Discurso durante a 16ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o quadro sucessório à Presidência da República, posicionando-se favoravelmente à candidatura própria do PMDB ao Planalto.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. ELEIÇÕES.:
  • Considerações sobre o quadro sucessório à Presidência da República, posicionando-se favoravelmente à candidatura própria do PMDB ao Planalto.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Ney Suassuna, Sérgio Cabral.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2006 - Página 7848
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. ELEIÇÕES.
Indexação
  • ELOGIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), ESCOLHA, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • ANALISE, CARACTERISTICA, CAMPANHA ELEITORAL, BUSCA, REELEIÇÃO, ORGANIZAÇÃO, OPOSIÇÃO, ELOGIO, DEBATE, DEMOCRACIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ESCOLHA, CANDIDATO, CRITICA, MEMBROS, TENTATIVA, IMPEDIMENTO, ALEGAÇÕES, PROBLEMA, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, ESTADOS.
  • COMENTARIO, CARGO PUBLICO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ESPECIFICAÇÃO, INDICAÇÃO, JOSE SARNEY, NEY SUASSUNA, RENAN CALHEIROS, SENADOR, REPUDIO, TENTATIVA, MANUTENÇÃO, SITUAÇÃO, RENUNCIA, INDEPENDENCIA, CANDIDATURA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é claro que tenho de trazer aqui uma mensagem ao bravo Governador Alckmin. S. Exª é um homem de bem, por quem tenho o maior respeito.

Sempre me lembro do papel que o Governador Alckmin assumiu durante o período em que Mário Covas sofria de uma doença praticamente sem volta - e os médicos não queriam que ele renunciasse. Os médicos achavam que, se Covas renunciasse e fosse para casa, para Paris ou a algum outro lugar, isso anteciparia a sua morte.

Então, Covas ficou no Governo até o fim. Levantava às 10h30min, ia ao gabinete do Governador, despachava, tirava duas fotografias, voltava para a sua residência, dormia, às 16h30min voltava ao gabinete e fazia a mesma coisa.

E o Alckmin, como vice-Governador, deu todo o suporte, cobertura, apoio e nunca disse uma palavra; nunca tirou uma fotografia e nunca obteve vantagem alguma dessa situação.

Aliás, dizem que a viúva do Covas gosta muito do Tasso Jereissati, porque, quando Governador do Ceará, toda vez que ia a São Paulo visitava-o, embora o Covas já estivesse fora de qualquer tipo de disputa; enquanto outros - não vou citar os nomes -, sabendo que o Covas estava fora de disputa, mesmo morando em São Paulo, nunca mais o visitaram.

Então, vejo a escolha do Alckmin com muita alegria, embora respeite o Serra. Contudo, penso que o Serra tinha um impedimento grave, pois assinou uma declaração: “Eu sou prefeito; se for eleito, ficarei quatro anos. Se renunciar, não vote em mim para qualquer cargo”. Eu acho que o Serra fez bem em não aceitar. Era um contraste muito grande. O Serra é moço e tem tempo para esperar.

Creio que o quadro está resolvido. O PSDB não precisou reunir o Diretório Nacional, fazer convenção ou reunir a Executiva. O chefão, o líder, o Presidente do Partido, Senador Tasso Jereissati, e o ex-Presidente da República Fernando Henrique, com a sua experiência, resolveram a questão. E um agrado foi dado a Minas Gerais - somente o Itamar não está gostando: chamaram o Governador de Minas para participar da decisão, entre dois paulistas, é claro! Mas o Governador de Minas Gerais participou da decisão. Escolheram. Já têm candidato a Presidente.

O PT, do nosso querido amigo Lula, ferido e abatido, está em pleno combate, campanha e luta, livrando-se dos ferimentos. Está lá o Lula. O PT é o partido de se reunir, debater, discutir, fazer seminários, ouvir as bases. Alguém abriu a boca para falar algo? O candidato é o Lula, e está acabado! O que vai acontecer é a convenção oficial, burocrata, que vai homologar o nome do Lula.

Hoje, a candidata de Oposição para valer está aqui. Todos sabem quem é. A Senadora Heloísa Helena está aí. Eu acho que os pequenos partidos de Oposição deveriam reunir-se - PDT, PPS... E essa candidata, com um tempinho de Oposição, meu Deus do céu! Mas a candidata está ali!

Só tem o PMDB. Perdoem-me os outros partidos, mas o PMDB é o único Partido que está fazendo um debate. Parece até que o Brasil é uma democracia para valer, como na Inglaterra e nos Estados Unidos, com os candidatos debatendo, reunindo as bases, conversando e discutindo, num debate bonito que há muito tempo não se via.

Andando lá na sua Alagoas, Senadora Heloísa Helena, só o Senador Renan é contrário. Todo mundo, em Alagoas, quer uma candidatura própria. Chegando ao Maranhão, só o Senador Sarney é contrário. Todo mundo no Maranhão quer uma candidatura própria. Quer dizer, o Partido deseja isso.

Agora, o que vamos dizer? A campanha começou! Os dois candidatos mais fortes já estão na rua - o Lula e o Governador de São Paulo. A Heloísa já está na rua.

E o que quer o PMDB? Transferir as prévias para junho. É piada! Não é algo sério! Não tem explicação! Não tem lógica! Transferir para junho por quê? Porque alguns não querem candidato. Mas não querem candidato por quê? Por que um partido do tamanho do PMDB, com a sua história, com a sua biografia, com os seus quadros, não vai ter candidato?

O PSDB ficou entre dois e escolheu um. Escolheu o único, porque o Serra, com todo o carinho, tinha um impedimento, que era o seu compromisso de ficar na Prefeitura até o fim. O PT não fez escolha: era o Lula e pronto, está acabado.

O PMDB, não. Poderiam ser candidatos a Presidente da República pelo PMDB: Germano Rigotto, Governador do Rio Grande do Sul; Luiz Henrique, Governador de Santa Catarina; Roberto Requião, Governador do Paraná, que está fazendo uma administração espetacular; Anthony Garotinho; Itamar Franco e José Sarney, ex-Presidentes da República; Jarbas Vasconcelos, Governador de Pernambuco; Iris Rezende, de Goiás; Renan Calheiros, Presidente do Congresso Nacional.

Meu Deus, como possui nomes para a candidatura presidencial o PMDB! Dizer que o PMDB não tem quadros! Onde é que nós estamos?! Alguém disse que temos de esperar a decisão do Supremo Tribunal Federal no que se refere à verticalização, para sabermos se candidato a Presidente só pode fazer coligação com os partidos que o apóiam em nível nacional. Isso prejudicará? Sim. Se a decisão que o Congresso tomou, se emenda à Constituição for derrubada no Supremo, o que não acredito, prejudicará. Prejudicará quem? O PMDB, porque o meu amigo, candidato a Governador de Mato Grosso do Sul, quer fazer aliança com o PSDB e não vai poder fazê-la. Prejudicará. Poder pode, porque o PMDB pode lançar o candidato a Governador, e o PSDB lançar candidato ao Senado. O PMDB não lança candidato ao Senado, e o PSDB de Mato Grosso do Sul não lança candidato a Governador. Poder pode. Que prejudica, prejudica. Mas o PMDB tem 16 ou17 candidatos praticamente garantidos para eleger como governadores.

E o PT, que está oferecendo a vice, em Goiás, em troca do apoio para o Lula; está oferecendo a vice, em Tocantins, em troca do apoio para o Lula; está oferecendo a vice, no Espírito Santo, em troca do apoio para o Lula; está oferecendo a vice, no Amazonas, em troca do apoio para o Lula; enfim, está oferecendo a vice-governança a quem quiser, em troca do apoio para o Lula.

Por que para o PT é importante eleger o Presidente e para o PMDB é importante eleger dois Governadores a mais em vez de eleger o Presidente? Por que para o PSDB é importante eleger o Presidente? O que o PSDB tem? O Governador do Paraná, muito importante; o Governador de Minas, muito importante; o Governador de Goiás, que vai perder. No entanto, não vejo ninguém do PSDB dizer o seguinte: “Não, nós não vamos apoiar. Nós queremos ver como vai ser, se há uma unidade total, porque, se não tiver, nós não vamos apresentar”. O PSDB é um grande Partido. Tem candidato à Presidência. O PT é um grande Partido; tem candidato à Presidência. O PMDB é um grande Partido; tem de ter candidato à Presidência.

Só quem não quer são as três pessoas que nós conhecemos. Por que não querem? No Maranhão, eu acho que o candidato do PMDB a Governador do Maranhão é a Roseana Sarney. É. Aliás, para mim, ela estaria há muito tempo no meu Partido. Eu creio que ela é mais PMDB do que o pai dela. A Roseana tem tudo para ser candidata, tem tudo para ser governadora. Acho que o PMDB não deve apresentar candidato a governador no Maranhão, deve apoiar Roseana, e o candidato a senador é do PMDB. No Amapá, por amor de Deus, o candidato a senador é José Sarney, e concordo que lá apoiemos o candidato de qualquer outro partido que apóie Sarney para candidato a senador. Isso é lógico! Mas daí a não termos candidato...

Primeiro apresentaram um nome - ninguém sabe quem apresentou. Ontem apareceu um terceiro candidato lá, um nome que já foi candidato à Presidência da República, já foi não-sei-o-quê e mais não-sei-o-quê. Apresentava-se como candidato a Presidente, o terceiro candidato. E o que ele dizia? “Eu defendo a tese de que o PMDB não deve ter candidato. Defendo a tese de que o PMDB deve indicar o vice do Lula. Por isso sou candidato: para boicotar a prévia do PMDB”.

É claro que isso foi rejeitado pelo presidente do PMDB, até por que o estatuto diz que, na prévia, o candidato a Presidente da República tem de ter o apoio de pelo menos um Estado. Uma unidade da Federação pelo menos tinha de apoiá-lo, mas ele não tinha ninguém. Rejeitado, o quadro está composto.

Neste momento quero dizer ao Brasil que o quadro sucessório está definido: Lula é candidato a Presidente pelo PT, Alckmin é candidato pelo PSDB, e o PMDB vai decidir domingo entre dois homens ilustres, Garotinho e Rigotto. As oposições já têm um grande nome, o da Senadora Heloísa. Se forem competentes, fecham em torno da Senadora Heloísa. E não tenho dúvida alguma de que pode acontecer aqui o mesmo que aconteceu no Chile: uma mulher na Presidência. Basta que dêem a ela a chance de expor suas idéias com tempo e oportunidade. Ela não perde para o Teotonio em garra, em luta, em disposição, em capacidade e em competência. Não perde! A Senadora Heloísa Helena é um pouco radical nas idéias, mas quando for candidata à Presidência da República deve agir como lhe falei: candidato a Presidente é candidato a Presidente, não pode dizer que o Bush é isso ou aquilo. A gente sabe o que ele é, mas é preciso tratá-lo com mais jeito, porque amanhã podemos ter de nos reunir com ele para conversar. E parece-me que ela absorveu essas idéias.

Está ali o futuro Governador do Rio de Janeiro, o Senador Sérgio Cabral. Perguntem-lhe o que é melhor para ele: ser candidato a Governador havendo um candidato a Presidente da República do próprio partido - 15 para Presidente e 15 para Governador - ou ser candidato a Governador do Rio de Janeiro tendo de apoiar o 45 ou o PT para Presidente da República?

O Sr. Sérgio Cabral (PMDB - RJ) - Senador Pedro Simon, é uma honra ouvir esse vaticínio de V. Exª. Quero dizer-lhe que, enquanto V. Exª falava do nosso Partido com essa altivez, do alto da história que carrega, eu me lembrava de 1981, quando o General Golbery do Couto e Silva bolava uma solução jurídica para impedir o crescimento da oposição no Brasil. Inventou algo absolutamente inimaginável para obstaculizar esse crescimento da oposição: o voto vinculado, segundo o qual a população brasileira tinha de votar, de vereador a governador, no mesmo partido. E o PMDB, o velho PMDB de V. Exª - naquela ocasião eu era um modesto presidente da Juventude do PMDB do meu Estado...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu já era o presidente do MDB do Rio Grande do Sul.

O Sr. Sérgio Cabral (PMDB - RJ) - V. Exª já era o presidente do PMDB do Rio Grande do Sul.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - São gerações diferentes as nossas, Senador.

O Sr. Sérgio Cabral (PMDB - RJ) - E V. Exª liderou, junto com outros grandes líderes do nosso Partido, com muita inteligência, com muita competência, a luta contra essa tentativa de destruir o crescimento da oposição. Em 1982, nós fizemos nove governadores de Estado, além do Governador Brizola no Rio de Janeiro, e começamos a campanha das Diretas Já, que culminou com o fim da ditadura militar. E agora esse PMDB vai se dobrar a uma verticalização? Francamente, é uma vergonha que algum membro do nosso Partido cogite que deixemos de fazer prévias no próximo domingo por conta de uma decisão de verticalização no processo eleitoral que vale para o PSDB, que vale para o PT, que vale para o P-SOL, que vale para todos os partidos. Quero dizer que V. Exª, neste momento, encarna o sentimento de todo o Partido, dos oito mil vereadores do PMDB, dos mais de mil prefeitos do PMDB, das centenas de deputados estaduais do PMDB. Parabéns! Nós faremos uma festa cívica no próximo domingo elegendo um dos dois - e temos o privilégio de ter dois grandes candidatos a Presidente da República: o meu candidato, o ex-Governador Anthony Garotinho, e o candidato de V. Exª, o grande Governador Germano Rigotto. Muito obrigado. 

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade. Agradeço o aparte de V. Exª, que foi muito oportuno.

A verdade tem de ser dita: a tese de esperar a decisão do Supremo para fazer as prévias é ridícula. Embora a convenção do PMDB tenha se afastado do Governo, o PMDB participa do Governo. Não foi a convenção do PMDB que indicou, não foi o diretório nacional que indicou, não foi a executiva nacional que indicou, não foi o presidente nacional que indicou, não foi a bancada estadual ou federal que indicou, não foi a bancada no Senado que indicou, foram pessoas que indicaram. O Senador Sarney indicou, o Senador Renan indicou, o Senador Suassuna indicou e mais gente indicou. Essas pessoas estão ocupando cargos, e acho que estão fazendo um trabalho digno de respeito.

Havia um movimento no sentido de exigir a expulsão. Não apoiei esse radicalismo. O PT fez isso com a Erundina quando a Erundina aceitou ser ministra do Itamar, foi um erro do PT. Se eles querem ser ministros, que sejam ministros. Não são ministros do PMDB, mas são companheiros do PMDB que, por conta própria, são ministros.

Essas pessoas - temos dois, três, quatro, cinco do PMDB - têm cargos neste Governo que não acabam mais. Vários líderes do PT falando comigo me disseram: “Você sabe, Simon, quem tem mais força e quem mais telefona para o Lula? Não é o Mercadante, não. Não é o Presidente da Câmara, não. É o fulano e o beltrano” - dois senadores do PMDB. São os que têm o maior carinho do Lula, os que têm mais cargos do Lula e os que têm o maior respeito do Lula e com quem o Lula trabalha. O Lula inventou uma forma para ir a Alagoas festejar o aniversário do Dr. Renan e o encheu de homenagens. Tudo bem! Tudo bem, mas não pode prevalecer a situação pessoal.

O PMDB tem de ter candidato próprio. É provável que o Dr. Renan e o Dr. Sarney não tenham, em governos do PTB, do PP e do PMDB, tantos cargos quanto têm no Governo do PT. É provável, porque no Governo do PMDB haverá 15 governadores, 25 senadores... Agora não: no Governo do PT, só têm cargos Sarney, Suassuna e Renan. No PMDB, haverá 30 senadores, 100 deputados federais, dez governadores e, portanto, eles não vão poder ter tanta coisa.

Mas não é por isso, eles têm de ter grandeza. Temos de pensar no Partido e não em nós mesmos! Temos de pensar no Partido e em sua causa. E nesta hora, neste momento, repito: quando Lula ganhou, eu agradeci a Deus, achei que a história do Brasil estava mudando. Quando não aceitei as formulações para que eu fosse ministro, fiquei três noites sem dormir, e todo mundo me dizia: “Mas tu és louco, Simon? Estás há cinqüenta anos brigando para mudar o Brasil e agora, que o Brasil vai ser mudado, foste convidado a participar e não entras?” E eu dizia: “É, mas o que eu vou fazer? Não deu, não deu!”

E o PMDB? O PMDB apoiou de corpo e alma o Governo Lula, deu cobertura, deu total apoio. Quero que me citem um projeto na Câmara ou no Senado que tenha sido rejeitado, boicotado ou dificultado para o Governo Lula. Aliás, diga-se de passagem que o PSDB e o PFL não boicotaram o Governo do Lula. Quero que me digam um projeto, uma iniciativa de grande importância nesta Casa que o PSDB tenha boicotado, que o PFL tenha boicotado, que não tenha saído.

Mas não deu! Eu era uma pessoa que tinha de estar em casa, despedindo-me dos companheiros: “Estou indo embora. Até logo! O Governo está uma maravilha, estamos caminhando”. Mas se estou nesta luta é porque estamos hoje pior que 12 anos atrás. O Brasil está hoje pior que 12 anos atrás, quando Itamar Franco deixou o Governo. Hoje, estamos piores.

Então, não é justo que o PMDB vá para a casa. Numa hora como esta, a realidade se apresentou. Veio o PSDB, por oito anos, mas não deu; veio o PT, por quatro anos, mas não deu. Então, é a vez do PMDB. O PMDB tem o direito de apresentar sua proposta. Era o Tancredo, que morreu, que não pôde fazê-lo. Quer dizer, o PMDB tem o direito de ter sua proposta. O Dr. Sarney e o Dr. Renan, que não têm muita tradição de PMDB, nem muito amor pelo PMDB, e o Suassuna muito menos, não podem impedir o PMDB de ter candidato.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não podem impedir o PMDB de ter candidato! Não podem desmoralizar o PMDB, dizendo que apresentar candidato vai ser ridículo, que não vai sair de 2%, que ninguém vai ligar! Isso não é verdade!

Andei pelo Brasil inteiro. É impressionante a emoção! Parece a época antiga, quando, de repente, do nada, começa a florir, começam a aparecer flores. A gente começa a levantar, a refazer suas casas do nada. O PMDB está assim, parece um jovem correndo, rindo, satisfeito, disposto a apresentar sua caminhada.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - São três pessoas: Renan, Sarney e Suassuna. Isso não pode ser, não pode ser.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe dou o aparte. E querem boicotar a prévia?! Querendo cantar! Pelo amor de Deus, estão pegando representantes de Goiás, oferecendo mundos e fundos para irem à Executiva votar contra a prévia!

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador Pedro Simon, pediria para não dar mais apartes, porque já estamos prorrogando o tempo.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Na reunião no Rio Grande do Norte, oferecem a alma, para o ilustro e bravo Deputado do Rio Grande do Norte ir à Executiva e votar contra! Estão oferecendo aos membros da Executiva céus e terras, para eles irem à Executiva e votarem contra! Mas o que é isso?!

Estamos mobilizados para, no domingo, às 9 horas, em todas as capitais de todos os Estados do Brasil, comparecer à prévia: Garotinho e Rigotto. E querem suspendê-la. Estão cantando as pessoas, estão colocando as pessoas na parede, fechando a porta e dizendo: “Dou isso e isso para você ir lá e votar contra”. Mas o que é isso, meu Deus do Céu?!

Sr. Presidente, o PMDB terá seu candidato. A eleição começa no domingo. Parecia que iria começar depois, mas o PSDB resolveu. Falavam até que o PSDB iria fazer uma prévia, mas a trinca mostrou que o PSDB é mais organizado do que imaginávamos. Os três deram uma solução. A Heloísa já está de candidata. O problema não é da Heloísa, que já é candidata. O problema é das oposições, de terem a competência de escolher uma candidatura para valer! Esse é um problema dos pequenos partidos. Se tiverem a vaidade de cada um apresentar seu candidato, será uma vaidade.

Ando por aí, e todo mundo pergunta - chegam a me elogiar - se sou amigo da Senadora Heloísa Helena. Digo que sou muito amigo dela. O título mais importante que levo por onde ando é o de que sou grande amigo da Senadora Heloísa Helena, pelo prestígio e pela credibilidade que S. Exª tem pelo Brasil inteiro. Então, os candidatos já estão aí.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ouço V. Exª.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª, como sempre, encanta o Plenário quando está na tribuna, quando não derruba Ministros. Ou é uma coisa ou outra, mas nos está encantando. V. Exª esqueceu de falar que o candidato a Presidente do Congresso, oriundo do Partido de V. Exª, já está lançado: é o Senador Ney Suassuna. V. Exª veja como esse trio funciona! O futuro Presidente do Congresso será o Senador Ney Suassuna.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Futuro Presidente do quê?

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Do Congresso. Será o Senador Ney Suassuna. Não sei se ouviram V. Exª, provavelmente não.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não duvido.

Era candidato à Presidência do Senado o Senador José Sarney. O candidato a Líder da Bancada era Pedro Simon. Estava fechado. O Senador Renan Calheiros estava disputando com o Senador José Sarney a Presidência do Senado e ia perder, pois o Senador José Sarney ia ganhar. No entanto, muita gente, bem como o Senador José Sarney, entendeu que seria bonito o Senador José Sarney ser eleito por unanimidade, evitando-se a disputa. Então, cortaram a cabeça de Pedro Simon. O Senador Renan Calheiros ficou como Líder, com o pressuposto de que, depois, o Senador José Sarney largaria a Presidência, de que Renan Calheiros iria para a Presidência e de que Pedro Simon seria Líder. Nunca mais falaram comigo. Quando vi já estava lá Ney Suassuna.

Para a Presidência do Senado, não duvido. Assustei-me quando V. Exª falou. Pensei que V. Exª dizia que ia ser Presidente da República. Também pode ser. Se chegar à Presidência do Senado, não sei onde terminará. O Senador Ney Suassuna é um grande nome, respeito-o muito.

V. Exª é um nome de peso no PFL. Podem gostar ou não de V. Exª, mas V. Exª possui uma tradição, uma bandeira. O PMDB detesta V. Exª na Bahia, mas V. Exª tem uma bandeira. E até digo com toda a sinceridade: somos obrigados a respeitá-lo, porque os governadores indicados por V. Exª e as equipes de V. Exª são umas melhores do que as outras. V. Exª sabe fazer quadros; talvez, no Brasil, nos Estados, seja a pessoa que mais tenha organizado quadros de primeira competência.

Mas o que está acontecendo no PMDB, agora, é diferente. As pessoas não querem organizar quadros, não querem fazê-lo.

Lembro-me, como se fosse hoje, de que o PMDB era contra Sarney ser Vice-Presidente do Tancredo. Digo do PMDB do Rio Grande do Sul. Quando o levamos do seu gabinete para o plenário da Câmara, onde havia um mar de gente, ele estava angustiado, porque achava que ia levar uma vaia tremenda, porque as bases não queriam Sarney. A minha tese, na época, era a de que, se nós, do PMDB, abrimos mão da candidatura do Ulysses, que era nosso candidato à Presidência da República, e indicamos o Tancredo, porque o Tancredo unia, a Arena também não devia indicar Sarney, que era o Presidente na época da ditadura. Deveríamos indicar um nome que unisse todos, que unisse Deus e todo mundo.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - V. Exª me permite um aparte, Senador Pedro Simon?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe darei o aparte.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador Pedro Simon, eu lhe pediria, encarecidamente, que concluísse seu pronunciamento. Já prorroguei todo o tempo que podia.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador Pedro Simon, V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já termino, Sr. Presidente.

Sarney entrou no Congresso. O aplauso que recebeu foi uma coisa espetacular. Ele foi às lágrimas. As bases do PMDB aplaudiram quando entraram o Dr. Ulysses e o Sarney juntos, e o discurso dele foi delirantemente aplaudido. Ele foi bem recebido pelas bases. Quando morreu o Dr. Tancredo, houve um entendimento total em torno da Presidência Sarney, e, inclusive, demos liberdade. Íamos renunciar na mesma hora em que Tancredo morreu. Ele pediu para ficarmos, e ficamos. V. Exª estava lá, V. Exª era Ministro. Não queria renunciar na mesma hora em que o Dr. Trancredo morreu? O Dr. Sarney pediu: “Vamos ficar para organizar, para dar força para ele”. Então, ficamos até ele organizar o Ministério dele.

Sarney devia estar no PMDB. Perdoe-me V. Exª, mas a filha dele tinha de estar no PMDB. Ela já seria até Presidente da República no PMDB. Os filhos dele deveriam estar no PMDB, como os de V. Exª estão no PFL, brilhando no PFL.

Nosso amigo Renan veio do PCdoB. Imagine o Renan, que homem espetacular!

Collor era Governador de Alagoas, e eu, Governador do Rio Grande do Sul. Ele chegou para mim, no Rio Grande do Sul, e disse: “Simon, você é meu candidato a Vice”. Eu disse: “Não”. Ele falou: “Simon, então, você vai para Presidente, e eu vou para Vice. Você já foi Ministro, já foi Senador, é do Rio Grande do Sul”. Ele gostava muito do Rio Grande do Sul, porque o avô dele era gaúcho, o Collor. Olhei para ele e ri. Esse cara está doido! Ele é do PMDB - estamos em fevereiro -, o Governador de Alagoas. O PMDB tem 26 Governadores. Ele quer sair, criar um partido e ser Presidente.

O bobo era eu. Ele fez isso. E teve o apoio de quem? Teve o apoio do Renan. Na China, tomando o pato chinês, lá estavam o Collor e o Renan, firme do lado dele. Não falou em esperar. Não disse que era cedo. Não! Foi e topou. Agora, o Dr. Renan diz que é cedo, que é a favor, mas que é muito cedo. Ó, Renan, V. Exª envelheceu, mas não tanto!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Primeiro, concedo o aparte a meu Líder, meu grande Líder.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador Pedro Simon, os discursos de V. Exª sempre são, para nós, uma aula. E eu ouvia, com muita atenção, o pronunciamento de V. Exª. Meu nome foi citado, mas sou uma pessoa que respeito muito os outros. Antes de mim, tem a reeleição de Renan; antes de mim, tem o nome do Sarney sempre; e, quem sabe, talvez na última posição, se não tiver ninguém, inclusive V. Exª, talvez possa ser eu, se formos maioria. Mas sei respeitar os mais velhos e, mais do que isso, sei respeitar os que têm uma biografia muito mais extensa do que a minha e muito mais vivência. Portanto, agradeço a V. Exª a referência.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Dá para entender porque o homem está aí. Dá para entender porque eu estou aqui e ele está ali. Eu uso esta linguagem de bobo aqui, e ele está ali. Por isso, todo mundo quer falar com ele e há muito tempo que não fala mais comigo.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Mas quero agradecer a V. Exª e dizer exatamente isto: fique na certeza de que temos ainda a reeleição de Renan, temos nomes maravilhosos, como o de Sarney, como o de V. Exª, temos paciência e sabemos esperar.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA. Fora do microfone.) - O Senador Ney Suassuna firmou um compromisso público com V. Exª, Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, esperar... Eu estou esperando há 24 anos, nunca fui Presidente, nem Vice-Presidente, nem...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ...membro da Mesa, nem Líder de Partido, nem Presidente de Comissão. Estou há 24 anos Senador e não fui porque não fiz questão de ser, não é meu estilo.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª não precisa de cargo para ser líder.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Em 24 anos, acho que teria sobrado uma Presidência de uma Comissãozinha, uma Liderança, uma Vice-Liderança, uma Secretaria da Mesa. Nunca ocupei cargo! O único cargo que ocupei aqui foi a Liderança do Governo, porque achei que era uma obrigação. Itamar queria me fazer Ministro, mas não aceitei o cargo porque eu tinha sido um dos que coordenaram a CPI do Impeachment e eu não queria que acontecesse comigo o que ocorreu na época de Getúlio, quando os que o derrubaram foram para o Ministério depois. Eu disse: “Não quero que digam que foi no gabinete do Simon que derrubaram o Collor, para ele ser Ministro”.

Mas não pude renunciar à Liderança do Governo, aceitei o cargo, embora não tivesse gabinete de Governo. O Itamar quis colocar o sobrinho dele, que terminou morrendo no exterior, no meu gabinete, porque ele tinha de dar um cargo para o sobrinho, que não tinha cargo nenhum. Vejam como era o Itamar, não nomeou ninguém, nem o sobrinho dele, para com quem tinha obrigação, porque era filho do irmão que tinha pago a faculdade de Engenharia do Itamar. Ele me pediu para pôr o guri no meu gabinete. Eu disse: “No meu gabinete, não dá”. Ele me respondeu: “Mas como? Você tem um gabinete de líder!” Eu disse: “Não tenho gabinete de líder. Eu só tenho o meu gabinete, porque eu não compus o gabinete da Liderança”.

Então, não estou preocupado com essa questão. Estou preocupado, isto sim, com o destino do PMDB. O Senador Sarney, o Senador Renan e o Senador Ney Suassuna têm de entender isso. Nunca as bases estiveram de olho tão arregalado como agora. Não vai acontecer de reunirem a Executiva repentinamente, como querem fazer, e, dobrando três votos a peso de ouro, suspenderem a prévia. Não vai acontecer!

O PMDB vai ter o seu candidato, vai para a campanha, vai lutar e, queira Deus, vai desempenhar a sua missão.

Agradeço a V. Exª a tolerância exagerada, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2006 - Página 7848