Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (como Líder)

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentários a declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 15/02/2006 - Página 4739
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OPORTUNIDADE, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGLIGENCIA, PUNIÇÃO, CORRUPÇÃO, PROTESTO, ORADOR, FALTA, ETICA, AUSENCIA, RESSARCIMENTO, RECURSOS, SETOR PUBLICO.
  • SOLIDARIEDADE, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador.) - Senador Tião Viana, que as minhas primeiras palavras sejam de elogio a V. Exª por não ter podido comparecer ao jantar de 26 anos do Partido dos Trabalhadores. V. Exª foi bem representado pelo seu irmão Jorge Viana, mas os motivos que levaram V. Exª a não ir são os mais justos e demonstram que V. Exª é um homem sério e, porque sério, não pode gastar à-toa o dinheiro que ganha com o suor do seu trabalho.

Dito isso, quero salientar que o Presidente da República, a cada dia, fica mais imune à censura. Ele não tem censura alguma. Avaliem os senhores que ele ontem disse: “Errar é humano. Nós erramos. É só pedir desculpas”. Quer dizer, rouba-se loucamente neste País, pede-se desculpas e não mais se sabe por que se roubou, nem o dinheiro do roubo volta aos cofres do Tesouro. Essa declaração é bem um sinal dos valores éticos do Senhor Presidente da República, levando-se em conta que Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, declarou, ainda no Continente Africano, onde cometeu muitas gafes, que a bandeira da ética seria a bandeira da sua campanha e do PT. É essa bandeira da ética que favorece o roubo?

Daí porque, acho que não houve nada de mais na declaração do Presidente Fernando Henrique. Todos os Parlamentares da Oposição deveriam vir a esta tribuna subscrevê-la. Eu mesmo estou escrevendo um artigo sobre isso. Conseqüentemente, todos os Senadores deveriam vir. E não sou eu dos mais íntimos do Presidente Fernando Henrique, que tem muita autoridade para atacar este Governo. Entretanto, a frase infeliz de ontem já deixa o Presidente da República em situação de dificuldade. Quer dizer que vai tudo ser como foi neste Governo: rouba-se, pede-se perdão e se é absolvido.

Ó, Senhor, não é isso que nós esperamos do Presidente da República do Brasil! Esperamos que ele aja com honestidade, com seriedade, enfim, dentro dos princípios, como diz o Senador Heráclito Fortes, republicanos. Realmente nada ofende mais a República do que a declaração de que roubar faz bem.

Daí por que nas comissões parlamentares de inquérito os episódios se sucedem. A cada dia se descobre mais coisa. Já tem gente nova na Comissão Parlamentar de Inquérito do Mensalão. Fico meio entristecido de ver essa situação no Brasil, de ver que os órgãos de imprensa não registram com a coragem devida à situação na qual o Brasil passa. Este Senado tem feito muita coisa, sobretudo nesta convocação extraordinária, mas não ecoam, na outra Casa, os protestos feitos aqui contra as falcatruas do Governo Luiz Inácio Lula da Silva.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Com prazer.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Antonio Carlos Magalhães, V. Exª menciona que está de acordo com a entrevista do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Eu gostaria de lembrar um episódio. Quando ocorreram os fatos que levaram à formação da CPI sobre o caso Paulo César Farias, que levou à cassação do mandato do Presidente Fernando Collor de Mello, obviamente decorrente das conclusões de problemas no âmbito do Governo, não houve, da parte do Partido dos Trabalhadores, afirmações do tipo “os partidos que apóiam o Presidente que estava sendo afastado são todos ladrões”, ou “o partido é ladrão ou coisas desse tipo”. De maneira que eu pondero com V. Exª que a afirmação do Presidente Fernando Henrique Cardoso de identificar a entidade Partido dos Trabalhadores como tendo um procedimento inadequado, não é a melhor. Por outro lado, o Presidente da República, ontem, mais uma vez, expressou que reconhece que houve erros - e alguns graves - no âmbito do Partido dos Trabalhadores e que, por isso, sente a necessidade de o Partido pedir desculpas. Isso não significa que se deva esquecer. É necessário, sim, se fazer uma apuração completa; é necessário que a verdade inteira venha à tona. Eu próprio sugeri ao Presidente que ele viesse aqui dialogar com os Congressistas. E temo agora, porque acabo de ler notícia que saiu na imprensa neste instante, que ele estaria desistindo de vir. Eu acho, ao contrário, que seria até muito positivo que pudesse o Presidente vir aqui e expressar-se olho no olho perante os Deputados e Senadores. Obrigado pela oportunidade.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Ainda bem...

(O Sr. Presidente faz soar a campanhia.)

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Serei rápido, Sr. Presidente. Preciso responder porque o aparte foi maior que o meu discurso.

O SR. PRESIDENTE (Antero Paes de Barros. PSDB - MS) - É verdade. (Risos.)

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Senador Eduardo Suplicy, preciso dizer a V. Exª que o Governo Collor foi um governo também maculado, não há dúvida; mas nele houve muito menos fatos do que neste Governo. É que V. Exª não tem feito as somas; faça as somas e V. Exª vai ver que o seu Partido se beneficiou muito mais do que o Presidente Collor e o PC juntos. V. Exªs conseguiram bater esse recorde. Vai para o livro Guiness a atitude do PT no ano de 2005 com a conivência ou complacência do Senhor Presidente da República. Vejo que hoje V. Exª está triste. V. Exª não esperava que o Presidente da República o decepcionasse tanto não vindo ao Senado encarar as pessoas que falam do seu Governo. Foi por isso que ele não veio. Certamente ele se sentaria ao lado direito do Presidente. Se a Senadora estivesse ali presente ele iria ficar sempre procurando olhar para o outro lado. Eu estaria aqui nessa ponta, e ele não iria me enxergar. Ele poderia vir. Seria tratado com a educação que o Parlamentar tem que tratar aqui o Presidente da República. Mas o Parlamentar não pode se calar diante das ignomínias praticadas pelo Governo do Sr. Lula da Silva. Realmente, diga um caso em que o dinheiro retornou ao cofre público no Governo de Lula - e V. Exª tem sido um batalhador pela moralidade, tem falado muito sobre coisas erradas em matéria financeira do Governo, sobre a moralidade pública. Nenhum tostão dos ladrões que assaltaram impunemente os cofres públicos voltou para o cofre do Governo. Vamos reagir a isso.

Quanto à presença do Presidente aqui, eu diria que, se Sua Excelência viesse amanhã, veria, pela indignação das fisionomias, que ninguém está aplaudindo as falcatruas que estão sendo executadas no Governo que preside e que infelizmente há ainda alguém que apóie.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/02/2006 - Página 4739