Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogio ao trabalho de cientistas e profissionais do Centro Nacional de Pesquisas para a Conservação de Predadores Naturais, Cenap - em favor da preservação do legado da biodiversidade no Planeta Terra.

Autor
Romero Jucá (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Elogio ao trabalho de cientistas e profissionais do Centro Nacional de Pesquisas para a Conservação de Predadores Naturais, Cenap - em favor da preservação do legado da biodiversidade no Planeta Terra.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2006 - Página 7281
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • ELOGIO, TRABALHO, CENTRO NACIONAL, PESQUISA, CONSERVAÇÃO, ANIMAL NATIVO, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), BENEFICIO, MANUTENÇÃO, EQUILIBRIO ECOLOGICO.

O SR. ROMERO JUCÁ (PMDB - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a exuberante fauna de nossas matas e campos representa um dos mais valiosos patrimônios brasileiros.

Não podemos avaliá-la de um ponto de vista meramente econômico. Como estimar o valor de uma espécie como o lobo-guará ou o mico-leão dourado?

A sobrevivência de nossas espécies animais representa, em última instância, a garantia de um patrimônio de toda a humanidade - ou, ainda melhor, um patrimônio da própria vida, em sua diversidade.

Mas cabe a nós, brasileiros, a considerável responsabilidade de cuidar da sobrevivência das inúmeras espécies nativas, tenham elas ou não seu habitat preponderante ou exclusivo no território nacional.

Algumas das espécies nativas que exercem maior fascínio sobre os seres humanos e que estão, igualmente, entre as mais vulneráveis ou ameaçadas de extinção, são as dos carnívoros, tais como o lobo-guará, a ariranha e a lontra, a onça-pintada, a jaguatirica e a suçuarana.

Embora sejam admiradas, essas espécies têm recebido um tratamento hostil ao longo de seu contato com a civilização, que se torna mais ameaçador a cada década que passa.

Para se contrapor a essa tendência, que parece às vezes ser inexorável, foi criado em 1994, Senhoras e Senhores Senadores, o Centro Nacional de Pesquisas para a Conservação de Predadores Naturais, o Cenap.

O Cenap se insere na estrutura do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, e recebeu por missão "estimular, coordenar e desenvolver atividades de manejo, pesquisa e conservação, a nível nacional, com as espécies de predadores naturais que ocorrem no país".

Sendo esta sua missão precípua, podemos constatar, Sr. Presidente, que o Centro Nacional de Pesquisas para a Conservação de Predadores Naturais a vem cumprindo com competência e galhardia; e que, por estas mesmas qualidades, tem sido capaz de levar os efeitos de suas ações para além das nossas fronteiras, exportando a países vizinhos um conhecimento precioso para conservação dos animais selvagens que lá habitam.

Um dos principais focos do trabalho do Cenap, Srªs e Srs. Senadores, está nas situações de conflito entre predadores naturais e comunidades humanas.

Quantos de nós já não ouvimos histórias de onças que atacam os bezerros de uma certa fazenda e da ansiedade com que o fazendeiro procura eliminar essa ameaça, perseguindo a fera até abatê-la?

Essa situação é, sem dúvida, real. Mas, se ampliarmos a perspectiva de visão, reconheceremos que os padrões de relacionamento com a natureza que marcaram a ocupação de nosso vasto território foram, talvez, adequados em um certo período, ou, em grande parte, compreensíveis e desculpáveis; mas eles precisam decerto, no início do século XXI, mudar drasticamente.

Poderíamos afirmar, não sem uma certa intenção humorística, que é importante que as partes conflitantes estabeleçam um diálogo e passem a ver os problemas e necessidades de seu oponente.

Se é bem difícil, contudo, para uma onça enxergar as agruras de um fazendeiro preocupado em conservar seu rebanho, a comunidade humana pode, com certeza, dar-se ao exercício de ver a questão sob vários ângulos e buscar preservar tanto o rebanho quanto a onça.

Muitas vezes os grandes predadores, pelo próprio medo que inspiram, passam a levar culpa por ações que não cometeram e nem cometeriam. O texto informativo sobre o Cenap, constante do número inicial da Revista Ibama, chega a falar em difamação desses animais, que estabelece "uma cultura negativa contra a fauna e uma mentalidade que só vê a espingarda ou o cárcere como argumento".

A idéia motriz do Centro, Sr. Presidente, no que toca à administração desse conflito, é usar o conhecimento científico para reverter uma cultura já ultrapassada, mostrando que "os carnívoros são elos primordiais da cadeia alimentar", tendo papel decisivo para o equilíbrio dos ecossistemas onde se inserem.

Estudando e monitorando a vida dos predadores, os cientistas do Cenap reuniram um acervo de conhecimentos que permite predizer e evitar as situações de conflito, criando "alguns parâmetros de convivência harmoniosa dos homens com os bichos".

O já mencionado ataque das onças aos rebanhos representa uma situação-limite, um dos últimos recursos alimentares para animais que tiveram seu meio ambiente agredido e alterado.

Especialistas do Centro vêm realizando visitas aos fazendeiros e esclarecendo-os a respeito de uma série de técnicas simples que podem evitar os ataques ao seu rebanho.

Ao mesmo tempo, uma série de outros conhecimentos já acumulados sobre os predadores naturais vai fornecer elementos para que se tente preservar ou, se for o caso, recuperar condições naturais imprescindíveis para sua sobrevivência.

Enfim, todo esse manancial de conhecimentos, que poderíamos dizer, de modo elementar, que é tanto teórico como prático, é uma conquista de nossos cientistas e profissionais do meio ambiente, posta ao alcance de países vizinhos e também de países distantes, mas interessados na preservação do magnífico legado da biodiversidade no planeta Terra.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2006 - Página 7281