Pronunciamento de Arthur Virgílio em 08/02/2006
Discurso durante a 19ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Decepção com a carta que o Ministro Palocci enviou à CPI dos Bingos. (como Líder)
- Autor
- Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Decepção com a carta que o Ministro Palocci enviou à CPI dos Bingos. (como Líder)
- Aparteantes
- Antero Paes de Barros, Jefferson Peres, José Agripino.
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/02/2006 - Página 3634
- Assunto
- Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- REGISTRO, DECISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), OBSTRUÇÃO PARLAMENTAR, MATERIA, EXECUTIVO, OBJETIVO, DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), FALSIDADE, RELAÇÃO, MEMBROS, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, VINCULAÇÃO, CORRUPÇÃO, FURNAS CENTRAIS ELETRICAS S/A (FURNAS).
- COMENTARIO, FRUSTRAÇÃO, FALTA, VERDADE, CARTA, AUTORIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), ESCLARECIMENTOS, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, UTILIZAÇÃO, AERONAVE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, tenho, na verdade, dois comunicados a fazer à Casa. O primeiro é a decisão tomada pelo PSDB e pelo PFL - não tenho nenhuma dúvida, Senador Jefferson Péres, de que seremos acompanhados pelo seu bravo PDT e por outros Partidos e outros Senadores independentes, com assento nesta Legislatura. Inicialmente, nas Comissões, não vamos colaborar e, portanto, votaremos contra, e procuraremos obstaculizar a aprovação de quaisquer nomes de interesse do Executivo, para o que for - não tem nada a ver com o Judiciário, é o Executivo apenas -, enquanto o Ministro Márcio Thomaz Bastos não tomar a atitude que deve tomar. Atitude digna, sóbria e, em sendo homem viril, clara em relação a ser falsa ou não ser falsa essa lista falsa de Furnas. O primeiro aviso é esse.
A segunda comunicação, Sr. Presidente, é algo que me dá uma certa dor, porque, lendo a carta que o eminente Ministro Antonio Palocci mandou à Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos, não me dou por satisfeito com os seus termos. O Ministro faltou com a sinceridade ao dizer que reafirma, integralmente, o que havia dito no depoimento e teria utilizado “os meios disponibilizados pelo PT para comparecer àquele evento político”.
Em seguida, se disse impreciso - impreciso terminologicamente - porque teria afirmado que o PT disponibilizara um avião para o transporte dele e que, inadvertidamente, teria recorrido à expressão “alugou”, sem se apegar à acepção estrita do termo.
E por aí vai. No final, S. Exª diz que o Diretório Regional do PT de São Paulo teria emitido nota sobre a referida viagem, com os esclarecimentos pertinentes.
O que a mim interessa é, precisamente, se o Sr. Colnaghi* mente e, portanto, recebeu dinheiro do PT para a viagem do Ministro ser realizada, ou se mente meu prezado Ministro Antonio Palocci.
Outros Senadores podem se sentir indignados, todos podem, eu um pouco mais do que alguns outros, até porque - devo dizer de maneira frontal para a Casa e para a Nação - fui um dos responsáveis diretos pelo adiamento de sucessivas vindas do Ministro a esta Casa. Nas reuniões com o PFL, nas reuniões intraPSDB, nas reuniões das oposições, o tempo inteiro eu ponderava que o Ministro deveria ser poupado, em razão da normalidade econômica que tem que ser preservada, em função do crédito de confiança que eu, pessoalmente, a ele nunca neguei.
Portanto, se outros estão indignados - ainda há pouco dizia isso ao Senador Antero Paes de Barros -, eu me sinto com mais razão ainda porque ajudei a adiar o depoimento do Ministro, procurei tornar o mais ameno possível tudo que foi vinda do Ministro a esta Casa, na parte que me tocou, procurando moderar companheiros, procurando chamar outros à responsabilidade em relação à economia. E, de repente, recebo uma carta pífia que não me convence e me decepciona. Esta carta não é a carta de quem aborda a questão com sinceridade; é carta de alguém que, de certa forma, afrontou a CPI, mas a mim me decepcionou pessoalmente e de maneira grave.
Tem V. Exª a palavra, Senador José Agripino.
O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª, com muita propriedade, aborda um assunto que nos causa indignação. Sem que pedíssemos, chegou-nos uma carta do Sr. José Roberto Colnaghi, que se disse amigo íntimo do Ministro Antonio Palocci, tanto dito por ele como dito pelo Ministro Palocci. Amigo, amigo dele, amigo que chegava a ponto de emprestar aviões ou dar caronas, essa coisa toda. O Ministro, no depoimento, disse que foi a Ribeirão Preto para um evento político-partidário, no avião do Sr. Colnaghi, em avião conseguido pelo PT e pago pelo PT. O Sr. Colnaghi, sem que ninguém tivesse pedido, manda uma carta, dizendo que ninguém pagou viagem nenhuma e que ele não recebeu dinheiro nenhum. A preocupação que nos cabe, que é de V. Exª e minha, é que, se não houve pagamento - e o melhor que pudesse ter acontecido era ter havido pagamento -, criou-se uma dúvida: se não houve pagamento, houve tráfico de influência, ou houve favor antes, ou tem expectativa de favor depois. E há ligações dele com Angola, há perdão de dívida de Angola. Há uma série de ilações. A carta do Sr. Antonio Palocci e a carta do Sr. Colnaghi deixam os dois em maus lençóis e em muito piores lençóis o Governo do Presidente Lula com o depoimento da Srª Soraia, que há pouco falou na CPI dos Bingos e, de forma absolutamente sincera, colocou de novo no rol das suspeitas o Sr. Gilberto Carvalho, “mensalão” desde a época das campanhas de Londrina, vinculações de tráfico de influência de toda natureza, gastos vultosos em campanhas eleitorais, que têm que ser objeto de investigações que vão se desdobrando.
(Interrupção no som.)
O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Cumprimento V. Exª pelo pronunciamento oportuno que faz, que tem a minha absoluta solidariedade.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Agripino.
Senador Antero Paes de Barros.
O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Líder Arthur Virgílio, quero cumprimentar V. Exª e agradecer a sua manifestação, porque acho que essa carta do Ministro Palocci é uma desconsideração com o Senado Federal. Ainda há pouco, a imprensa me perguntava: mas lideranças importantes do seu Partido defenderam o Ministro Palocci. Eu disse: devem estar desapontados, porque o defenderam e ele, com todo o respaldo daqueles que querem bem à economia brasileira, mentiu à CPI. Esse é o ponto um. Ponto dois: o mais grave do depoimento da Srª Soraia é o envolvimento de um outro Ministro, o Ministro Paulo Bernardo, que, na minha avaliação, não deve ser chamado à CPI dos Bingos, mas é obrigatória a sua presença na CPI dos Correios. Eu não sou da CPI dos Correios, mas o depoimento hoje da Srª Soraia mostra que o Ministro Paulo Bernardo tinha ligações e orientava como o Marcos Valério iria gastar o dinheiro e, mais do que isso, como se operou dinheiro de Itaipu para a campanha de Londrina. Só para explicar a quem está nos ouvindo, uma coincidência de quem não ouviu o depoimento: a diretora de Itaipu é a esposa do Ministro Paulo Bernardo. Este Governo quer, mais uma vez, iludir a opinião pública. O PT ganhou a eleição passada, dizendo que era diferente dos outros, e não era. E agora quer enganar novamente a população, dizendo que é igual aos outros. Também não é. Parabéns a V. Exª.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Antero Paes de Barros.
Concluo, Sr. Presidente, dizendo que mais do que a maioria esmagadora dos Senadores desta Casa tem certeza disso.
Concedo o aparte ao Senador Jefferson Péres, com muita alegria.
O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Arthur Virgílio, em primeiro lugar, conte com a solidariedade do PDT - estou no exercício da Liderança nestes dias - quanto a sua proposta de boicotar nomes enquanto o Ministro da Justiça não der explicações convincentes sobre aquela lista, provavelmente fraudulenta. O Ministro Thomaz Bastos tem tido ultimamente um comportamento lamentável, no mínimo ambíguo. Mas veja, Senador Arthur Virgílio: o Ministro Thomaz Bastos, com este comportamento; o Ministro Palocci, flagrado em mentira; agora o Sr. Paulo Bernardo, denunciado de forma convincente pela Srª Soraia. Daqui a pouco vai sobrar muito pouco neste Governo, Senador Arthur Virgílio.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSBD - AM) - Obrigado, Senador Jefferson Péres.
Encerro, dizendo que são dois os pontos: em comissões, as Oposições - agora com o apoio inestimável e valioso do PDT - não concordarão com as votações de quaisquer nomes do Executivo, enquanto o Ministro Márcio Thomaz Bastos não se pronunciar sobre se é falsa ou não a lista falsa de Furnas.
Segundo, registrei a minha decepção pessoal porque, mais do que a maioria esmagadora dos Senadores, nunca faltou ao Ministro Palocci a minha ajuda em momentos decisivos de sua trajetória neste Governo. Não faltou a ele a minha solidariedade! Eu digo a minha solidariedade porque ele não era unanimidade no nosso Partido; a minha solidariedade porque eu pagava um certo preço para dentro do Partido; a minha solidariedade porque eu pagava um certo preço para dentro da Oposição; a minha solidariedade porque eu pagava um certo preço para dentro das bases do meu Partido.
Na última vez em que fiz a interpelação amena ao Ministro Palocci, recebi cerca de 200 e-mails do País inteiro criticando a minha posição, como se aquilo fosse sinal de algum acordão, e, na verdade, eu me preocupava muito era em preservar os fundamentos de uma economia que, ao meu ver, não deve ser desestabilizada. E não estou aqui, portanto, com a preocupação de desestabilizar a economia. Apenas acho que nossa economia é madura o suficiente para aturar quaisquer percalços. Estou decepcionado, sim, porque esta carta é uma peça de insinceridade. Esta carta não diz coisa alguma. Esta carta, pura e simplesmente, coloca o Ministro Palocci no mesmo pé do Sr. Colnaghi. Infelizmente, estou na dúvida entre acreditar em Palocci e acreditar em Colnaghi. Eu deveria acreditar, claramente, em Palocci e deveria desacreditar, claramente, em Colnaghi. Mas não é o que acontece. Ombreou-se com a carta pequena que enviou à Comissão Parlamentar de Inquérito.
Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.