Discurso durante a 41ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Coincidências entre as datas do aniversário do PT e do caso Waldomiro Diniz.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Coincidências entre as datas do aniversário do PT e do caso Waldomiro Diniz.
Publicação
Publicação no DSF de 14/02/2006 - Página 4652
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • RETOMADA, HISTORIA, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, SERVIDOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, VINCULAÇÃO, JOGO DE AZAR, IRREGULARIDADE, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
  • PROTESTO, AUSENCIA, CONCLUSÃO, INVESTIGAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, COINCIDENCIA, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DATA, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, SERVIDOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • PROTESTO, REALIZAÇÃO, FESTA, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ACUSAÇÃO, FRAUDE, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje é o dia 13 de fevereiro de 2006.

Senador Alvaro Dias, V. Exª falou aqui, uma hora e meia ou duas horas atrás, sobre os dois anos do caso Waldomiro. Senador Alberto Silva, exatamente no dia 13 de fevereiro de 2004, estourava o escândalo Waldomiro - aquela fita gravada, que foi rodada inúmeras vezes em todas as tevês do Brasil. Aqui nos habituamos a assistir, em um primeiro momento, muito impactados, todos nós brasileiros, a um funcionário do Palácio do Planalto, agregado ao Ministro José Dirceu, o então todo-poderoso do Governo, ser filmado - não era nada, era um filme - pedindo dinheiro a um jogador de bicho. Pedia claramente propina para ele, propina para outros, para o Partido e para ele. Um escândalo inominável.

O Governo, encostado no canto da parede, não teve alternativa se não retirar o Waldomiro, abrir um processo de sindicância, que nunca chegou a lugar algum, nada, iniciando o processo de desgaste do então Ministro e Deputado José Dirceu, que terminou sem alternativa para continuar no Governo. E foi defenestrado, saiu do Governo. Foi o primeiro de uma série de escândalos que aconteceram no atual Governo.

            Há dois anos, ocorreu o caso Waldomiro. Nós quisemos, em um primeiro momento, instaurar a CPI do Waldomiro, a CPI dos Bingos, mas as forças governistas nunca permitiram que isso ocorresse. Por força ou por decisão da Justiça, a Oposição conseguiu a instalação da CPI dos Bingos e já trouxe o Sr. Waldomiro Diniz, o Sr. Carlinhos Cachoeira e um mundo de gente; todos prestaram depoimento e passaram por acareação. Tenho certeza de que aquela CPI fará aquilo que até agora não ocorreu pela sindicância ou pelas investigações a cargo da Polícia Federal.

            Nem o Sr. Waldomiro Diniz nem qualquer dos envolvidos naquele processo até agora foram alvo de qualquer tipo de indiciamento, mas tenho certeza absoluta de que a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos vai recomendar o indiciamento de muitas pessoas, inclusive do Sr. Waldomiro Diniz, que está em casa, indo ao jornaleiro comprar jornal, passeando, indo a restaurantes, depois de indignar a sociedade brasileira.

            Depois de Waldomiro, surgiram os casos de Silvio Pereira, Delúbio Soares, José Genoíno, além do caso dos dólares na cueca, que ensejaram a CPMI dos Correios, que está investigando com celeridade todos esses fatos.

            Por que estou rememorando todos esses fatos? Porque, há exatos dois anos, ocorreu um escândalo que causou espécie ao Brasil inteiro, mas, até hoje, as investigações que estão a cargo dos agentes policiais ou do Ministério Público não chegaram a conclusão alguma.

Quero chamar a atenção, Senador Teotonio Vilela, para a importância das Comissões Parlamentares de Inquérito e para um outro fato que também está ocorrendo, por coincidência, hoje.

Não sei se V. Exª assistiu ao filme “Entreatos”, ao qual assisti mais de uma vez. É um documentário sobre a campanha de Lula à Presidência da República, sobre o segundo turno. Silvio Pereira, Delúbio Soares, José Genoíno, José Dirceu, Palocci e Gilberto Carvalho - o do caso Santo André, o da briga com os irmãos do prefeito assassinado - são as figuras mais mostradas. É a equipe mais íntima do Presidente Lula durante a campanha, e isso fica claríssimo. Essas pessoas todas são investigadas pela CPI dos Bingos ou pela CPMI dos Correios. Essas pessoas todas, pela indignação que seus atos causaram à sociedade, foram defenestradas.

Silvio Pereira é aquele do Land Rover, da propina. Era o Secretário do Partido. Andava o tempo todo, na campanha, ao lado de Lula, segundo mostra “Entreatos”. José Genoíno era o Presidente do PT e foi também defenestrado, pois era o homem que assinava os contratos de empréstimo. Delúbio Soares, no anúncio do primeiro turno, no filme “Entreatos”, aparece dando uma gostosa gargalhada: foi o homem que fez os empréstimos, foi o homem que inventou Marcos Valério e que também foi defenestrado. Era a equipe próxima do Presidente Lula. José Dirceu era o comandante, era o chefe, era o que aparecia no filme como homem capaz de dar ordens, de impor um posicionamento. O Ministro Palocci é o que está aí enredado - a última é a história do avião do Sr. Colnaghi, muito mal explicada.

Todas essas pessoas estão enredadas em escândalos sucessivos e, até agora, não foram indiciadas em lugar algum! Mas serão indiciadas, com certeza, e isso será feito pelas Comissões Parlamentares de Inquérito, que trabalharam nesta convocação extraordinária e que vão apresentar resultados, custe o que custar, doa onde doer, apesar de estarmos sendo bloqueados por inconvenientes e inaceitáveis decisões judiciais.

Não consigo, como brasileiro, Senador Gilvam Borges, aceitar o impedimento da quebra de sigilo bancário do Sr. Paulo Okamoto! Não vejo razão para que se evite isso. É preciso que se esclareça, de uma vez por todas, quem pagou as contas de Lula. Quem foi que pagou as contas de Lula, pelo amor de Deus?!

Senador Romeu Tuma, que foi Diretor-Geral da Polícia Federal, não aceito que a quebra do sigilo bancário dos fundos de pensão não aconteça para evitar que se chegue a esclarecimentos, que se chegue a conclusões basilares.

O Banco do Brasil esteve ou não esteve envolvido com prejuízos maciços de mais de trinta milhões, que geraram lucros para pessoas envolvidas no “valerioduto”?

A Visanet, que é uma empresa, um organismo ligado ao Banco do Brasil, contratou ou não contratou com a agência de publicidade de Marcos Valério um mundo de dinheiro de publicidade que não foi prestada para lavar dinheiro?

Aconteceram ou não aconteceram os contratos milionários e fraudados nos Correios para que se produzisse dinheiro para o “valerioduto”?

Tudo isso são óbices que as CPIs estão encontrando no processo de investigação. Mas, ao final, vão-se encontrar elementos para fazer constatações importantes.

Presidente Renan Calheiros, o que me traz mesmo a esta tribuna hoje é uma tremenda coincidência: no dia em que se completam dois anos do estouro do escândalo Waldomiro, ocorre a festa, a pajelança dos vinte e seis anos de fundação do Partido dos Trabalhadores - vai ocorrer hoje na sede da AABB. Por sinal, alguns associados da AABB estão contestando a festa, porque, pelos estatutos da AABB, não são permitidas festas de conotação político-partidária na sede da AABB, mas o fato é que vai acontecer.

De tudo o que se está discutindo, Senador Mão Santa, podem-se colocar dúvidas sobre caso A, caso B, caso C, mas há um fato que ninguém discute, nem acusados nem acusadores: é que o PT deve R$50 milhões. É aquele empréstimo que Marcos Valério diz ter oferecido ao PT e que o PT deve e reconhece que deve.

O jantar de hoje, a pajelança de hoje, dizem, é para angariar fundos para pagar esse empréstimo. Dizem que vão conseguir um R$1 milhão. O que envolve Silvinho, Delúbio, José Dirceu, Presidente Lula, PT, Governo e tudo o mais são R$50 milhões, e vão fazer uma festa para conseguir hoje R$1 milhão.

Senador Mão Santa, na pisada que vai - não quero nem falar no débito da Coteminas, que é outro, como há outros que vão aparecer ou já apareceram -, para pagar os R$50 milhões, que é um débito líquido e certo, vão ter de fazer, durante cinqüenta anos, cinqüenta festas dessas.

O que quero deixar claro é que esse jantar de hoje é um elemento de farsa dentro da grande farsa que o Presidente está encenado para o País. Já caíram todos os que estavam em volta dele, caíram todos - não porque ele quisesse, mas porque a evidência dos fatos impôs que isso ocorresse. Resta ele, o do andar de cima, o grande guia, o grande comandante, que está promovendo a imagem da ressurreição do PT, a festa da pajelança para angariar R$1 milhão para pagar os R$50 milhões.

Senador Mão Santa, nem na minha cabeça, nem na de V. Exª, nem na do Senador Ramez Tebet, cabe que querem pagar ou que vão pagar ou que pretendiam pagar esse empréstimo ou todo o dinheiro que levantaram com pajelança de R$1 milhão. Eram outras as fontes que foram abortadas, pelo menos as visíveis - das invisíveis, não sei.

E sabem, Senador Mão Santa e Senador Alberto Silva, qual é a musiquinha que vão cantar na pajelança de hoje? Está no jornal O Estado de S. Paulo e é uma musiquinha popular que diz: “Reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.

Senador Mão Santa, dar a volta por cima de quê? Do empréstimo de R$50 milhões? Dar a volta por cima, levantando R$1 milhão para tapar o sol com a peneira e dizer ao País que se está recuperando, que está recuperando o padrão ético, que voltou aos bons e velhos tempos? O grande comandante continua o mesmo. Os R$50 milhões que foram levantados são uma mancha que ninguém consegue apagar. As CPIs vão conseguir chegar a conclusões.

Quem é que supriu o “valerioduto”? As CPIs vão fazer o que o Governo não quis fazer: indiciar os culpados ou levar os órgãos de investigação a indiciá-los. Está sobrando um exemplo de impunidade, e essa pajelança é uma agressão, é um acinte à impunidade. Os R$50 milhões de empréstimos estão aí, são a marca viva da história recente do Partido dos Trabalhadores. A pajelança de R$1 milhão é o pano de fundo, é o biombo para tentar empanar uma realidade dura da qual o PT pensa que se safou, mas que está permanentemente na consciência do povo do Brasil.

Queria fazer esse registro fazendo uma profissão de fé. Os jornalistas me perguntavam há pouco: “As Comissões Parlamentares de Inquérito estão perdendo o ímpeto?”. Não estão perdendo o ímpeto; estão sofrendo uma contrapressão inconveniente e inaceitável de bloqueio à necessidade de suas conclusões. Mas tenho certeza de que vão chegar àquilo que o Governo podia ter feito e não fez: ao indiciamento dos culpados, para que não reste neste País o pior dos pecados, o pecado da impunidade.

Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/02/2006 - Página 4652