O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Ele é um showman, e eu não, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tivemos hoje a notícia de que o Presidente Lula mandou construir um bar no Aerolula. O projeto personalizado da ala privativa do Airbus inclui um quarto de casal, banheiro com chuveiro e uma sala com duas mesas de madeira, uma de cada lado da aeronave, com oito poltronas. Apresentado à imprensa em 15 de janeiro do ano passado, o avião presidencial ganhou a nova configuração quando passou por uma revisão técnica obrigatória, há cerca de três meses.

Um oficial da Aeronáutica que acompanhou a realização do serviço atesta que a novidade - isto é, a construção de um bar - custou aos cofres públicos R$300 mil, embutidos no custo da “manutenção e suprimento de material aeronáutico”, rubrica do Orçamento da União para a qual o Governo empenhou R$3,1 milhões no ano passado. O oficial da FAB diz que o preço do bar é alto porque qualquer alteração à configuração dada pelo fabricante de um avião exige material especial e trabalho técnico sofisticado de engenheiros aeronáuticos para que possa ser aprovada pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos.

Quem acompanhou a realização do serviço não tem dúvida de que o Aerolula ganhou mesmo um bar. Mas o Planalto contesta tudo, inclusive o preço da reforma do móvel, que estaria na faixa de R$65 mil, em vez dos R$300 mil que efetivamente foram gastos.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª permite-me um aparte?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não, Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador José Jorge, o discurso de V. Exª, além de oportuno, leva-nos a buscar mais alguns esclarecimentos. Sugeriria que V. Exª, por meio de um pedido de informação, perguntasse se essa revisão vai proporcionar ao avião uma autonomia maior de vôo e se vai diminuir o seu peso. V. Exª bem sabe que corre, à boca pequena, que esse avião veio projetado de maneira errada. Da maneira que veio, com excesso de peso - inclusive, com uma caixa d’água para banhos presidenciais sobre o Atlântico -, diminuiu-se a autonomia e houve implicações no balanceamento da aeronave. Creio que, por trás dessa revisão - como diria o velho Dinarte Mariz, conterrâneo do Senador José Agripino -, “há quarquer coisa”. É preciso que um esclarecimento seja feito. Creio que o Ministério da Aeronáutica tem a obrigação de mandar para cá o teor total do que foi feito, em termos de reparo, nesse avião. É muito estranho, porque é um avião novo.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Exatamente, Senador Heráclito Fortes.

A Aeronáutica disse o seguinte: “Não há nem bar nem balcão na cabine do Presidente. Foi feita uma adaptação para a colocação de prateleiras em armários, para facilitar o transporte de algumas coisas usadas em comissaria”. Isso foi o que afirmou o Secretário de Coordenação e Acompanhamento de Assuntos Militares da Presidência da República, Brigadeiro Joseli Parente Camelo. Mas ele admitiu, em seguida, que, entre “as coisas usadas em comissária”, estão copos e garrafas. E mais: disse que a “adaptação” foi realizada nas “galeries”, espécie de minicozinhas, que existem em todos os aviões.

Senador Heráclito Fortes, o que é um bar? Um bar é o lugar para guardar copos e garrafas, pelo menos o que conheço. Portanto, na verdade, se ele construiu uma estante para copos e garrafas, é exatamente um bar.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - E tira-gosto.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - O tira-gosto vem da cozinha, Senador, não é do bar.

E explicou que “foi necessário fazer quadradinhos” - quadradinhos, geralmente, servem para guardar vinho -, referindo-se aos nichos que, em bares convencionais, são utilizados para abrigar garrafas de bebidas.

Sr. Presidente, só para não gastar mais tempo com esse assunto, eu gostaria de dizer que o Presidente Lula, seus assessores e o próprio PT adoram uma mordomia. Ontem mesmo, estávamos na CPI dos Bingos - V. Exª estava lá, assim como a Senadora Heloísa Helena; todos eles estavam lá - e vimos quando o Sr. Kurzweil, o depoente de ontem, disse que alugava três carros de luxo para o PT em São Paulo. Quem andava em um deles era o Delúbio Soares.

Portanto, a mordomia é histórica. O Presidente Lula está gastando dinheiro público para construir um bar num avião novo, caro, que está sendo usado no momento.

Concedo um aparte aos Senadores Sibá Machado e Demóstenes Torres.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador José Jorge, tive a honra de ser o Relator da matéria que alocava recursos para o pagamento do avião. Pude ler uma carta da Boeing, agradecendo ao Governo brasileiro pela isenção e transparência do processo de licitação dessa aeronave. Considero normal que, no momento em que se compra um veículo ou um outro bem qualquer, no decurso da sua utilização, possam ser encontradas algumas necessidades posteriores, que não estão na configuração anterior. Então, não vejo problema em relação a isso, absolutamente. Não acho que se está gastando dinheiro com bobagem, pois acho que é uma coisa séria. É um bem do Estado brasileiro. Qualquer pessoa que sentar na cadeira de Presidente vai poder viajar nessa aeronave.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Então, o conforto não é apenas do mérito pessoal do Presidente. Se outro não quiser a aeronave, vai-lhe caber dar outro destino sobre isso. Isso é tão simples de se resolver, não é tão merecedor da atenção de V. Exª, que sempre traz assuntos cada vez mais brilhantes à tribuna desta Casa.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador José Jorge, quero aproveitar - sem fazer nenhuma propaganda - para congratular-me com a Boeing, porque o avião é da Airbus. Se a Boeing escreveu uma carta para a Presidência da República, é um derrotado que não quer passar recibo da derrota. Lamentavelmente, Senador Sibá Machado, o avião que o Governo brasileiro comprou foi da Airbus e não da Boeing. A Boeing fez essa carta apenas por gentileza, por ter sido derrotada. O que precisa ser explicado é por que esse avião foi pago antecipadamente.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Isso é outra coisa.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Não foi feito leasing. Fico muito satisfeito de saber que V. Exª foi o Relator, mas eu queria que V. Exª mandasse os detalhes dessa correspondência, se ela não for ultra-secreta, para este seu companheiro velho aqui. Por que o avião foi pago à vista? Por que o avião já foi aos Estados Unidos duas vezes para fazer revisões fora do manual, antecipação de revisões e correções de projeto? Dessa forma, vamos discutir essa questão com clareza. Parabéns a V. Exª pela consideração que a Boeing lhe teve!

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Senador Demóstenes Torres, concedo um aparte a V. Exª.

Vou encerrar, Sr. Presidente.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Senador José Jorge, V. Exª faz um discurso bastante coerente. O Presidente da República não avisou a população brasileira que gostava também de mordomia. E mais: está fazendo o bar, porque visita com muita freqüência a África e tem predileção pelos ditadores, não sei por que razão. Imagino que o Presidente da República, como vai perder a eleição neste ano, estará à procura de um auxílio lá, para que, caso tenha de mudar para lá - acredito que, no fim do ano, vai fazê-lo -, possa chefiar alguma tribo africana.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Para encerrar, Sr. Presidente, cabe, em primeiro lugar, protestar que, num país tão pobre, que acabou de gastar US$56 milhões para comprar um avião novo, já se esteja gastando dinheiro para construir um bar.

Em segundo lugar, expresso meu apoio a um requerimento do Senador Arthur Virgílio, Líder do PSDB, encaminhado ao Ministro da Defesa. Trata-se de um requerimento de informação na linha solicitada pelo Senador Heráclito Fortes, a fim de que o Ministro possa dar as explicações devidas sobre a construção desse bar e sobre toda essa questão da manutenção do referido avião.

Muito obrigado, Sr. Presidente.