Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Celebração à memória de Alberto Santos Dumont, na passagem do centenário do vôo do 14 Bis, ocorrido em Paris, a 2 de outubro de 1906.

Autor
Rodolpho Tourinho (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Rodolpho Tourinho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. FORÇAS ARMADAS.:
  • Celebração à memória de Alberto Santos Dumont, na passagem do centenário do vôo do 14 Bis, ocorrido em Paris, a 2 de outubro de 1906.
Publicação
Publicação no DSF de 23/02/2006 - Página 6280
Assunto
Outros > HOMENAGEM. FORÇAS ARMADAS.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, VOO, SANTOS DUMONT (MG), PIONEIRO, AVIAÇÃO, REGISTRO, HISTORIA, CIENTISTA.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, FORÇA AEREA BRASILEIRA (FAB), FORÇAS ARMADAS, PROGRAMA, LANÇAMENTO AEROESPACIAL, PARTICIPAÇÃO, ASTRONAUTA, BRASIL, VOO, ESPAÇO COSMICO.

O SR. RODOLPHO TOURINHO (PFL - BA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, há cem anos, precisamente a 2 de outubro de 1906, o extraordinário Alberto Santos Dumont deu asas à Humanidade em sua luta pela superação dos próprios limites. Naquele dia, em Paris, esse brasileiro demonstrava que um aparelho mais pesado do que o ar poderia levantar do solo por sua própria potência e manter-se voando. Não foi preciso mais que um curto vôo de 60 metros, a menos de 3 metros de altura, feito por um aparelho que ele mesmo desenhara, ao qual deu o nome de 14 Bis, para que esse mineiro apontasse ao mundo as infinitas possibilidades que se abririam com a aviação.

O sonho de Ícaro, metáfora perfeita do anseio humano de ser livre e de conquistar o mundo, estava finalmente realizado. Ninguém tira, pois, de Santos Dumont a merecida glória do pioneirismo de um vôo motorizado.

Um mês depois da gloriosa experiência do 14 Bis, o brasileiro protagonizou novo vôo, desta vez conseguindo a proeza de manter o aparelho no ar numa distância dez vezes maior que a percorrida no anterior. Nenhuma de suas conquistas se fez por acaso, nem se constituiu em fato isolado. Desde 1898, Santos Dumont estava envolvido com balões. Graças a ele, por exemplo, reduziu-se o custo e o risco de incêndio nos balões mediante a introdução do uso do gás de iluminação como combustível, em substituição ao hidrogênio.

Para manter os balões cheios, a inventividade de Santos Dumont criou o hangar. Para fechá-lo, projetou a porta de correr sobre rodas. Em 1901, inventou o balão dirigível, com o qual contornou a Torre Eiffel.

Consagrado, admirado e reconhecido em sua genialidade, ei-lo, em 1907, criando o levíssimo Demoiselle, oito vezes menor que o 14 Bis, com motor de dois cilindros opostos, indiscutível precursor dos atuais ultraleves. Por fim, uma dose extra de requinte: para pilotá-lo, pediu ao célebre Cartier que fabricasse um relógio de pulso.

Santos Dumont está definitivamente inscrito na galeria dos grandes benfeitores da Humanidade. Entre nós, sem qualquer sombra de dúvida, seu nome ocupa o primeiro plano dos mais notáveis brasileiros de todos os tempos. Para ficar apenas em sua época, pode-se afirmar que sua figura ilumina uma plêiade de homens notáveis, a exemplo de Rio Branco, de Osvaldo Cruz e do grande Ruy Barbosa.

Registrar a passagem do centenário do vôo do 14 Bis neste ano 2006 é celebrar a memória de um brasileiro que a todos encanta, que estimula nossa capacidade criadora, que exprime o que de melhor somos capazes de produzir. Pouco importa que Santos Dumont tenha vivido parte considerável de sua vida no exterior. Onde quer que estivesse, jamais negou sua origem brasileira e nunca escondeu os mais profundos sentimentos que o ligavam à terra natal. Não por outra razão, desiludido talvez com o uso dado ao seu invento, transformado em possante arma de guerra, tenha tomado a decisão de viver seus derradeiros anos no aconchego que somente a Pátria pode oferecer aos seus filhos.

Creio termos sido dignos do legado de Santos Dumont. Aí está a Força Aérea Brasileira, a nossa gloriosa FAB, cujo nascimento se dá no contexto da peleja da civilização contra a barbárie, que foi a Segunda Guerra Mundial. Uma história de lutas, marcada pela força de vontade, pelo desejo de engrandecer o País, pelo esforço diuturno de acompanhar o avanço tecnológico em sua área de atuação.

Justamente por isso, Senhor Presidente, o Brasil foi capaz, a despeito de todas as dificuldades, de construir um programa espacial do qual todos podemos nos orgulhar. Fruto da tenacidade dos valorosos integrantes da Força Aérea, com o imprescindível apoio dos demais camaradas das Forças Armadas, esse programa permite ao nosso País ter condições de lançar foguetes e de participar ativamente da exploração espacial, inclusive com a utilização de satélites em condições comparativamente vantajosas. Não há forma mais correta de homenagear cotidianamente a memória de Santos Dumont do que o prosseguimento de suas extraordinárias conquistas, sempre em proveito do Brasil.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para nós, brasileiros, uma feliz coincidência envolve o centenário do vôo do 14 Bis. Pela primeira vez, um brasileiro, o astronauta Marcos Pontes, irá ao espaço, integrando missão conjunta internacional. Na evidente e justíssima referência ao grande feito de Santos Dumont, a denominação dada ao evento é, apropriadamente, “Missão Centenária”.

Mais que tudo, trata-se de acontecimento de invulgar significado, a começar pelo que contém de simbólico. Afinal, é a demonstração cabal de que nosso País, ainda que emergente e com inúmeras deficiências a superar, é capaz de ombrear-se com os mais ricos e adiantados países. É a comprovação de que compreendemos a centralidade do conhecimento científico na civilização contemporânea, a ele nos integramos e dele queremos recolher os frutos positivos.

Nesse processo, avulta o papel das Forças Armadas brasileiras. Identificadas com o âmago da nacionalidade, comprometidas com a concretização de nossos mais elevados objetivos como Estado e como Nação, elas nos dão lições preciosas de amor à Pátria.

Tenho mantido, aqui nesta Casa, estreito relacionamento com as assessorias parlamentares das três Forças Armadas, e sempre estive entre os defensores da dignidade profissional e da valorização salarial de seus integrantes. Sinto-me portanto feliz por poder fazer este registro da viagem espacial do primeiro astronauta brasileiro.

Ao encerrar este breve pronunciamento, sinto ter cumprido um dever. Como cidadão brasileiro e homem público, outra não poderia ser minha atitude quando se celebra o centenário do vôo do 14 Bis. Ao rememorar o fato, rendo minhas homenagens ao mineiro Alberto Santos Dumont, na certeza de que seus feitos são referência permanente para a Nação, exemplo a ser seguido e símbolo inconteste de nossa capacidade criadora. Com ele e com os seguidores de sua obra na aviação brasileira, em especial na Força Aérea, fica a certeza de que somos capazes de construir a Nação com que tanto sonhamos.

E concluo desejando pleno sucesso ao astronauta Marcos Pontes, que escreverá neste mês de março mais uma página importante na história das conquistas brasileiras.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/02/2006 - Página 6280