Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre a posição do PMDB de apresentar suas idéias e seu candidato à presidência da República.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Comentário sobre a posição do PMDB de apresentar suas idéias e seu candidato à presidência da República.
Aparteantes
Mão Santa, Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 21/02/2006 - Página 5661
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, NATUREZA POLITICA, ATUAÇÃO, EXECUTIVO, ATUALIDADE, OPINIÃO, SIMILARIDADE, GOVERNO FEDERAL, ANTERIORIDADE.
  • EXPECTATIVA, CAMPANHA ELEITORAL, POLEMICA, DIVERGENCIA, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • NECESSIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), APRESENTAÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ANALISE, CONDUTA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, DIVERSIDADE, FATO, RELEVANCIA, HISTORIA, BRASIL, ATUAÇÃO, ELEIÇÕES, ANTERIORIDADE, AVALIAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, APOIO, GOVERNO FEDERAL, ATUALIDADE.
  • APOIO, CANDIDATURA, GERMANO RIGOTTO, GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, DECADENCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • ESCLARECIMENTOS, POSIÇÃO, ORADOR, AUSENCIA, OPOSIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, MANUTENÇÃO, MANDATO ELETIVO, CHEFE DE ESTADO.
  • ESPECULAÇÃO, CARACTERISTICA, CANDIDATURA, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, DIVERSIDADE, PARTIDO POLITICO, ELEIÇÕES, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, VANTAGENS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELEIÇÕES, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, DIVERSIDADE, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • COMENTARIO, REDUÇÃO, QUANTIDADE, PESSOAS, INTERESSE, DISPUTA, MANDATO ELETIVO, MOTIVO, DIFICULDADE, EXERCICIO, CARGO ELETIVO, REGISTRO, SITUAÇÃO, PREFEITO, VITIMA, INJUSTIÇA.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, que bom que esteja presente V. Exª, Presidente Renan, de quem todos sabemos a importância da posição. V. Exª foi Líder do PMDB, ocupa a Presidência do Congresso Nacional. Sabemos que o Líder do PMDB, Senador Suassuna, é uma indicação com a simpatia total de V. Exª; sabemos que V. Exª e o Presidente Sarney, ex-Presidente do Senado, detêm uma profunda amizade e um profundo entendimento. Vossas Excelências são considerados dentro do partido como um grupo responsável. V. Exª tem usado muito e há bastante tempo uma tese: V. Exª defende a governabilidade do País. V. Exª diz que tem um compromisso pessoal e, como Líder do PMDB, V. Exª diz que o PMDB tem um compromisso com a governabilidade. Não é um compromisso com o apoio ao Presidente Lula, obrigatório, mas é um compromisso com o País para que consigamos sair com dignidade das horas difíceis que atravessamos. Vejo com simpatia essa afirmativa de V. Exª e também acho que todos, não apenas o PMDB - na verdade, a classe política - deveríamos ter a obrigação com a governabilidade.

Quando o PT ganhou as eleições, havia uma interrogação - eu diria até que havia uma angústia - sobre o que aconteceria. Quando ganhou, o Presidente Lula era o homem da esquerda, o homem que vinha das lideranças sindicais, o homem compromissado com o socialismo, o homem sobre quem, em eleições anteriores, o então Presidente da Fiesp dizia que os empresários nacionais se atirariam ao mar, caso ganhasse as eleições. Então havia realmente uma expectativa do que ocorreria com o Brasil. Diante deste mundo novo em que Rússia, China e Índia abrem as portas para o capital multinacional, qual seria a posição reservada ao Brasil, se o Lula tomasse a posição imaginada de radicalizar, principalmente em relação aos juros e ao capital estrangeiro?

Há de convir V. Exª, Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, que essa fase está plenamente superada. Hoje, é claro que os compromissos com a governabilidade devem continuar - não devemos brincar com uma coisa como essa -, mas não há nenhuma dúvida quanto à firmeza e à solidez do Governo Lula. É um Governo firme e sólido. Na minha opinião - não sei se também na opinião de V. Exª, nobre Presidente Renan Calheiros -, foram dúvidas e interrogações.

Não nego que senti mais mágoa do que alegria no estilo do Governo adotado pelo Presidente Lula. Agradou-me S. Exª não adotar aquela linha de radicalização que alguns imaginavam. Na verdade, hoje não existe país que adote isso, excetuando-se o nosso amigo Hugo Chávez, de um país pequeno, sem expressão maior. O mundo internacional, a China, a Rússia, a Índia, todas as nações estão num diálogo completamente diferente, e o Brasil está participando dele, e não poderia ser diferente. Mas com relação às fórmulas com que vem avançando, creio que o Governo do nosso amigo Lula tem sido muito mais parecido com o Governo Fernando Henrique Cardoso do que um Governo progressista, como esperávamos. Já o Governo Fernando Henrique não foi o que imaginávamos. Imaginávamos, naquela época, 11 anos atrás, que o Governo FHC seria uma social-democracia, que era do que se falava no mundo, na Espanha, na Inglaterra e na França. Imaginava-se que isso ocorreria. Mas o Governo Fernando Henrique deixou para trás a social-democracia. Na verdade, foi um Governo que teve a predominância do PFL. O PFL teve praticamente o domínio da política econômica; e o Governo do Fernando Henrique foi um Governo identificado com a política do PFL. O Governo Lula continua o Governo do Fernando Henrique, mais ou menos no mesmo sentido. Se o Governo do Fernando Henrique não foi social-democrata, foi um Governo de centro, o Governo Lula, muito menos, tem sido um Governo de esquerda; tem sido de centro.

Ao lado disso, a questão ética - essa muito séria - que envolve a gravidade das acusações que pesam contra o Governo do Sr. Lula; e a gravidade das acusações que ao longo dessas três CPIs, desses meses e mais meses vem se repetindo a cada dia e a cada hora. O que está tornando a situação mais complicada é que - e não poderia deixar de ser -, nessas CPIs que vasculham o Governo Lula, estão aparecendo fatos do Governo Fernando Henrique. Os fatos graves que se repetiram no Governo Fernando Henrique, desde a privatização da Vale do Rio Doce, desde a negativa de se criar uma CPI, desde a fórmula de votação e a suspeita de compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição. Todos esses fatos estão de volta; estão se repetindo nas CPIs.

Então estamos vivendo um momento profundamente estranho: nós temos dois governos que se repetem e duas candidaturas que se apresentam para o novo governo com uma imensa semelhança e muito poucas diferenças. Semelhanças e identidade do que foram, do que fizeram, dos equívocos que cometeram. Por isso, tenho dito e repetido que seria muito ruim para o Brasil se se concretizar o que a grande imprensa está insistindo, insistindo: que esta eleição seja um debate entre PT e PSDB, entre uma candidatura do Lula e uma candidatura do PSDB, principalmente se a candidatura do PSDB for a candidatura do Sr. Serra, que é mais arrojado e mais radical. Que tipo de campanha nós teremos, que tipo de eleição nós teremos? Eu me atrevo a imaginar que a Justiça Eleitoral é capaz de tirar do ar, várias vezes, candidatos, tanto de um lado quanto do outro, a Presidente da República, dando direito de defesa tanto a um quanto a outro. Conhecemos, pelas comissões de inquérito, fatos graves que, quando forem para a tribuna levados pelo PT contra o PSDB, verificaremos, são verdadeiros; e que, quando forem levados pelo PSDB contra o PT, também o são.

Por isso, Sr. Presidente, é muito importante a posição do PMDB. A esta altura, Presidente Renan Calheiros, o PMDB presta um serviço à Nação, presta um serviço à sociedade se entender a posição em que se encontra, qual seja, defender as suas idéias e apresentar a sua candidatura a Presidência da República. Absolutamente natural. Em primeiro lugar, pela sua história, pela sua biografia, pelo que representa e representou na vida do País, é realmente o único Partido que tem algo a apresentar. Porque nas horas dramáticas que vivemos foi o velho MDB que teve a coragem de enfrentar e conseguir uma vitória inesperada sem a radicalização, sem a luta armada, sem a violência, sem a subversão. Derrubou o regime militar, com o povo na rua, com os jovens na rua, com a caminhada de Teotônio, do Ulysses, de Tancredo, de Mário Covas, com os jovens caras-pintadas que foram e conseguiram aquilo que parecia impossível: conseguiram vencer o Regime Militar e derrubá-lo, elegendo - embora pelo Colégio Eleitoral, mas de uma forma democrática, aberta, aceita pela Nação inteira -Tancredo Neves Presidente da República.

Isso é um fato real em um País onde a vida partidária não tem história, não tem biografia, não tem nada! Mas, olhando para trás, não se deve nada da História do Brasil a um partido político: nem à República, nem ao Império, nem às leis sociais, nem à Petrobras. Nada do que possamos imaginar tem um partido político atrás. A não ser o PMDB na redemocratização. Na redemocratização, teve um partido atrás e que se chama MDB. Esse Partido viveu horas difíceis. Não tivemos competência. Tivemos lideranças fantásticas - Dr. Ulysses, Tancredo, Teotônio, Arraes, Covas - e, numa hora importante e dramática, não tivemos capacidade.

Quando morreu o Dr. Tancredo, nós caímos numa mediocridade incompreensível. Pagamos os nossos pecados. Dr. Ulysses não devia ser candidato naquela ocasião; foi e levou o troco. Dr. Quércia não devia ter sido candidato ali. O candidato Itamar era do PMDB e queria indicar um candidato do PMDB, tinha feito um governo espetacular, criou o Plano Real, e nós, da Bancada do PMDB, é que dávamos maioria ao Governo. Eu fui Líder do PMDB, fui Líder do Itamar nesta Casa e nós, do PMDB, é que dávamos força e cobertura para o Governo do Sr. Itamar Franco. Na hora, o Itamar Franco queria um Presidente do PMDB, mas o Dr. Quércia, Presidente do PMDB, queria ser ele o candidato. Conseqüentemente, não queria o apoio do Itamar porque sabia que o candidato do Itamar não seria ele.

Então, cometemos o absurdo de não apresentar um candidato em entendimento do governo e o PSDB nos apoiaria porque o próprio Fernando Henrique não era candidato àquela altura.

Estou aqui e falo. Fernando Henrique está ali. Na reunião em que esteve o Itamar, o Fernando Henrique, o Antonio Britto e eu, onde nós discutíamos a candidatura que o governo apresentaria, tanto o Itamar como o Fernando Henrique e eu achávamos que o Antonio Britto era um grande candidato e não aceitou. Àquela altura é que o Quércia apresentou-se e aconteceu o que aconteceu. Agora, hoje, nós temos que meditar.

Eu acho que a eleição passada, tudo bem. Na eleição passada, era o Partido que estava dividido, era o Fernando Henrique com aquele seu governo de oito anos, e o Lula que, na minha opinião, era uma avalanche para ganhar as eleições. Eu me apresentei candidato. Eu percorri o Brasil inteiro como candidato, tinha o apoio de todo mundo. Era a coisa mais engraçada! São Paulo me apoiava, Minas Gerais, Pernambuco, Goiás, enfim, todo o Brasil,e quando eu cheguei na convenção, os governistas já tinham lá uma chapa: Serra e a Deputada Camata.

E daí eu perguntei: mas não vamos apresentar primeiro a chapa própria do PMDB? “Não, é essa a chapa!” E é o que aconteceu. O PMDB não teve nem a competência, porque àquela altura já se sabia que quem ganharia a eleição seria o Lula e já tinha muita gente comprometida com o Lula, como era o caso do próprio Presidente Sarney.

Mas agora, hoje, não dá para entender. Não dá para entender que o PMDB não tenha outra posição que não seja a de absoluta independência. Nós, tendo o nosso candidato...

Presidente Renan Calheiros, V. Exª tem uma posição relevante importante porque é o homem mais importante dentro do PMDB, pela sua biografia e pelo cargo que exerce na Presidência do Congresso Nacional, é a pessoa mais relacionada, mais debatida e mais discutida hoje na imprensa brasileira. A pergunta é esta: qual é a posição do Presidente Renan? Nunca aparece na imprensa V. Exª dizendo: “o PMDB vai ter candidato e o candidato do Partido é o meu candidato. Acho que não há como não ter candidato”. Mas logo depois aparece que V. Exª e os governistas - o Senador José Sarney, V. Exª e outros - estariam naquela de apoiar o Lula de qualquer jeito.

Outros dizem que não se quer o Garotinho porque ele tem 15% e, ganhado a prévia, o Garotinho fica com uma posição muito forte e não pode ser colocado fora depois. Então, vamos votar no Rigotto, porque ele tem 02% e, com 02%, ele ganha a prévia e, até a convenção, tira-se ele fora.

Eu não acredito em um argumento tão triste e tão lamentável como esse; tão antipolítico e tão antiético como esse. Eu sou Rigotto, respeito o Garotinho, mas acho que o Rigotto é mais candidato. Os 02% para mim não significam nada, porque o Collor - e V. Exª, que foi Collor, sabe disso - começou com 0%. Ele saiu de um partido como o MDB, do tamanho do MDB, que tinha vinte governadores, e fundou um partido. V. Exª sabe, ele esteve lá no Rio Grande do Sul, na Rainha do Mar, me procurando, ele governador e eu governador. Convidou-me para ser vice dele, inclusive para eu ser presidente e ele meu vice, porque ele dizia que eu era mais importante do que ele, que eu era Senador, já fora ministro, era um grande Estado que nem o Rio Grande do Sul. Eu olhava para ele e dizia: mas este homem não está certo, ele está louco. Como é que um guri, menino de Alagoas, que está no MDB, um partido do tamanho de um bonde, vai sair do MDB e vai criar um partido e vai se eleger presidente?

O bobo era eu. Ele estava certo e V. Exª também estava certo quando se reuniu, numa série de reuniões da China, onde os quatro lançaram o Collor e todos diziam que era uma loucura. V. Exª, naquela época, já sabia que tinha Rede Globo, que tinha etc e tal - a gente não sabia - e deu certo.

Mas o que digo é o seguinte: o Rigotto começou sua candidatura para governador com 2%. A eleição do Rigotto para governador do Rio Grande do Sul foi igual à situação hoje para Presidente da República. Hoje é Lula e PSDB. Quem se apresenta é maluco. Lá no Rio Grande do Sul era o Brito que tinha saído do PMDB e, em tese, levado todo o partido, e o PT. Um tinha 42%, outro tinha 39% e o Rigotto, 2%. O Rigotto ficou com 2% até a televisão começar e, até na televisão, o Brito e o PT começarem a dizer as coisas verdadeiras que um tinha sobre o outro, e o Rigotto pôde apresentar sua proposta.

Olha, estou falando do fundo do coração a V. Exª, Presidente. V. Exª pode pensar: “Mas, este assunto, o Simon não devia falar da tribuna. Ele devia falar lá no meu gabinete.” Mas, como o assunto é tão amplo e aberto e não estamos falando nada de escondido, são coisas tão verdadeiras, eu me atrevo a falar publicamente a V. Exª para dizer exatamente isso.

Eu acho, Presidente - leia as pesquisas - que o PT nacional, quando Lula assumiu, tinha o dobro do que o MDB. Quer dizer, qual é o maior Partido? Agora é o seu Partido. Em todo o Brasil, o PT tinha o dobro do MDB. Era o MDB em queda, e o PT subindo. Hoje, o MDB está lá em cima e o PT está lá em baixo. O PT perdeu 50% dos votos. O PMDB hoje é o maior Partido do Brasil em aceitação da sociedade brasileira. Isso é um fato muito importante. E é um fato que eu vejo todos os dias, andando pelas ruas da cidade. Eu não consigo atender a todos. Eu vou a 2% dos compromissos, mas já tenho andado por todas as universidades do Brasil. E é impressionante. Modéstia à parte, eu sempre tive uma aceitação com os jovens. Os jovens sempre me respeitaram, porque tenho uma linha de coerência, uma linha de seriedade, e eles aceitam.

Antes da eleição do Lula, quando eu ia fazer uma palestra em uma universidade, eles diziam: “Olha, Senador Simon, todo mundo é seu fã. Mas olhe o que o senhor vai falar do Lula, porque aqui todo mundo é Lula.” Mas não precisava me dizer, pois eu estava vendo o reitor do meu lado com a bandeira do Lula; o diretor da escola com a bandeira do Lula. Todo mundo. O único que não tinha a bandeirinha do Lula era eu.

Hoje, eu duvido que alguém entre em qualquer faculdade do Brasil e veja uma bandeira do PT. Se alguém tem bandeira do PT, é aqui, do lado de dentro da gola, mas escondidinha. Essa é uma realidade. Nos centros acadêmicos, nas eleições para o Brasil inteiro das universidades, quem tem ganhado normalmente é o PMDB. Os centros acadêmicos que tradicionalmente eram do PT estão perdendo. Associações de amigos de bairros estão perdendo. É uma situação que é real e que é concreta.

A esta altura? Dói meu coração quando vejo um homem querido como Presidente Sarney e V. Exª, Presidente Renan, dizerem que o MDB não tem nomes, não tem quadros disponíveis. Por amor de Deus! Por amor de Deus! Se disserem que o MDB não tem nome na mídia, é verdade. Mas a mídia sempre foi assim. Nas eleições passadas se não fosse o Lula, ninguém do PT teria nome na mídia. Nas eleições anteriores, governador do Rio Grande do Sul, era só o MDB que tinha nome na mídia. Só não era para ser o Quércia. Nas outras eleições era só o MDB que tinha nome na mídia. Não era para ser o Ulysses e nós fomos duas vezes. Só podemos ter errado. As duas vezes perdemos.

Mas o MDB não tem candidato? Falo no Garotinho, falo no Rigotto, falo em V. Exª, Presidente do Congresso Nacional, falo no Presidente Sarney, falo no Itamar, ex-Presidente da República, falo no Governador do Paraná, Requião, uma pessoa extraordinária, falo no Jarbas Vasconcelos, um Governador espetacular. Mas como que o MDB não tem candidato? Mas como que o MDB não tem expressão? Não tem liderança? De onde fomos tirar uma argumentação como essa?

O que está acontecendo, Sr. Presidente, é que ninguém calcula a ansiedade que V. Exªs estão causando às bases do MDB. Eles estão naquela, porque a imprensa está dizendo: não, não adianta, não vai ter.

Em primeiro lugar, já estão argumentando e a Executiva Nacional fez. Não entendi o argumento do voto calculado que vai ter na prévia. Para mim, não tinha que ter nada disso. A prévia tinha que ser como a convenção: tantos votos, tantos votos.

Então, inventaram isso e já disseram que foi inventado para entrar na Justiça e tentar anular a prévia do MDB. Não sei, não acredito que seja verdade. Mas mesmo que seja verdade, o Rigotto vai até o fim, vai para convenção. O Garotinho, pelo que sei, vai também para a convenção.

Por isso, penso, meu Presidente, que ninguém mais do que V. Exª, com a autoridade que tem, poderia prestar um serviço inestimável ao PMDB e ao Brasil, se a esta altura, V. Exª esclarecesse o quadro e nós deixássemos esse quadro absolutamente esclarecido.

Somos a favor da governabilidade. Queremos apoiar o Lula até o último dia do seu Governo. Não queremos romper com o Lula. Nós, do MDB, nunca defendemos... Por exemplo, houve uma hora em que se falou em impeachment e nós fomos os primeiros a sermos contra o impeachment, achando que não era caso de impeachment. Vim a esta tribuna várias vezes dizendo que não era caso de impeachment, defendendo a governabilidade. Mas é dizer: o MDB vai ter seu candidato, Lula.

Da maneira como o MDB vai fazer a candidatura, também não tem problema se tiver um segundo turno - aí V. Exª, com a sua liderança e competência, terá condições... Em primeiro lugar, eu tenho certeza de que o MDB vai para o segundo turno. Tenho a convicção. Indo para o segundo turno, ganha, porque, indo para o segundo turno com o PT, o PSDB vota conosco. Indo para o segundo turno com o PSDB, o PT vota conosco.

Se não formos para o segundo turno, aí, sim, seremos o fiel da balança para decidir. Mas, aí, teremos autoridade para decidir. Aí nós temos um programa, nós temos uma idéia, nós temos uma filosofia. E nós nos apresentaremos como um grande Partido que cumpriu com o seu dever e vai decidir quem vai ocupar o País.

            É um papel importante para V. Exª, Senador. Importante a V. Exª. V. Exª e o Líder da Bancada, que é um discípulo de V. Exª e o Senador Renan Calheiros, que não é discípulo nem de V. Exª nem de ninguém, é mestre de todos mas, geralmente, não ouve ninguém. Que belo papel V. Exªs desempenhariam!

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, a voz rouca das ruas quer dar o testemunho.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Renan, V. Exª hoje foi descrito aí. Agora vou dizer o que pensa o povo. Evidentemente, eu não recebo tantos convites como V. Exª, mas, no momento em que o País vivia o “Severino”, fui convidado pela CEUT um poliesportivo com todos os estudantes. A CEUT é para o Piauí o que Harvard é para os Estados Unidos: a maior instituição privada do ensino superior do Piauí. Convidaram-me para uma visão de futuro do Piauí. Um debate natural. A estudantada. Mas ocorria, naquele momento, o episódio Severino. O Professor Tião sabe como é rebelde a juventude. Então eles indagaram no debate - nada a ver com o tema para o qual eu tinha sido convidado, atentai bem, Renan!... Eles aceitaram. O povo queria. Naquele escândalo...porque nunca ninguém viu tanto escândalo como o que nós vivemos. Collor foi para o purgatório. Para essa turma aí não houve, não houve... E não vamos mensurar, não. Tanta ignomínia, indignidade,corrupção!!! Não é mar de lama, não. É oceano. Então, Pedro Simon, eles indagaram: se a gente afastar o Lula, o Vice e o Severino, qual a saída? Lembrei-me de Rui, que disse: Só há um caminho: a lei, a justiça é a salvação. Ulysses que beijou a Constituinte; Constituição cidadã. Desobedecer à Constituição é rasgar a bandeira, é enterrar as liberdades. E eu sei o que é isso. Então, raciocinei, porque eu tinha que responder ao estudante: Não, há uma saída constitucional. O Presidente - atentai bem, Renan! - pode assumir a Presidência. O povo da rua, a voz, aceitou, porque o escândalo foi muito pior do que Collor - PC, negócio de carrinho Fiat, Rosane. Foi muito mais degradante. Renan, eu disse: Não. Tem saída na Constituição. O nosso Presidente do Senado assume e, por um mês, de acordo com a Constituição, pode ter uma eleição indireta do Parlamento. Qualquer brasileiro pode ser votado. Pedro Simon, quero dizer que eu citei todos que me vieram a nomes, todos brasileiros, e, quando eu citei o nome de V. Exª, a mocidade estudiosa do Piauí levantou: Pedro Simon. Esse é o significado e o testemunho. É isto o que V. Exª representa: a esperança da dignidade da nossa democracia.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado a V. Exª, mas eu sei que eu seria o último nome a imaginar que a cúpula do PMDB quisesse fazer a indicação.

Eu tenho a humildade suficiente para nem me candidatar para não criar uma confusão dessas.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Mas como diz a Bíblia: Os últimos serão os primeiros. V. Exª é o primeiro nas virtudes deste Brasil.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas os nomes de que estamos falando são nomes sobre os quais há o absoluto entendimento.

Nobre Presidente Renan - agora estou com o nosso Líder aqui presente, o nobre Líder Senador Ney Suassuna - não vou repetir, mas o que eu estava dizendo ao Presidente Renan...

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL. Fora do microfone) - Eu estava assistindo pela TV Senado. Não posso deixar de assistir...

 O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ah, então, repare que V. Exª é um dos milhões de brasileiros que assistem à TV Senado e, portanto, é bem informado.

Penso que V. Exª, Presidente Renan...Acho o Presidente Sarney um pouco mais difícil, mas impossível não...podiam a esta altura fazerem uma intermediação no MDB e dar um rumo a essa campanha.

Digo mais, Senador Renan Calheiros: a essa altura, PSDB e PFL podem estar lá, o PT e seus Partidos auxiliares podem estar lá. A sua colega Senadora de Sergipe também está aí. Uma série de Partidos e de nomes, como o PDT e o próprio PPS, têm procurado a mim, que não sou ninguém, dizendo que gostariam de fazer um entendimento com o PMDB na terceira via, que têm a perspectiva de que isso poderia ser viável. Se isso acontecesse, seria uma maravilha. Em vez de 30 ou 40 Partidos, em vez de os Partidos pequenos começarem a apresentar pequenas candidaturas, venderem legenda ou coisa que o valha, haveria grandes candidaturas: o PT, com seus aliados; o PSDB e o PFL; a Senadora Heloísa Helena pelo P-SOL; e o PMDB com seus aliados.

Senador Renan Calheiros, houve momento em que eu era o segundo. V. Exª e o Senador José Sarney disputavam a Presidência do Senado. Eu era o candidato a Líder da Bancada. Aí, companheiros, como o Suassuna, convenceram-me de que era muito importante não fazermos aquela divisão ou disputa entre V. Exª e o Presidente Sarney e que seria muito importante, naquela hora, que um fosse Presidente e o outro, Líder da Bancada. Concordei na mesma hora. Não tem problema. Estou aqui para ajudar e creio que, realmente, temos grandes nomes. Vamos para uma disputa entre os dois. Quem ganhar vai criar atrito interno. Se nós elegermos por unanimidade o Presidente e o Líder, estaremos preparando o caminho para essa legislatura. Não tive nenhum problema nesse sentido.

Por isso, digo agora que não faço oposição ao Presidente Lula. Gosto de Lula, tenho carinho pelo Lula. Sou amigo do Lula. Defendi o Lula ao longo do tempo. No Rio Grande do Sul, o PMDB tinha mágoa de mim. “Por que não vai para o PT, se é tão Lula?” É que eu via Lula como uma pessoa fantástica por sua vida, por sua biografia, por sua história.

Nessa CPI, o Senador Suassuna deixou-me de lado, sem participar dela. Senti que, não estando lá, não tinha a obrigação de ir toda hora. E to assistido. Muitas vezes tenho conversado. Por exemplo, quando queriam partir para o impeachment, quando o PFL e o Senador Jorge Bornhausen, tinham reunido os juristas, durante o fim de semana, para discutirem, apressei-me e vim de Porto Alegre, no domingo. Fui o primeiro a falar. Disse que o PFL estava cometendo um equívoco. Impeachment não se decide com comissão de juristas. Não se pode reunir juristas para decidir se haverá ou não impeachment. Impeachment se debate, analisa-se, vê com a sociedade, estuda os fatos, para depois chegar até lá. No momento em que ele reunisse juristas para criar o impeachment, já o estariam matando. E eu seria um dos que seriam contra. Repeti: entendo ser melhor que Lula e o PT fiquem como vítimas do que como réu. Se cassarmos o Lula, ele vira vítima e, como vítima, não sei o que ele pode ou o que é capaz de fazer. Lembro-me de que o Dr. Getúlio Vargas, que estava praticamente deposto, com o Lacerda e os militares querendo o sangue dele, de repente ele se suicidou e virou Deus. E o Lacerda teve que ir para o exterior, e as forças militares tiveram que calar a boca, e o Dr. Getúlio virou herói.

Então, repito: tenho o maior respeito pelo Lula, mas acho que nós do PMDB deveríamos ter a nossa candidatura. Não é justo, Sr. Presidente. Às vezes, fico um pouco magoado com V. Exª - perdoe-me a sinceridade. É que V. Exª não é um apaixonado como eu. Estou no PMDB desde que o MDB nasceu. Vivi as agruras, as coisas ruins e as coisas boas. Sofri com o MDB. Eu vinha do velho PTB. Quando extinguiram o PTB, no Rio Grande do Sul, só mudamos a placa: PTB, viramos e colocamos MDB.

Viemos suportando essas caminhadas, essas dificuldades, essas pauladas. Lá no Rio Grande do Sul, Senador Renan, sofremos cassações. O Rio Grande do Sul teve três vezes mais cassações do que qualquer outro Estado: cassação de Deputado, Prefeito, de jovens estudantes. Com o Decreto nº 288, foram centenas de estudantes postos para fora da universidade, proibidos de estudar. Coisa mais fantástica: uma lei proibir o estudante de estudar! Ficaram cinco anos fora da faculdade! Os intelectuais mais espetaculares do Brasil, a fina flor da cultura do Rio Grande do Sul, foram expulsos da universidade e proibidos de estudar. O Professor Fiori é conhecido até hoje porque o mundo inteiro chorou, quando um intelectual de primeiríssima grandeza foi expulso da universidade e proibido de estudar. Então, vivemos esse tempo todo. Temos esse carinho pelo MDB.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Só um minutinho.

Nós achamos, Senador Renan Calheiros, que vivemos... Olha, não dá para dizer. O normal seria que o PMDB estivesse acabando agora. Vamos falar com toda a sinceridade. Eu achava que o PMDB estaria acabando agora, porque pensava que o PT faria um Governo que nem nós esperávamos, como V. Exª colaborou para que acontecesse desde o início. Nós, da Bancada do Congresso Nacional, também colaboramos para que o PT fizesse um espetacular Governo. Se o PT tivesse feito um espetacular Governo, não tenha dúvida de que teríamos de votar com ele. Não teria nenhum espaço para nós. Seria até ridículo, nessa altura, virmos aqui, completamente vazios, com o povo todo querendo o PT e com a Oposição pequenina, do lado do PSDB. Mas não aconteceu isso e não fomos culpados disso.

Se, de repente, o povo acha que o PMDB é uma saída, é uma proposta, temos a obrigação - e temos de ter a coragem - de apresentar essa proposta. Seria covardia nossa - perdoe-me - um grupo partidário... Somos um conjunto de pessoas, assim como a Igreja se reúne, assim como o Exército se reúne, assim como a intelectualidade. Somos um Partido que tem sangue, alma, sentimento, história! Somos uma família que tem um conteúdo, uma idéia, uma filosofia.

Nessa altura - não é que queiramos -, não podemos nos acomodar e nos acovardar de não ter posição. A história pode nos acusar de tudo - perdemos, apresentamos candidato errado, fomos equivocados, o povo não nos aceitou -, mas não se pode aceitar que nós nos escondamos, que nós nos boicotemos, que um fez mal para derrubar o outro, para no fundo não haver ninguém. Isso não fica bem para nós. E V. Exª, Presidente Renan Calheiros, tem uma posição extraordinária.

Tenho respeito pelo Lula. Não acho que está errado o Lula querer falar com V. Exª e insistir para que V. Exª seja o vice dele ou para que o PMDB sugira o vice dele. É normal que o Lula insista. Que o Lula queira o apoio do PMDB considero correto. O PSDB dizer que vai abandonar o PFL, se o PMDB indicar o vice, e querer o apoio do PMDB, considero correto. Eu faria o mesmo. Mas não é correto não apresentarmos a nossa bandeira. Se a hora nos apresentou, se o destino nos apresentou, se o PT não ocupou seu espaço na sua hora, se tivemos a oportunidade do PSDB, por oito anos, se o PT fez, se o velho MDB fez a democracia, que tem história, que tem raça, que tem garra, se há uma chance de apresentarmos a nossa proposta, o que não é correto é não procedermos assim.

E tudo leva a crer, meu Presidente, que os anos vindouros serão os anos da Rússia, da China, da Índia e do Brasil. Tudo leva a crer que, em nível internacional, chegou a nossa vez! E, se nesta hora, em que a contingência internacional é esta, em que a perspectiva internacional é esta, se, em nível nacional, apresenta-se uma proposta para nós, não podemos jogá-la fora, Presidente. Não teremos autoridade, perante a história, de dizer: “Era um grupo que tinha maioria no Senado, que tinha maioria na Câmara, que participava da Mesa no Congresso, que tinha a maioria dos Governadores, que tinha a maioria dos Prefeitos, que tinha a maioria dos Vereadores, dos Governadores, a credibilidade da sociedade brasileira, e não se apresentou. Não se apresentou! Tinha os candidatos, o povo estava doido de contente querendo, e não se apresentou. Então, vamos dar uma rasteira para a prévia não valer, ou vamos fazer a prévia e depois dar uma rasteira no candidato para que ele caia fora? Quem vai ganhar com isso? Ninguém.

Acredite, Senador Renan: se isso acontecer e a imprensa disser que V. Exª foi o grande vitorioso e que, por trás, foi quem orientou, será uma vitória de Pirro. Não seria uma vitória que engrandeceria a biografia de V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Não marquei prévia, nunca discuti esse assunto de prévia! Pelo contrário, concordo com V. Exª: penso que o PMDB tem que ter um candidato, sim. Mas um candidato que, se for necessário, dispute a prévia, a convenção, que unifique o partido e que tenha um plano de desenvolvimento para o País. Um candidato que tenha o respeito e a união de todos em torno dele. Qualquer um dos dois. Tenho muito respeito pelo Rigotto e pelo Garotinho também. Qualquer um dos dois que chegar a essa condição terá meu respeito, minha participação, minha colaboração. Mas não marquei prévia, não tenho nada com prévia. Quem marcou prévia é que deve estar preocupado com ela.

Se V. Exª me permitir, faço só uma interrupção.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pelo amor de Deus, fale à vontade. É uma honra para mim.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Nós temos o prazo da lei. As convenções começarão no dia 10 de julho. Penso que a prévia confere legitimidade. Precisávamos ter um pouquinho mais de tempo. Não vou discutir isso publicamente, nem tenho discutido. Vamos fazer prévia? Já deram rumo? Melhor, nem vou discutir isso. Mas o PMDB deveria procurar um pouquinho mais alguém que dê mais competitividade e possa unir o partido. Lembrei o nome do Jarbas Vasconcelos, do Joaquim Roriz, de V. Exª, do Itamar Franco, pessoas que pudessem realmente dar a vitalidade que a candidatura precisa ter. Não adianta disputar por disputar, marcar posição.

O Rigotto é Governador do Rio Grande do Sul, e compreendo as razões dele de querer uma prévia até o dia 1º; mas é uma questão pessoal dele. Compreendo as razões do Garotinho de querer que saia até o dia 1º uma decisão, porque senão a Governadora não vai poder ficar no cargo; mas é uma razão pessoal dele, e não um critério coletivo e partidário. Poderíamos conversar com V. Exª, com o Roberto Requião, com o Jarbas Vasconcelos, para saber se haveria condições de unir o partido em torno de um nome desses, com um programa de desenvolvimento na mão.

Não sei se o programa que o Rigotto apresentou para o Rio Grande do Sul deu certo, se deu resultado, se o Estado cresceu, se deixou de crescer. Preciso ser apresentado primeiro a isto: qual a avaliação que ele tem; qual o apoio que tem no seu Estado; se o que ele fez lá cria condições para que postule a Presidência da República, ou se a candidatura à Presidência da República é uma maneira de não disputar a reeleição no Estado. Estou com esse problema em Alagoas, não sei se vou ser candidato. Essa é uma decisão do Partido e não minha. Se o Partido me escolher, eu serei.

Creio que esse debate é fundamental, é importante, oxigena o PMDB, legitima o Partido, tanto que estou aqui ouvindo V. Exª e concordo inteiramente. Só não concordo - mas também já deixei de discordar publicamente - é com essa prévia no dia 19. Quem tem a primeira obrigação de escolher o seu candidato é o PSDB, que tem um candidato natural de oposição à Presidência da República, e não o PMDB. Seria bom o PMDB escolher um candidato no dia 19, se todos nós disséssemos: “Ó, tem aí o Rigotto. Ele não tem muita densidade eleitoral, só tem 2%, mas há uma unanimidade do Partido em torno dele. O Partido é muito forte regionalmente, tem 14 candidatos competitivos. Então, apesar de ter 2%, apesar de não ter tido um bom resultado, uma boa avaliação no Rio Grande do Sul, vamos escolher o Rigotto para jogá-lo na rua e dar-lhe visibilidade. Vamos fortalecer o Rigotto, fortalecer o PMDB”. Assim, concordo que o PMDB antecipe essa decisão. Mas parece que o caso não é esse. Parece-me que, se for candidato, talvez o Roriz tenha mais visibilidade, seja melhor. Se for candidato, talvez o Requião tenha um melhor desempenho, unifique o Sul. Existe uma avaliação melhor com relação ao que ele fez no Paraná, seu Estado.

Eu não gostaria de entrar nesse debate. Perdoe-me esta interrupção. Esse debate teria de ser travado dessa forma: o que o Rigotto fez mesmo; o que deixou de fazer?

Quanto ao Garotinho, tenho com ele o melhor relacionamento, e já disse a ele: Garotinho, se você for candidato do Partido, eu não vejo problema nenhum.

No entanto, não sei o porquê das prévias no dia 19 para um Partido que é muito grande, de dificílima administração, composto de muitas correntes. Nós deveríamos ter mais tempo ouvindo pessoas como V. Exª, uma voz abalizada, sempre muito respeitada, para que, no momento certo, pudéssemos escolher o melhor candidato do PMDB.

Concordo que o PMDB deve ter candidato próprio. Concordo. Tenho dito isso. Já disse isso ao Presidente Lula várias vezes. Eu não posso evocar nunca o testemunho de um Presidente da República, mas Sua Excelência já ouviu isto de mim várias vezes: defendo a necessidade de um candidato, mas um digno desse nome, para que não se repita o fiasco que já tivemos no passado, com o Partido dividido, exposto. Quando chegava o candidato a um lugar, ninguém o recebia.

Mas concordo, em número, gênero e grau, com o que V. Exª está dizendo. Talvez não tenhamos muita convergência com relação aos nomes, mas por enquanto. Quem sabe se mais adiante não vamos ter?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas, com relação aos nomes, Sr. Presidente, sempre falei desta tribuna no nome de V. Exª, sempre falei no nome de Sarney, sempre falei no nome do Itamar, sempre falei no nome do Jarbas Vasconcelos, sempre falei no nome do Requião. Sempre disse que nenhum outro Partido tinha tantos candidatos como o PMDB. Não há outro Partido com a fartura de candidatos que tem o PMDB.

Se for esta a questão, penso que temos ocasião e oportunidade de resolvê-la a qualquer momento. O que não podemos é deixar de ter candidato. Isso sim.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Eu estava ouvindo V. Exª pela TV Senado, lá em meu gabinete. Por isso, quando cheguei, continuei dentro do contexto. V. Exª falava do seu amor pelo PMDB, e eu quero dizer da minha concordância, porque eu sei o que é isso. A minha família sempre foi PSD, mas eu nunca tive partido. O primeiro Partido da minha vida até hoje é o mesmo: PMDB. Nunca pertenci a outra agremiação, só ao PMDB. Prefiro sair da política a sair do PMDB. Por isso entendo a preocupação e a amargura que V. Exª está vivendo. É difícil haver um Partido como este, que tem espírito democrático. Existe algum Partido que tenha o espírito democrático como temos? Nenhum. Um pode dizer que vai por aqui e o outro dizer que vai por ali, mas continuamos na mesma agremiação, porque a democracia dentro do PMDB existe. Não há coronel, não há dono. Não temos donos neste Partido; somos todos iguais. Há pessoas com mais tradição e que, por isso, amamos mais. E temos vários exemplos, como é o caso de V. Exª, que é uma história. Quando vi a biografia do Germano Rigotto, também fiquei muito feliz. Isso não quer dizer que Garotinho não mereça a nossa atenção. Ele merece, pois é um lutador. Mas o Rigotto tem uma história inteira dentro do PMDB. S. Exª foi Líder do Partido, foi Deputado pelo Partido, sempre foi do PMDB também. Comungo com as pessoas que têm amor pelo PMDB, como é o caso de V. Exª. Dessa forma, solidarizo-me com V. Exª nesta amargura que está sofrendo. Eu também estou.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço muito ao meu Líder.

Nobre Presidente Renan, nobre Líder, meu amigo Garibaldi, meu amigo Mão Santa, reparem que a situação é bastante viável. A disposição apresentada pelo Presidente é a melhor possível. S. Exª defende uma candidatura própria e já fez sentir ao Presidente da República que o PMDB tem de ter candidatura própria. Isso é o adjetivo, é o principal; o resto são substantivos, são capítulos que estão dentro do contexto e que podem ser alterados. O importante é termos candidatura própria. Tem de ser alguém que nos una? Concordo. Se o Rigotto ou o Garotinho ganhar a prévia e um romper com o outro... Se ganha o Rigotto, o Garotinho vem e diz: “O Rigotto eu não aceito”. Vem o Senador Ney Suassuna e diz: “Nós, da Paraíba, também não o aceitamos”. Cria-se um impasse. Concordo que se cria um impasse.

Então, Senador, o fato de haver a prévia, concordo com V. Exª que isso podia ficar para mais tarde, mas V. Exª também concorda comigo que o PMDB tem de apresentar candidato, porque o PT já tem, é o Lula. O PSDB está fazendo uma coisa fantástica: tinha dois candidatos espetaculares e está queimando os dois. Refiro-me àquela reunião - com todo respeito, com todo carinho - em que o Presidente do PSDB, que é uma das pessoas mais sérias, mais responsáveis e que amo do fundo do meu coração, que é o Senador Tasso Jereissati, mais o Fernando Henrique e mais o querido Governador de Minas Gerais se reuniram com o José Serra; saíram de uma reunião, de uma solenidade, onde estava todo mundo, em homenagem ao Líder, em que estava inclusive o Governador, e foram jantar separados para, segundo disse a imprensa, escolherem um candidato. V. Exª concorda, Sr. Presidente Renan Calheiros, que é melhor a nossa prévia? V. Exª concorda que é melhor a nossa prévia do que uma reunião, com um vinho de R$250,00 a garrafa, em que os treze estavam reunidos com um candidato, deixando o outro de lado? E o candidato estava na reunião! Na primeira reunião, em torno do Líder na Câmara, estava todo mundo, inclusive o candidato. Daí, perguntaram ao Fernando Henrique: “Mas por que o outro candidato não está aqui?” E o Presidente respondeu: “É que ele costuma levantar muito cedo”.

V. Exª concorda que o PSDB está fazendo algo que é muito grave? O PSDB tem dois candidatos muito bons e está desgastando os dois. Repare V. Exª que, entre o Garotinho e o Rigotto, que estão indo para uma prévia, não tem até agora nenhum atrito. Quer dizer, V. Exª não ouviu uma palavra do Rigotto ou do Garotinho que não seja de respeito recíproco e de compreensão recíproca. Isso não está acontecendo do lado de lá. No PSDB, não está acontecendo isso. Estão atingindo, estão magoando o Governador Geraldo Alckmin de uma maneira que ele não merecia.

Portanto, se acontecer o que estou dizendo, ganhe o Rigotto ou o Garotinho, e saírem com quatro pedras, com uma confusão, é o caso de nos reunirmos e discutirmos. Vamos nos reunir para conversar. E digo mais a V. Exª: se sai a prévia, mas, lá pelas tantas, nós nos reunimos e há um fato superveniente da maior importância, do maior significado, e temos uma pesquisa que nos mostra “esse é isso aqui”, podemos discutir. Desde que tenhamos uma candidatura própria. Esse é o grande compromisso.

E V. Exª é o grande responsável. Se V. Exª vai, o Senador Ney Suassuna, que é o nosso Líder, vai acompanhar o Presidente. Não é V. Exª que vai acompanhar o Senador Suassuna, concorda? O Senador Suassuna, que é o nosso atual Líder, é que vai acompanhar o Presidente do Senado. Eu vou acompanhar V. Exª. Se V. Exª defender uma bandeira dessa, vou acompanhá-lo com muito orgulho. E o Senador José Sarney virá conosco. V. Exª tem essa responsabilidade.

Quero que V. Exª aja com paz, com carinho. Não quero rompimento com o PT! Não defendo nem que os ministros deixem o Governo. Se o Lula resolver demitir, que demita! Por exemplo: estamos lá com o Rigotto, que vai ser candidato, vai largar o Governo; mas temos lá o PDT, que já tem candidato a Governador; o PSDB já tem candidato a Governador e tem quatro Secretários; o PDT tem três Secretários e já tem candidato a Governador; o PP tem quatro Secretários e já tem candidato a Governador. Nós não estamos pedindo para saírem. Querem ficar, que fiquem! Na nossa luta, fizemos um governo de entendimento; nós nos unimos no segundo turno e estamos dispostos a levar até o fim. Com o Lula, a mesma coisa: nós levamos a governabilidade até o fim.

Sr. Presidente, será uma página histórica, será a campanha mais bonita da história do Brasil. Não será como as que passaram, nem a do Collor acusando Sarney e Lula, nem como a do Getúlio, nem como a do Juscelino, mas será uma grande campanha, em que faremos perante a Nação um movimento novo.

V. Exª não calcula, Sr. Presidente, mas nós estamos no chão. A moral da sociedade, a esperança, o carinho, a expectativa da sociedade... Nunca vi um momento tão ruim. E não é como quando aconteceu com o Collor. Perdoe-me, mas, com o Collor, havia uma raiva. Quando o Collor mandou que o povo saísse de verde e amarelo, e as pessoas saíram de preto, havia rancor. Agora, não há esse rancor, não há ódio; há uma descrença. É como eles dizem: nós perdemos o direito de ter esperança. Esperança é o mínimo que se pode ter, no entanto perdemos esse direito. Então, há esse sentido de mágoa; estamos caminhando para trás.

V. Exª não calcula como está sendo difícil - não sei como está lá em Alagoas ou nos outros Estados - conseguir candidato a deputado. As pessoas não aceitam. Pessoas assim, como um empresário, um professor universitário, um líder sindical, um líder estudantil; isso não passa pela cabeça deles. “Mas como vou aceitar? Daqui a pouco, viro mensalista e nem sei o que é, o que não é...” As pessoas não estão querendo aceitar. E muita gente está querendo cair fora. Há gente importante no Rio Grande do Sul que está querendo cair fora, está desistindo.

Há uma vara no Rio Grande do Sul, a chamada Quarta Vara do Tribunal, que é rígida e, na minha opinião, exagerada. Está acontecendo um fato muito engraçado: não vai ninguém para a cadeia; ninguém é preso, não acontece nada com ninguém. No Rio Grande do Sul, o que eles fazem com os coitados dos prefeitos... Abre o olho, fecha o olho, o prefeito está na cadeia. O promotor entra, pega a Constituição, diz que o lixo é responsabilidade do prefeito e que o prefeito tem de fazer não sei o quê, mas não faz; e já vem um juiz - e é uma gurizada moça, é muito moça essa gente que está entrando.

Outro dia, em final de campanha, no último comício, era mais de meia-noite, eu me senti mal, porque não tinha botado nada na boca. O prefeito disse: “Vamos ali, é um lugar que é da gurizada”. Eu concordei. Era um sábado à noite, e a cidade era um cemitério. De repente, era um barulhão, parecia uma cidade grande. E aquela gurizada, igual à da cidade grande, berrando, gritando, não sei o quê; todos de roupa moderna, aquela coisa toda. Daqui a pouco, vejo o prefeito se levantar, todo empertigado, e ir até um local onde estavam dois jovens, iguais aos outros - ela de minissaia, ele de não sei o quê, bebendo chope. Ele fica de pé ali, os caras nem dão muita bola para ele, mas ele os cumprimenta. Perguntei quem eram e ele disse: “Ela é a juíza e ele, o promotor”.

Quer dizer, é uma gurizada que recém saiu da faculdade. Essa gente tem aquela idéia de que tem de cumprir os valores que estão na Constituição. Tive uma discussão longa com ele. Sei que aquilo está na lei, mas se formos cobrar tudo que está na Constituição, que cabe fazer, de quem não fez, vai todo mundo para a cadeia! Não é só o prefeito, que não resolveu o problema do lixo; vai todo mundo para a cadeia. Então, esses prefeitos não querem mais.

Sr. Presidente, há o caso de um prefeito que é fantástico. Ele era um cara muito rico e havia lá um problema, um negócio de terra, de areia, não sei o quê. Ele pegou o dinheiro dele, comprou, pagou pelos quatro anos, e foi usando durante os quatro anos. E cassaram o mandato dele, porque ele não conseguiu provar de onde tinha vindo o dinheiro! Mas também não saiu um tostão da prefeitura. Ele pagou para depois ver, e cassaram o mandato do cara. Quer dizer, fica difícil!

Então, estamos vivendo uma hora muito amarga e temos de encontrar condições. Por essa convocação extraordinária nós pagamos um preço caro. V. Exª teve uma atuação brilhante, diga-se de passagem. Aliás, eu disse isto da tribuna: dos vinte anos em que estou aqui, esses foram os dois meses mais espetaculares de trabalho, de dedicação, de votação, e com as matérias mais importantes, a começar pela medida provisória, que foi qualquer coisa de espetacular; foi a decisão mais importante desde que aprovamos a nova Constituição. Mesmo assim, tivemos um desgaste. A opinião pública nos acompanhou, nos machucou; estamos pagando um preço caro nesse sentido.

Por isso, Sr. Presidente, digo que nós, do PMDB, temos de conseguir preencher o nosso papel. E repito pela milésima vez: não pedimos; não passava pela minha cabeça que estaríamos nessa posição. Para mim, o PT era o herói, e os quatro anos a mais do Lula eram tão certos como um mais um são dois. Ainda acho que o Lula é o favorito, mas acho que, para ganhar ou para perder, o nosso papel é ter o nosso candidato, para defender as nossas idéias e os nossos princípios.

Atente, Sr. Presidente, que falei com o maior carinho e com o maior respeito, porque sei que V. Exª tem condições, tem liderança e poderá comandar esse processo, e nós poderemos ter um bom desempenho.

Muito obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/02/2006 - Página 5661