Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o quadro desalentador de miséria do Nordeste brasileiro.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Considerações sobre o quadro desalentador de miséria do Nordeste brasileiro.
Publicação
Publicação no DSF de 24/02/2006 - Página 6338
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FALTA, INTERESSE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, REGIÃO NORDESTE.
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, SITUAÇÃO, MISERIA, REGIÃO NORDESTE, DEFESA, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
  • ACUSAÇÃO, INTERESSE, ELEIÇÃO, PROGRAMA, ASSISTENCIA SOCIAL, REGIÃO NORDESTE.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o Nordeste do Brasil, que tem tudo para se transformar em região de grande desenvolvimento, é hoje uma área de terra arrasada. Só Lula não vê.

A economia está fragilizada, milhares passam fome e as crianças vão às estradas estender as mãos tentando sensibilizar a caridade pública. Lula finge que não sabe.

A pobreza do Nordeste não aparece em sua real dimensão. O quadro desalentador de miséria é de alguma forma encoberto pela boa fase da faixa litorânea, que hoje alegra não apenas brasileiros; também milhares de turistas do mundo todo, da Europa principalmente.

Nessa pequena faixa à beira-mar, os índices de miséria são menores. Com a expansão do turismo, há ali, no momento, uma razoável oferta de empregos, no setor de serviços e na construção civil, com a edificação de novos prédios.

No interior dos nove Estados da região, e mais o Tocantins, o quadro, ao contrário, é desolador. Nesses Estados, em todos eles, mais da metade das populações vive abaixo da linha da miséria. São dez os Estados dessa área e, como a mostrar a miséria em que vivem, eles ocupam, entre as 27 unidades federativas, os dez primeiros lugares em índices de pobreza.

O cenário da pobreza é este:

01º - Maranhão: 63,72%

02º - Piauí: 61,75%

03º - Ceará: 55,73%

04º - Alagoas: 55,43%

05º - Bahia: 54,80%

06º - Tocantins: 51,17%

07º - Pernambuco: 50,95%

08º - Paraíba: 50,22%

09º - Sergipe: 50,14%

10º - Rio Gr.do Norte: 46,93%

Relembrei os dados da miséria no Nordeste não propriamente para apontar a necessidade de projetos exeqüíveis para a região. Isso todos sabemos e vai chegar o dia em pensar o Nordeste será imperativo. Basta ter de novo Governo sério no País. Daqui a 304 dias.

Falo sobretudo para denunciar o oposto a essa compreensão de que o Nordeste pede urgência.

O Nordeste, de 50 milhões de habitantes, tem quase um terço da população do Brasil.

            Desses 50 milhões, um pouco mais da metade, portanto 30 milhões, são o alvo de projeto premeditado do Presidente Lula, que vislumbra nesse percentual elevado de eleitores os votos que procura para tentar se reeleger.

Numa área de geração de emprego beirando o zero, os sertanejos vão se acostumando com a vida de cidadãos de segunda classe. (Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos e autor do livro Vida e Morte no Sertão o Governo Lula o que faz?

Sem escrúpulos e sem outro objetivo a não ser um projeto de pretensa reeleição, ilude esses nossos irmãos e entrega-lhes um cartão magnético. É o que Lula faz, na interpretação do dizer do Prof. Marco Antonio Villa, que acabo de mencionar, transcrevendo uma frase de sua autoria.

            Em vez de planejar, em vez de criar programas que possam desenvolver a região, Lula prefere conquistar sua adesão de forma covarde essa expressiva parcela de seres humanos. Seres humanos, digo eu. Para o Presidente Lula, eles são vistos como voto.

O Governo Federal, esta é que é a verdade, não pensou até agora em qualquer projeto econômico sério. Preferiu ir pelos programas assistencialistas, que jamais podem ser considerados como solução. Seriam paliativos.

Por isso, denuncio:

Lula comete um crime, que, além de capitulado nos nossos Códigos, inclusive o Código Eleitoral, contraria os preceitos de Códigos superiores, o Código Divino, na medida em que aproveita a boa fé dos sertanejos incultos e esfomeados, acenando-lhes com um prato efêmero de comida.

Os programas assistenciais fazem parte dos projetos de qualquer Governo sério. Mas devem ser encarados como medidas passageiras, iguais às que são adotadas em calamidades públicas, como secas e enchentes.

            No Nordeste há gente como a gente e todos são iguais a nós. Menos para o Presidente Lula, que faz desse povo, sofrido pelas adversidades, massa de manobra para seus nefastos projetos de poder.

Massa de manobra significa manter nas mãos os mais pobres. É o que Lula faz, revivendo, agora com cartões magnéticos, o velho, superado e repulsivo sistema que prevalecia no Brasil antigo em dia de eleições.

Eram os currais cercados de arame farpado, em que o eleitor pobre, e com fome, trocava um churrasco pelo seu voto.

Lula repete isso. Só não entrega a cédula com o voto marcado porque a votação hoje é eletrônica. Mas faz todo o restante dessa prática. Antes, tentou-se encher as burras do PT com esquemas do tipo mensalão e valerioduto.

            O esquema, na essência, é o mesmo. O objetivo, também: manter por 30 anos no poder os petistas fora de prumo.

Menciono novamente o professor Villa, de São Carlos. Ele, com sua autoridade de pesquisador, assegura que o Governo Lula não tem no Nordeste nenhum programa consistente.

E mais:

Nem o Banco do Brasil nem a Caixa Econômica têm programas voltados para o atendimento dos pequenos proprietários e pecuaristas ou comerciantes. Do Banco do Nordeste, o sertanejo só ouve falar quando assiste a televisão e constata o banco envolvido em transações pouco ortodoxas.

            Aqui, no Senado, sabemos das boas intenções do nosso colega Senador Eduardo Suplicy, que imaginou o Renda Mínima.

O professor Villa, da área de História, lembra:

            Muito antes da iniciativa do Senador Suplicy, o regime militar ampliou em larga escala a aposentadoria rural.

E arremata:

O cartão magnético do aposentado é motivo de cobiça dentro da família. Jovens agridem os avós para ter posse do cartão.

Ainda o Professor de São Carlos:

Sem nenhuma esperança, isolado da modernidade e sem perspectiva de melhorar sua condição de vida, resta ao sertanejo uma tábua de salvação: incluir seu nome na lista de um programa assistencial e receber o tão almejado cartão. É o único meio que tem para poder enfrentar situação tão adversa.

            É verdade. É real. Só que Lula resolveu manter esses programas, neles colocando o timbre da estrela vermelha do PT. Resolveu mantê-los, pois, com fins eleiçoeiros. E pior: eleiçoeiros petistas. O fim do bom senso.

Um Governo sério pensaria diferente.

Primeiro, após o adeus de Lula, no dia 31 de dezembro próximo, um Governo sério - insisto - manteria esses programas emergenciais por pouco tempo mais e partiria, na semana seguinte à posse, para a implantação de projetos para a retomada do desenvolvimento do Nordeste e do Brasil.

O Presidente Lula não tem programa desenvolvimentista para o Nordeste. Como também não tem programa emergencial além do cartão magnético.

O professor de São Carlos lembra, a propósito, que a região Nordeste sofre os efeitos de uma seca cujos efeitos podem se prolongar, segundo previsões técnicas. No Ceará, atingem 184 municípios, 141 em calamidade pública; no Piauí, já são 112, metade dos municípios do Estado. Na Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia e nos demais Estados, a situação é muito grave.

            E aí conclui o professor: e o ministro da Integração Nacional? Este mora no Rio, não é nem em Brasília, e está mais preocupado não com a seca, mas com sua possível candidatura a Vice-Presidente.

Como Lula, pensa em eleição. E como a área em causa é a mesma, o Nordeste, nada melhor do que, com os cartões magnéticos, gastar dinheiro público com propaganda e com viagens no Aerolula.

Programas de Governo dão trabalho. Lula não gosta de trabalho. Assistência efêmera, propaganda e falação chocha dão votos. Lula gosta de voto. Só. E vai buscar votos à custa do dinheiro do povo.

Dinheiro do povo, sim. Inclusive do povo do Nordeste, que ele procura levar na conversa mole, aquela mesma para boi dormir. No latim clássico, conversa mole para boi dormir significa papo furado, conversa mole.

Nisso Lula é bom. E, assim, o Nordeste vai continuar sendo engambelado por Lula durante mais 304 dias, os últimos que restam ao Presidente.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/02/2006 - Página 6338