Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à forma como o presidente Lula tem realizado suas viagens, caracterizando nitidamente campanha eleitoral, ao colocar a máquina pública a serviço de sua candidatura. Representações do PSDB contra o presidente Lula junto ao TSE. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.:
  • Críticas à forma como o presidente Lula tem realizado suas viagens, caracterizando nitidamente campanha eleitoral, ao colocar a máquina pública a serviço de sua candidatura. Representações do PSDB contra o presidente Lula junto ao TSE. (como Líder)
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 25/02/2006 - Página 6620
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, VIAGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANTECIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, REELEIÇÃO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, EDITORIAL, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, EXCESSO, INAUGURAÇÃO, DESRESPEITO, JUSTIÇA ELEITORAL, LEITURA, TRECHO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, NOTICIARIO, CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • APRESENTAÇÃO, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), REPRESENTAÇÃO, AUTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DENUNCIA, INFRAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LEGISLAÇÃO ELEITORAL, ANTECIPAÇÃO, CANDIDATURA.
  • SOLICITAÇÃO, PROVIDENCIA, MINISTERIO PUBLICO, JUSTIÇA ELEITORAL.
  • PROTESTO, NEGLIGENCIA, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 24/02/2006


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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO NA SESSÃO DO DIA 23 DE FEVEREIRO DE 2006, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tem dado o que falar, mais do que as viagens do Presidente Lula, a forma como ele as tem realizado.

Afirma serem de trabalho e vemos, por exemplo, a inauguração, várias vezes, de um mesmo trecho de aeroporto; a inauguração de pedra fundamental de universidades para ser concluída não sei quando, caracterizando nitidamente desrespeito à lei eleitoral e caracterizando nitidamente campanha eleitoral disfarçada, mas campanha eleitoral. O Presidente coloca a máquina do Estado brasileiro a serviço de sua candidatura desrespeitando em níveis inéditos a consciência dos brasileiros.

Srª Presidente, peço a V. Ex.ª autorizar a inclusão nos Anais da Casa de editorial de O Estado de S. Paulo do dia 22, ontem, em que esse editorial diz coisas do tipo que, aliás, parafraseando o Presidente, “que nunca antes neste País o Presidente conseguiu inventar tantos pretextos para aparecer nos telejornais um dia sim, o outro também”. Mais ainda, se refere a “dois lançamentos de pedra fundamental de campi universitários com ‘visita ao futuro prédio’”, ou seja, parece aquela figura que vende terreno na lua ou a daquele construtor pouco escrupuloso das anedotas e até das realidades, que vende o mesmo apartamento trezentos e um, que tem vista para o mar, para o rio para três ou quatro pessoas.

Quando as pessoas vão lá... Esse, pelo menos, ainda tem o prédio pronto. O Presidente lançou a pedra fundamental e depois foi visitar um terreno. Ele inaugurou o futuro prédio. Não tem nada ali. Ele disse “aqui vai ser o prédio”. Aqui podia ter dito “aqui vai ser um avião, aqui vai ser um navio, aqui vai ser um chiqueiro”, qualquer coisa que ele dissesse.

Muito bem. Aí, ele diz: “duas visitas a obras em universidades federais” - e um ‘anúncio das obras do novo campus’ de uma terceira. Ele anunciou, foi inaugurar o anúncio das obras de um campus universitário.

No trecho, diz o editorial do Estadão: “Pena que a explicação fosse chacrinhesca” - “Chacrinhesca” é de Chacrinha. Na verdade, Chacrinha foi um grande artista. A comparação é infeliz do ponto de vista de que Chacrinha merecia todo respeito - “feita para confundir a Justiça Eleitoral, antes de mais nada - e não para esclarecer.”

Aí, acrescenta o Presidente: “‘Nós trabalhamos três anos plantando. Agora, está na hora de nós colhermos’, disse isso em uma das suas raras entrevistas, em 22 de janeiro.”. E segue o Presidente,“ ‘Eu vou continuar andando no limite do tempo que eu tenha para tomar decisão’”. A decisão seria assumir oficialmente que disputará o segundo mandato. Ele assume que está claramente transgredindo a Lei Eleitoral, está delinqüindo em relação à legislação eleitoral. Esse é um comportamento delinqüente em relação à Lei Eleitoral.

            Muito bem, então vem ele novamente: “‘Eu não sou obrigado a assumir candidatura. Quem são obrigados são os adversários, que têm de se afastar em março’”.

Assinala então o Estadão: “Ao se fingir de Presidente...” - e isso é muito grave, tratando-se de um jornal vetusto como O Estado de S. Paulo - “Ao se fingir de Presidente, para não ser pilhado como o que é - um candidato que se serve da condição de Presidente para promover a sua candidatura - Lula como que se apropriou, a fim de escarnecer da legislação eleitoral, da língua para fora que é a marca dos Rowlling Stones. Mas alguém há de tê-lo advertido de que a versão pastoral da colheita poderia não bastar para neutralizar uma ação judicial por seus safáris em busca de votos. Pois, enquanto sua equipe tratava de tomar providências cosméticas - no sentido de disfarçar a feiúra ética do comportamento do chefe - pedindo à companheirada que se abstenha de falar em reeleição nos palanques armados para isso, Lula invocou um novo pretexto, presumivelmente à prova de processos, para continuar fazendo mais do mesmo”.

Então, o editorial afirma que o Presidente diz estar viajando para fiscalizar - aquilo que ele deveria mandar os seus ministros fazerem. Mas ele diz que ele próprio vai fazer.

E acrescenta: “Mesmo presumindo que ele saiba como quer que andem essas obras - o que engloba mais do que acompanhar o cumprimento de um cronograma de trabalho -, o argumento desdenha da inteligência do público”.

Finalmente, ele conclama o meu Partido e o PFL. E se há indecisão, se há mau encaminhamento, a culpa tem sido mais do meu próprio Partido. Essa é uma hora em que temos de aliar, no meu Partido, generosidade, coragem, ousadia, bom senso e pouco egoísmo. Ou o Lula não é tão perigoso assim, ou o meu Partido precisa aprender que vai pagar um preço muito caro se ficar colada na imagem dele ou de qualquer dos seus líderes a idéia do egoísmo, a idéia do querer demais, enfim. Peço que isso vá para os Anais.

Leio também uma matéria que é fantástica. Antes de mais nada, peço que vá para os Anais só o título: “Eleições 2006 - Lula ataca elite e faz promessas para até 2008”. Crime eleitoral, ou seja, prometendo para 2008, ele supõe que se elegerá em 2006. Então, ele está, na verdade, usando o palanque oficial, o dinheiro público, para trabalhar como candidato fora do período aprazado para isso.

Ele ataca a elite, e o faz o tempo inteiro cercado da elite de cada Estado que visita. E numa hora em que se anunciam os lucros dos bancos e o Presidente diz que é contra a elite, que joga sempre na direção dos menores da sociedade. Aqui temos: “Polícia Federal indicia Lamas, ex-tesoureiro do PL”. É um negócio impressionante como ainda se vai contar uma história. Tinha que se chamar Lamas? Pense bem. Podia ser qualquer outro, mas Lamas é algo que vai do trocadilho à verdade.

Quero apenas a parte dos cabeçalhos dos jornais, Srª. Presidente. Aqui há uma foto do Presidente, de short, parecendo o Arnold Schwarzenegger, dizendo - e aí ele confessa o crime - que “o homem público faz campanha 365 dias por ano.” Isso depois de haver falado mal de cidades do seu Estado, Senador Mão Santa. Ele diz assim: “Eu estou chateado porque venho ao Piauí desde 1980. É a primeira vez que visito Parnaíba. Vou levar essa mágoa dos companheiros do meu partido, porque só me levaram para Picos, para Oeiras, para Floriano - aí diz o jornal ‘cidades que ficam no Sertão’ - e aqui que tem praia nunca me trouxeram, mas hoje eu me vinguei deles, levantei às 5h30m e, às 6h30m, sem chamar o Wellington - o Governador -, eu fui para a praia sozinho, tomar um banho de praia”.

Ou seja, ele acorda cedo para se vingar dos outros, não para trabalhar. Ele acorda cedo para se vingar de alguém. É um caso crônico de preguiça, de inapetência, de falta de aplicação ao cumprimento do dever. Mas, muito bem. Ele segue dizendo: “O homem público faz campanha 365 dias por ano.” E sempre brincando, sempre revelando algo que V. Exª, Srª Presidente, conhece melhor do que nós. Eu estou impressionado, porque V. Exª já viu esse pessoal aqui de canto chorado. Primeiro, eles confundem eleição com esse vaivém de pesquisa eleitoral. Segundo, eles estavam se sentindo tão desmoralizados que achavam que não mereciam mais a contemplação de ninguém. Eu sempre achei que eles podiam crescer, sim, na medida em que gastassem dinheiro público para promover uma candidatura, quando nenhuma outra está em condições de competir com ela, até porque não possui os mesmos espaços de mídia, não possui a mesma capacidade de se deslocar. Mas é impressionante como recuperaram a arrogância, como estão arrogantes, como estão remplis, cada um deles rempli de soi-même, como está cada um deles imaginando que o objetivo de manter o poder a qualquer preço vai ser cumprido, a qualquer preço. Doa a quem doer, rompa-se qualquer cordão que possa ligar essas pessoas à ética. Não importa. Ele aqui assumiu. Peço que a matéria inteira vá para os Anais, porque aqui ele assumiu o crime eleitoral.

Hoje acordei e pensei: olha, alguma coisa tem que ser feita, isso aqui não é uma república bananeira; nós não lutamos por democracia à toa, nós não lutamos para estabelecer regras que transformassem no mais justo possível o pleito eleitoral. Acordei de manhã e pedi à minha assessoria que preparasse um parecer sobre se eu deveria encaminhar esse caso do Presidente Lula, as transgressões que ele faz à lei, ao Conselho de Ética da República. A assessoria disse que o Conselho de Ética cuida de funcionários públicos e até de ministros, não cuida de presidente da República. Quer dizer, em virtude das suas prerrogativas constitucionais, o Presidente da República somente responderá por seus atos perante o Senado Federal, em caso de crime de responsabilidade, perante o STF nos casos de infração penal comum, art. 86 da Constituição de 88, ou ainda perante o Tribunal Superior Eleitoral nos casos de infração à Legislação Eleitoral. Ele não responde por seus atos junto à Comissão de Ética pública, tendo em vista essa comissão regular o código de conduta da alta administração Federal, que em seu art. 2º não inclui o presidente como uma das autoridades a ter sua conduta analisada. E mais ainda, o presidente é quem nomeia os seis membros que compõem essa comissão, o que impede que o subordinado tenha competência de investigar seu superior.

É importante notar que o Presidente nada fez para que essa Comissão investigasse os seus subordinados, como o ex-Ministro José Dirceu, o ex-Ministro Luiz Gushiken, o ex-subchefe de assuntos parlamentares Waldomiro Diniz, todos eles, dentre tantos outros, sujeitos ao código de conduta das altas autoridades.

Muito bem, Srª Presidente, sendo assim, o que fez o meu Partido? Optou pelo que parecia o caminho mais lógico, mais justo. Não se pode questionar o Presidente em um conselho de ética da República, mas é possível ir - e o PSDB foi; os seus advogados já concluíram essa tarefa - ao Tribunal Superior Eleitoral, buscando configurar a propaganda eleitoral que o Presidente Lula fez em seus últimos discursos.

São duas as representações impetradas pelo PSDB. Na primeira delas, destacamos, nós do PSDB, que em Parnaíba, no Piauí, vários trechos da falação de Lula significam crime eleitoral, como, por exemplo, quando o Presidente afirma que “a partir de 2007 nós vamos começar a criar biomedicina, fisioterapia, psicologia e licenciatura em matemática, com cem vagas cada um”.

Ora, como o mandato do Presidente se encerra em 31 de dezembro deste ano, ele falou como candidato, com aquele otimismo que é permitido a quem está no palanque pedindo votos. No palanque, diz: vou fazer, vou acontecer. Ele falou como se fosse um palanque eleitoral. Então é clara a delinqüência em relação à lei eleitoral brasileira.

É nesse discurso que o Presidente admite estar realizando campanha eleitoral implicitamente, ao afirmar “o homem público não precisa de época de eleição para fazer campanha. Ele faz campanha da hora em que acorda à hora em que dorme, 365 dias por ano.” Quer dizer, ele demonstra claramente que é um ser vazio quanto aos compromissos com o País, despreparado mesmo, sem compostura para governar, que não faz outra coisa a não ser proselitismo político, a não ser tomar atitudes chulas, dizer coisas chulas, governar de maneira chula, apadrinhando o esquema de corrupção mais chulo que já se viu praticado nesta República.

Muito bem. O Presidente termina por fazer, mais uma vez, comparações entre supostos números do seu Governo e governos anteriores, tais como: “... esses dias, algumas pessoas ficarão nervosas comigo, porque disse que nós fizemos, em quatro anos, 21% das extensões de rede elétrica feitas em 122 anos ...”. Nós fizemos 21% de tudo o que foi feito em 122 anos neste País.

Quer dizer, a raiva dele é de Marechal Deodoro, D. Pedro II, D. Pedro I, Epitácio Pessoa. O Presidente é homem dado a surtos. Eu queria que ele tivesse um surto de decência, Senador Mão Santa, de repente. Não ia fazer mal nenhum. Ele iria ver que a decência não mata ninguém.

Muito bem, na segunda representação, focamos dois discursos: o de Juazeiro e o de Imperatriz, ressaltando que, em dois dias, ele esteve em sete cidades, realizando “inaugurações”, ou lançando “obras futuras”, terreno na lua mesmo. Em Juazeiro, afirmou o Presidente Lula que “falta muita coisa a fazer no Brasil ainda, muita e muita coisa” e que “na sabedoria popular, o povo sabe que não é possível fazer em quatro anos aquilo que não foi feito em 500 anos pelo nosso País”.

Essas palavras são sempre pronunciadas na primeira pessoa, comparando supostos números do atual - ele chama de meu - Governo com anteriores, ao asseverar que “a Bahia nunca teve a quantidade de contratos do Pronaf que tem no meu Governo”. De alguns poucos contratos, é importante dizer. “Saímos, Governador” - dirigindo-se ao Governador Paulo Souto -, “na safra 2001/2002, de apenas 87 mil contratos, com um gasto do Banco do Brasil, um financiamento de apenas R$111 milhões; na safra 2005/2006 pulamos de 87 mil contratos para 158 mil contratos, e nós pulamos de um financiamento de R$111 milhões para um financiamento de R$434 milhões, aqui no Estado da Bahia”.

Depois vou falar um pouco sobre isso, Srª Presidente.

Para completar, ele disse que ia “atravessar a ponte para Petrolina”, localidade na qual ele ia fazer “o mesmo discurso”.

Então, nessas representações, o PSDB pede a penalidade de multa, conforme o § 3º do art. 36 da Lei 9.504, e também o encaminhamento do processo ao Ministério Público Eleitoral, para que possa tomar as providências que a espécie comportar. Com essas duas representações, o PSDB totaliza sozinho - fora os outros Partidos - sete representações no Tribunal Superior Eleitoral, contra o Presidente Lula, por fazer propaganda eleitoral antecipada, contrariando frontalmente a legislação vigente.

Faço agora algumas afirmações, Srª Presidenta. Primeiro, o Presidente da República já foi multado uma vez, em R$30 mil, por decisão provocada pelo PSDB. Se for multado uma, duas, três, dez vezes, haja Okamotto para pagar sua conta, haja Delúbio, porque o Presidente não tem poupança para isso - que eu saiba, ele não é nenhum Antônio Ermírio de Moraes*; pelo menos não era. Haja Okamotto! E brincar de Okamotto pagando conta agora, com a vigilância das CPIs e deste Congresso, que não confia no Presidente nem um pouco, será uma tarefa muito dura, muito rude.

Chamo a atenção para um outro dado: o Presidente da República rebaixa o debate político a esse nível. Ele, pura e simplesmente, demonstra não respeitar a lei. A lei não representa nada para ele. Ele não é aquela figura austera que não transgride por ter compromisso com a lei; é aquela figura nada austera, aquela figura, eu diria, até debochada, que transgride entendendo que encontrou uma brecha para poder transgredir.

Assim, o Presidente, dá um péssimo exemplo para os nossos filhos, dá um péssimo exemplo para a juventude brasileira. Ele dá a entender que se pode tranqüilamente transgredir porque isso não tem nada demais, desde que não seja apanhado, desde que não seja punido, desde que ele tenha saídas, evasões, que ele tenha portas secretas de fuga. Ele não está preocupado em passar para as pessoas a idéia de que, na gestão dele, o caráter dos brasileiros se tornou cada vez mais firme, a juventude aprendeu exemplos de dignidade, de amor à coisa pública, de respeito à coisa pública. E assim vai. Ele não é candidato - embora o seja de fato - e pode ficar até junho brincando assim, se não houver um cobro imposto pela Justiça Eleitoral. Então, estamos fazendo a nossa parte.

Considero o Presidente uma figura lamentável, mas lamentável mesmo. Uma figura que, por sorte do Brasil, governa em uma época de enorme bonança internacional. Não sei como estaria este País se crises de fora para dentro estivessem a complicar a vida econômica brasileira. Não sei como estaria. Ele não tem equipe, não tem serenidade, não tem preparo. Durante esse tempo inteiro, não governou; viveu de metáforas, de brincadeiras.

Srª Presidente, V. Exª avisou-me muitas vezes sobre isso. Certa vez, V. Exª me disse: “Você o conheceu como parceiro de lutas, conheceu-o até como figura de sua relação pessoal, mas não o conheceu por dentro”. Minha decepção é completa com ele, porque eu, o tempo inteiro, acreditava que ele era a melhor figura do PT, que ele era a figura mais conversável, mais dialogável do PT. Era assim que, estando em outro Partido, eu o via; companheiro de jornadas - aqui não concordávamos, ali concordávamos um pouco.

            Estou vendo alguém que, tendo seu Governo acossado pelas mais absolutamente verazes e duras acusações de corrupção, o tempo inteiro resolveu não responder, o tempo inteiro resolveu se esconder feito tatu que se refugia na toca; refugiou-se no cinismo, refugiou-se nas evasivas, na conversa fiada, no sorriso amarelo, refugiou-se na tentativa de atacar ao invés de se defender. O Presidente é uma decepção muito grande. Espero que esse pesadelo passe logo - porque é um pesadelo.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ouço V. Exª com muita honra.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio, o papel do Senado é este mesmo: educativo. Senadora Heloísa Helena, eu disse no começo aqui que ninguém do núcleo duro chegaria aqui, no Senado. E isso está acontecendo, pois o núcleo duro está se dissolvendo. Atentai bem! O que me constrange é que, primeiro, ele se arvora a dizer que ninguém fez tanto pelos pobres. Eu digo que ninguém fez tanto pelos ricos, porque nunca banqueiros ganharam tanto na vida; dos quatro Bancos que mais ganharam no mundo, Senador Arthur Virgílio, três são brasileiros. Então, ele é o pai e a mãe dos banqueiros. Mas atentai bem: sei que o Presidente não pensou que houve Capitanias Hereditárias, Governos Gerais, Mem de Sá, Duarte da Costa, Tomé de Souza, os imperadores D. Pedro I e D. Pedro II, Isabel - mulher como V. Exª, Srª Presidente - Deodoro, Floriano e tal, mas a pior afronta é a ingratidão. Entre os que governaram o País, há três que votaram nele, apaixonadamente. E ainda o estão apoiando. O Presidente Sarney merecia gratidão e respeito. Então, Lula vai a Imperatriz e diz: “Ninguém fez o que eu fiz pelos pobres”. Diz isso lá no coração do Maranhão, em Imperatriz, que é uma cidade avançada, graças às muitas ações do Presidente Sarney. Há inclusive uma fábrica de leite em pó que Sarney levou para lá. Da mesma forma, Itamar e Collor também o apoiaram. Todos três o apoiaram, contribuíram para essas melhoras. Senador Arthur Virgílio, a história se repete e ensina; esse é o valor do estudo. Senadora Heloísa Helena, lá na Itália do Renascimento, que todos nós valorizamos, houve uma figura que se destacou muito e ficou na História. Dos doze césares, o maior foi Júlio César - houve também o primeiro, Augusto César -, que expandiu, como militar, a Itália, vencedor de muitas batalhas. Houve o triunvirato de Júlio César, Pompeu e Crasso. Crasso também era guerreiro e expandiu; Pompeu ficava como cônsul, no Senado, administrando a encantadora e eterna Roma. Porém, o Senado fez uma lei que dispunha que Júlio César só podia adentrar Roma, atravessar o Rubicão, sozinho e não com o Exército. Um dia, ele, temeroso, dá umas voltas com o Exército, atravessa o Rubicão e diz: “Alea jacta est". Do lado dele, todos o transformaram em único. Naquela emoção da vitória, da tomada do poder, os subalternos destruíram algumas estátuas e obras de Pompeu. Júlio César mandou parar, reconstruir tudo, recuperar todas as obras e respeitar o nome dos que lhe antecederam. Os historiadores dizem que aí nasceu o estadista: no respeito aos governantes. Ninguém escolhe a época e os problemas. Jamais ouvi Arthur Virgílio falar que foi melhor prefeito que outros. Houve outros problemas, outras épocas, e sei que V. Exª foi extraordinário prefeito - se não o fosse, não estaria aí. Na minha cidade, eu jamais disse que fui o melhor; governei o Estado e também jamais disse que fui o melhor. E Lula está dizendo que, em 505 anos, ninguém fez nada, só ele fez. Ele tem de participar de uma sessão de psicologia. A humildade une os homens; o orgulho divide os homens. Qual a condição hoje de o Presidente Sarney pedir voto para a sua filha, se o seu aliado, o Presidente Lula, chegou e disse que ninguém fez nada, só ele fez? Quero prestar minha solidariedade. A ignorância é audaciosa. O Piauí tem um litoral pequeno: 66 quilômetros. Mas o meu Estado tem três cidades extraordinárias. Chamo Picos de São Paulo do Piauí, pois é onde se trabalha mais; Floriano é uma cidade de um potencial cultural extraordinário; e Oeiras foi a nossa primeira capital, como Salvador foi a primeira do Brasil. São encantadoras. Mas o que Sua Excelência foi fazer lá? Um aeroporto internacional. Senador Arthur Virgílio, lá existe uma crença. Quero convidar V. Exª a tomar banho nas praias, nos verdes mares bravios, dunas brancas, ventos que nos acariciam, sol que nos tosta o ano inteiro. Foi bom o Presidente ter tomado banho de mar. Ele tem o direito de ser feliz. Como dizia um filósofo, “muitas são as maravilhas da natureza, mas a maior maravilha é o ser humano”. E o Presidente Lula teve a hospitalidade e o carinho do povo de nossa terra. Lá existe uma crença em dois santos, dois irmãos. O Ceará é um Estado muito seco. Nos anos 40, houve uma seca, e dois irmãos foram para o Piauí. Eles iam acompanhando o trilho pela praia. Nisso, passam pelo aeroporto e vêem um avião. Atentai bem! Como eram surdos e mudos, não ouviram o trem que se aproximava nem o apito que o maquinista tocava. O trem, então, os esmagou. Isso nos anos 40. Lá tem um cemitério que se chama Dois Irmãos. Sei que é São Sebastião, porque fui Prefeito, mas o povo não sabe. E eles fazem milagres. Eles eram surdos e mudos, não viram o trem se aproximar, olhando extasiados um avião que nunca haviam visto. Então, esse aeroporto existe desde 1940 e foi ampliado no governo revolucionário, pelas mãos de João Paulo dos Reis Velloso. Infelizmente, hoje, não temos mais nem uma linha nacional. E estão prometendo um avião internacional.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito bem, Senador Mão Santa.

Concluo, Srª Presidente, dizendo a V. Exª e ao Senador Mão Santa, que me concede esse aparte tão brilhante, que o nosso Presidente é mesmo uma figura. Ele fala que o diploma lhe faz falta, como se ele não tivesse os meios para obtê-lo. Ele não tem o diploma, depois de ter vivido 25 anos como uma pessoa de renda de classe média tipo A, como funcionário muito bem pago pelo PT e com despesas baixíssimas de moradia, conforme conta a crônica.

O Presidente não estudou porque não quis, não leu porque não gosta, porque não tem curiosidade intelectual, não se preparou porque prefere muito mais a facilidade da demagogia à densidade do debate inteligente e que vise efetivamente a investigar os fatos da vida brasileira. É um Presidente que comemora o fato de que acordou cedo. Então... O Presidente saúda: “Acordei cedo”. Então, não é normal para ele acordar cedo.

É alguém que chega ao Piauí e afronta o povo de várias cidades ao dizer: “Puxa, nunca me trouxeram para conhecer o que seria bom no Piauí”. Então, o que o levaram para conhecer até então era desprezível. Quero apresentar a V. Exª, Senador Mão Santa, e aos Senadores Heráclito Fortes e Alberto Silva minha solidariedade muito clara. Essa mania de o Presidente de desrespeitar os governados dele é, de fato, constrangedora.

Um outro dia, diante de um dirigente político etíope, que considera o camelo um animal de extrema utilidade, extremamente querido, tanto quanto para as tradições do gaúcho é o cavalo, e faz brincadeira sobre o camelo, contando uma piada absolutamente estúpida e imbecil. Ele disse que quando as pessoas começam a dar muito palpite, as coisas vão se complicando. E conta, então, a piada. Diz que Deus inventou o cavalo, fantástico e perfeito, mas começaram a dar palpite e a obra ficou imperfeita, virando camelo.

Disseram que foi visível o constrangimento do dirigente etíope, porque estava diante de um Presidente que não sabia o valor do camelo para a vida dos etíopes.

É um Presidente que fala sempre essa linguagem de “pai dos pobres”, demagógica, populista, de baixo nível, dizendo que nunca ninguém fez tanto pelos pobres. O que ele fez foi muito pelo Sr. Duda Mendonça. Aqui para nós, o Sr. Duda Mendonça é um ingrato. Vir aqui para denunciar aquelas maracutaias todas, tendo sido beneficiário delas? É um ingrato. Eles tinham de ficar calados. O Delúbio é o modelo de mafioso perfeito: aquele que não fala mesmo, não se abre mesmo, nem sob tortura. O Presidente beneficiou foi o Sr. Valério. Foi quem eu o vi beneficiar. Mas os pobres? Enquanto houver um quadro de corrupção crônica no País, é bom termos consciência de que esse dinheiro está sendo subtraído precisamente dos mais pobres, para enriquecer pessoas que vivem à tripa forra. Enfrentam esses “processinhos”. Esta é que é a verdade: enfrentam os “processinhos”, depois, com seus advogados e com a vantagem dos prazos elásticos, terminam ficando impunes mesmo.

Mas encerro o pronunciamento dizendo que entramos com a representação. Vamos ver o que diz o Tribunal e aguardar as próximas movimentações, os próximos lances dessa trágica comédia que o Presidente encena com suas viagens, com seus gastos absurdos de dinheiro público, com seu desrespeito à lei brasileira e com sua incapacidade de compreender que ele é uma figura olhada pela juventude brasileira. Muita gente já teria discernimento, pela idade, de dizer: “Ele está fazendo uma coisa que não quero para mim”. Um jovem pode dizê-lo. Uma pessoa muito mais nova pode dizer: “Puxa vida, se o Presidente transgride a lei, por que eu não posso fazê-lo?”

V. Exª sabe melhor do que eu, Senadora Heloísa Helena, que a arrogância do PT não resistiu a duas pesquisas e já o Sr. José Dirceu põe a cara de fora, dando palestra como alguém que, reeleito Lula, seria imediatamente beneficiário de uma anistia proposta por algum pau mandado. Manda o pau mandado apresentar o projeto de anistia e volta tudo como se fosse igual à anistia requerida por um José Dirceu que foi cassado por ser o chefe do Mensalão, igual à anistia que merecia quando era um perseguido nos tempos da Ditadura Militar. É bem diferente.

            Mas não tenho dúvida alguma de que estão imaginando que este o destino deste País é o de ser literalmente tomado de assalto. Digo “literalmente”, porque o que estamos presenciando é uma figura literal de assalto aos cofres públicos, à máquina pública, às leis, aos tribunais. É um desrespeito constante e que vai ter, da parte do meu Partido, vigilância. Vamos provocar os tribunais todas as vezes que o Presidente transgredir. Se a pena for de multa, volto a dizer, haja Delúbio e haja Okamoto para pagar tanta multa. Se depender do PSDB ele será multado mil vezes e quero ver como vai pagar.

Quero acreditar que o Presidente Lula continua um homem pobre. Que eu saiba ele não ganhou na loteria e, se não ganhou na loteria, ele não tem como ser um homem rico. Ele tem que ser necessariamente pobre, a não ser que tenha ganhado na loteria e não tenha dito. Fora disso, ele é pobre e tem que ser pobre. E homem pobre não tem dinheiro para pagar trinta mil aqui, vinte mil acolá de multa, cinqüenta mil mais adiante, a não ser que o dinheiro seja de origens “okamotianas” ou “delubianas”, ou que sejam dinheiros de origens “valerianas”, ou que sejam dinheiros de origens “visanetianas” ou “bancodopovianas”, ou “ivanguimaraesianas”. Enfim, essa trupe toda que temos visto desfilar nessa triste escola de samba da corrupção investigada pelas CPIs em curso nesta Casa.

Muito obrigado.

Era o que eu tinha a dizer.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

Editorial do jornal O Estado de S.Paulo “Despudor sem contestação”.

“Homem público faz campanha 365 dias por ano” (O Globo);

“Lula ataca elite e faz promessas para até 2008” (O Globo);

“PF indicia Lamar, ex-tesoureiro do PL” (O Globo).


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/02/2006 - Página 6620