez, na Suécia, em 1958. Esse foi JK. Um democrata. Um político como poucos. Um homem que sempre teve ao seu lado uma mulher extraordinária, como D. Sarah.

Para concluir, nada melhor do que uma frase do próprio Juscelino para definir esse homem à frente do seu tempo: “Sou visceralmente democrata. Para mim, a liberdade é algo fundamental”.

Muito obrigado por tudo, Juscelino!

Era o que eu tinha a dizer. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/02/2006 - Página 2536