Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Escolha de candidato próprio pelo PMDB à presidência da República.

Autor
Gilvam Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Gilvam Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Escolha de candidato próprio pelo PMDB à presidência da República.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 21/02/2006 - Página 5670
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • APOIO, DISCURSO, AUTORIA, PEDRO SIMON, SENADOR, NECESSIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), APRESENTAÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ESPECULAÇÃO, POSSIBILIDADE, DIVERSIDADE, MEMBROS, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, LANÇAMENTO, CANDIDATURA, DISPUTA, CARGO ELETIVO.

O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, havia um homem que sentia um desejo tão forte de vingança que passou mais de quinze anos maquinando como desmoralizar o sábio.

Na verdade, ele gostaria de estar no lugar do sábio. Pensou, tramou e chegou à conclusão de que com uma simples idéia ele poderia desmoralizar o sábio. A idéia chegou na madrugada. Ele pensou o seguinte: vou pegar uma pomba, uma rolinha, colocá-la na minha mão e vou perguntar ao sábio se ela está viva ou morta. Se disser que está viva, eu a amasso e mostro que está morta. Se disser que está morta, eu abro a mão e a solto. Assim eu irei desmoralizar o sábio.

Ele sentia muita inveja e queria, de uma forma ou de outra, mostrar ser mais inteligente que o sábio. Montou essa cilada e foi até o sábio. Chegou lá e disse: “Sábio, eu tenho um pássaro na minha mão. Ele está vivo ou está morto?” O sábio olhou profundamente nos olhos dele e disse: “Meu filho, a vida desse pássaro está em suas mãos”.

Senador Pedro Simon, um ícone, um estandarte, uma história, uma memória viva dos últimos cinqüenta anos do Brasil. Citou pelo menos os cinco últimos Presidentes da República, participou ativamente de muitos encontros e desencontros. Eu estava atento assistindo ao seu pronunciamento. Quando o velho timoneiro, grande líder, um dos maiores parlamentares deste País, lançou-se candidato à Presidência da República, o Senador Pedro Simon disse que talvez não fosse aquele o momento, que talvez não fosse aquela a hora.

É verdade que o País vive uma profunda crise moral. A deficiência e a falta de opção em certos momentos nos dão a lerdeza, em certos momentos, de dizer que o maior Partido do nosso País, uma história viva de democracia, que influenciou decisivamente na vida desta Nação, não tem candidatura própria. Dói! Não é fácil para todos nós que somos do PMDB sentir essa tristeza profunda enquanto as várias tendências se manifestam.

Senador Pedro Simon, entre os milhares de brasileiros e os seus companheiros do PMDB também estou incluído. Várias candidaturas ainda se postarão. Ainda há pouco, li uma revista que publica o nome de um novo candidato a candidato à Presidência da República pelo PMDB: Antônio Pedreira. Agora, acaba de abraçá-lo outro possível candidato à Presidência da República, homem de idéias e que também é um dos estandartes do nosso Partido. Mão Santa poderá surpreender o País. Mão Santa poderá lançar sua candidatura. Então, V. Exª sabe perfeitamente que esta é a hora da prudência. É a hora em que nossas lideranças precisam conversar. É o que tem feito o Presidente Renan Calheiros, é o que tem feito V. Exª e o Presidente José Sarney.

Germano Rigotto é simpático, inteligente, um grande quadro. Poderá emocionar o País, sem dúvida. Imaginem Garotinho vindo do Rio de Janeiro. Senador Mão Santa, chegará a hora de desembainhar a espada e lançar um grande programa para levantar o País lançando também sua candidatura à Presidência da República. E aí? Não há muita água para passar por baixo da ponte, Presidente; há muita água para passar por cima da ponte. Muitas pontes quebrarão. Conversar nos bastidores, discutir com prudência e paciência faz parte da experiência, e V. Exª, com seus cabelos brancos, com sua posição sempre firme, com sua ética, sabe perfeitamente que só engrandece o PMDB.

Eu não poderia nivelar-me, Sr. Presidente, a V. Exª em experiência. Ainda sou um garoto perto de sua somatória de batalhas e vitórias. V. Exª profetiza, da tribuna, que poderemos emocionar o País, que poderemos levantar a auto-estima de uma pátria que está sangrando diante de escândalos sucessivos, de grandes baixas. A classe política nunca esteve com o “ibope” tão baixo.

Por isso, digo a V. Exª que o PMDB está, sim, preparado para lançar candidato à Presidência da República. O PMDB está preparado para, a exemplo do que V. Exª falou da tribuna, fazer uma ampla composição, da qual V. Exª pode estar à frente, porque tem maturidade, inteligência e história. V. Exª não pode desistir, nunca, de continuar clamando no deserto, pois o eco baterá no peito dos peemedebistas País afora.

Na verdade, Sr. Presidente, eu não iria fazer um pronunciamento, mas, quando ouvi que o Antonio Pedreira lançou sua candidatura dentro do PMDB, lembrei-me do grande Partido dos Trabalhadores, com suas várias correntes: trotskistas, leninistas, bolcheviques. E finalmente conseguiram chegar ao poder. Nós do PMDB temos as nossas correntes, temos as nossas divergências, mas na hora da marcha, marcharemos juntos.

Por isso, satisfaz-me estar no plenário desta Casa e ter a oportunidade ímpar de ouvir um pronunciamento que é uma aula de história sobre o nosso Partido, sobre as alianças, e ver um homem com a idade de V. Exª com o entusiasmo de um adolescente, sempre revigorado, forte, defendendo a grande campanha. Quantas decepções V. Exª não teve nessa trajetória! Quantas vezes não tivemos derrotas! V. Exª foi Governador, Ministro, Líder do nosso Partido. V. Exª perdeu e ganhou muitas vezes, nos vários embates das idéias.

Portanto, eu tiro a lição que V. Exª deixou ali: candidatura própria. Senão, façamos a retrospectiva da nossa história, como V. Exª. Quando Ulysses, então, marchava e promulgava a Constituição de 1988, a imagem era maravilhosa. Era o grande resgate! O grande resgate é a grande Carta que foi promulgada pelo Congresso Nacional.

Sr. Presidente, eu não vinha fazer este pronunciamento. Meu pronunciamento seria outro, mas o discurso tão empolgante e histórico do Senador Pedro Simon trouxe-me a fazer algumas considerações. Muita água vai passar por cima da ponte - não embaixo da ponte, mas por cima. Muitas pontes serão quebradas, muitos bois-de-piranha serão lançados ao rio, muitos companheiros serão rifados. A traição também estará à espreita, mas o destino do PMDB é o destino da política ética e de uma composição para uma candidatura séria e própria. Eu acredito nisso. Por isso, acredito nos nossos Líderes.

Sr. Presidente, ainda não acabou o embate sobre a verticalização. O País será surpreendido em breve. No seio do Judiciário, ainda existem ações a serem julgadas e possivelmente ainda haverá o retorno das regras das últimas eleições. É uma possibilidade.

Conjecturar, especular, discutir faz parte do jogo, e, nesse jogo, só joga quem sabe. Quem ainda não sabe muito bem faz como eu: fica ouvindo os mais sábios. A voz do Senador Pedro Simon ecoou e ecoa neste País. Que exemplo, Senador Pedro Simon, que o Senador Mão Santa deu, daquela cadeira, ao apartear V. Exª, quando, lá na Universidade do Piauí, diante da crise, uma assembléia de estudantes da Academia discute idéias no plano da elucubração teórica.

Entre possíveis cinco nomes, quando pronunciaram Pedro Simon, todos o aclamaram. É um sinal. V. Exª deveria lançar sua candidatura à Presidência da República. Deveria ser mais um nome para que pudéssemos, juntos, discutir e avaliar. Se o Governador Germano Rigotto tem 2%, ele pode chegar a 15%; se o Garotinho está com 15%, ele pode chegar a 20%. Podemos crescer, sim. Acredito nisso. Mas acredito numa ampla composição. Vamos avançar, sim, com uma composição ou com uma candidatura própria.

O Presidente Renan Calheiros não seria tão leviano a ponto de dar declarações na imprensa de que o PMDB pode, sim, ter candidatura própria, porque não pode ir de encontro a esse desejo. Mas ele também não pode descartar a possibilidade de observar o jogo, de estar atento às formações a composições, como dizia o velho Ulysses Guimarães: “As nuvens estão sempre em mudança, e a dinâmica na política é tão veloz que muitas vezes vem como um terremoto, arrebentando ponte, desfazendo alianças e também refazendo outros nomes”.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP) - Concedo o aparte ao Senador Mão Santa, com o maior prazer.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª mostrou muita sabedoria e começou citando um sábio, inspirado pelo discurso do nosso sábio político, que é Pedro Simon. Mas V. Exª merece o meu respeito, do País e não só do Amapá.

O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP) - Muito obrigado.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Rui Barbosa disse: “O homem que não luta pelos seus direitos não merece viver”. V. Exª luta pelos seus direitos. A coisa mais bela: o direito. Quanto ao Presidente Renan, penso que ele é ungido. O Renan é muito jovem, o Renan é uma criança. Olhe a trajetória política dele em todo o País. É jovem. Atentai bem! Passou, como ninguém, pelo Poder Judiciário, igualou-se a Petrônio Portella - uma passagem rápida que nos encheu de saudade. No Legislativo, chegou ao ápice. Shakespeare dizia que a sabedoria é somar a experiência dos mais velhos com a ousadia dos mais novos. Pedro Simon é a experiência, e o nosso Presidente Renan Calheiros... Cabe lembrar a história: 1974, o PMDB não faltou ao País. Ditadura. Lança-se Ulysses Guimarães, com Sobral Pinto, o anticandidato, sem chance alguma, contra Geisel, contra os canhões e contra a candidatura. Mil novecentos e setenta e quatro, 32 anos depois, esse Partido que não faltou à Pátria, ao povo e que fez, da esperança, renascer a democracia não pode faltar agora. Vivemos dias piores do que aqueles em que o próprio Ulysses disse que “a corrupção é o cupim da democracia”, e nós não nunca tivemos tanto cupim neste País. Então, é preciso que o PMDB tenha coragem para somarmos a experiência desse extraordinário ímpar líder, porque partido algum possui um Pedro Simon, com a ousadia e com as bênçãos ungidas de Deus do nosso Presidente, para levarmos o PMDB, como está no livro de Deus. De um lado, há o PSDB, neoliberal de FHC; de outro, o PT, neoliberal paraguaio. A verdade está no meio: é o PMDB, com uma campanha de valorização do trabalho e do trabalhador, que vem hoje e faz justiça, inspirado em Getúlio Vargas, representado pelo gaúcho Simon, inspirado em Juscelino, cassado, do MDB. V. Exª trouxe a força do Amapá neste instante.

O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP) - Incorporo o aparte de V. Exª, Senador Mão Santa. Imagino em sua cabeça um chapéu de cangaceiro, saindo das caatingas do Piauí e desembainhando a espada para levantar as idéias, Senador Mão Santa. V. Exª não pode faltar, de maneira alguma, a esse compromisso com a Pátria. É de peemedebista da extirpe de V. Exª de que o País precisa. Senador Mão Santa, vejo V. Exª, brevemente, abrindo frentes para discutir idéias pelo nosso Partido. Eu vejo isso! Eu vejo Pedro Simon, esse homem de idéias e de coragem. Serão Pedro Simon e Mão Santa: um, como candidato a Presidente; o outro, como Vice. Aí, vamos marchar. É o gaúcho com o nordestino. Uma grande dupla!

            Sr. Presidente, encerro meu pronunciamento - que não era para ser este - e deixo o outro discurso para a próxima oportunidade. Eu não poderia deixar de comentar sobre essa ampla discussão interna do PMDB, discussão tão importante, de candidatura própria ou de composição.

Que Deus nos proteja, nos abençoe, nos dê sabedoria e paciência para que possamos construir uma grande frente política a fim de contribuir com o País.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/02/2006 - Página 5670