Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a segurança pública no Brasil.

Autor
Magno Malta (PL - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. DROGA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Considerações sobre a segurança pública no Brasil.
Aparteantes
João Batista Motta.
Publicação
Publicação no DSF de 23/02/2006 - Página 6260
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. DROGA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • ANALISE, CRIME ORGANIZADO, TRAFICO, DROGA, ARMA, MANIPULAÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE, PERIFERIA URBANA, LIDERANÇA, CLASSE SOCIAL, RIQUEZAS, APROVEITAMENTO, OMISSÃO, ESTADO.
  • CRITICA, MINISTERIO DA SAUDE (MS), SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), OBSTACULO, TRABALHO, ENTIDADE, RECUPERAÇÃO, VICIADO EM DROGAS, NEGLIGENCIA, TRATAMENTO, ERRO, INTERNAMENTO, HOSPITAL, DOENÇA MENTAL, OPOSIÇÃO, ORADOR, POLITICA, REDUÇÃO, DANOS, MANUTENÇÃO, DEPENDENCIA, DROGA, SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ALTERAÇÃO, DIRETRIZ, SETOR, SUGESTÃO, AUXILIO, INSTITUIÇÃO BENEFICENTE.
  • DEPOIMENTO, EXPERIENCIA, RECUPERAÇÃO, VICIADO EM DROGAS, APRESENTAÇÃO, SUGESTÃO.
  • EXPECTATIVA, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, INVESTIGAÇÃO, LAVAGEM DE DINHEIRO, TRAFICO, DROGA, CONTRAVENÇÃO.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Heloísa Helena, Senador Motta, Senador Arthur Virgílio, telespectadores da TV Senado, desde ontem tenho batido na tecla da segurança pública e abordado algumas vertentes. Não é de hoje que a violência vem avassalando o Brasil e no momento, por puro descaramento, depositava-se isso na conta dos pobres, dos filhos da pobreza. Isso era debitado na conta do morro, mas ressalto que o morro não planta nem maconha, nem cocaína e não tem fábrica de material bélico. Essas coisas chegam lá, como o jabuti na árvore, pela mão de alguém.

São exatamente aqueles que estão nas colunas sociais, vivendo nababescamente nos grandes condomínios e usando empresas para lavar dinheiro do narcotráfico, enquanto esses miseráveis morrem aos 18 anos ou aos 21 anos de idade, sem completar a maioridade, porque são atraídos pela fantasia do dinheiro fácil. E esses desgraçados que atentam contra a honra dos pobres, esses desgraçados que matam os filhos da pobreza com a mentira e ilusão de que são os Robin Hood que substituem a ausência do Estado. Acho que o Estado tinha que ser demitido. Esses desgraçados nascem e florescem onde o Estado é ausente. Eles estão por aí em algum lugar nos ouvindo, andando de carro importado e vivendo de forma nababesca nas noitadas. Quem sabe algum desgraçado desses está me vendo na TV Senado? Um desgraçado desses de vida fácil que conta com a conivência do Estado e das autoridades, porque não há crime sem salvo conduto.

Esses criminosos só são quem são por causa do salvo conduta. Tenho certeza de que o bingo, por exemplo, bingo que lava dinheiro do narcotráfico, ainda não fechou neste País porque o dinheiro da contravenção tem ajudado muita gente a se manter no poder.

Senadora Heloísa Helena, se V. Exª for Presidente da República... Meu candidato é o Garotinho, mas se o PMDB fizer a maldade que está planejando contra ele, acho isso de um mau gosto tremendo. Quem tem um candidato com a capacidade de disputar e joga fora isso... Bom, não sou do PMDB mas sei que os homens precisam refletir neste momento e, se eles realmente fizeram essa maldade com ele, eu deixo o meu Partido no dia seguinte e vou caminhar com V. Exª. E eu sou filho de Dadá. Mamei no peito de Dadá, minha mãe. Não construí minha vida com duas palavras. Só com uma.

A Senad ficou com o Orçamento, há quatro anos, de R$68,00. A criação da Ocip foi uma grande vitória do Governo Fernando Henrique Cardoso, até porque o que é bom é bom. E foi uma luta de D. Ruth Cardoso, a quem eu não me canso de parabenizar. Lembra-se V. Exª de que antigamente era assim: criava-se uma entidade, esperava-se que tivesse reconhecimento municipal e depois era outro parto para ter reconhecimento estadual e um parto maior para ter reconhecimento federal. A Ocip acabou com tudo isso: obtém-se reconhecimento federal em 20 dias. Com a Ocip, o Governo abre mão de uma receita - uma grande vitória do Governo Fernando Henrique. Passei quatro anos votando com o PT contra Fernando Henrique. Eu era da lista negra, não era protegido nem pelo Deputado Arthur Virgílio naquela época.

Depois, trabalhei igual um doido para o Lula ser Presidente, e, quando cheguei aqui, fui para a lista negra também. A minha mãe dizia que uns nascem para ser “paide”, e outros nascem para “paidecer”. Eu disse: “Eu nasci para paidecer...” (Risos.) A Senad foi uma das boas coisas que o Governo Fernando Henrique criou... Então, o que acontece com a Ocip? A Ocip - a empresa, a pessoa jurídica - pode dispor de até 2% do seu Imposto de Renda para investir em uma Ocip. O Governo abre mão dessa receita. E não dói nada no bolso do empresário porque é ser Tiradentes com o pescoço dos outros, entendeu? É fácil!

Tive uma reunião agora com o General Félix, Senadora Heloísa Helena, Senador Motta. Conversei com o Presidente Lula - e conversei isso com o General Félix hoje, na ida ao Espírito Santo - e, na ocasião, eu dizia ao Presidente que, quando o Ministro Serra era Ministro da Saúde, os técnicos da Anvisa criaram uma resolução, Senador Motta, das mais duras possíveis. Por exemplo, “se você tem uma instituição para acolher drogados, tem tantos metros para lá, tantos metros para cá, não pode tantos beliches, não pode tanto isso.” Gente que nunca tirou uma criança da rua! Quando terminam os congressos, eles vão beber cerveja e fumar cigarros... Drogas do mesmo jeito! E acham que tem autoridade para tratar com recuperação de drogados... Colocou todo mundo sobressaltado e, naquele dia, a resolução determinou que “cabe ao SUS a recuperação de drogados”. Ora, se o SUS não cumpre nem o papel que tinha que cumprir, como vai recuperar drogados? A recuperação de drogados, a dependência química, está entregue ao pessoal que trata da doença mental. O drogado não é doido, não. Drogado não é doido!

Não entendo isso. Senador Motta, V. Exª conhece a Clínica Santa Isabel, em Cachoeiro do Itapemirim. Já fui até lá buscar alcoólatras, menino que estava fumando maconha - não bebia nem álcool - e que a mãe, no desespero, internou em clínica de maluco. Fui buscar o menino feito um zumbi: remédio controlado, travado, tornando-se dependente de outra droga. E depois, para desintoxicar, leva um mês. E é fácil: é só dar chá de capim-cidreira, faz xixi a noite toda, daí a pouco, está bonzinho.

Drogado não é doido. É um problema de caráter, sim, grande, Senadora Heloísa Helena. É um problema de intoxicação maior ainda, mas, acima de tudo, é um problema espiritual. E não é o departamento de doenças mentais que vai resolver porque o SUS não tem capacidade para resolver nem os problemas de saúde do País. 

Outro entrave é o pessoal, que trata da redução de danos. O sujeito, na abstinência, tem que dar para usar. Não pode tirar o cara das drogas. Ele tem que seguir a vida dele. O que o Governo tem que fazer é ajudar o cara. Se ele quer usar, toma; se ele quer usar, compre e dê. Precisa de seringa? Dê seringa.

            Olha, eu nunca vi, Senadora Heloisa Helena, tanta grosseria na minha vida! Veja se um cara drogado, com dois papelotes de cocaína na cabeça, vai pensar em pegar água limpa para injetar e olhar se a colher que ele usa está limpa! De jeito nenhum! Agora, quando alguém morrer de overdose, quero ver se esse pessoal vai assumir.

            O Brasil é perito em querer assumir experiências negativas dos outros. A Suíça criou aquele parque que é uma verdadeira lixeira humana! E o sonho é voltar atrás, mas não conseguem mais. Redução de danos!

            Ontem eu vi a propaganda da camisinha por ocasião do Carnaval. V. Exª já viu, Senador Heloísa Helena? É algo pago pelo Ministério da Saúde. Trata-se do ator Luiz Fernando, a quem respeito muito, e o texto são ilações chamando atenção para palavrões, com linguagem pernóstica, provocando a questão do sexo, para falar da camisinha, e isso pago com dinheiro público!

            Ninguém tem interesse em falar do fortalecimento da família, ninguém tem interesse em falar da preservação do casamento, da dignidade do casamento. Não! Quanto pior melhor. Vamos distribuir de uma vez, com dinheiro público!

            Estão preocupados com o Carnaval. Temos que respeitar quem gosta, quem pratica. É interesse do povo, mas há o rastro negativo que fica: milhares de ocorrências policiais, estupros, gente drogada. É um congresso nacional de tráfico de drogas!

Propus, Senadora Heloísa Helena, sugerir ao Presidente Lula o seguinte: que as instituições, as unidades terapêuticas, que trabalham com a recuperação de drogados, que o Presidente determine ao próximo Ministro da Saúde que as comunidades terapêuticas - isso porque o atual vai sair agora porque irá para a reeleição. Esse Ministro, para mim, é um verdadeiro operador de pare-siga, é um boçal - vai sair e entra um outro -, que trate com esse Ministro essa desvinculação.

Para efeito de registro taquigráfico, vou explicar o que é um operador de pare e siga. É aquele sujeito que trabalha na estrada e fica com uma placa na mão dizendo: pare e siga. Ele nem é maquinista, não mexe em trator. Fica o dia inteiro ali... Com todo respeito ao operador de pare e siga. Que o Presidente proponha ao Ministro que as comunidades terapêuticas saiam debaixo da mão do grupo que trata da questão de doença mental, porque o sujeito que mexe com droga, mesmo que seja maconha e cocaína, ele não é doido, ele ainda não tem lesões cerebrais para ser considerado um louco, que precise de camisa-de-força. Não. Temos um índice de recuperação de 85%.

E propus a Presidente, Senadora Heloísa Helena, que fizesse um congresso com as comunidades terapêuticas e trouxesse todos à Brasília. E sugeri que ele propusesse às comunidades, num convite, que trouxessem as pessoas recuperadas. Eu posso, porque é dia de semana, trazer pelo menos uns dois ônibus.

Não sei se V. Exª ouviu dizer que a Serra, no Espírito Santo, era o primeiro em violência. Na semana passada, uma matéria no Jornal Nacional dizia que caiu para sexto lugar, em oito meses. Sabe quem é o Secretário de Redução e Investida Social, essa nova secretaria que foi criada? Um jovem chamado Edir Porto, que tirei da cadeia há treze anos, drogado. Só tinha o primário, fiz com que ele fizesse o ginásio, o segundo grau; fez vestibular; passou; formou-se em Administração; agora faz Doutorado em Gestão Ambiental. Tem uma obra maravilhosa de recuperação de crianças no município dele e é o Secretário que reduziu a violência para o sexto lugar, em oito meses. Eu o tirei da cadeia há treze anos, porque vale a pena investir em gente.

Se tem alma, tem jeito. Quando o sujeito quer mudar de vida, ele passa a ser problema de Deus. Se ele não quiser, nem problema de Deus ele é. E, quando o cara passa a ser problema de Deus e me procura, ele passa a ser problema meu também.

Então, temos pessoas desse jeito para trazermos para cá. Eu tenho o tanto que quiser para trazer e mostrar o que pode ser feito. Eu quero ver qual é o número de drogados que foi recuperado por esse pessoal do Departamento de Doenças Mentais. Eu quero ver! Não existe número para oferecer. O dinheiro da Senad foi gasto, Senadora Heloísa Helena e Senador João Batista Motta, com ONGs, com as Universidades Federais de São Paulo, para fazer pesquisa de onde há mais meninos cheirando cola, onde há menos, não sei o quê. Mas, lá na ponta, onde é preciso recuperar, essa verdadeira vertente da violência... V. Exª, ontem, falava comigo de uma outra vertente, que é o desemprego, que leva o indivíduo a aceitar qualquer coisa, a se alcoolizar e virar passador de droga, porque não tem o que comer em casa. Essa é a outra vertente. E o dinheiro foi gasto aí. Mas, agora, sabe qual foi o orçamento da Senad? Quatro milhões e setecentos mil para um Brasil do tamanho do nosso.

Então, estou sugerindo que essas Ocips, que trabalham com a recuperação de dependentes químicos, que, em vez de 2%, autorização de renúncia fiscal, Senador João Batista Motta, dada pelo Governo às Ocips, no caso de recuperação de dependentes químicos, que o Governo acrescente para 3%, pelo menos, já que não tem como cooperar. E as cartilhas que são produzidas para fazer prevenção, que sejam mandadas a essas instituições, dando a elas autorização para comercializar - sei lá -, por R$1, porque tudo é válido em uma casa de recuperação que nada tem, em que o sujeito está vendendo boné, camiseta; batendo em porta de açougue; pegando osso de peito - aquele osso carnudo do boi - para fazer sopa; indo à Ceasa todo dia pegar resto de verdura e fruta que apodreceu, aproveitar um lado, limpar, fazer sopa. Tudo é muito válido, Senadora Heloísa Helena. Fazer palestra numa empresa em que o empresário compra 100 ou 200 cartilhas e distribui para os empregados. Isso tudo vale para um instituto. Pode haver mecanismos criativos para ajudar as instituições, mas o mais importante é acabar com essa resolução da Anvisa.

Agora, imagine, Senadora Heloísa Helena, uma irmã de caridade, Senador João Batista Motta, em São Paulo, onde há muitas delas, recuperando meninas drogadas de rua, prostituídas, abandonadas; colocando dentro de sua casa cinco, seis, dez; sacrificando sua geladeira, o sofá da sua casa. Uma dorme aqui; um colchonete ali; um beliche dentro de um quarto; dois dentro do outro maiorzinho. E tira dez meninas da rua. Imaginem o que é isso para uma vida humana e o reflexo na sociedade! Mas vem a Anvisa e diz que não pode. Não pode! O espaço deve ser três vezes maior. Quem vai pagar isso? Você? Não pode! Tecnicamente está errado.

Tecnicamente? Sabem lidar com a vida humana? Falam em “tecnicamente” com a carteira de cigarro no bolso e o bigode amarelo de nicotina. Não têm autoridade para falar nada com ninguém, principalmente com quem está lidando com a vida humana.

É preciso acabar com essa resolução fajuta, desnecessária e tratar com o Ministério da Saúde, que tem mais de R$ 30 bilhões para a saúde no Brasil. Tratemos com o Ministro Nelson Jobim, que é nosso amigo. O que se pode fazer com as aeronaves presas no narcotráfico e esses carros presos apodrecendo em pátios de Polícia Federal? Isso poderia estar sendo usado nas instituições, para o bem da sociedade.

Estive com o General Félix, um homem muito solícito que ouviu tudo isso que falei, até porque faço parte da Frente Parlamentar de Combate às Drogas. Não sei se V. Exª faz parte; se não faz, gostaria de convidá-la. O nosso querido Carimbão, Deputado Federal de Alagoas, é o Presidente. O Deputado Neucimar Fraga, do Estado do Espírito Santo, é o Secretário-Geral. E eu faço parte dessa Frente significativa para o País, para criar possibilidades, mecanismos de integração na sociedade. Se um sujeito foi recuperado das drogas, atestado por essa Oscip, as empresas que o receberem terão esse tipo de redução no seu imposto; terão incentivos para poder fazer com que ele retorne ao seio da sociedade, volte a trabalhar dignamente, para que seja abraçado e para que veja a sua vida com dignidade.

Penso que existem vertentes inteiras para discutirmos este assunto. E é necessário discutir, Senadora Heloisa Helena. Discutimos grandes interesses aqui, mas parece que essa gente a cada dia fica mais esquecida.

Então, essa é uma maneira de reagirmos, ainda que timidamente, aos engravatados e patrocinadores de colunas sociais, aos donos de empresas de fachada, aos donos de bingos, aos donos da contravenção, que fazem um exército dos filhos da pobreza, que criam um exército de miseráveis. Com a ilusão criada em suas mentes de super-homens, entendem e sabem muito bem o que é o vazio deixado pelo Estado. Ocupam esse espaço com uma competência diabólica, fazendo viúvas, mães pranteadoras que choram a morte de um menino ou de uma menina de 15, 18, ou 20 anos. São homens formadores de filas em cemitérios para visitar túmulos de adolescentes e jovens que foram barbaramente mortos, assassinados por um ideal vazio produzido nas suas mentes por esses desgraçados que fazem a vida em cima da vida humana.

Senadora Heloísa Helena, gostaria muito que a CPI dos Bingos focasse na proposta que fiz. O fato determinado da CPI dos Bingos foi escrito por mim, saiu da minha cabeça. O fato determinado da CPI dos Bingos não é para chamar o filho do Lula, não é para fazer uma guerra politiqueira naquela CPI, não é para buscar quem pagou a conta de luz; é para investigar bingo. Será que estamos querendo investigar o bingo? É para investigar os lavadores de dinheiro da contravenção. Mas essa gente é forte.

Não tenho procuração para defender ninguém. Estou falando do meu juízo e do meu senso de justiça para comigo mesmo. Para mim, é uma grande decepção, mas estou falando para o Brasil. Assim que a CPI dos Bingos acabar - e acertei isto com o Deputado Moroni Torgan -, faremos uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar bingo que lava dinheiro do narcotráfico e da contravenção, e, se possível, com os membros da CPI do Narcotráfico. Partiremos para cima dessa gente que está rindo, batendo palmas porque a CPI dos Bingos está se acabando e eles nem foram tocados.

Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estou prometendo a eles que vamos fazer outra, mista, e vamos para cima deles porque precisamos colocá-los pelo avesso, a fim de que a Nação veja quem não gosta de pagar imposto, quem usa as cooperativas de servidores de bingo para não pagar imposto.

Uma servidora qualquer, uma garçonete de bingo, se ficar grávida, não tem direito a nada; já estará demitida e não receberá nada, porque trabalha para uma cooperativa. Mais de 98% dos seguranças de bingo são policiais expulsos que respondem a dez, quinze processos por crime. Nós precisamos mostrar isso para a Nação.

Então, assim que terminar a CPI dos Bingos, que de bingo nada tem investigado, vou fazer outra mista com o Deputado Moroni Torgan. Desculpem-me os meus companheiros da CPI, mas isso me dói, porque escrevi o fato determinado dessa Comissão.

Iremos para cima desses contraventores, até porque a CPI do Narcotráfico nos deu o mapa e nós sabemos mais ou menos quem é quem, para que o Brasil não fique sem resposta para essa questão.

Concedo o aparte ao Senador João Batista Motta.

A SRª PRESIDENTE (Heloísa Helena. P-SOL - AL) - Senador João Batista Motta, V. Exª tem a palavra pelo tempo que julgar necessário e o Senador Magno Malta também. Depois, falará o Senador Luiz Otávio.

O Sr. João Batista Motta (PSDB - ES) - Senador Magno Malta, há muitas pessoas por este Brasil afora, neste momento, admirando as palavras de V. Exª e percebendo o valor que V. Exª possui. Para mim, no entanto, não há novidade nenhuma. Não é vantagem falar o que V. Exª está falando, porque eu o conheço desde pequeno. V. Exª é Senador do meu Estado e sei que essa sua luta não é de agora, em razão de estar no Senado. Mas é anterior à sua vida de político, anterior ao seu ingresso na vida pública. O Brasil que o está conhecendo hoje por meio desta fala não sabe dessa dedicação que V. Exª sempre teve pelos desfavorecidos, pelos pobres, pelos presos, pelos drogados. V. Exª diz bem quando se refere ao garoto que cheira cola e à menina que se prostituiu e que hoje está no mundo das drogas. É realmente de sensibilizar qualquer cidadão. V. Exª coloca mais ainda: todos nós, a sociedade como um todo, somos responsáveis para ajudar, a qualquer momento, a retirar uma dessas crianças da rua. Somos todos, sociedade como um todo, responsáveis por esse drama. Senador Magno Malta, algo tem de ser dito: nós, Senadores, os Deputados, o Presidente da República, os juízes, os desembargadores, as autoridades constituídas deste País temos de descobrir por que essa menina saiu de casa, prostitui-se e depois entrou no mundo das drogas. Aí, Senador Magno Malta, a responsabilidade é somente nossa. Somente nós, que detemos em nossas mãos o poder de fazer a lei, o poder de polícia, o poder de negociação, podemos fazer com que essas coisas não aconteçam, sob pena de todos respondermos amanhã por crime de estelionato, por estarmos aqui e sem nos preocuparmos com as causas que levam a juventude ao submundo. Acabei de fazer um pronunciamento em que mostrei a esta Casa que, praticando a política que temos praticado hoje, não chegaremos a lugar algum. Poderia dizer a V. Exª que, em São Paulo, o Governador Geraldo Alckmin não tem mais um preso na cadeia; poderia dizer a V. Exª que, agora, há grandes penitenciárias que abrigam, com determinado conforto, aqueles que estão presos. Mas isso não resolve a situação, Senador Magno Malta. Não é por esse caminho. Eu poderia dizer-lhe que um policial, em São Paulo, começa sua carreira com R$1,5 mil por mês, mas isso não resolve o problema. O problema é de distribuição de riquezas. O problema está no Governo Federal, que estabelece juros nos patamares de hoje; que anuncia descaradamente uma taxa Selic de 16%, 17% ao ano. Recebo o extrato da minha conta no banco em que recebo o meu salário, e observo que me cobram 170% de juros no cheque especial. O Governo se especializou em criar mecanismos como o do telefone, tornando-o acessível aos pobres, por preços baixíssimos, para deixá-los cada vez mais sem dinheiro. O Governo especializou-se em tirar dinheiro do pobre por meio do preço da gasolina, do preço da energia. O Governo se especializou em criar mecanismos para drenar tudo o que o povo brasileiro tem para as mãos de meia dúzia. Temos empresas internacionais, multinacionais aqui dentro que vieram lá das profundezas dos infernos desse exterior afora para acumular riquezas incalculáveis em cima da nossa economia, roubando nosso povo. E cada vez essas empresas se apoderam mais dos nossos recursos. Lá no interior do Pará, na terra do meu Senador Luiz Otávio, vende-se um litro de leite por vinte centavos, mas aqui se compra por dois reais nos supermercados, porque há uma multinacional como intermediária, pegando o lucro, pegando a diferença mais gorda e mandando para o exterior, porque hoje nem existe mais intermediário brasileiro. O brasileiro só serve para produzir e, a preço de banana, entregar o produto na mão do intermediário, que o entrega, por sua vez, a um comerciante mais alto, que às vezes - ou na maioria das vezes - também é multinacional. E os lucros são mandados lá para fora. O Governo se especializou em criar mecanismos para tirar o dinheiro do povo e colocá-lo na mão do Bradesco, na mão dos bancos, colocá-lo na mão das grandes empresas multinacionais. A Senadora Heloísa Helena falou, há pouco, sobre o lucro do Bradesco, e eu falava a ela que isso não é nada. O Bradesco é dono da Vale do Rio Doce também; não paga imposto na exportação e, além disso, tem a isenção que recentemente aprovamos nesta Casa - graças a Deus, com meu voto contrário -, pela qual também não paga tributos na hora de importar maquinário, quando fizer suas importações. Não precisa pagar quando sai; não precisa pagar quando entra. São milhares de empresas neste País. E o trabalhador tem de pagar 50% de tributo em uma camisa que ele compra por R$20,00 ou na compra do feijão, do arroz e da carne que come. Senador Magno Malta, o produtor nacional não tem direito a produzir neste País, porque, quando pega um pequeno empréstimo no banco, já sabe que vai perder sua propriedade, que não vai ter como pagá-lo, porque não há política de seguro nem política de preços, não há política para o homem do campo nem política habitacional. Não há política para coisa alguma. Estamos perdidos - e sem horizonte, muitas vezes. JK não se faz mais! Muito obrigado, Senador Magno Malta.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES) - Obrigado, Senador João Batista Motta.

Senadora Heloísa Helena, depois dos números e dos rastros negativos que o tsunami chamado carnaval deixará neste próximo final de semana, voltarei à tribuna. Serão cinco dias de prazer, não de alegria, de fato, de felicidade. Respeito muito quem gosta e penso que o povo tem direito de querer o que quiser - até porque nós humanos temos de raciocinar como Deus, e Ele deu livre-arbítrio a todos; cada qual gosta do que quer, faz o que quer, e precisamos respeitar absolutamente isso.

No entanto, eu gostaria de dizer às pessoas que tenham moderação, que pensem na sua vida pessoal e na sua família, que não dirijam alcoolizados. Digo aos jovens que não são filhos da pobreza e que inventaram a tal balada - em que a violência é muito maior do que a debitada aos mais pobres e mais simples - que pensem em sua vida, no regresso à faculdade, à sua empresa, ao seu emprego na quinta-feira. A vida das pessoas é muito importante, e ninguém pode ser atropelado em uma calçada por conta de alguém alcoolizado. Fico triste de ver os postos de gasolina abastecidos de bebida alcoólica. Nunca havia visto tamanha relação de bebida alcoólica com volante. É preciso acabar com isso neste País. Pais de família, pensem em seus filhos e filhas!

A vida vai continuar, mas, infelizmente, os próprios jornais, as revistas, os meios de comunicação mostrarão a miséria e a desgraça imposta por esses cinco dias que, embora sejam considerados de alegria, ao cabo, produzirão muito pranto.

Na próxima semana, voltarei a discutir este assunto, Senadora Heloísa Helena.

Finalizo, incentivando as pessoas das comunidades terapêuticas que me ouvem, religiosos, freiras, padres, pastores que acolhem e abraçam o próximo, que fazem dele seu filho, que o põem dentro de casa, que nada cobram, que vivem por aí vendendo camisetas, bonés, pedindo cestas básicas, dando cobertores, dividindo, tirando até seus filhos da cama para isso.

Aproveito o ensejo para homenagear minha esposa - ela está em meu gabinete e deve estar assistindo ao meu pronunciamento -, que, há 25 anos, juntamente comigo, tira drogados da rua. Quando nos casamos, tínhamos onze colchões, dez colchonetes e um colchão de casal. Naquele tempo, diziam que éramos loucos e irresponsáveis, por tirarmos bandidos das cadeias, das ruas; por pedirmos ao juiz, pelo amor de Deus, que nos entregasse o drogado para o levarmos para nossa casa. Quero agradecer a ela, porque minhas filhas já nasceram nos braços dessa gente. E vale a pena.

É verdade que o Poder Público deve para todos vocês, mas não desanimem. Minha mãe, Dona Dadá, Senador Luiz Otávio, era analfabeta profissional, mas falava muita coisa que muita gente não sabe. E ela dizia, Senadora Heloísa Helena, algo muito importante: “Meu filho, a vida só tem um valor, não tem dois”. E eu dizia: “Mãe, qual é o valor da vida?” E ela respondia: “Meu filho, a vida tem valor quando nós investimos nossa vida na vida dos outros”. Então, esse é o valor da vida. Não desanimem, continuem investindo na vida, porque vale a pena. Aliás, essa é a única coisa que vale a pena.

Talvez o Governo venha e se disponha a ajudar, ou mesmo a iniciativa privada - que não compreende -, se um dia chegar a compreender que, quando se tira um drogado da rua, está-se trabalhando para o empresário; se um drogado é tirado da rua, tira-se a possibilidade de a empresa ser assaltada, tira-se a possibilidade de o carro do empresário ser roubado, de seu filho ser seqüestrado. Trabalhou-se para o empresário, mas ele não entende. Se um dia entender, amém! Se não entender... Essa comunidade terapêutica sobrevive há quanto tempo dessa forma? Vai continuar sobrevivendo, porque Deus é que cuida, ainda que haja dificuldade. Creio até que a dificuldade nos é posta para que continuemos dependendo d’Ele, porque, no dia em que vier demais, seremos tentados, como seres humanos, a abandonar a dependência de Deus; e a dependência de Deus é a melhor coisa do mundo.

Então, continuem firmes, porque o valor da vida é este: investir a vida na vida dos outros.

Obrigado, Srª Presidente.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/02/2006 - Página 6260