Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a ocupação de favelas no Rio de Janeiro, pelo Exército Brasileiro. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Considerações sobre a ocupação de favelas no Rio de Janeiro, pelo Exército Brasileiro. (como Líder)
Aparteantes
Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/2006 - Página 7088
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • DENUNCIA, OMISSÃO, CLASSE POLITICA, SOCIEDADE CIVIL, DEBATE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, CRIME ORGANIZADO, OCUPAÇÃO, EXERCITO, FAVELA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • GRAVIDADE, MISERIA, POPULAÇÃO, AUSENCIA, HABITAÇÃO, MENOR ABANDONADO, TRAFICO, DROGA, COMERCIANTE AMBULANTE, AUMENTO, CONTROLE, CRIME ORGANIZADO, OMISSÃO, ESTADO, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, UNIÃO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, GOVERNO MUNICIPAL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRIORIDADE, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, PERIFERIA URBANA.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Pela Liderança do PDT. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a situação de um país, o estado de degeneração de uma sociedade se mede pela reação desta sociedade ao absurdo. Quando a sociedade aceita o inaceitável, ocorre aquilo que a Hannah Arendt chamou de “a banalização do mal”. Essa sociedade está doente, Senadora Heloísa Helena. A sociedade brasileira está profundamente doente.

O Exército brasileiro ocupou favelas do Rio de Janeiro. Por quê? Porque bandos assaltaram um quartel e roubaram fuzis dessa dependência militar. E não é a primeira vez que isso acontece. Não é a primeira vez. E isto passa despercebido. Não vi um discurso no Senado sobre isso.

Em qualquer país civilizado, do nível de desenvolvimento do Brasil, isto não acontece O Brasil não é o Iraque, o Brasil não é o Afeganistão, o Brasil não é o Haiti, o Brasil é o País mais industrializado da América Latina e se arvora a ser líder dos emergentes, ao lado da Índia e da China, e não está ao lado deles. É aqui, no Brasil, que o Exército da segunda cidade do País, ex-capital da República, o meu belo, querido e amado Rio de Janeiro, chega a esse estado de degradação.

Senador Ney Suassuna, V. Exª mora no Rio de Janeiro. Como é que o Brasil assiste praticamente de braços cruzados ao que acontece no Rio de Janeiro? O Rio de Janeiro é uma desordem urbana completa. As ruas tomadas por ambulantes, ocupadas. Debaixo das marquises, famílias sem teto, aos montes, dormindo. Os narcotraficantes tomam conta dos morros, substituem o Estado, fecham ruas, decretam feriados. O poder paralelo comete a audácia de assaltar quartéis para levar armas, usam granadas. No Rio de Janeiro! Isso acontece aqui nos nossos vizinhos? Não vou nem falar em Nova Iorque, em Paris, em Berlim, em Roma. Isso acontece em Buenos Aires, Senador Ney Suassuna? Vá a Buenos Aires: V. Exª não encontrará um camelô nas ruas, não ouvirá falar absolutamente em bandos organizados fechando ruas, não verá famílias morando embaixo de marquises. E não é só em Buenos Aires. Vá a Santiago do Chile: fotografe uma família dormindo embaixo de marquise, fotografe um camelô e me traga!

Bandos armados tomando conta de uma cidade, e o Governo Federal, o Governo Estadual e o Governo Municipal entendem que não há solução! E o Congresso Nacional nem sequer se ocupa disso, Senador Rodolpho Tourinho!

A mais bela cidade do mundo, um dos maiores patrimônios que este País tem chama-se Rio de Janeiro. Em qualquer país competente, essa cidade atrairia 20 milhões de turistas por ano, Senador Luiz Pontes, se o Estado brasileiro, falido, não a deixasse se degradar!

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - V. Exª me permite um pequeno aparte?

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Em seguida, Senador.

Isso exigiria uma ação conjugada de Presidência da República, Governo Estadual e Governo Municipal para se fazer uma operação salvação do Rio de Janeiro. O Estado tinha de entrar nas favelas não com Polícia e Exército, mas urbanizando, levando escolas, postos médicos, centros culturais, quadras esportivas, enfim, civilização àquelas áreas degradadas, escorraçando o narcotráfico e o crime organizado de lá e impondo a autoridade do Estado nacional.

Concedo um aparte ao Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - O aparte será muito rápido, Senador Jefferson Péres. Moro na Paraíba e também no Rio do Janeiro. O que V. Exª está dizendo é mais do que a verdade. O discurso que farei a seguir mostrará um pouco mais a generalização dessa violência no País. No entanto, no Rio de Janeiro, outro dia, nobre Senador, um dos meus funcionários chegou pela manhã chorando. Perguntaram-lhe por que estava chorando, e ele disse: “No bairro em que moro, no subúrbio, fazem pedágio. Como eu não tinha dinheiro no bolso, apenas o tíquete do ônibus, tomaram a minha marmita. E o cidadão disse: se sua marmita estiver ruim ou azeda, quando você voltar vai levar um tiro”. E meu funcionário disse: “Estou rezando para que a minha marmita não esteja azeda”. Fiquei chocado com a situação. Esse é um quadro que vemos acontecer com certa freqüência. V. Exª está coberto de razão. Solidarizo-me com V. Exª em sua séria preocupação.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Muito obrigado, nobre Senador Ney Suassuna.

Há um tanque do Exército hoje na entrada da Estação Primeira da Mangueira.

Senador Ney Suassuna, o que acontece no Rio de Janeiro e em outras cidades brasileiras, como São Paulo, com a inação, com a indiferença da sociedade brasileira é uma vergonha! É um labéu na face de toda a classe política brasileira. O Estado brasileiro é falido, a classe política brasileira é falida. Isso é uma vergonha! Como cidadão brasileiro sinto-me envergonhado, Sr. Presidente!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/2006 - Página 7088