Discurso durante a 10ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Parabeniza a Escola de Samba de Vila Isabel. Comentários sobre matéria de revista inglesa The Economist a respeito da política brasileira e da viagem oficial do presidente Lula à Inglaterra. Observações sobre editorial do jornal O Estado de S.Paulo, intitulado "Ponto para Lula - e o Brasil".

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Parabeniza a Escola de Samba de Vila Isabel. Comentários sobre matéria de revista inglesa The Economist a respeito da política brasileira e da viagem oficial do presidente Lula à Inglaterra. Observações sobre editorial do jornal O Estado de S.Paulo, intitulado "Ponto para Lula - e o Brasil".
Aparteantes
Arthur Virgílio, Heráclito Fortes, Sibá Machado, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/2006 - Página 6858
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MARIO COVAS, EX GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EX-CONGRESSISTA, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, ELOGIO, ETICA, CONDUTA, VIDA PUBLICA.
  • CONGRATULAÇÕES, GRUPO, VITORIA, CONCURSO, CARNAVAL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), IMPORTANCIA, FESTA NACIONAL, DIVULGAÇÃO, CULTURA, BRASIL.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), IMPORTANCIA, ENTREVISTA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERIODICO, THE ECONOMIST, PAIS ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA, ANALISE, SITUAÇÃO, POLITICA, ECONOMIA, BRASIL.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

            Fui à Mesa solicitar autorização para subscrever o requerimento que envolve uma figura reconhecida por toda a Nação brasileira, Mário Covas, pelo importante papel que desenvolveu ao longo de toda a sua carreira e em todos os postos que teve a oportunidade de exercer no comando da vida pública brasileira.

Venho à tribuna, após o Carnaval, tendo em vista que não tive a oportunidade de me referir a essa que, indiscutivelmente, é uma das maiores manifestações da cultura brasileira, que tem a marca, o ritmo, a cor e toda a exuberância do povo brasileiro, principalmente na sua matriz afro-descendente, que conseguiu, após três séculos de escravatura, nos mostrar toda a pujança da sua arte, da sua cultura. Essa festa faz com que todo o Brasil vivencie, durante momentos tão significativos, aquele que é indiscutivelmente um dos maiores espetáculos artísticos em desenvolvimento no mundo, que é o desfile das escolas de samba, tendo a oportunidade de aprofundar temas e assuntos de forma tão maravilhosa, como ocorreu agora neste último Carnaval.

Parabenizo a Vila Isabel, que ganhou o primeiro lugar no desfile das escolas do Rio de Janeiro, a Vila Isabel, que, conforme Noel Rosa cantava, “tendo nome de princesa, transformou o samba num feitiço decente que prende a gente”. Nesse desfile, efetivamente prendeu a gente pelo tema que trouxe, que é exatamente a situação que vivenciamos nesta tão sofrida América Latina, o enredo “Soy Loco Por Ti, América”.

Ao trazer para a avenida e ter sido escolhida a escola campeã do Carnaval 2006, Vila Isabel fez jus ao reconhecimento que todos têm do papel que essa comunidade representa no mundo do samba.

Quando digo que traz o tema é porque o debate a respeito dos desafios, das potencialidades e da situação que vivencia a América Latina neste momento, com tantas mudanças políticas, econômicas e sociais que vêm sendo desenhadas no último período, faz com que o desfile das escolas de samba seja também esse momento precioso, Senador Tião Viana, de podermos, por meio da arte, da música, do som, do ritmo, das cores, também fazer a reflexão sobre este momento que a América Latina vive, de forma tão especial.

Como não poderia deixar de fazer, parabenizo as escolas de samba da minha cidade, Florianópolis, a Consulado do Samba, que, com o tema “Praça XV, onde tudo acontece”, foi classificada em primeiro lugar, e a Unidos da Coloninha, que ficou em segundo lugar.

Lamento o incidente ocorrido com a Porto da Pedra, escola em que tive a oportunidade de fazer a minha estréia na Marquês de Sapucaí, eu que nunca tinha participado do desfile das escolas de samba, apesar de ser carnavalesca de primeira hora, eu diria até de primeiros meses; em Santa Catarina, eu faço uma passagem na bateria da minha escola, que é a Copa Lord.

Neste ano, a Porto da Pedra veio com um enredo muito forte e muito bonito a respeito das mulheres: “Bendita és tu”. Essa escola trouxe toda a luta das mulheres, a luta feminista, a luta das artistas, a luta das atletas. Infelizmente, não entramos na disputa, apesar de o samba ser muito empolgante e o enredo, muito bonito.

            Tive a oportunidade de vivenciar a Marquês de Sapucaí no carro “Guerreiras do Brasil”, junto com a Senadora Ana Júlia Carepa, a nossa Ministra Nilcéa Freire e outras parlamentares. É uma pena que tenha sido o carro logo em seguida ao nosso que tenha quebrado, porque era o carro que traria as mães brasileiras, que mostrava a luta das mães brasileiras que defendem o direito das mães nas situações mais amargas e trágicas, como as que perdem os filhos na briga do narcotráfico, na violência urbana, como em Acari, as que perderam os filhos na Ditadura Militar ou pelas mais diversas formas de violência, como a escritora e novelista Glória Perez. Infelizmente, esse foi o carro que quebrou.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senadora Ideli Salvatti, V. Exª me concede um aparte?

            A SRª IDELI SALVATI (Bloco/PT - SC) - Concedo, com muito prazer, um aparte ao Senador Sibá Machado e, a seguir, abordarei outro tema.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senadora Ideli Salvatti, não tive oportunidade de ver o samba de V. Exª. Sempre me interessei pouco em participar do carnaval, pois procuro fazer o caminho inverso, dirigindo-me a um lugar mais fechado ou lendo um livrou. Todavia, fiquei curioso desta vez. Como comprar ingresso para assistir ao desfile do Rio de Janeiro era mais complicado do que eu imaginava, acabei não conseguindo adquiri-lo. Foi uma pena, pois estava com vontade de assistir ao desfile. Esta grande festa nacional certamente é uma das que propicia maior turismo - não tenho números, mas creio que é isso. Faço hoje uma comparação muito clara entre as três maiores festas carnavalescas que o Brasil tem: Rio de Janeiro, Salvador e Recife. A grande festa do Rio de Janeiro é mostrada para o mundo. A de Salvador é voltada à classe média. E o povão fica mais em Recife. Até mesmo Caetano Veloso deixou Salvador para cair no frevo de Pernambuco. Fico imaginando uma maneira de aproveitarmos essa força nacional, tão forte quanto o futebol brasileiro. Hoje o Brasil tem a quinta taça, e torço pela sexta taça. Que tal se pudéssemos, em algum momento, expandir o carnaval para o mundo, vendendo essa imagem tão bonita? Como V. Exª já disse, o carnaval traz temas históricos, polêmicos e da atualidade, que nos chamam à reflexão. Eu gostaria mesmo de ter ido ao Rio de Janeiro para ver a Porto da Pedra e o samba no pé da nossa Senadora Ideli Salvatti.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço o Senador Sibá Machado.

Eu gostaria muito que o carro da Escola de Samba Porto da Pedra não tivesse quebrado, para que pudéssemos nos classificar entre as campeãs. Até mesmo para que a escola pudesse, mais uma vez, trazer o tema da mulher exatamente na semana em que vamos abordá-lo aqui e fizesse o desfile das campeãs no sábado passado.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª me concede um aparte, Senadora?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Ouço, com muito prazer, o Senador Arthur Virgílio, que, sei, é um sambista de primeira hora também.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Não. Até que não. Eu não me considero ruim da cabeça, mas não tenho tanto samba no pé. Senadora, na verdade, Manaus pratica um carnaval de escola de samba de alto nível, um dos mais sofisticados do País, e começa a virar evento turístico que atrai muitos turistas, sobretudo daquela área da Amazônia internacional: da Amazônia peruana e da Amazônia venezuelana. É um carnaval muito bonito. Eu que vejo em outro ponto da cultura do meu Estado, o Boi-Bumbá de Parintins, uma ligação muito forte com o carnaval das escolas, que aprecio muito e gosto de assistir, fiquei feliz este ano porque percebi que, inclusive no Rio de Janeiro, renasceu o carnaval de rua, aquela coisa dos blocos...

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Fantástico! Esse renascimento é fantástico.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - O que eu tenho de conhecidos que disseram que saíram em tal bloco... Coisa que já estava morrendo. Eu creio que essa é uma expressão popular que, aliás, é a original. Ela é a fonte dessa festa bonita toda.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - E lá não tem cordão para separar. Todo mundo vai...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Não tem. Todo mundo junto.

 A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Todo mundo junto...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Houve o episódio do Bola Preta, tão tradicional, aquela gafieira... Houve o episódio do Bafo-da-Onça, com milhares e milhares de pessoas nas ruas. Eu fiquei muito feliz com isso. Não custa nada, não tem nada envolvido, a não ser a alegria popular. Eu creio que essas festas são o resumo da nossa cultura. Não dá para nós imaginarmos destacar o que nós somos como povo, o que nós somos como civilização dessas manifestações populares que passam pela nossa culinária, passam pelo carnaval, passam pelo nosso sincretismo religioso. Portanto, eu parabenizo V. Exª pelo pronunciamento que faz, indo ao encontro disso que, para mim, é realmente relevante.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Eu agradeço a V. Exª, Senador Arthur Virgílio.

Peço ao Senador Tuma mais uns minutinhos, porque, além dessa questão da cultura brasileira, da sua importância, eu também gostaria de mencionar algo que eu entendo tão importante quanto. O Presidente Lula vai à Inglaterra em uma viagem oficial e será recebido como Chefe de Estado. A revista The Economist, desta semana, destaca na capa uma entrevista do Presidente Lula. Já na terceira página, uma foto com destaque; no editorial, também realça significativamente a situação do Brasil. Há uma reportagem de fôlego, de três páginas, retratando um pouco o que tem sido esse período do Governo Lula, a situação vivenciada pelo Brasil, os desafios que estão postos.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senadora Ideli Salvatti...

A SR.ª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Eu já estou terminando, Senador Heráclito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - A matéria é tão importante que solicitaria a V. Exª que lesse o trecho que considera mais importante, para que fique registrado nos Anais da Casa.

A SR.ª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Vou fazê-lo, Senador Heráclito. Peço inclusive que seja considerado lido na íntegra o editorial do jornal O Estado de S.Paulo, o Estadão que trata exatamente da matéria.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Sei que V. Ex.ª vai transcrever nos Anais, mas se trata da Líder de um partido que discorreu tão bem sobre o carnaval e quero que o sucesso do seu pronunciamento sobre o carnaval tenha também o mesmo efeito que o sucesso da atuação do Presidente Lula. Daí, eu pediria a V. Exª que destacasse pequenos trechos do artigo do The Economist.

A SR.ª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Eu o farei se V. Exª não ficar tão ansioso como sempre quando subo à tribuna. Eu já estava até preocupada porque V. Ex.ª ainda não havia me aparteado.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Eu quero ajudá-la, Senadora.

A SR.ª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Se V. Exª me permitir vou fazer o registro. Pode ser?

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Eu deixo.

A SR.ª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - O editorial do jornal O Estado de S.Paulo, que tem como título “Ponto para Lula - e o Brasil”, realça trechos e determinadas questões tanto no editorial quanto na reportagem. Vou ler aqui pequenos trechos, Senador Romeu Tuma, se V. Exª me permitir, do editorial.

Seria o supra-sumo da mesquinhez política desdenhar do amplo espaço que o semanário londrino The Economist, a mais importante revista do gênero no mundo, concedeu ao presidente Lula na edição que começou a circular ontem, quatro dias antes de sua visita de Estado à Grã-Bretanha, a terceira de um governante brasileiro, depois de Ernesto Geisel e Fernando Henrique.

Muito ao contrário, o País deve receber com satisfação o destaque conferido pela publicação ao presidente - o editorial A mágica de Lula, a reportagem O salto de Lula e a entrevista de 46 perguntas....

A importância que a Economist lhe deu traduz uma atenção ao Brasil rara na mídia do Primeiro Mundo. Os principais períodos do mundo rico, quando não falam de seu entorno imediato, da guerra no Iraque e do terrorismo, têm os seus olhos voltados - justificadamente - para a China ou a Índia. E, hoje em dia, a Venezuela de Hugo Chávez e a Bolívia de Evo Morales são mais notícia do que Lula na grande imprensa européia e americana. A atitude desses órgãos de mídia - que fazem a cabeça de governantes e investidores em relação ao País é de “negligência benigna”, como disse certa vez, em outro contexto, o presidente americano Lyndon Johnson.

Agora, tanto o editorial quanto o artigo e a entrevista que lhes serviu de base tratam Lula com fairness e o Brasil com seriedade...

Esse presidente, a revista dá como quase certa, será o político de que se ocupa - “carismático e de sorte”. Eis, de fato, uma combinação invejável aos praticantes do ofício em qualquer parte do mundo. Graças a ela, a sua popularidade se recuperou do mensalão e até agora não pagou pelo acabrunhante crescimento de 2,3% do PIB de 2005. Do mensalão - para a revista “um mar de suposições, pontilhados por ilhas de fatos” -, diz Lula, quase de um só fôlego, que o PT foi vítima de um massacre “não injustificável”, que o partido não pode ser julgado “porque meia dúzia dos seus membros fez algo errado”, que as CPIs lhe darão um atestado de idoneidade, mas terá muito a explicar à sociedade nos próximos anos.

Termina o editorial do Estadão dizendo:

O Lula que o stablishment britânico é chamado a ver pelos olhos da Economist, juntamente com o seu País, deixa uma boa imagem, que se deve, principalmente, ao fato salientado pela revista de “a vitória do operário nascido em muito à extrema pobreza não o ter levado a transformar-se num populista (...)”

E isso, obviamente, não é pouco. Portanto, Sr. Presidente, peço que se registre na íntegra o editorial de O Estadão.

O Sr. Tasso Jereissatti (PSDB - CE) - V. Exª me permite um último aparte?

A SRª IDELI SALVATI (Bloco/PT - SC) - Pois não, Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissatti (PSDB - CE) - Eu gostaria de congratular-me com V. Exª e com o Presidente Lula, porque a evolução do seu Partido e de V. Exª desde os discursos quando oposição é algo extraordinário. A The Economist é a bíblia do capitalismo financeiro internacional, e o PT hoje e o Presidente Lula sentirem-se orgulhosos pelos elogios que a The Economist faz ao Governo do Presidente Lula é natural. Afinal de contas, os lucros dos bancos estão aí para mostrar a coerência da The Economist em relação ao Governo Lula. A evolução do PT é que é realmente extraordinária. Eu gostaria de me congratular com essa evolução, apesar de não estar de acordo com essa política que deu um lucro tão grande aos bancos e um crescimento tão pequeno ao País. Mas a evolução do PT, realmente, é extraordinária.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Senador Tasso Jereissati, não sei se meu tempo me permite ainda, mas eu queria apenas dizer o seguinte: acho, às vezes, bastante estranho que vocês insistam que não houve mudanças na política econômica, que não mudamos nada e continuamos fazendo a mesma coisa que os senhores fizeram ao longo de oito anos. Depois, há um reconhecimento internacional dessa envergadura para o País - quero dizer, com todas as divergências que possamos ter com a linha editorial da revista -, mas, indiscutivelmente, não me lembro de ter tido, na véspera da visita dos dois presidentes, que foram os dois que estiveram na Grã-Bretanha, um destaque dessa magnitude.

Para o País, mesmo com a divergência, entendo que é uma sinalização relevante e que merecia, sim, indiscutivelmente, o destaque nesta tribuna. Porque quando um órgão dessa magnitude, mesmo com todas as divergências ideológicas que podemos ter, dá o destaque para o nosso País, para o que está estabelecido aqui, para a potencialidade com que está colocado, é algo que, com todas as reservas que podemos ter com a linha ideológica da publicação, coloca o País no cenário internacional como destaque e acho que merece seja registrado.

E aí acho bom vocês decidirem o que querem fazer: se querem elogiar a política econômica, que vocês dizem que continua a mesma, ou se querem criticar. Tenho um entendimento - já tive oportunidade de ver inúmeras vezes - de que há modificações significativas na política, principalmente pela concepção e o papel que o Estado brasileiro passou a fazer durante o Governo Lula. Já tive oportunidade aqui de colocar o papel dos bancos públicos, o papel do crédito, o papel de toda a máquina pública reconstituída enquanto Estado para alavancar a oferta de serviços públicos de inclusão social. É diferenciado de forma significativa.

Então, eu não tenho nenhum problema em fazer o debate...

(Interrupção do som.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Peço tempo para concluir.

Agora, acho um pouco estranhas as posições, porque numa hora criticam, noutra hora dizem que é igual... Então, acho bom vocês saírem da esquizofrenia e definirem como vão tratar o assunto agora, para o processo eleitoral.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senadora Ideli, eu não estou esquizofrênico. Estou elogiando a evolução...

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) -... essa sua enorme alegria com o lucro dos bancos e a posição da revista The Economist, e essa enorme identidade do seu Partido com a The Economist. Não existe nenhuma esquizofrenia, nem crítica, nem elogio; apenas a alegria de ver essa identidade com a bíblia do capitalismo financeiro internacional.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Senador Tasso Jereissati...

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Não há nenhuma esquizofrenia nisso. Pelo contrário, uma enorme alegria e paz.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Referi-me não à esquizofrenia de V. Exª - que fique aqui registrado -, mas apenas a essa, porque não cometeria jamais essa indelicadeza para com V. Exª, a quem respeito muito. Mas o discurso de V. Exªs em relação à política econômica precisa ser definido. É ou não é? É igual ou não é? É boa ou não é? Porque não dá para ser a mesma e ser ruim. Vocês vão ter de definir o que é bom e o que é ruim do que fizeram. Eu tenho clareza de que fizemos bastante diferente.

Já estou com o tempo encerrado.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Essa política não é a nossa, é a do seu Governo. Quem tem de definir isso é o seu Governo, o PT, se essa política é boa ou não. Essa política do Palocci é boa ou não?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Nós temos definida a política.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - É boa ou não? Essa política do Palocci é boa ou não?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - A política de austeridade, de responsabilidade fiscal...

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Vocês precisam definir isto: se é boa ou não é.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Eu pediria que não houvesse debates paralelos.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - ...de ampliação de crédito, de papel dos bancos, papel do Estado, eu não tenho nenhuma dúvida de que...

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - A senhora está pedindo esta definição: ela é boa ou não é?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Eu não tenho nenhuma dúvida de que é boa.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - O Palocci está certo?

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - O Palocci está certo? Esses juros estão certos?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Eu não tenho nenhuma dúvida. Poderíamos ter tido situação diferenciada...

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP. Fazendo soar a campainha.) - O debate paralelo não dá. Assim ninguém entenderá e gerará confusão. Já adiei cinco vezes. Vou conceder mais um minuto para V. Exª terminar.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Senador Romeu Tuma, só para que possamos concluir, porque realmente o debate assim pipocado não contribui. Teremos muitas oportunidades de fazer o debate, principalmente em cima dos resultados. Os resultados poderiam ter sido melhores? Poderiam. Poderíamos ter feito mais? Poderíamos. Poderíamos tanto! Poderíamos. Agora, também poderiam. Nós poderíamos, mas também vocês poderiam e não fizeram. Não fizeram uma série de coisas. Mas vou encerrar, Senador.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Só para responder ao Senador Tasso sobre a preocupação dele. Quero dizer muito claramente que somos, sim, favoráveis e apoiamos a política econômica defendida pelo Presidente Lula, conduzida pelo Ministro Palocci. Faltam dois elos para ser concluído esse ciclo: reduzir a taxa de juros nos patamares que todos desejam e ampliar, espraiar a...

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP. Fazendo soar a campainha.) - Peço desculpas, mas, se não houver compreensão dos Srs. Senadores, eu não vou conseguir controlar, vai ficar muito difícil. Já encerrou, Senadora?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Sim, Sr. Presidente.

 

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            DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SRª SENADORA IDELI SALVATTI EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Ponto para Lula - e o Brasil” (O Estado de S.Paulo)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/2006 - Página 6858