Discurso durante a 14ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Histórico das últimas eleições presidenciais. Defesa do lançamento de candidato à Presidência da República pelo PMDB.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Histórico das últimas eleições presidenciais. Defesa do lançamento de candidato à Presidência da República pelo PMDB.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Cristovam Buarque, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 11/03/2006 - Página 7559
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, CRISE, ELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, REDUÇÃO, PARTICIPAÇÃO, PARTIDO POLITICO.
  • REGISTRO, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (MDB), DITADURA, REGIME MILITAR.
  • GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL, CONGRESSO NACIONAL, ACORDO, PARTIDO POLITICO, ABSOLVIÇÃO, DEPUTADO FEDERAL, PROCESSO, CASSAÇÃO.
  • DEFESA, AUTONOMIA, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), OBRIGAÇÃO, ATENDIMENTO, DEMOCRACIA, MOBILIZAÇÃO, ELEITOR, MOTIVO, FRUSTRAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DESCUMPRIMENTO, COMPROMISSO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • ANUNCIO, CONSULTA, CONSELHO, ETICA, SENADO, IRREGULARIDADE, ATUAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), OBSTACULO, CANDIDATURA, ACUSAÇÃO, JOSE SARNEY, RENAN CALHEIROS, NEY SUASSUNA, SENADOR, TENTATIVA, MANUTENÇÃO, CARGO PUBLICO, MINISTERIO, APOIO, REELEIÇÃO, CONCLAMAÇÃO, ELEITOR, MOBILIZAÇÃO, OBJETIVO, ANALISE PREVIA, ESCOLHA, CANDIDATO.
  • ANALISE, SITUAÇÃO, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ESTADOS, ELEIÇÕES, GOVERNADOR, POSSIBILIDADE, UNIÃO, ELEIÇÃO FEDERAL.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, venho a esta tribuna movido por um sentimento muito dolorido, porque estamos numa caminhada que busca a eleição presidencial.

            No Brasil, infelizmente, uma eleição presidencial normalmente vem acompanhada de crise. Quando o Dutra ganhou, o Ministro da Guerra da ditadura, a UDN esperava que fosse o Brigadeiro, e houve a crise. Em 50, os militares esperavam o Brigadeiro, ganhou Getúlio, e houve a crise, com o suicídio de Getúlio. Juscelino resolveu nomear Jango como Vice-Presidente - João Goulart tinha sido Ministro do Trabalho de Getúlio, e um manifesto de coronéis tinha obrigado Getúlio a demiti-lo -, houve a crise, e, por muito pouco, Juscelino não foi deposto. Por muita categoria, muita competência do Lott, a classe política conseguiu que Juscelino assumisse e cumprisse o seu mandato. Jânio Quadros, uma esperança - era 50% gênio, 50% louco -, permaneceu sete meses no poder e foi embora. Jango: houve uma luta para que ele assumisse, a legalidade do Brizola, e, depois, a sua derrubada. Cinco generais substituindo-se uns aos outros como ditadores!

            Aquele foi o período áureo do MDB. Se analisarmos com profundidade, em todas essas crises, em toda a história do MDB, em toda a história do Brasil, partido político não tem participação. Triste o destino dos partidos políticos brasileiros! O próprio Partido Comunista Brasileiro fez a Intentona Comunista, que deu errado, e ficou naquilo. Um Partido que parecia heróico, que era o PT, deu nisso aí! O PSDB, um Partido composto de santos que saíram de vários partidos, deu no que deu. E, agora, estamos aqui, às vésperas de um pleito.

            O MDB foi o grande responsável, na época da ditadura, pelo Brasil chegar à democracia. Houve alguns heróis, aqueles heróis que não ganham busto, como Ulysses dizia. Ulysses fez a campanha, andou pelo Brasil inteiro; ele tinha voto, ele tinha partido, ele tinha idéia, mas não tinha vitória na eleição. Um general já estava eleito, e ele foi o anticandidato. Com o General Euler, quatro anos depois, ocorreu a mesma coisa: ele foi o anticandidato.

            Depois, o MDB conseguiu, ainda que derrotada a emenda das “Diretas Já”, ter candidato. Tancredo ganhou. Dizem que Deus é brasileiro, mas, às vezes, me pergunto: “Será?” Tancredo não podia ter morrido. Não que o Presidente Sarney não tenha sido um grande Presidente. Foi. Um homem que realizou, um homem sério, um homem competente. Ele fez o máximo que poderia ter feito, mas ele não era Tancredo. Ele era um ex-Presidente da Arena, colaborador do regime revolucionário. Fez o que podia fazer. Mas este Brasil seria diferente se o Tancredo tivesse assumido. Ele não seria substituído pelo Collor, como ocorreu. Não haveria margem para que aparecesse um Collor da vida se o Tancredo tivesse feito o seu governo.

            Este Congresso está vivendo as horas mais amargas.

            Meu nobre Senador Delcídio, tenho carinho e respeito por V. Exª, mas não se ofenda: estou com dó de V. Exª, porque - não sei como o seu nome vai entrar na biografia -, fazendo o trabalho fantástico que V. Exª fez, assim como o Relator da Comissão de V. Exª, está acontecendo o que está acontecendo.

            Naquela época, tiramos o Collor e assumiu o Itamar. Eu tive muita honra de ser Líder do governo do Itamar. Tive de brigar muito com ele para não ser Ministro. E eu dizia que não aceitava ser Ministro porque eu vinha da queda do Getúlio. Houve aqueles que derrubaram Getúlio e que, depois, assumiram Ministérios. E eu, que havia participado do impeachment, liderando a CPI, não queria que dissessem que derrubei o Collor para assumir o Ministério. É uma questão de ética que muitos não entendem, é uma questão de princípio, mas não aceitei. Mas ajudei muito o governo do Itamar e creio que foi um grande governo.

            O Dr. Ulysses e o Quércia não deixaram o PMDB apoiar o Itamar. O candidato era para ser do PMDB. O Quércia quis ser candidato, foi candidato. Perdemos a eleição, mas tivemos um candidato. Como antes, quatro anos atrás, não deveria ter sido o Dr. Ulysses, mas ele foi candidato. Perdemos a eleição, mas tivemos um candidato. Agora, que estamos vivendo uma plenitude democrática, agora que o PMDB é o grande Partido nacional, deveríamos ter um candidato. A história escreve, e os destinos aparecem, às vezes, da maneira mais estranha!

            Não nego a V. Exªs: quando o Lula ganhou a Presidência, pensei que houvesse mudado a história. Estava lá o Partido, o PT, e estava lá o homem que finalmente mudaria o País. “O destino bateu à nossa porta, e vamos seguir o nosso caminho”, confiei.

            Quando sondado, quando o Lula e o José Dirceu jantaram na minha casa e não aceitei o Ministério, dias depois eu não dormia, porque todo mundo para quem eu falava isso dizia: “Mas, agora que vamos salvar o Brasil? Você passou 40 anos brigando e agora não entra no Governo?” Comecei a pensar: será que fiz tanta besteira? Embora tivesse dito ao Lula: “Nesta tribuna do Senado, Lula, posso te ajudar muito mais do que no Ministério. Para Ministro haverá gente de montão; no Senado, não haverá tanta gente. Eu posso te ajudar”.

            Foi essa a minha disposição, mas deu no que deu. Se o Lula fizesse um Governo 50% do que imaginávamos, o PMDB não teria o que fazer. Talvez até já estivesse no PT, se visse que o PMDB era inviável; talvez estivesse defendendo uma outra posição, e não teríamos o que discutir. Mas deu no que deu, com todo o respeito. Não quero nem entrar na análise, mas o PT não foi aquilo que imaginávamos; o PT não cumpriu os compromissos assumidos.

            Vimos agora o ilustre Senador do Mato Grosso do Sul fazer uma análise sobre a seriedade dos problemas de infra-estrutura da sua região. Eu dizia para S. Exª, com todo o respeito: “Que bom se esse discurso fosse no início do Governo Lula e se o Lula tivesse quatro anos para fazer! Mas V. Exª está analisando os resultados dos quatro anos de Lula, que não fez, e está pedindo então que ele faça nos próximos quatro anos”. Essa é a realidade.

            Então, chegou-se a esta situação: estamos vivendo um quadro dramático. Estamos caminhando para uma eleição, e vejamos o que está acontecendo: por exemplo, ontem, o PFL absolveu o candidato do PT, e o PT absolveu o do PFL. O meu querido Líder do PSDB e o Líder do PFL me garantiram que não haveria acordo em hipótese nenhuma. Mas foi estranho! Como parece que, daqui a dois dias, vai ser a mesma coisa; sempre se vai absolver um do PT e um do outro lado. Foi o que aconteceu.

            No meio desse contexto, vamos para uma eleição com o PSDB e o PFL de um lado, e o PT do outro. Tudo bem, vamos! Mas o PMDB não entender sua posição, não entender que ele tem obrigação? Há coisas na vida que são obrigação. Há momentos em que se pode entrar e outros em que não se pode! O Senador Delcídio pode ser candidato a Governador de Mato Grosso, mas pode não ser. Eu, se fosse S. Exª, não seria. Com todo o respeito e carinho que tenho por S. Exª, entendo que esta é a vez do outro. Eu esperaria quatro anos. Mas o Senador pode concorrer, embora não tenha a obrigação de concorrer. Mas o PMDB tem obrigação, o PMDB não pode pura e simplesmente dizer: “Eu vou assistir!”, como está fazendo.

            Com toda sinceridade, estou pensando, embora o Conselho de Ética ninguém leve a sério, em levar para lá o nome de alguns homens do PMDB, porque não é possível.

            O PSDB está vivendo um papel difícil: dois grandes nomes, dois candidatos que, em vez de somarem, até agora estão se desgastando. Perdoe-me Senador, mas até agora estão se desgastando. No entanto, estão cumprindo o seu papel. Ninguém tem dúvida de que, seja um, outro ou um terceiro, o PSDB vai ter o seu candidato. E não poderia ser diferente. Como o PSDB vai deixar de ter um candidato? Como ele vai deixar de ter um candidato?

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Pedro Simon, trinta segundos?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com o maior prazer.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Eu concordo, é um desgaste enorme, que a mim me tem causado uma irritação grande, e V. Exª tem razão na argumentação que desenvolve. A nossa vontade de cumprir o compromisso de candidatura própria é tão grande que os dois se engalfinham e estão se desgastando, mas a definição é que vamos para a luta com cara própria.

            O SR. PEDRO SIMON (PDMB - RS) - É verdade. Corretíssimo, corretíssimo! É uma coisa que apareceu, mas ninguém está pensando que o PSDB não tem candidato. Ficou limitado a dois, mas teria mais do que isso. Teria V. Exª, Senador, e o Senador Tasso Jereissati, que, na minha opinião, é uma figura espetacular e que ainda vai ser Presidente da República. Então, o PSDB tem candidato.

            Agora, o PT está em uma situação muito difícil, mas está se recompondo, a gente tem que tirar o chapéu. O Lula levou um tiro em cada asa e está se mantendo, está lutando e está dando força. Eu fico impressionado com a sua capacidade. Se fosse eu, já estaria abatido. Se visse o jornal e as coisas que aconteceram, eu já estaria no chão, com depressão, não seria mais candidato. O Lula tem garra e é o único cara que o PT tem.

            Mas e o MDB? O Dr. José Sarney está fazendo o que está fazendo para manter uns carguinhos no Governo, o de Ministro de Minas e Energia, de Presidente da Eletrobrás e não sei o quê. O Sr. Renan, para ter uns carguinhos no Governo, está na briga, e a briga agora é porque o PMDB quer o Ministro dos Transportes. Se o Renan conseguir que o PMDB não tenha candidato, o Ministro dos Transportes será do PMDB. Isso é triste, isso é triste.

            Então, há o Dr. Sarney, o Dr. Renan, o Dr. Suassuna e mais alguns para alguns cargos que o PT está dando. E querem manter esses cargos. O que aparece é dramático: essas pessoas, esses homens pensam e preferem ficar no PT com esses cargos a ter um Presidente do PMDB, porque acreditam que, sendo o Presidente do PT, os três mandarão.

            O PT cometeu um erro gravíssimo, meu querido Líder. O PT deveria ter negociado com o PMDB. O PT não precisava comprar Deputado e Senador, nem dar emenda. Poderia até ter um diálogo aberto e franco com o conjunto do PMDB, fazer uma composição, uma aliança, um entendimento, mas fez isso com o Sarney e com o Renan, deixando o PMDB de fora. Essas pessoas que fizeram parte do entendimento estão com altíssimos cargos e querem mantê-los.

            Acho que o PT está na dela. O Lula e o PT estão na deles. Se o PMDB não tiver um candidato e os apoiar, é quase certo que terminem sendo eleitos no primeiro turno. No entanto, o PMDB não está na deles. O PMDB tem obrigação de ter candidato. O PMDB fez uma convenção e aprovou uma prévia. Viajei com o Rigotto pelo Brasil, percorri todos os Estados do Brasil e percebi uma unanimidade. Fomos lá no Maranhão do Dr. Sarney, onde há unanimidade. Todo o PMDB do Maranhão quer uma candidatura própria. Estivemos no Alagoas do Senador Renan Calheiros e todo o PMDB de Alagoas quer uma candidatura própria. O que estamos vendo?

            No domingo que vem, vamos ter as prévias do PMDB. A rigor, no domingo que vem começa a campanha, porque, nesta semana, entre hoje e segunda-feira, a notícia é de que o PSDB escolhe o candidato. No domingo que vem, o PMDB escolhe o candidato na prévia. O do PT já é o Lula; o P-SOL já está com a candidata preparada para começar. Terminada a prévia do PMDB, estarão os quatro candidatos na rua. Mas o que acontece? O Dr. Sarney, o Dr. Renan e o Dr. Suassuna querem suspender a prévia. Quer dizer, querem marcar uma reunião da Executiva para segunda ou terça-feira para suspender a prévia de domingo. E falam em ética? Mas que comportamento é esse, meu Deus do céu?

            Apelo, pela TV Senado e pela Rádio Senado, a você, meu irmão, que está assistindo, que é Vereador no interior do Brasil, membro do Diretório Municipal, Prefeito, Deputado Estadual ou Federal, que telefone, telegrafe, mande uma mensagem ao Presidente do PMDB, Michel Temer, ao Sr. Renan Calheiros ou ao Sr. José Sarney, dizendo: “A prévia é para valer. Nós exigimos prévia para escolher o nosso candidato!” Deve haver uma movimentação de todos, porque não podemos aceitar isso.

            No outro domingo, em todas as Capitais do Brasil, haverá uma urna. Os senhores deverão sair dos seus Municípios e ir à Capital do seu Estado para votar em Garotinho ou em Rigotto - naquele que quiserem. Mas para votar. Os senhores devem fazer isso, devem cobrar isso. Não devem aceitar golpes de última hora. Isso equivale a um golpe de Estado. Antigamente, os militares iam para as ruas, derrubavam e não deixavam realizar eleição. Pois agora são os nossos. Em uma eleição democrática e aberta, meia dúzia, pensando nos seus interesses, nos cargos e nas vantagens que tem, está vendendo a legenda do Partido.

            Eu vou entrar no Conselho de Ética. Eu vou entrar no Conselho de Ética.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Essa gente não pode fazer o que está fazendo. Eu vou para a reunião da Executiva. Não sei o que vai acontecer comigo, mas farei o meu protesto. Se for preciso fazer como alguns, que rasgaram a urna, eu a rasgarei, para não deixar que se realize uma reunião da Executiva na última hora, a fim de suspender uma prévia que já está marcada e a respeito da qual todo o Brasil está na expectativa.

            Pois não.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, é bom recordarmos a História. Antes de assumir meu mandato no Senado, eu compareci a uma reunião. O Líder era o hoje Presidente Renan. Ele queria eleger-se Presidente do Senado. Pedi a palavra - foi 15 dias antes de tomar posse - e disse que queria dar um ensinamento do Piauí, de Petrônio Portella: “Há prazo, não há pressa. Para quê essa decisão agora?” V. Exª também postulava e tem o meu voto. Esse é um direito que me assiste. V. Exª é o meu líder no PMDB. É subjetivo, mas é. Não tenho quem me tire o direito de segui-lo, de acompanhá-lo. Quero assinar qualquer requerimento de V. Exª. Ele recuou diante da inspiração de Petrônio Portella. Quinze dias e nós dois fomos para o que chamo de “Iraque”. Era lá na Paraíba, onde estavam o Sr. Quércia e o Sr. Sarney. Estava feio, com esse mesmo clima. Era o “general” Sarney contra o “coronel” Renan. E nós fomos. V. Exª, com o espírito de São Francisco - “onde há discórdia, que eu leve a união” -, recuou do pleito justo de ser Líder. Sarney, Presidente, e Renan, o Líder. Hoje, estamos aí. Esse PMDB cresceu pelo recuo de V. Exª. Foi essa união que se concedeu e foi com essa mesma união que fomos para uma convenção em que houve a decisão pela prévia. O mundo é plano. Com a globalização atual, a democracia é do mundo. Essa ausculta da base faz parte da cultura democrática do mundo e chegou ao Piauí. Quero dizer a V. Exª que nós estamos aqui. Outro líder está ali. Está ali Rui Barbosa. Ô, Presidente Sarney, ô Renan, por que ele está ali? Ele recebeu propostas desses carguinhos. Queriam os militares da Primeira República se sucederem. Aí, ele disse: “Estou fora!” Ofereceram um Ministério: “Não troco a trouxa de minhas convicções por um Ministério”. Esse é o nosso compromisso. E digo que quero ser o cireneu de V. Exª nessa batalha pelo PMDB. E hoje considero a unidade de comando e a direção do nosso partido ao Presidente Michel Temer, a quem devo obediência, bem como ao encantado no fundo do mar: “Ouça a voz rouca das ruas”. O PMDB está ouvindo o povo que está nas ruas. São seus militantes, seus vereadores, seus delegados, seus suplentes de delegados, seus presidentes de diretórios, seus Prefeitos, seus Vice-Prefeitos, seus Deputados Estaduais e Federais e seus Senadores. Então, é essa a nossa luta.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço o aparte de V. Exª.

            O PMDB é, hoje, o partido que tem o maior número de Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais, Governadores, Prefeitos e Vereadores e o maior número de filiados. A última pesquisa de opinião pública sobre o partido com que o povo tem mais identidade demonstrou que o PT perdeu 50%, e o PMDB aumentou 50% e se transformou no partido, longe, que tem mais simpatia da opinião pública brasileira.

            Ter candidato é natural. Ir para o debate e apresentar idéias é natural. Acho que, no choque das dificuldades entre o discurso do PT e o discurso do PSDB, o Rigotto, por exemplo, tem chance, muita chance, porque ele tem a palavra, a biografia e o momento exato de apresentar o seu programa. Na pior das hipóteses, se não ganharmos, não há nenhuma dúvida de que o PMDB, no segundo turno, definirá quem ganha, porque ganhará quem o partido apoiar. E poderá fazer um acordo de alto nível com quem ganhar e for para o segundo turno, não um acordo com Renan Calheiros, José Sarney, Ney Suassuna, mas um acordo do PMDB com o partido vencedor. Mas, se for para o segundo turno com o Lula, o PMDB ganha, porque o PSDB não tem outro caminho senão votar em nós. Se for PMDB com PSDB, não tem outro caminho ao Lula senão votar em nós.

            É triste ver o Brasil inteiro entusiasmado, empolgado, achando que é o momento, que é a hora de um candidato do PMDB, e aparece uma manchete do Dr. José Sarney, dizendo: “Não; o PMDB não pode ter candidato. Não tem ninguém em condições de ser candidato”. E aparece o Dr. Renan dizendo: “Não; o PMDB não tem candidato. O PMDB não tem condições de ter candidato”. E aparece o Sr. Suassuna: “Não; o PMDB não tem candidato. Não tem condições para ter candidato. É cedo para ter candidato”. Então, a tese agora do Dr. Renan Calheiros é a de que é cedo para ter candidato, porque é muito cedo ainda para fazer a prévia. Ele não é contra a prévia; só acha que a prévia não deve ser feita agora, mas em maio, em junho, agosto.

            O Senador Renan, quando jovem, pegou o Governador do PMDB, Dr. Collor, e, na China, ele e mais quatro lançaram-no candidato a Presidente da República. E o Collor saiu do PMDB, fundou o PRN e se lançou candidato, contra Ulysses, contra Brizola, contra Lula, contra Aureliano, contra Covas. Até junho, julho, ele tinha 2% das intenções de voto, e ganhou a eleição. E o Renan foi o Líder do Governo dele. Engraçado que o Renan, naquela época, em janeiro, estava tão apaixonado por lançar um candidato que saiu do PMDB. Ele esteve lá no meu Estado - eu era Governador do Rio Grande do Sul -, procurando-me, inclusive convidando-me para ser seu vice, até dizendo: “O senhor já foi Ministro, Senador e é Governador. V. Exª pode ir para a Presidência e eu para vice”. Olhei e ri, achando que era uma piada. A piada era eu, porque eu estava diante de um candidato a Presidente da República e não imaginava isso. Ali, o Renan achou bacana. E, agora, o Dr. Renan acha que não, que devemos deixar a prévia lá para maio, para junho, para agosto. Ora, não fica bem! Não fica bem! E as pessoas estão dizendo que o PMDB está de olho arregalado porque quer o Ministério dos Transportes. Quer porque quer esse Ministério. Então, na véspera de uma eleição, vai assumir o Ministério dos Transportes e deixar de ter candidato à Presidência da República. Isso não é sério! isso não é sério!

            Na verdade, temos de ver o seguinte: o PMDB tem uma unidade, sua Bancada, seus Prefeitos, seus Vereadores, a sua sociedade, os seus líderes e as suas bases. Quero ver o Dr. Sarney, o Dr. Renan e o Dr. Suassuna vir aqui e apresentar às nossas bases proposta contra a candidatura própria, contra o PMDB ter um candidato.

            Faço um apelo, primeiro, a esses homens para que não façam uma convocação da Executiva. Segundo, que não a levem a votar pela suspensão das prévias. Imagine V. Exª se terça ou quarta-feira - e as prévias são domingo - reúne-se a Executiva e diz: “não haverá mais prévias”. Isso é acabar com o Partido; isso é desmontar o Partido; isso é desmoralizar o Partido. Isso é aquela demonstração realmente de que o Dr. Renan, que já passou por vários partidos - S. Exª pertenceu a vários partidos antes, e dizem alguns que haverá vários depois -, e o Dr. Sarney, que sempre foi do PMDB, mas nunca foi um apaixonado pelo partido, na verdade, são pessoas que não têm o estímulo, a paixão, a vida pelo Partido.

            Olho para o PFL e vejo os companheiros daquele partido numa luta dramática. O PFL, há quatro anos, lutava para fazer de Roseana Sarney candidata a Presidente - ela estava na cabeça das pesquisas. Aí, o Governo do PSDB fez aquela injustiça: foram lá e fizeram um espalhafato com o dinheiro em cima da mesa, e ela não pôde ser candidata. O PFL agora, inclusive, tentou lançar a candidatura do Prefeito do Rio de Janeiro, tentou fazer dele um candidato, tentou encontrar um nome para ser candidato. Não podendo fazê-lo, vai para o PSDB, de mãos amarradas, porque não tem outra saída.

            Agora, o PMDB? O que é isso?

            No início do Governo, tinha de dar condições de governabilidade. Fui o primeiro que falou: tem de dar governabilidade. O PT não tinha maioria no Congresso e, se o PMDB fosse para a Oposição no início deste Governo, por amor de Deus, tudo isso que está acontecendo aconteceria duas vezes mais e dificilmente o PT sairia do impeachment, que seria votado aqui. Lembro-me de que fui um dos que, na hora em que alguns quiseram - e o PFL na frente - reunir uma comissão de juristas para estudar o impeachment do Presidente Lula, foram contra e disse: “Vocês estão enganados. O impeachment não se pede numa comissão de juristas. O impeachment discute-se na Comissão de Ética, na CPI, com o povo, com a sociedade. A sociedade empurra o Congresso Nacional para pedir o impeachment, e não uma comissão de juristas”. Quanto à governabilidade, tudo bem; mas, agora, ninguém está querendo a governabilidade, ninguém está buscando a governabilidade do Lula.

            Vou dizer uma coisa: para o Lula é muito melhor concorrer a Presidente com o PSDB tendo o seu candidato, a Heloísa Helena sendo candidata e o PMDB tendo o seu candidato. Assim, é certo que haverá segundo turno, no qual o PMDB pode ter um papel muito importante. No entanto, se o PMDB resolver se suicidar, desaparecer do mapa, ser um partido de terceira linha, para que o Presidente Sarney possa fazer um acordo no sentido de que o PSDB apóie a Roseana lá no Maranhão, para que o Presidente Sarney, candidato ao Senado, possa apoiar alguém de um outro partido lá no Amapá, para que o Renan, candidato ao Senado ou a Governador, possa fazer um acordo com outro partido ou seja lá o que for, em troca disso, nós não teremos candidato a Presidente.

             Qual é o partido que tem candidatos mais quentes a governador do que o PMDB? No Rio Grande do Sul, o candidato mais forte é do PMDB; em Santa Catarina, o candidato mais forte é do PMDB; no Paraná, o candidato mais forte é do PMDB; em São Paulo, eu acho que é o PSDB ou o PT, mas o Quércia está lá disputando; no Rio, o candidato mais forte é do PMDB; em Minas Gerais, se o Governador for candidato, ele é o mais forte; mas, como ele está falando em não ser, de repente, pode aparecer o Itamar com uma candidatura forte. Na maioria dos Estados, o candidato mais forte é do PMDB. Se o PMDB tem mais palanque nos Estados, por que, de repente... No Piauí, o candidato mais forte é V. Exª. No entanto, vou ao Piauí e vejo que, de um lado, o Partido todo quer o Mão Santa como candidato a governador e, de outro lado, o Alberto Silva, presidente, e outros querem fazer um acordo para o Mão Santa não ser candidato a governador; eleito que ele está. É uma nomeação o Mão Santa! No entanto, a cúpula está imaginando não deixar ele ser candidato a governador. Mas onde nós estamos?!

            Este é um momento sério, Sr. Presidente. Alguém pode dizer que o PMDB não tem liderança nacional, porque cada Estado tem um líder, por isso não pode se unir e apresentar um candidato. O PSDB, em cada Estado, tem um líder. Olhe para o PSDB. Quem é que manda no PSDB do Paraná, Senador Alvaro? Qual é a força que o Tasso Jereissati tem no PSDB do Rio Grande do Sul? Cada Estado tem o seu líder. Agora, os líderes reúnem-se em torno do que é bom para o Partido em nível nacional.

            Então, o fato de o PMDB ter líderes locais, ter líderes regionais - eu sou líder no Rio Grande do Sul, um governador é líder em Santa Catarina, outro é líder no Paraná e ainda outro é líder no Rio de Janeiro - não quer dizer que não podemos nos reunir, ter uma candidatura própria e nos reunirmos em torno desse candidato.

            O que nos impede de ter um candidato não é o fato de termos lideranças regionais, porque os outros partidos também as têm. O que nos impede de ter candidato são três pessoas: o Senador Suassuna, o Senador Sarney e o Senador Renan, que estão fazendo um esquema diabólico para impedir o PMDB de se consolidar como Partido, para levar o PMDB para uma posição de segunda linha, para um escalão secundário. Nem é um fato de grandeza, de espírito público, não é nem um grande acordo, como se fez no passado. Por exemplo, Juscelino foi lá buscar o Jango. Pegou contra ele os militares, foi uma guerra quando ele fez o acordo com o PTB, porque o PSD tradicional, Nereu Ramos, os clássicos não queriam, de forma alguma, nem o Juscelino, o apoio do PTB, e muito menos ainda o João Goulart. Mas aí foi um acordo histórico. O Juscelino foi buscar, enfrentou os militares, enfrentou a burguesia porque com o Jango ele ganhava a eleição! E ganhou a eleição. Isso é uma coisa.

            Mas não é isso que essa gente está pregando. Não é para ganhar a eleição que o Sr. Sarney, o Sr. Renan e o Sr. Suassuna estão fazendo isso tudo. Estão fazendo para manter os carguinhos que têm, para manter um acordinho, para que o PMDB não apareça com a sua letra, com a sua biografia, com a sua história, com a sua gente, com o seu poder, com a sua autoridade! Para que, daqui a algum tempo, o PT não cometa o mesmo erro estúpido. Em vez de fazer um acordo, um entendimento com o PMDB, direção para direção, comando para comando, foi fazer o acordo com dois ou três, dando um Ministério para um, outro Ministério para outro. E deu no que deu: mensalão para cá e, na hora da votação de um projeto importante, lá se vão as emendas. E passou a ser um troca-troca, compra e venda a atuação aqui. Isso, parece que alguns querem continuar.

            Por isso, acho que nem para o Lula é bom isso. É muito melhor o Lula apresentar um candidato a Vice e ir para sua campanha, e o PSDB, para a dele, e o PMDB, para a dele, e a Heloísa Helena, para a dela, e depois vamos ver o que acontece. No segundo turno, vamos discutir. No segundo turno, vamos ver. Eu acho que o PMDB vai para o segundo turno. Se for, boto minhas duas mãos no fogo como ele ganha. Se não for, o PMDB vai decidir quem ganhará a eleição, porque o PMDB, com a autoridade, com a força, com o prestígio, com a credibilidade, com o respeito, com a bancada enorme que terá de Deputados, de Senadores e de Governadores, será o fiel da balança do segundo turno. Se o PMDB não for, se fizer um acordozinho ali - e o Presidente Sarney já o fez e pegou os carguinhos dele, o Renan já o fez e pegou os carguinhos dele, o Suassuna já o fez e pegou os carguinhos dele -, se tornará um Partido de terceira linha, e estará iniciado o esvaziamento - talvez definitivo - do nosso Partido.

            Pois não.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Pedro Simon, é bom vermos alguém aqui fazendo uma dissecação até do seu próprio Partido. Mas acho que precisamos colocar um outro ingrediente. A culpa de tudo isso não é apenas dos líderes do PMDB, não é do Palácio do Planalto nem dessa conivência entre os dois; a culpa é de todos nós. Nós deixamos, Senador Delcídio, que se fortalecesse, no Brasil, o pensamento único dominante. Deixamos que as pessoas pensem que não há sonho alternativo, que não há nem mesmo alternativa dentro até dos sonhos que estão aí. E assim os partidos ficam todos iguais. Não há diferença fundamental entre os partidos, nem entre eles nem também quando analisamos dentro deles e que tem de tudo dentro de cada partido. Perdemos a capacidade de oferecer alternativas que pareçam reais, concretas e ao mesmo tempo transformadoras. Alguns são transformadores, outros são responsáveis. Não estamos formulando uma proposta que unifique a transformação com a responsabilidade. Não estamos oferecendo um sonho alternativo, e, aí, todo o futuro, todas as análises, todos os acordos são em função de nomes, de números de ministérios, de interesses imediatos, sem sonhos a médio e longo prazo. Está na hora de fazermos essas críticas porque essas lideranças não estão à altura do momento que o Brasil vive, mas também de fazermos uma autocrítica. Sinto-me culpado, como Senador, de não estar conseguindo sensibilizar, de maneira alguma, aqueles que podem representar uma alternativa. A próxima eleição vai se dividir entre aqueles que vão votar no continuísmo, aqueles que vão votar na raiva - voto nulo, contestação - e alguns que vão votar em propostas. Quantos? Talvez pouquíssimos. Esse pensamento único é que faz com que as lideranças do PMDB não se sintam em condições, além de suas próprias não vou chamar de mediocridades ideológicas, mas de suas próprias limitações. Essa falta de alternativas faz com que eles terminem caindo na mesmice do Governo Lula, na mesmice do PSDB, na mesmice do PMDB também. Mesmice por falta de clareza da não-mesmice.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Nobre Senador, V. Exª sabe que não é fácil, tanto que V. Exª, um homem brilhante, terminou tendo de sair do Partido porque o Partido não correspondia ao que V. Exª esperava. Tenho outro estilo. Não saí do PTB, fui vereador e deputado pelo PTB. Extinto o PTB, mudei a placa no Rio Grande do Sul e botei PMDB, e fiquei no PMDB.

            Nunca me esqueço que Mário Covas, eu Governador, e ele lá no Rio Grande do Sul, fez-me um apelo dramático para que eu fosse para o PSDB e eu lhe fiz um apelo dramático para que ele ficasse no PMDB. E eu dizia: “Mário Covas, o senhor é nosso grande homem. O senhor é o Presidente da República. Com Ulysses, sem Ulysses, querendo, não querendo, a Presidência da República é tua, vai ser tua”. E terminou naquilo: Mário Covas em quarto, Brizola em terceiro, Lula em segundo e Ulysses lá no fim. Como lutei para que o Dr. Ulysses retirasse sua candidatura e apoiasse Covas! E ele me disse, quando eu era Governador: “É, para ti é fácil - não é, Simon? - sair daqui e apoiar o Mário Covas. Por que é que não pede para apoiar o Brizola?” Respondi: “Dr. Ulysses, está enganado. Se o PMDB decidir apoiar o Brizola, eu bato palmas dez vezes. É que penso que, em São Paulo, tirar um paulista para apoiar um gaúcho, acho que vai ser difícil. Por isso é que estou dizendo: sai um paulista e fica outro paulista que era PMDB até ontem. Mas se o senhor achar que o problema é botar o Brizola, fico dez vezes mais satisfeito”. Mas deu no que deu. O PSDB - digamos - até que chegou ao poder, mas não como gostaríamos; chegou ao poder paulista demais - perdoem-me a sinceridade.

            Chegou ao poder com os paulistas praticamente. Hoje, vemos que os paulistas estavam lá na época da ditadura militar; que os paulistas estavam lá na época do Fernando Henrique. E os paulistas, na época do Lula, estão lá. Só não estiveram lá no Governo Itamar Franco, em que o Ministro da Fazenda foi de Pernambuco, e o Ministro do Planejamento, de Minas Gerais. A Folha noticiou: “Dupla Caipira comanda o Brasil”. Mas ele não colocou.

            Então, a luta foi difícil no PMDB. O Dr. Ulysses Guimarães é um grande nome, mas teve um início bem diferente. A Executiva do PMDB era composta por Ulysses Guimarães, por Nelson Carneiro, por Amaral Peixoto, por Tales Ramalho; era uma Executiva ultraconservadora.

            Modéstia à parte, em 1979, quando cheguei aqui como Senador, a Executiva mudou 100%. Ulysses Guimarães saiu desse grupo e veio para o grupo de cá, onde estávamos eu, Chico Pinto, Miguel Arraes, Teotônio Vilela, e o PMDB passou a ter a verdadeira bandeira e a exercer seu verdadeiro papel. E, durante todo o tempo em que estivemos na Executiva do PMDB, ele foi o grande Partido da vida deste País. Foi o PMDB que teve a coragem de se reunir em uma assembléia no Rio Grande do Sul, de lançar uma bandeira constituinte - Diretas Já, fim da tortura e anistia - e de dizer: “Não aceitamos guerrilha, não aceitamos voto em branco, não aceitamos extinção de partido!”. Lançamos nossa bandeira, fomos para a rua, o povo foi atrás, e ganhamos a eleição! Mas aí Tancredo morreu, e Dr. Ulysses ficou brigando com Sarney, e não tivemos a coragem nem de ir para Oposição, nem de ficar no Governo Sarney, e pagamos o preço.

            Agora, estamos lutando, Senador. Há quatro anos, eu era candidato à Presidência da República e percorri o Brasil inteiro. Por onde eu andava, tinha o apoio de todo o mundo. Quando chegou a hora, suspenderam a prévia, não deixaram sair a prévia, terminaram com a prévia, e, na hora da convenção, não havia uma chapa partidária. A chapa era Serra e a Vice-Presidência do PMDB. E o candidato do Partido? Disseram: “Se essa não passar, colocamos o candidato do Partido”.

            Então, vimos lutando, mas não é fácil. Há quatro anos, eu era candidato a Líder da Bancada. Eu me apresentei a Líder da Bancada. O Sarney seria Presidente, e o Pedro Simon, Líder da Bancada. E eu tinha a maioria da Bancada e tinha condições de ganhar. Aí, lá na Paraíba, o Dr. Sarney fez entendimento com o Renan, que era o outro candidato a Presidente, e fez um apelo para que eu abrisse mão da candidatura à Liderança: Sarney seria o Presidente, Renan seria Líder, e eu ficaria para daí a dois anos. Dois anos depois, quem entrou no lugar foi o Suassuna; nunca mais se falou no Pedro Simon.

            Não é fácil, Senadora! V. Exª saiu do PT por causa disso, porque sabe que não é fácil. A luta contra os que mandam, contra os que comandam o País, não é fácil. Olha, temos uma grande coisa: eu era do MDB do Rio Grande do Sul, e o velho MDB do Rio Grande do Sul é o mesmo de sempre. Lá, estamos com a mesma idéia, com o mesmo ideal, com a mesma bandeira e com a mesma garra. Estamos ali preparados. Até se tiverem de vir a cavalo, os gaúchos do PMDB virão a Brasília no dia da prévia. Lá, estamos preparados, pois mantivemos a unidade, o entendimento e o respeito entre nós.

            É muito difícil esse tipo de luta, quando se diz a um Senador que ele vai receber emenda. A emenda é que dará o mandato para ele, uma emenda de tantos milhões. “Fica conosco que vai ganhar a obra tal.” “Não, mas nós vamos nomear o Fulano de tal e o Beltrano de tal.” Isso que o PT está fazendo é muito triste, muito triste. Lamentavelmente, esse troca-troca é uma realidade, uma triste realidade.

            Até acho muito estranho que, apesar de tudo isso, a oito dias da prévia... As bases do PMDB querem a prévia. À revelia do Presidente do PMDB, que também quer a prévia, a cúpula do Sr. Renan, do Sr. Sarney e do Sr. Suassuna quer manobrar no sentido de evitá-la. Querem fazer com que Ministro saia e vá para a Executiva, querem forjar uma reunião da Executiva a quatro dias da prévia, para anulá-la.

            Estamos fazendo o máximo, meu querido Senador Cristovam Buarque. O Garotinho, de um lado, e o Rigotto, do outro, percorrem o Brasil inteiro, em uma campanha magnífica, de respeito e de recíproco conhecimento, em uma campanha de grandeza com relação ao Governo. Ninguém está pregando a luta armada, nem a guerra. Há respeito, e os dois dizem que, se ganhar o Garotinho, o Rigotto o apóia e que, se ganhar o Rigotto, o Garotinho o apóia. Qual é o problema?

            É triste. Alguns pensam que, como têm força nos seus Estados... Alguns Estados são um pouco pequenos ou muito distantes, e a figura do Senador é tão importante, tão ilustre, tão brilhante, que isso passa desapercebido, e o que ele fala lá é cumprido. Mas o tempo volta, e a história termina por ser esclarecida - cada detalhe e cada fato. Cada um terá de assumir a responsabilidade pelo que fizer aqui. Cada um terá de assumir a responsabilidade pelo que fizer aqui.

            Eu, velho cabo de guerra, que ainda tenho boca para falar, mantenho a mesma linha ao longo de toda essa vida. Eu podia ser Ministro do Fernando Henrique e não o aceitei. Eu podia ser Líder do Fernando Henrique e não o aceitei, com respeito, porque disse, quando ele fez aliança com o PFL, que eu não ia me entender, que eu ia causar problema. Então, era melhor eu não aceitar, para não causar problema. Mas, hoje, tenho autoridade para dizer que estou na mesma linha. O velho MDB está sendo convocado.

            Terminei de fazer uma cirurgia da coluna, e Deus foi bom demais comigo. Todo o mundo achava que as conseqüências seriam imprevisíveis; não sabiam se eu ia continuar caminhando. Parece que Deus me pegou ali, e estou aqui, caminhando e falando. Não quero nada e não busco absolutamente nada a esta altura da minha vida, apenas a obrigação que tenho com o meu País.

            Joguei muito para que Fernando Henrique desse certo. Joguei muito para que Lula desse certo. Estamos vivendo a hora mais difícil da história brasileira, e quem fala é alguém que viveu todos esses momentos.

            Eu era um guri, era Presidente da UNE quando fui à presença de Juscelino, Presidente da República.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, só gostaria de lembrá-lo que V. Exª está há 50 minutos na tribuna. Eu e o País reconheçamos que são os 50 minutos mais importantes da história deste Parlamento e da história mais verdadeira, que essa é uma contribuição para a democracia. Mas, pacientemente, aguardam alguns Senadores inscritos.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Encerro já, Sr. Presidente.

            Creio que a história escreveu que esta seria a vez de o PMDB dizer “presente”, e não podemos fugir à nossa responsabilidade. Não podemos fugir à nossa responsabilidade, que é a de apresentar uma candidatura, a de ter um programa e a de falar a verdade. Isso, por exemplo, é o que tem o Rigotto. Vá ver a vida do Rigotto!

            (Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Nessa campanha, também vai ser muito difícil. Prometer mais do que o Fernando Henrique prometeu, só o Lula. Agora, mais do que o Lula prometeu, ninguém: 15 milhões de empregos, todos os brasileiros com quatro refeições por dia... Ninguém pode prometer mais do que o Lula!

            Então, o problema não é de quem promete, o problema é de credibilidade do candidato. Dá para confiar nessa gente? Será que ele não vai fazer como o Fernando Henrique, que foi eleito pela social-democracia e governou com o PFL? Será que ele não vai fazer como o Lula, que foi eleito pela esquerda e governou pela centro-direita? É importante que o candidato tenha credibilidade.

            Isso o Rigotto tem, isso eu garanto que ele tem. Ele não é um homem de arroubos, não é um homem radical, mas é um homem que, ao longo de sua vida, vem seguindo um princípio. É isso o que nós estamos querendo, Sr. Presidente.

            Ao falar aqui, lembro a história do PMDB e sei que comigo estariam falando Teotônio, Ulysses, Arraes, Covas, Tancredo, os homens que fizeram a história da democracia e da oposição brasileira. Eles não aceitariam a posição de três pessoas, que eu respeito, mas que não têm vínculos com o PMDB: nosso querido Renan foi do PCdoB, foi do Collor, hoje é do PMDB e não sei o que será amanhã; Dr. Sarney, que até hoje não disse o que é; e o Dr. Suassuna, que é um novato que está aí. Eles não podem enfrentar a história, a vida de um partido como o PMDB na hora trágica em que vive o Brasil.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/03/2006 - Página 7559