Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a viagem do Presidente Lula a países da África. (como Líder)

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.:
  • Comentários sobre a viagem do Presidente Lula a países da África. (como Líder)
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 10/02/2006 - Página 3814
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, TIÃO VIANA, SENADOR.
  • COMENTARIO, VIAGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONTINENTE, AFRICA, ELOGIO, POLITICA EXTERNA, APROXIMAÇÃO, TERCEIRO MUNDO, RESULTADO, ABERTURA, MERCADO, EXPORTAÇÃO, IMPORTANCIA, NEGOCIAÇÃO, ACORDO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGELIA, ESPECIFICAÇÃO, RETOMADA, COMERCIO, CARNE, PARTICIPAÇÃO, CONSORCIO, BRASIL, PROGRAMA, HABITAÇÃO.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pela Liderança. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Senadora Serys Slhessarenko.

Srªs e Srs. Senadores, quero parabenizar, publicamente, nosso querido Senador Tião Viana, Vice-Presidente desta Casa, pela comemoração dos seus 45 anos.

Aproveito o dia de hoje para tecer alguns comentários a respeito dessa quinta viagem do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a países africanos. A viagem que está sendo feita neste momento pelo Presidente Lula à Argélia, a Benin, a Botsuana e à África do Sul coloca-se dentro de um contexto, de uma conjuntura. Quando o Presidente Lula iniciou seu mandato, com uma visão extremamente diferenciada de política externa, fortalecendo a reintegração da América Latina, da América do Sul, promovendo a reconstituição do Mercosul e a aproximação com países em desenvolvimento, numa busca muito próxima com os países africanos, algumas pessoas disseram que se tratava de uma política externa terceiro-mundista. Hoje, os fatos, na era da globalização, estão aí para desmentir os que tentavam desqualificar uma política externa que se mostrou absolutamente correta, com resultados significativos para o nosso País. Se não bastassem tantos outros efeitos, estão aí, principalmente, os resultados de nossas exportações, que batem recordes sucessivos, com diversificação de produtos - inclusive, os produtos industrializados, os produtos com valor agregado superam os produtos primários.

Essa viagem se iniciou pela Argélia, que é o segundo maior país da África. Com toda uma estrutura de agricultura e de extração de minérios, a Argélia é um dos principais fornecedores daquela porção de petróleo de que o Brasil ainda necessita importar para fazer o equilíbrio entre óleo pesado e óleo leve. No ano passado, 28% do petróleo bruto que a Petrobras importou vieram exatamente da Argélia. Essa viagem do Presidente Lula tem a ver com toda essa relação comercial que é desequilibrada, que é desfavorável ao Brasil. No ano passado, compramos da Argélia quase US$3 bilhões, mas só conseguimos exportar para aquele país US$384 milhões. Portanto, apenas 10% do que importamos da Argélia, conseguimos exportar. Essa viagem tem um aspecto comercial importante por causa dos acordos - alguns já foram fechados - de cooperação nas áreas de comércio, de navegação marítima, de agricultura e até de segurança sanitária.

Além disso, a Argélia tem uma posição estratégica no continente africano: encontra-se no Mediterrâneo, muito próxima, por exemplo, da Espanha, a apenas meia hora. Então, a Argélia pode servir de alavancagem e de trampolim para o comércio com parte da Europa, com parte do continente africano e com os países árabes. Sua posição é, efetivamente, estratégica e favorável à política externa brasileira. Por isso, essa viagem é tão importante nesse contexto de diversificação e de ampliação.

Além de debatermos todos esses acordos, houve também uma discussão importantíssima para nós, neste momento em que ainda estamos buscando superar a crise causada pela febre aftosa, porque a Argélia vetou o comércio da carne brasileira. Essa discussão está posta na pauta e está sendo levada pelo nosso querido Ministro Furlan.

Há outro assunto muito importante, Sr. Presidente, que eu gostaria de realçar, porque, nesta semana, foram anunciadas medidas relacionadas com o incentivo e com a ampliação do financiamento e da desoneração tributária para o setor da construção civil. Um dos principais temas em debate nessa visita do Presidente Lula à Argélia é a disputa por um consórcio brasileiro, que tem grande chance de ser vencedor, de participação num programa vultoso de construção de habitação na Argélia. Só para se ter uma idéia da dimensão da obra, são US$60 bilhões que serão investidos ao longo de cinco anos naquele País, e um consórcio brasileiro está disputando, com grande chance de ganhar. Considerando U$60 bilhões em cinco anos, são US$12 bilhões ao ano. É mais do que estamos conseguindo investir este ano em termos de crédito e de financiamento, o que representa quatro vezes mais neste ano do que no último ano do Governo Fernando Henrique, mas está ainda muito aquém do que a Argélia tem disponibilizado nesse consórcio para construção de habitação popular.

Eu gostaria de terminar esses detalhes da visita, após falar sobre a ampliação do comércio, de contratos, além de toda a interligação, mais próxima ainda, da empresa petrolífera da Argélia com a nossa querida Petrobras e de todo o potencial que temos de ampliar, com a resposta que o Presidente Lula deu em entrevista coletiva concedida ontem a jornalistas que estavam fazendo a cobertura da sua viagem.

Questionado a respeito da maneira como estava vendo a situação de uma eleição em que, cada vez mais, felizmente para nós e para o povo brasileiro, as chances de reeleição do Presidente Lula se concretizam, questionado sobre o que iria acontecer e sobre qual seria a vinculação de todos esses acordos e essa implementação de política externa, muito próxima aos interesses brasileiros e africanos, o Presidente Lula deu a seguinte resposta:

Eu tenho tentado mostrar que a gente não deve se preocupar com o tempo na Presidência, porque política internacional e projeto estratégico são projetos de 20 anos, de 30 anos. Então, temos de pensar o seguinte: que mundo nós queremos para os próximos 20 anos, para os próximos 30 anos? É muito tempo para esperar? É. Mas se não começarmos a fazer agora, o que será da África daqui a 40 anos ou 50 anos?

Então, temos de dar o passo agora, e este é o momento, porque é o momento da negociação, é o momento em que os países têm de abrir suas mentes e seus corações, têm de abrir seus cofres, têm de abrir seus conhecimentos tecnológicos e estender a mão ao mundo menos desenvolvido.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senadora, V. Exª me permite um aparte?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Se a Presidente permitir, porque meu tempo já se esgotou.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - A Presidente é democrata, até porque quero elogiá-la. V. Exª tem-se aperfeiçoado em política externa nesta Casa, tem-se aperfeiçoado em Economia e tem feito pronunciamentos aqui que credenciam V. Exª a, muito em breve, voltar à Liderança do seu Partido. Mas quero parabenizá-la pela coragem de vir aqui permanentemente defender o Governo no qual acredita, o que muitos não fazem. V. Exª cumpre aqui exatamente o seu papel. Fez justiça em elogiar o Ministro Furlan. A presença do Ministro Furlan na Argélia tem sido uma presença marcante, inclusive para a imprensa brasileira. Dessa forma, quero parabenizá-la por toda essa propaganda que V. Exª faz das viagens do Presidente Lula à África. Fique certa V. Exª de que essas viagens não incomodam a Oposição, muito pelo contrário. A Oposição fica muito satisfeita quando vê o Presidente visitando os países amigos, mostrando as riquezas brasileiras. Evidentemente, poderiam ser viagens mais objetivas. V. Exª falou da questão do petróleo, e poderíamos reivindicar preços melhores. O petróleo que se compra da Argélia é muito caro; poderia ter constado dessa pauta a discussão do preço do petróleo, mas fica para a seguinte. Sabemos que, daqui até o fim do Governo, ele vai viajar diversas vezes. Mas me quero solidarizar com V. Exª pelo registro que faz desta viagem de êxito do Presidente à Argélia, na companhia de vários Ministros, e a referência que faz à atuação fantástica do Ministro Furlan nesta viagem.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Senador Heráclito Fortes, não só ao resultado da viagem, que é extremamente positivo, porque não tem apenas um caráter de solidariedade de países em desenvolvimento, mas tem todo um caráter de articulação dos que precisam estar articulados, se complementando, se autobeneficiando mutuamente, colocando todo o potencial de desenvolvimento de países como Brasil e Argélia. Além do que, o Brasil tem uma dívida com o Continente Africano, porque nós subtraímos daquele Continente um contingente em torno de seis milhões de pessoas ali nascidas, que foram trazidas como escravas para este País, as quais contribuíram com a nossa economia. Portanto, nada mais justo que, na visão que o Presidente Lula desenvolve, com muito sucesso, podermos aperfeiçoar, aprimorar cada vez mais as nossas relações comerciais, políticas, culturais, porque há indiscutivelmente muito, muito em comum entre o Brasil e a maioria dos países africanos.

Portanto, está corretíssimo o Presidente Lula quando se faz acompanhar da sua equipe de Ministros competentes. E eu tenho ainda mais um orgulho, Senador Heráclito Fortes, porque o Ministro Furlan ainda catarinense é. Então, para nós é mais uma fonte de orgulho, porque é mais uma forma de contribuição do nosso Estado para o sucesso do desempenho do nosso País.

Gostaria de deixar aqui registrado que busco trazer à tribuna o máximo possível de informações, de forma clara, para que as pessoas possam ouvir aquilo que me é permitido ter, digamos, de acúmulo sobre determinados assuntos que obrigatoriamente têm de ser variados. Como Senadora da República, tenho obrigação de acompanhar tudo aquilo que é importante para o País e para o desenvolvimento do meu Estado e o faço na condição de Senadora que quer que este País, cada vez mais, se desenvolva, gere emprego, distribua renda, faça a inclusão social. E vejo no Governo Lula esse caminho trilhado.

Então, venho aqui à tribuna, todas as vezes que me dão oportunidade, com convicção. Não faço por obrigação, não faço compelida, não faço, sob nenhuma hipótese, como algumas vezes se insinua até com certo grau de ironia ou ataque. Faço porque sou convencida do resultado positivo nas principais políticas adotadas pelo meu Governo, que, para desespero talvez da Oposição, Senador Heráclito, cada vez mais se consolida como uma perspectiva de continuidade, com a reeleição do Presidente.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª mostra, pelo menos, que o espírito da gratidão a contamina e a domina. A gratidão de V. Exª ao Presidente Lula, todos nós sabemos aqui, é de conhecimento nacional. Eu sei que V. Exª faz essas defesas do Presidente Lula com o maior prazer, com convicção. Talvez tenha sido uma das poucas que venha à tribuna e retribua o que recebe em benefício do seu Estado. Então, é admirável isso. Não penso que seja ironia ou maldade da Oposição. É sinceridade.

A SR. IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Sinceridade sua também, não, Senador? Eu espero.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Essa evolução parlamentar de V. Exª aqui se deve também às tarefas difíceis que o Governo lhe confia. Talvez V. Exª tenha passado pelo processo evolutivo mais firme e crescente da História do Parlamento Brasileiro. Parabenizo V. Exª, que hoje se aprofundou em economia, cibernética e tem dado aulas para nós aqui, e nós as recebemos com a maior humildade. Fique certa, Senadora, de que eu vejo isso com orgulho. Não interprete mal a minha intenção. A sua referência à viagem de êxito do Presidente à África é uma prova da sua personalidade, acima de tudo da sua gratidão ao Governo que defende.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Heráclito, esse carinho sincero de V. Exª para comigo.

Agradeço, Sr. Presidente, pois o tempo passou bastante.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senadora Ideli, eu prorroguei por dez minutos porque fiquei encantado com a cor azul que V. Exª veste, que traz a tranqüilidade; não veio assim de vermelho-sangue.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/02/2006 - Página 3814