Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Realização de sessão especial do Senado, em 27 de janeiro último, destinada a homenagear o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

Autor
Luiz Otavio (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PA)
Nome completo: Luiz Otavio Oliveira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DISCRIMINAÇÃO RACIAL.:
  • Realização de sessão especial do Senado, em 27 de janeiro último, destinada a homenagear o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Publicação
Publicação no DSF de 21/02/2006 - Página 5681
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DISCRIMINAÇÃO RACIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, GRUPO ETNICO, VITIMA, PERSEGUIÇÃO, TORTURA, HOMICIDIO, NAZISMO, PERIODO, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, HISTORIA, CRIAÇÃO, DATA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), OBJETIVO, COMPROMISSO, PAZ, COMBATE, VIOLENCIA, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, DISCRIMINAÇÃO, NATUREZA POLITICA, NATUREZA CULTURAL.
  • DETALHAMENTO, ATUAÇÃO, NAZISMO, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, OBJETIVO, EXTINÇÃO, GRUPO ETNICO, PESSOAS, OPOSIÇÃO, SISTEMA DE GOVERNO, COMENTARIO, DIVERSIDADE, FATO, RELEVANCIA, HISTORIA, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.

O SR. LUIZ OTÁVIO (PMDB - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores: No último dia 25 de janeiro, nos termos do artigo 199 do Regimento Interno do Senado Federal, dei entrada nesta Casa a requerimento solicitando a realização de Sessão Especial do Senado Federal, no dia 27 de janeiro, com o objetivo de reverenciar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

            É importante destacar que a homenagem aos que sofreram as humilhantes atrocidades nos campos de extermínio nazistas durante a Segunda Grande Guerra Mundial foi uma iniciativa da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), consagrada pela Resolução nº 60/7, de 1º de novembro de 2005.

Desde a sua criação, em 24 de outubro de 1945, a ONU assumiu um compromisso com a paz entre os homens e abriu os seus braços ao mundo condenando de forma veemente todas as manifestações de intolerância, de incentivo ao ódio, de perseguição ou de violência contra pessoas ou comunidades por razões étnicas, políticas, religiosas, culturais ou sexuais. Assim, jamais a ONU poderia esquecer as terríveis perseguições que se abateram contra as minorias; contra os ciganos, contra os negros e mestiços, contra as mulheres, contra os homossexuais, contra os deficientes físicos e mentais, contra as crianças indefesas de raças consideradas inferiores pelos verdugos nazistas, contra os velhos, contra os intelectuais e contra os judeus, que foram os maiores alvos das exterminações.

Durante a “Solução Final”, em toda a Europa ocupada pelas tropas da Wermacht, 6 milhões de judeus foram impiedosamente trucidados nas câmaras de gás dos campos de extermínio mais temidos do Terceiro Reich. Entre os mais tenebrosos estavam Auschwitz, Bergen-Belsen, Buchenwald, Dachau, Birkenau, Maidanek, Sobibor e Treblinka. Eram verdadeiros centros de horror onde a vida humana valia bem menos que a de um inseto. Em Auschwitz, por exemplo, estima-se que cerca de 1 milhão de judeus foram mortos nas câmaras de gás.

Naquela época, para aumentar o ritmo de assassinatos em massa dos judeus, os alemães os enfileiravam em grande número e os encaminhavam a grandes banheiros coletivos. O pretexto era o de que tomariam apenas uma ducha para garantir a higiene do campo.

No momento em que estavam todos despidos, de cabelos raspados e empilhados no mesmo espaço, as portas eram trancadas e as luzes apagadas. A partir daí, um produto químico altamente letal, o Ziklon-B, em forma de pastilha, era colocado nos ralos dos banheiros. Em contato com a água, a reação química era imediata, o gás invadia toda a sala e todos sentiam a agonia terrível da asfixia que precedia os momentos desesperados da morte.

A decisão de usar a câmara de gás como forma de extermínio em massa dos judeus foi tomada na Conferência de Wansee, realizada nas cercanias de Berlim, em 1942. Nas primeiras execuções grupais foram usadas balas comuns. Todavia, o custo dos assassinatos era muito alto. Para baratear os gastos, a bala foi substituída pelo gás carbônico do motor de um tanque. Por fim, em 1944, em Auschwitz e Birkenau, surgiu a idéia da “Solução Final”, com a utilização do Ziklon-B e dos fornos crematórios. O primeiro matava rapidamente milhares de pessoas ao mesmo tempo. O outro cuidava da limpeza geral, ou seja, reduzia os corpos a cinzas, a um preço bastante atraente para os cofres da máquina de guerra alemã.

Fortemente vigiados pelos impiedosos guardas do Serviço Secreto (SS), que vestiam pavorosos uniformes negros, naqueles tempos de chumbo, os judeus caminhavam calados para a morte e durante o trajeto eram obrigados a ouvir o som marcante das poderosas composições do maestro alemão Richard Wagner, que, aliás, levava Hitler e seu Alto Comando ao êxtase.

Convém destacar que, entre as composições de Wagner, “A Cavalgada das Valquírias” era o hino preferido do Führer, dos nazistas mais fanáticos, das SS, do Alto Comando fiel aos ditames do regime, e de todos os seus Ministros. Nos momentos mais grandiosos vividos pelo Partido Nacional Socialista e em suas manifestações públicas gigantescas, Hitler e Wagner estavam sempre presentes. O mesmo acontecia durante os desfiles imperiais das tropas alemãs nas avenidas extensas de Berlim.

Da mesma maneira, após cada conquista territorial sob a égide da assustadora Blitzkrieg, ou seja, da guerra de movimento, da vitória militar rápida, agressiva, eficiente e implacável, que era conseguida com grande sucesso nos primeiros anos do conflito, os povos vencidos assistiam de cabeça baixa a passagem triunfante das tropas invasoras em seu território, ao som de Wagner.

            Ora, apenas para citar alguns exemplos, relembremos a entrada pomposa da infantaria alemã em Varsóvia, em Praga, em Viena, a tomada de Paris com direito a desfile nos Campos Elísios e as sucessivas paradas militares após inúmeras vitórias obtidas durante um bom tempo da ambiciosa operação Barbarossa.

Devo dizer, nobres Senadoras e Senadores, que as convicções de Richard Wagner eram fundadas na trajetória clássica e na criação de uma música nacional que dizia respeito à grandeza de um povo. Para Wagner, o povo alemão era o personagem único desse projeto grandioso e reunia todas as condições para educar um novo homem e expandir a sua identidade até os confins da Terra.

Como podemos concluir, não foi por acaso que o ditador Adolf Hitler escolheu o compositor Richard Wagner como a maior fonte de inspiração dos seus sonhos maquiavélicos e de suas conquistas militares iniciais grandiosas. Sem dúvida alguma, essa admiração por Wagner o levou realmente a acreditar que a raça ariana dominaria o mundo e que o Terceiro Reich reinaria por mil anos.

Porém, após tantos sucessos militares em toda a Europa e na África, de repente, a poderosa máquina de guerra nazista, que assustava o mundo, começou a desmoronar na sangrenta batalha de Stalingrado. Soldados do Exército Vermelho, guerrilheiros e habitantes da cidade decidiram enfrentar até o último homem o cerco imposto pelas tropas alemãs.

Como bem relatam os historiadores, depois de muitos meses de combates sangrentos, a distância, de rua em rua, de casa em casa, corpo a corpo, os soldados alemães sofreram a primeira grande derrota militar em toda a Segunda Guerra Mundial. Finalmente, em 14 de outubro de 1942, o IV Exército Alemão, comandado pelo General Friedrich Von Paulus, se rendeu às tropas vermelhas comandadas pelo lendário General russo Gregori Zukov. Devemos dizer que a “Batalha de Stalingrado” marcou o princípio do fim da Alemanha nazista.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos os que padeceram barbaramente nos campos de concentração nazistas e que ainda estão vivos são os maiores heróis do nosso tempo. Eles são as maiores referências de nossa civilização e de nossa história recente, enfim, os maiores exemplos da resistência humana, da coragem, da dignidade e da grandeza de nossas vidas.

Um desses personagens é o Sr. Ben Abraham, de origem judaica, nascido em 1924 na cidade de Lodz, situada na Polônia ocidental, ocupada pelas tropas nazistas que praticaram todo tipo de atrocidades contra si, contra sua família e contra a maioria dos habitantes de sua terra natal.

Com o avanço do nazismo em seu país, diversos guetos foram criados. As principais cidades polonesas escolhidas foram Varsóvia, Lodz, Cracóvia, Lvov, Lublin e Radon, porque abrigavam grande número de judeus.

Em 1º de maio de 1940, foi criado o primeiro gueto do século XX, na cidade de Lodz. No gueto de Lodz, em um espaço onde cabiam apenas 20 mil pessoas foram colocadas cerca de 160 mil. Logo começaram a aparecer doenças, sujeira e mortes. Praticamente, não havia comida, e a falta de higiene era a responsável pela maioria das enfermidades. Apenas para termos uma idéia da gravidade da situação, em apenas um mês de funcionamento do gueto de Lodz, mais de 5 mil pessoas morreram.

Era esse o ambiente em que vivia o Senhor Ben Abraham, no início dos anos 1940, quando tinha apenas 16 anos. De maneira inacreditável, hoje é um eminente senhor de mais de 80 anos, de aparência tranqüila, apesar de guardar em sua memória os horrores sofridos em sua terra invadida, a crueldade das torturas em vários campos de concentração, entre os quais Auschwitz, e a amargura de ter sido o único sobrevivente de sua família.

O termo “Holocausto” é utilizado historicamente para descrever a perseguição aos judeus perpetrada pelos nazistas durante o período em que a Alemanha quis dominar o mundo usando o poder das armas e a covardia da violência. Vale ressaltar que a ideologia anti-semita de Hitler foi descrita em seu funesto livro, Main Kampt”, ou seja, Minha Luta, escrito na época em que esteve preso por ter tentado um golpe na Alemanha, em 1923. Nesse documento indigno, a raça ariana era a mais pura das raças, uma raça superior, fadada a dominar o mundo. Para Hitler, os germânicos eram dotados de capacidade de comando, de poder criativo, de disciplina, de organização, e, acima de tudo, de vocação histórico-intelectual para dominar e civilizar as raças consideradas inferiores, que deveriam ser relegadas à escravidão.

Eminentes Senadoras e Senadores, ao terminar minha intervenção neste Plenário, considero importante relembrar o trecho final do meu discurso pronunciado nesta tribuna, no dia 27 de janeiro próximo passado, na Sessão Especial por mim requerida, e que foi dedicada às Vítimas do Holocausto: lembrar os horrores do terror nazista é lembrar o enorme perigo que representam o ódio, a intolerância, a insensatez, o racismo, o preconceito, a falta de respeito à vida e à liberdade. Em todos os continentes, devemos reunir uma grande cruzada para que esses fatos dolorosos não se repitam nunca mais.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/02/2006 - Página 5681