Discurso durante a 14ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apoio ao pronunciamento do Senador Cristovam Buarque. Paralisia administrativa do Governo Lula.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Apoio ao pronunciamento do Senador Cristovam Buarque. Paralisia administrativa do Governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 11/03/2006 - Página 7582
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • AVALIAÇÃO, CONTRADIÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, FRUSTRAÇÃO, ELEITOR.
  • CRITICA, GOVERNO, OMISSÃO, IMPLEMENTAÇÃO, PROGRAMA, PARCERIA, SETOR PUBLICO, SETOR PRIVADO, ESPECIFICAÇÃO, AUSENCIA, CONSTRUÇÃO, FERROVIA, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), INEFICACIA, OPERAÇÃO, EMERGENCIA, RODOVIA.
  • REPUDIO, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Cristovam Buarque de Holanda... Sem Holanda.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Sou de Olinda.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - De Olinda. V. Exª, como sempre, brinda-nos com discursos profundos, concatenados e oportunos. Quando falei da anestesia que vivemos hoje, esqueci-me de um fato: a amnésia. Só que uma amnésia seletiva.

V. Exª falava há pouco sobre os lucros de grandes empresas. E vejo desfilarem na tribuna desta Casa alguns oradores pertencentes ao ex-Partido de V. Exª condenando a privatização promovida no Governo Fernando Henrique e, no dia seguinte, elogiando o lucro obtido por essas empresas que foram privatizadas por aquele governo. Haja vista o caso da Vale do Rio Doce, que era uma empresa decadente e problemática. Hoje, no entanto, o Governo que condenou a sua privatização comemora os resultados. E faz isso com todas. A amnésia também toma conta.

V. Exª foi muito preciso quando falou na questão do Bolsa-Família. E a precisão é cirúrgica quando mostra que, em vez de ser um programa que proporcione a perspectiva da liberdade, tem o vício de tornar o beneficiado um dependente. É lamentável, meu caro conterrâneo, Senador Mão Santa.

Senador Cristovam Buarque, será que a Nação brasileira teria votado com tranqüilidade no candidato a Presidente, Lula, que encantou o Brasil na disputa do medo contra a esperança se ele, em campanha, tivesse anunciado que a política econômica brasileira seria a mesma do governo o qual combatia, e que iria buscar, por ironia do destino, em Henrique Meirelles, um tucano, exatamente um dos condutores dessa política no Banco Central, fazendo com que Goiás perdesse seu Deputado mais votado da história, frustrando aqueles 180 mil eleitores que, de maneira espontânea e despretensiosa, votaram nesse homem? Será que a Igreja teria ido para as ruas, juntando-se à estrela em ascensão para pregar o rompimento não só com o FMI, mas também com a Alca, se, na fase de transição entre a eleição e a posse, já soubesse que o PT iria mandar representantes para o Equador para garantir ao governo americano que tudo iria ficar como estava e que o calendário defendido pelo governo americano seria cumprido, diferentemente das restrições colocadas então pela política do governo que saía?

V. Exª foi muito feliz nesse pronunciamento. Às vezes, é lamentável o tempo limitado que o Regimento permite para o uso da palavra de Senadores, ou de Parlamentares. Tenho certeza de que V. Exª, que fez um discurso de improviso, se tivesse a segurança de que mais tempo teria, aprofundar-se-ia muito mais nessa questão.

Fiquem certos, caro Senador Paulo Paim, cara Senadora Lúcia Vânia, de que o problema do País é a anestesia e a amnésia. E o pior da amnésia é quando ela é seletiva.

Caro Senador Cristovam Buarque, o Presidente foi recebido com pompa e circunstância pela Rainha Elizabeth - justo, merecido, o Brasil merece este tratamento -, mas era a grande oportunidade de o Chefe de Estado brasileiro defender, por exemplo, as PPPs, que tomaram conta do noticiário no primeiro ano de Sua Excelência, quando se prometeu que o desenvolvimento do País seria impulsionado não por meio de uma matriz antiquada, onerando os cofres da Nação, mas por intermédio de um modelo moderno e que teve como um dos patamares de sucesso exatamente a Inglaterra.

Esperava-se que, nesses encontros, o tema do debate fosse exatamente as PPPs que o Governo prometeu como a salvação e o caminho para o País, e apontou prioridades para as estradas brasileiras. Mas mostra, num cinismo ímpar, que nem sequer acredita no que propõe, Senador Paulo Paim, pois ao mesmo tempo em que o Presidente anuncia parcerias, gasta fortunas nas estradas para a Operação Tapa-Buracos, de recuperação, seja lá o que for, das estradas que fazem parte dos sonhos palacianos. Será descrença ou será uma manobra para entregar aos vencedores das concorrências, no futuro, as estradas em bom estado e aumentar os seus lucros?

No Piauí, eu e o Senador Mão Santa, que preside a Casa, juntamente com o Senador Alberto Silva, pensávamos, Senador Cristovam Buarque, que finalmente uma obra estruturante chegasse às nossas terras, e exatamente por meio das PPPs: a Ferrovia Transnordestina, fundamental para o desenvolvimento do nosso Estado, que saiu de uma condição de produtor de 40 toneladas de soja, há dez ou quinze anos, para mais de um milhão de toneladas este ano, e que sofre exatamente dessa problemática de escoamento motivada pela falta de rodovias. O Governo anuncia uma estrada que partiria de Eliseu Martins e se interligaria a ramais já existentes, um partindo do Ceará e outro de Pernambuco, para possibilitar o escoamento das produções pernambucana, cearense, piauiense e maranhense, numa segunda etapa, por intermédio do porto do Itaqui e do porto de Pecém, e estava aí um programa estrategicamente perfeito.

O Presidente Lula, aquele nordestino de Garanhuns, que saiu, inspirado no que dizia Luiz Gonzaga, do seu sertão no último pau-de-arara, de cuja mala o cadeado era o nó, tinha a oportunidade de resgatar ou de se reencontrar com aquele Nordeste e de deixar uma marca de gratidão com aquela região sofrida e que tanto o apoiou ao longo da vida. Agora, não sabe...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes, vou pedir permissão a V. Exª para interrompê-lo, porque regimentalmente o tempo acabou, então prorrogaremos a sessão por meia hora para o País continuar ouvindo V. Exª, a Senadora Lúcia Vânia e o Senador Paulo Paim, último orador inscrito.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Agora se sabe, Senador Cristovam Buarque, que o Presidente já definiu que a prioridade da ferrovia é a interligação de Salgueiro a Petrolina e de Petrolina ao Porto de Pecém, o que, na realidade, já está praticamente feito, faltando apenas a construção de pequenos trechos. A parte importante, a parte principal, não foi feita; ficará no papel, porque se confia na amnésia do brasileiro.

Senador Cristovam Buarque, o Senador Mão Santa é de uma cidade extraordinária do Piauí. O Presidente da República foi lá e reconheceu o aeroporto inaugurado na época do Presidente Médici. O Governador, que não erra, que é muito fiel ao Governo Federal nos erros, nas omissões e na insensibilidade, agora está anunciando que vai asfaltar Parnaíba. É uma praxe, Senador Mão Santa: esquecem essa cidade, a segunda do Piauí, e, quando a eleição se aproxima, prometem asfalto! E aí se dá um banho, como se Parnaíba fosse anestesiada com pouca coisa. As obras estruturantes, necessárias no litoral, como o porto, a recuperação da ferrovia, ligando Teresina, Parnaíba, Luís Correia, não são discutidas. Por que Sua Excelência não levou para lá um programa arrojado para continuar o projeto já existente dos tabuleiros litorâneos?

Senador Mão Santa, o Presidente chegou a Parnaíba no dia 22 e, três dias antes, a única companhia de aviação que fazia linha de Parnaíba a Teresina e a Fortaleza teve o seu vôo cancelado, porque o Governo do Estado não cumpriu uma parceria firmada. E V. Exª, que teve toda uma vida voltada para a sua terra natal, talvez esteja vivendo o primeiro momento em que Parnaíba não seja interligada ao Brasil por linhas aéreas comerciais.

É anestesia, Senador Cristovam Buarque, quando ninguém mais se espanta, quando se vê escândalo de malversação de recursos um após outro. E quando se vê, Senadora Lúcia Vânia, nas CPIs, ora em sessão aberta, ora em sessão secreta, depoimentos de pessoas confessando ou acusando os deslizes do atual Governo ou de integrantes do Governo.

E aí, Senador Cristovam Buarque, veio o meu estarrecimento: como esse pessoal conseguiu, em tão pouco tempo, juntar o seu grupo, formado por pessoas tão perigosas, tão nefastas para o País?

Hoje, em alguns casos, procuram desqualificar o depoente, confiando na amnésia seletiva do brasileiro. Esquecem que esses que desqualificam hoje foram seus companheiros de arrecadação no submundo do empresariado brasileiro. Uns contribuíram de maneira espontânea; outros, foram até vítima de chantagem.

Senador Cristovam Buarque, parabenizo V. Exª pela lucidez do pronunciamento. Mas não podemos nem devemos colaborar para a amnésia, tampouco para que esse povo fique anestesiado. A amnésia que querem impor a nós, por exemplo, simbolicamente, é o esquecimento da cueca suja do Ceará. Não há nada mais simbólico, e tem de ser iniciativa do próprio Partido dos Trabalhadores explicar o caso. A cueca tem de ser lavada - e eu sempre ouvi dizer que são questões que devem ser lavadas em casa e não na rua -, porque, se não for lavada no tempo certo em casa, ganhará as ruas do Brasil, pois o brasileiro não engoliu até hoje essa mal explicada história, Senador Paulo Paim.

Tanto é verdade o que digo, Senador Cristovam, que no Brasil inteiro, no último carnaval, foram feitas marchinhas falando sobre esse famigerado, triste e inacabado episódio. No Piauí, era o Bloco do Eureca: “Eureca que saudava a cueca”, V. Exª sabe. Em Santa Catarina, houve episódios; no Brasil inteiro.

Portanto, quem tem de explicar isso não é o rapaz que foi preso e é um laranja. Quem tem de explicar isso são os responsáveis, quem tem de explicar isso é a direção nacional do Partido dos Trabalhadores.

Se nada fosse verdade, por que um homem da envergadura e da responsabilidade do Genoíno teve de renunciar à Presidência do Partido? Nós não podemos colaborar, Senador Cristovam Buarque, para essa amnésia nem também para essa anestesia.

Senador Mão Santa, V. Exª, como médico, arranje o antídoto e vamos correr por esse Brasil afora dizendo que não aceitamos nem esquecimento nem anestesia.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/03/2006 - Página 7582