Pronunciamento de Alvaro Dias em 15/03/2006
Discurso durante a 17ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
A dívida pública do governo e o Banco Mundial.
- Autor
- Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
- Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
- A dívida pública do governo e o Banco Mundial.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/03/2006 - Página 8266
- Assunto
- Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
- Indexação
-
- REGISTRO, DADOS, VALOR, DIVIDA PUBLICA, CRESCIMENTO, DIVIDA INTERNA, MOTIVO, EMISSÃO, TITULO, EFEITO, SUPERIORIDADE, TAXAS, JUROS, ANTECIPAÇÃO, CANCELAMENTO, DEBITOS, DIVIDA EXTERNA, QUESTIONAMENTO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, PREJUIZO, CLASSE PRODUTORA.
- COMENTARIO, RELATORIO, BANCO MUNDIAL, CONCLUSÃO, DESIGUALDADE SOCIAL, BRASIL, NECESSIDADE, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, IGUALDADE, OPORTUNIDADE, INCLUSÃO, POPULAÇÃO.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de registrar dessa tribuna que a dívida pública do governo em títulos ultrapassou R$1 trilhão de reais pela primeira vez. É mister destacar que os débitos tiveram um crescimento de 2,6% no mês passado em relação a janeiro, devido principalmente à emissão líquida de R$14,8 bilhões em novos títulos e do efeito dos juros sobre o estoque da dívida. Com isso, o total de títulos do governo negociados dentro do Brasil chegou a R$1,01 trilhão, segundo nota conjunta do Tesouro Nacional e do Banco Central.
Nesse contexto, considero preponderante salientar que o crescimento da dívida interna está diretamente atrelado aos juros pagos pelo governo, bem como à estratégia adotada pelo Tesouro de cancelar antecipadamente débitos no exterior. É lamentável que, no âmbito do Parlamento, não esteja sendo promovido um debate qualificado em torno dos rumos adotados pela equipe econômica do atual governo.
As estratégias e opções adotadas pela equipe do ministro da Fazenda Antonio Palocci são questionáveis e deveriam ser revistas, considerando o ônus imposto ao setor produtivo e à toda a sociedade brasileira.
Para dar seqüência à atual política econômica, o governo vem rotineiramente emitindo papéis no mercado interno para ter o dinheiro necessário para a compra dos dólares que serão usados no pagamento da dívida externa.
Nos últimos meses, as principais ações para reduzir a dívida externa incluíram o pagamento de todos os débitos com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e com o Clube de Paris. Juntos, esses pagamentos superaram US$ 18 bilhões. As condições acordadas nessa operação de quitação e a verdadeira motivação merecem um exame exaustivo, considerando que o governo utilizou de forma apoteótica o anúncio de que estaria se desvinculando do FMI.
Ademais, até o dia 15 de abril próximo, o governo planeja recomprar US$6,6 bilhões em bradies - papéis da dívida externa renegociada após a moratória da década de 80.
Os referidos desembolsos antecipados nos levam a fazer ponderações sobre a destinação e a prioridade que a equipe econômica vem conferindo a essas recentes operações e nos remetem a outra realidade traduzida e expressa nos dados contidos no mencionado Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2006:
Como destaca o presidente do Banco Mundial, Paul D. Wolfowitz, “...enquanto menos de 0,5% das crianças nascidas na Suécia morre antes de completar um ano de vida, quase 15% de todas as crianças nascidas em Moçambique não alcançam esse marco. Em El Salvador, a taxa de mortalidade infantil é de 2% entre as crianças nascidas de mães que receberam instrução, mas sobe para 10% entre aquelas cujas mães não têm nenhuma escolaridade. Em Eritréia, a cobertura de imunização abrange quase 100% das crianças que pertencem aos 20% mais ricos da população e somente 50% das crianças que pertencem aos 20% mais pobres. Essas crianças não podem ser responsabilizadas pelas condições em que nasceram, mas sua vida - e sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento do respectivo país - são fortemente determinadas por essas condições”.
O Brasil se posiciona entre os 10 países com maiores índices de desigualdade social, tanto é que o país é citado várias vezes no Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2006. O presidente Lula conseguiu a adesão de mais de 50 milhões de brasileiros, prometendo romper o círculo da miséria e dando aos menos favorecidos uma nova perspectiva de vida.
Durante esta semana o economista-chefe do Banco Mundial, em visita ao Brasil, alertou que “é urgente criar condições para acelerar o crescimento no Brasil".
O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2006, o vigésimo oitavo dessa série anual, enfatiza o papel da eqüidade no processo de desenvolvimento. A eqüidade é definida em termos de dois princípios básicos. O primeiro é o princípio de oportunidades iguais: as conquistas na vida de uma pessoa devem ser determinadas principalmente por seus talentos e esforços, e não por circunstâncias pré-determinadas como etnia, gênero, história social ou familiar ou ainda país de nascimento. O segundo princípio é a prevenção de privação de resultados, especialmente em saúde, educação e níveis de consumo. Para muitas, se não a maioria das pessoas, a eqüidade é intrinsecamente importante como meta de desenvolvimento por próprio direito. Mas este relatório vai mais além e apresenta provas de que um amplo compartilhamento de oportunidades econômicas e políticas também é importante para o crescimento econômico e o desenvolvimento.
A ampliação de oportunidades apóia fortemente o primeiro pilar da estratégia de desenvolvimento do Banco Mundial, ou seja, a melhoria do clima de investimento para todos.
A interdependência das dimensões políticas e econômicas do desenvolvimento também reforça a importância do segundo pilar estratégico: o empoderamento. Este relatório demonstra que os dois pilares não são independentes no apoio ao desenvolvimento mas, ao contrário, um reforça o outro.
Por fim, gostaria de registrar que o debate sobre as questões cruciais do País e os subsídios eventualmente oferecidos por organismos multilaterais financeiros e de tantas outras instâncias de fomento e pesquisa não podem ser desperdiçados e merecem ser amplificados dessa tribuna do Senado da República.
Era o que eu tinha a dizer.
Muito obrigado.
Modelo1 12/2/243:43