O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Eduardo Suplicy; Senadoras e Senadores; brasileiros e brasileiras aqui presentes e que nos assistem. Senador Eduardo Suplicy, Lula foi lá e banhou-se no litoral do Piauí - eu convidei V. Exª e a encantadora Mônica para irem lá e viverem momentos de felicidade.

Mas, Senador Heráclito Fortes, pela primeira vez - e está aí o Carreiro, nosso Senador vitalício -, não vou falar de improviso. Vou ler artigo do jornalista Zózimo Tavares. Antes, porém, farei breve apresentação. Estão presentes os Senadores Heráclito Fortes e Amir Lando para testemunharem que, neste Brasil, o melhor jornalista, nesses 506 anos, foi um piauiense: Carlos Castello Branco, Castelinho. Ainda hoje o Jornal do Brasil mantém a sua coluna. Na Ditadura, era o único que tinha a inteligência de manter o País na expectativa de renascer a democracia: Castelinho! Hoje, o Castelinho do Piauí é Zózimo Tavares, da Academia de Letras, várias obras e com humor igual ou superior ao do Sebastião Nery. Zózimo Tavares! Apenas vou ler a questão em torno dessa polêmica de o Lula ir ou não ir ao Nordeste.

Coluna do Zózimo - que é da Academia de Letras piauiense -: “Cemitério de obras inacabadas”. E falei em cemitério porque, lá, os dois irmãos, que eram mudos e surdos vieram do Ceará e andavam pelos trilhos para irem para a praia - onde o Lula banhou, e onde convidei para irem o Senador Eduardo Suplicy e a Mônica - e viram um avião. Isso nos anos 40, atentai bem, Senador Amir Lando! E ficaram embevecidos, pois eles nunca tinham visto um avião. Então, já tinha aeroporto, já tinha avião. E o maquinista do trem, bem devagarzinho, apitou, na certeza de que eles sairiam dos trilhos. Contudo, como eles eram surdos e mudos, o trem os matou. Em frente do aeroporto há um cemitério, não sei nem o nome do santo, todo mundo o conhece por “Dois Irmãos”. Isso influencia até na política. Havia dois irmãos, ia ganhar um padre, aí Chagas foi candidato a Governador, e o povo disse: “nós vamos votar é nos dois irmãos”. Dois irmãos, Alberto e João Silva; eu e Antônio José. É uma crença, pois eles são milagreiros. Mas eles morreram em frente ao aeroporto. Viram um avião, e o maquinista, devagarzinho, apitando, pensava que eles ouviriam, mas eram surdos e mudos. Tinham vindo do Ceará nos anos quarenta.

Mas o que diz o Zózimo?

Mas continuo pensando que o Piauí esperava - e merecia! - mais, muito mais! Mas, como sugeriu o secretário, deixemos as opiniões de lado e vamos aos fatos.

Hoje, o presidente eleva à condição de internacional o velho aeroporto de Parnaíba, construído há 50 anos. Prevê-se (veja bem: prevê-se, coisa para o futuro, que pode acontecer ou não) um investimento de R$ 25 milhões na obra. Ontem, em Recife, o presidente inaugurou o novo Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes - Gilberto Freyre. Foram investidos em suas obras R$ 329,1 milhões (R$ 275,2 milhões pelo governo federal e R$ 53,9 milhões pelo estado de Pernambuco).

Não é preciso ser gênio, enxergar mais do que os outros ou ser de oposição para ver que o Piauí é um cemitério de obras públicas inacabadas, por falta de recursos federais. Basta olhar em volta. Vejamos apenas o caso de Teresina, que talvez seja o mais emblemático.

E o Senador Heráclito falou do Porto de Luís Correia, falou da ferrovia.

Aqui estão paralisadas e entregues às moscas as obras da nova ponte sobre o rio Poti e a do prolongamento da linha do pré-metrô.

As obras do pronto-socorro foram retomadas a passo de tartaruga.O dique de proteção contra as enchentes na zona Norte também estava parado e se arrasta vagarosamente. O Hospital Universitário, cujo ambulatório foi recentemente inaugurado, é um elefante branco. A verba para o projeto de revitalização do centro foi desviada na calada da noite.

(...)

(A rigor, seu governo não tem obra nova no Piauí. A única que quis mandar para cá foi a do presídio de segurança máxima, mas já com a determinação de que o narcotraficante Fernandinho Beira-Mar iria inaugurá-lo).

Porém, o presidente se comprometeu de livre e espontânea vontade, e de viva voz, publicamente, em ajudar a concluí-las. Mas, se o Governo do Estado acha que está tudo bem...

De qualquer maneira, agradecemos ao Presidente Lula por ter-se banhado nos verdes mares bravios do Piauí e que aquilo seja utilizado como um marketing.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Mão Santa, a obra mais importante para o Piauí, sem dúvida nenhuma, hoje, seria a Ferrovia Transnordestina. O Presidente poderia anunciar que irá começá-la exatamente pelo Piauí, por Eliseu Martins. Sabe por que ele não fez isso? Porque ele já decidiu que vai fazer primeiro ligando Salgueiro ao Ceará. E o Piauí, mais uma vez, vai passar batido nesses quatro anos do Governo Lula. Alertei o Governador, fiz pronunciamentos aqui no Senado e um apelo para que ele não deixasse essa ferrovia iniciar por outro trecho a não ser pelo Piauí. O Lula poderia ter aproveitado para anunciar que, tendo em vista o reconhecimento e o carinho que o Piauí tem por ele, faria o anúncio dessa obra iniciando-a por lá, mas isso não ocorreu, Sr. Presidente.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E minhas últimas palavras, Presidente Suplicy, aos dois irmãos mártires, surdos-mudos, vítimas da seca, que na via férrea ficaram vendo um avião pousar, perplexos, e foram atropelados pelo playing. Outro milagre: o Suplicy, do PT, dar som. Já estão os dois irmãos fazendo milagre. Que façam o milagre de Lula: ter a generosidade de não vetar a negociação dos homens que trabalham no campo. Que ele, nesse instante, esqueça-se de prestigiar e ajudar os banqueiros e ajude os homens do campo do nosso Nordeste.

O convite está feito à D. Mônica para, como o Lula, tomar um banho nas praias do Piauí.