Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo Dia Internacional da Mulher.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo Dia Internacional da Mulher.
Aparteantes
Ideli Salvatti.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2006 - Página 7278
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MULHER, COMENTARIO, AUMENTO, ATUAÇÃO, CARGO PUBLICO, ENSINO SUPERIOR.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste horário, 20 horas e 45 minutos, quem ligar a TV Senado poderá imaginar que se está repetindo a sessão que começou às 14 horas. Mas venho a esta Casa neste fim de sessão porque amanhã será um dia muito tumultuado. Creio que oitenta Senadores falarão aqui sobre o Dia da Mulher. Então, eu falo hoje, no Dia Internacional da Mulher. E falo do fundo do meu sentimento que, na verdade, estamos vivendo a época e o momento em que, em definitivo, as mulheres estão vindo para ocupar o seu espaço.

Olhando para trás, ouvindo a música clássica, ouvimos tantos e tantos músicos e perguntamos: onde está a mulher? Olhando a pintura, vemos tantas e tantas pinturas e perguntamos: onde está a mulher?

A mulher viveu praticamente em um regime de escravidão. A mulher não teve chance nem voz. A mulher ficou obscurecida pelo que de pior há no homem, que se considera de uma raça superior.

Olhando para o mundo inteiro, dá gosto de ver o avanço das mulheres. Elas realmente ocuparão seu espaço no mundo. Não tenho dúvida alguma de que, muito mais cedo do que imaginamos, mais da metade dos chefes de Estado e mais da metade dos parlamentares do mundo inteiro serão mulheres.

A mulher tem mais sensibilidade. A mulher vive mais. Sobre a terra, não encontro nada mais lindo e mais universalmente magistral que uma mãe parindo seu filho. Isso é a mulher. É a mulher que cria e dá vida. Nós todos, homens e mulheres, nascemos do ventre da nossa mãe, cujo seio nos amamenta. Isso nos acompanha o resto da vida.

Em todas as sociedades, sempre a parte da orientação, da conscientização da vida dos filhos coube à mulher. Lembro-me de que, lá em Caxias, terra de colonização italiana - nunca vou me esquecer de que, em Caxias, os colonizadores italianos ganhavam 25 hectares, dois sacos de semente, uma pá, uma enxada, um machado, e tinham que se virar -, o marido trabalhava, mas a mulher já tinha dupla jornada de trabalho. A mulher plantava com o marido, colhia com o marido, mas ia fazer comida e cuidar dos filhos. E quando o marido estava bebendo e se distanciando, a mulher estava cuidando dele.

Vivemos hoje um momento que, infelizmente, o Brasil ainda não analisou com profundidade. O avanço correto, certo, irreversível da mulher buscando seus espaços apresenta um problema: o lar tem um vazio. Uma coisa é alguém ser criado, de manhã, de tarde e de noite, com a mãe, como eu fui. Hoje, o lar é um ponto de encontro. A mãe é médica e o pai é advogado ou a mãe é dona-de-casa e o pai é operário, mas, no lar, eles se encontram à noite.

O Governo do Brasil ainda não se deu conta do que há de mais importante. O Dr. Brizola fez algo espetacular, as escolas de tempo integral, mas as crianças começavam aos sete anos. O mais importante é a creche, onde a criança possa ter aquilo que, com mulher e marido trabalhando fora, não tem. Esse é um problema sério. O problema com a mocidade e com a infância aumentou muito, porque a mulher não está ali. Esse é um problema que a sociedade tem de enfrentar.

Observo a história do Rio Grande e lembro que fui o Governador de Estado que primeiro assinou a nomeação de mulheres para a Brigada Militar. Era proibido até ontem. Até ontem, era proibido que mulheres fossem funcionárias do Banco do Brasil, do Banco do Rio Grande do Sul e da Caixa Econômica Federal; até ontem, era proibido que as mulheres fossem juízas ou promotoras. Por que uma mulher não podia ser juíza? Meu Deus, qual a razão? Não podia. Juiz era coisa para homem, promotor era coisa para homem.

O que está acontecendo hoje? No Rio Grande do Sul, 50% dos juízes já são mulheres. E a cada concurso novo, 80% das vagas são preenchidas por mulheres. Por quê? As mulheres, quando concluem a faculdade e querem prestar concurso para delegado de polícia - no Rio Grande do Sul, a maioria das vagas para esse cargo é preenchida por mulheres -, para juiz de direito ou promotor, retiram-se, vão para casa, pegam os livros, não têm namorado ou se casadas, ficam em casa. Não saem para tomar um chopinho, não vão ver jogo de futebol. Dedicam-se de corpo e alma aos estudos.

Percebe a diferença quem tem filho e filha. A filha dedica-se 24 horas; o filho tem a saída na sexta-feira, o chopinho no sábado, o futebol. Por isso é que as mulheres estão logrando êxito nos concursos.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Pedro Simon?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com o maior prazer.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - V. Exª trata esta questão com muita propriedade. De fato, o ingresso das mulheres em determinados cargos tem sido significativo. As carreiras que anteriormente eram consideradas absolutamente masculinas e que são providas por concurso público cada vez mais estão sendo preenchidas por mulheres. V. Exª citou dois casos: juiz de 1ª instância e delegado de polícia. É a realidade de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E promotor.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Promotor também. Eu até havia levado um documento para a tribuna e pretendia utilizá-lo, mas acabei não o fazendo. Refiro-me a um estudo do Inep, segundo o qual as mulheres são maioria nas universidades e também ultrapassam os homens em número de alunos a partir da quinta série. Então, a dedicação das mulheres aos estudos - isso tem sido um diferencial significativo - acaba contribuindo, de forma bastante relevante, para que, na hora da disputa, do concurso, nas provas de conhecimentos e de títulos, em que, digamos, o diferencial de gênero não pode ser utilizado, a mulher sobressaia. A maior ocupação dos bancos escolares, principalmente nas universidades, acaba se revelando na disputa. V. Exª ressalta bem esse fato, que confirma o estudo do Inep.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Quando vocês olham para mim, estão olhando para um velho, este velhinho; mas eu olhando para mim sinto como se tivesse saído ontem da faculdade, parece que saí ontem.

Quando eu estava na Faculdade de Direito de Porto Alegre, em toda a faculdade havia apenas duas mulheres. Hoje, dois terços são mulheres. Hoje, quando vamos a formaturas de Medicina, de Engenharia, de Direito, de Odontologia, comprovamos que, em todas as faculdades, dois terços são mulheres. Isso está espelhando uma realidade.

Essa realidade ocorre no Brasil. Essa realidade ocorre no mundo. A Argentina já teve Presidenta, o Chile está tendo, a Alemanha está tendo. Assistimos à notícia de que talvez, nos Estados Unidos, haja uma eleição com duas mulheres: a esposa do ex-Presidente Clinton e a Condoleezza - aliás, uma mulher excepcional.

À parte os elogios e as festas, temos de constatar que estamos vivendo uma virada. Nós homens fizemos muitas conquistas na tecnologia, na economia, mas o mundo que deixamos é muito cruel. Deixamos a humanidade repartida, com metade passando fome, nações na miséria, vaidade e prepotência como a do Presidente norte-americano que faz o que faz na África. Creio que, nesse mundo que vem, em que sentimos que as nações emergentes, como China, Índia, África do Sul, Brasil, virão para ocupar seu espaço dentro da sociedade mundial, as mulheres virão também. E creio que ocuparemos um mundo diferente, Sr. Presidente. Acredito que, no momento em que elas puderem se colocar... Aliás, foi espetacular a decisão da Presidenta do Chile: metade dos ministérios é ocupada por homens e metade por mulheres. Ela respondeu que foi justa - afinal, ela poderia colocar uma mulher a mais, mas não o fez.

Tenho a convicção de que estamos caminhando para uma sociedade em que haja mais entendimento, mais respeito, mais carinho e mais justiça social.

Não tenho por que felicitar as mulheres. Tenho por que agradecer às mulheres, que estão ocupando seu espaço.

Lembro que, na legislatura passada, quando votamos a emenda que determinava que 30% das vagas deveriam ser ocupadas por mulheres - passou na Câmara e veio para o Senado - a Casa estava lotada de mulheres. Bernardo Cabral fez um daqueles seus discursos e disse o seguinte: “todo mundo sabe que sou um homem encantado por mulheres, mas todo mundo sabe que sou um jurista, e não posso deixar de seguir a Constituição, que diz que todos são iguais perante a lei. Se a Constituição diz que todos são iguais perante a lei, como vou assegurar às mulheres um percentual, seja ele qual for? Então, eu teria que assegurá-lo aos negros, aos homossexuais e a tantos outros”. Foi uma vaia geral.

Depois dele, falei eu: “Quero dizer que concordo com Bernardo Cabral”. A então Deputada Marta Suplicy estava aqui, eu estava lá no meu lugar, e ela deu um berro: “Mas, Simon, tu garantiste pra nós que ias fazer a defesa do nosso projeto. Não podes fazer uma traição dessas!” Ela deu esse grito e houve uma gargalhada geral. Eu disse: “Desculpe-me, mas tenho de reconhecer que o Bernardo Cabral está certo. A Constituição diz que todos são iguais perante a lei. Então, não podemos colocar na Constituição que 30% são mulheres. Isso é inconstitucional. Mas o que podemos colocar na Constituição é o seguinte: cada sexo terá direito a 30%”. E foi uma risada!

Continuei: “Quero dizer para vocês que não estou colocando isso na Constituição - quero ser muito sincero -, não estou colocando isso na Constituição para garantir às mulheres 30%. Eu serei lembrado daqui a dez, vinte ou trinta anos, quando alguém dirá: Você se lembra do Pedro Simon? Ele foi aquele Senador que previu que tinha de ser 30% para cada sexo. Os homens terão direito a 30% e as mulheres não podem impedir”.

Acho que estamos caminhando para isso. Vejo aqui, por exemplo, a Líder do PT, que peço que não se ofenda comigo, e quero falar também na Líder do P-Sol. São pessoas que às vezes, as duas, tremem, ficam com sua fisionomia hostil, perdem até um certo controle. Mas daí a pouco aquilo passa, desaparece, e elas voltam a ser o que são. Isso não acontece com o homem. Geralmente, o homem faz, agride e sai com raiva. É aquilo que o nosso querido Senador do PFL do Piauí disse ao nosso Líder do PT: “enquanto V. Exª continuar economizando bom-dia e boa-tarde, colocando na poupança, V. Exª não chegará a Governador de São Paulo”.

O homem é assim e é difícil a mulher ser assim. A mulher tem bondade. Vejo meu filho. Olha que trato meu filho bem, trato meu filho com carinho, até porque sou um velho e filho de velho é outra coisa. Mas não adianta. É a minha mulher. Ele pede alguma coisa e eu digo: “Pode ser, filho”. “Posso?” “Pode, meu filho”. “Ah, então vou perguntar para a mãe para ver o que ela vai achar”. “Mas estou dizendo que pode ser”. “Mas vou ver o que a mamãe acha”. Se ele vai até a mãe e ela deixa, quando pergunto, ele diz: “a mãe já deixou”. Não importa minha opinião. Isso é natural!

Então, olhando o mundo, vemos que bipolarização entre Rússia e Estados Unidos desapareceu, os Estados Unidos estão vivendo o clímax de uma era tipo Império Romano, que chegou no seu cume, aí vem a China, vem a Índia, vem o Brasil... E dessas nações a melhor é o Brasil, que tem o povo mais puro, tem a natureza mais fértil, um solo espetacular, água doce que não acaba mais. E o povo... Como dizia Darcy Ribeiro, que povo!

Enquanto o negro está ali, o chinês está ali, o italiano está ali, o latino-americano está ali, cada um num mundo separado, nós aqui temos essa mescla, e logo ali teremos a raça brasileira. E nessa raça brasileira, eu confio sinceramente nas mulheres.

Agora ganhará ou o Lula, ou o PT, ou o PSDB ,ou o PMDB, não sei quem, mas não demorará nem vinte anos para termos uma Presidente mulher aqui no Brasil. Pode escrever: não demorará nem vinte anos. E o Brasil marchará rumo ao seu futuro.

Eu venho aqui, com muita humildade, levar às mulheres o meu abraço, o meu carinho, o meu afeto, à mulher trabalhadora, operária, que ainda ganha menos do que devia. A mulher, em alguns lugares, ainda apanha do marido e não tem coragem de ir à polícia, mas essas coisas estão acabando.

Creio que estamos marchando para uma nova sociedade. O efeito mais grave - repito - se dá nos filhos, que tinham na mãe a sua sustentação básica, e o lar hoje é um ponto de encontro. Nós temos por obrigação número um a criação de creches, porque é importante que se saiba que o cérebro de uma criança se forma até os três anos de idade. Todo o resto vem depois. A criança não pode, principalmente até essa idade, passar fome, não pode viver torpeza. Ela tem que viver uma vida de tranqüilidade e paz para ir adiante. E vemos, no Brasil, muitas vezes, crianças de um ou dois anos no colo de suas mães mendigando e passando fome. Esse é um problema nosso. Esse é um problema que as mulheres haverão de não deixar evoluir ainda mais.

Por isso, meu abraço muito afetivo à mulher brasileira. Para nosso orgulho, as mulheres já são em maior número que os homens. Que bom! As mulheres já estão avançando mais rápido que os homens. Que bom!

Olhando para trás, eu, que estou no final da jornada, vejo que não foram lá muitas coisas positivas que a minha geração semeou. Mas fico feliz por sair no momento em que aumenta o número de mulheres neste Senado. Muito obrigado pela tolerância, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2006 - Página 7278