Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória da religiosa e missionária Dorothy Stang. Homenagem aos 10 anos da TV Senado.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória da religiosa e missionária Dorothy Stang. Homenagem aos 10 anos da TV Senado.
Publicação
Publicação no DSF de 10/02/2006 - Página 3788
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, SENADO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, REFORÇO, DEMOCRACIA, DIVULGAÇÃO, ATIVIDADE, LEGISLATIVO, INDUÇÃO, MELHORIA, CONDUTA, SENADOR, POSSIBILIDADE, CIDADÃO, FISCALIZAÇÃO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, CONGRESSISTA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, IRMÃ DE CARIDADE, IGREJA CATOLICA, VITIMA, HOMICIDIO, CONFLITO, POSSE, TERRAS, ESTADO DO PARA (PA).

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, funcionários da TV Senado que assistem à esta sessão, de início achei que poderia ser extremamente difícil uma sessão em que se homenagearia, aqui, a Irmã Dorothy e a TV Senado. Mas, no desenrolar das falas dos companheiros Senadores, fui vendo que um fato tinha tudo a ver com o outro. Creio que o que aconteceu com a Irmã Dorothy foi a notícia que a TV Senado menos prazer teve em divulgar.

O papel da televisão em tempo real, acompanhando não só a vida dos Parlamentares, mas também aproximando o Brasil do Congresso Nacional, tem feito muito bem à democracia brasileira, Sr. Presidente. Quero crer até que, aqui e acolá, possa fazer mal a um Parlamentar, por um motivo ou por outro, mas faz bem ao Brasil. A transparência das ações, a exposição a que ficam submetidos todos aqueles que têm acesso a um microfone do Parlamento faz com que se tenha mais cautela e cuidado na atuação Parlamentar.

Ao longo desses dez anos, Sr. Presidente, vimos duas mudanças na atividade de cada uma das Srªs e dos Srs. Senadores que se submetem às lentes da TV Senado - e também na das Srªs e dos Srs. Deputados, que passam pelo mesmo processo, com a TV Câmara, mais nova do que a homenageada hoje -, tanto no campo externo quanto no interno as palavras são medidas, os fatos são pensados, os discursos, embora mais longos, são feitos de maneira mais cuidadosa, porque sabem que naquele mesmo instante o Brasil todo lhe assiste. E no campo estético, o cuidado com a combinação das cores. Antigamente, meu caro Fernando César Mesquita - um dos fundadores desta televisão -, nós não tínhamos nenhum cuidado com a combinação das cores. Hoje é comum o Parlamentar, por mais displicente que seja, procurar usar uma roupa que se adapte ao que a televisão vai mostra, uma gravata que não destoe. Aliás, nós tivemos, Marilena Chiarelli, no Senado, em dois momentos, processos semelhantes da preocupação estética: a primeira foi quando veio, de maneira inesperada, para esta Casa, a Senadora Eunice Michilles, a primeira mulher a ocupar uma Cadeira no Senado da República. O Senado estava tão despreparado para aquele fato que sequer banheiro feminino tinha nas proximidades do Plenário. E os Senadores - dos contemporâneos desse fato, Alberto Silva, com certeza, estava aqui, não sei se S. Exª se contaminou pelo que eu vou dizer - ao verem aquela amazonense loura, bonita, começaram a correr às lojas de Brasília e, pela primeira vez, demonstraram preocupação, só que individual; o fato da TV Senado, não.

Mas não é exatamente sobre isso que eu quero falar e sim da importância que esta TV representa para o brasileiro no acompanhamento das CPIs, na divulgação dos fatos em tempo real e, acima de tudo, na possibilidade da fiscalização passo a passo, hora a hora daquele que, pelo voto livre e espontâneo, nos mandou para cá. Hoje, fiscalizar a atuação do Parlamentar não é mais uma tarefa difícil. Fiscalizar o que o Parlamentar faz, o que diz, o que pensa e como se comporta virou entretenimento de muitos. Tenho a impressão de que os senhores, que fazem a TV Senado, ainda não se deram ao luxo de examinar o quanto têm ajudado aos que sofrem de insônia no Brasil. Tenho essa curiosidade, porque é muito comum eu encontrar, perdido pelo Brasil afora, cidadãos que cruzam comigo em shopping center, em avião e contam-me fatos que aconteceram e dos quais participei, ora provocando a Ideli, ora não. Sabem dos mínimos detalhes e dizem: “Ouvi isso às tantas horas da madrugada”. E sempre pergunto e 99% dos casos são dos que sofrem de insônia. Adicionalmente, além da notícia, os senhores podem passar, a partir de hoje, a ter este consolo: preencher o tempo dos que sofrem dessa terrível e incurável doença.

Nestes dez anos, Sr. Presidente, é muito fácil ver o quanto melhorou a relação do povo com seus representantes. É muito fácil ver quanto mais difícil ficou desestabilizar a democracia. Vivemos, há um ano, Sr. Presidente, um processo de grave crise neste País, com as instituições sofrendo uma devassa em suas vísceras, mas, em nenhum momento, falou-se em fechamento, em golpe. Jamais se falou, durante todo este período, em desestabilização de poder, que, hoje, é fiscalizado, vigiado e mostrado ao Brasil 24 horas por dia.

A modernização das comunicações acabou também, meu caro Senador Alberto Silva, com a figura do coronel. O que era o coronel político tempos atrás? Era o detentor da notícia, da verdade, que sabia, geralmente por intermédio de seu representante, primeiro no Rio, depois em Brasília, que lhe passava, com exclusividade, o que acontecia. Muitas vezes verdade, mas, na maioria, mentira. O coronel, à boca da noite, sentava-se com os seus liderados, meu caro Crivella, a contar histórias, e não muito raro aos do seu bem-querer, os mais próximos, lhe passavam por debaixo da mesa nomeações no Diário Oficial.

            A verdade só chegava ao Município distante por meio dos que tinham acesso à cadeira na grande roda do coronel político. Hoje, não. Quantas e quantas vezes já fui corrigido, lá no distante interior do Piauí, por fatos que penso eu terem acontecido de uma maneira, e o cidadão me corrige e me desconcerta, dizendo: “Não foi assim. Foi assado. Eu vi na TV Senado”. No dia seguinte, venho e confiro: é verdade.

Daí por que, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, considero da maior justiça esta homenagem que se presta hoje a esse novo braço criado pela luta inicial do Senador José Sarney, continuada pelo Senador Antonio Carlos Magalhães e por todos aqueles que os sucederam.

Por isso mesmo, nós, da Bancada do Piauí, estamos lutando, como os demais Estados, para a instalação da nossa televisão legislativa, a fim de que esse mesmo processo ocorra também nas Assembléias Estaduais.

Creio que a devassidão da vida do homem público teve seus limites. Atualmente, estamos assistindo a uma minissérie que mostra exatamente o que quero dizer. O homem público, de dez anos para cá, tem a obrigação de ter mais cuidado, inclusive com as suas atitudes comportamentais fora do âmbito do Parlamento.

Essa fiscalização, Sr. Presidente, é fundamental, pois tem evitado que aborrecimentos maiores ocorram em nossas atividades.

Portanto, despeço-me, congratulando-me com todos os que aqui estão participando deste ato, lamentando e solidarizando-me também com aqueles que aqui homenagearam a extraordinária figura da Irmã Dorothy.

Só quero lembrar uma coisa. Quando as comunicações não eram rápidas como são hoje, dezenas de assassinatos aconteciam pelo Brasil afora. As notícias, quando chegavam, já eram notícias envelhecidas. O direito de gritar, o direito de defender os que se foram, sem nenhuma justificativa, vítimas da violência... A impunidade naqueles casos estimulava as repetições.

Lembro-me de que a própria TV Senado, logo que se deu o fato, acompanhou um grupo de Parlamentares, um grupo de Senadores que foi ao Pará e de lá remeteu, para o Brasil inteiro, os acontecimentos recentes relacionados ao fato. Que essa semente plantada de vigilância e de fiscalização, Sr. Presidente, seja exatamente a nossa guardiã e a nossa protetora.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/02/2006 - Página 3788