Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Crítica ao PT pelo mandado de segurança impetrado junto ao Supremo Tribunal Federal, para suspensão do depoimento do caseiro Francenildo Santos Costa na CPI dos Bingos.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Crítica ao PT pelo mandado de segurança impetrado junto ao Supremo Tribunal Federal, para suspensão do depoimento do caseiro Francenildo Santos Costa na CPI dos Bingos.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2006 - Página 8582
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • CRITICA, AUTORITARISMO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REQUERIMENTO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), LIMINAR, SUSPENSÃO, DEPOIMENTO, EMPREGADO DOMESTICO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, DESRESPEITO, DEMOCRACIA, BRASIL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Atendido.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao longo de sua história, esta Casa tem sido a casa da ressonância dos fatos políticos no País. Alegres, tristes, marcantes ou não, o Congresso Nacional tem sido, ao longo do tempo, cenário de momentos que são, alguns, motivo de orgulho para os brasileiros e marcantes em nossa história e, outros, vergonhosos.

Entre os mais recentes, com os quais a nossa geração conviveu - alguns os testemunharam já no exercício de mandato parlamentar -, está o episódio do fechamento desta Casa ao qual está associado o famoso discurso de Márcio Moreira Alves. Depois, nós tivemos um episódio chamado Pacote de Abril: o Governo, com o amparo das baionetas, diante de iminente derrota nas praças públicas, editou um ato suspendendo as atividades do Congresso por algum tempo. Ao reabri-lo, trouxe uma Constituição deformada por meio da qual, aliás, implantou-se a figura do senador biônico.

Naquele tempo, atendendo ordens do Presidente, o mensageiro da falência e do fechamento do Congresso foi um militar fardado. Veio até aqui entregar ao chefe das duas Casas a ordem que deveria ser cumprida: esta Casa foi fechada. Foi reaberta quando o comandante de plantão assim determinou, com a cicatriz do senador biônico.

Instalou-se naquele momento, Senadora Heloísa Helena, uma revolta que ficou latente no povo brasileiro. Nas eleições seguintes, essa revolta se manifestou e teve início um processo de redemocratização irreversível neste País.

O Pacote de Abril serviu, durante muitos anos, como peça de oratória do Partido dos Trabalhadores nas praças públicas, que se dizia envergonhado por aqueles atos e combatia a ditadura. A indignação era tanta, que o Partido dos Trabalhadores sequer compareceu ao Colégio Eleitoral - entendia que o voto indireto não era o melhor caminho para o restabelecimento democrático. Tancredo tornou-se Presidente sem depender dos votos do Partido dos Trabalhadores.

Senador Antero, a história se repete com outras colorações e com outros matizes: hoje tivemos aqui, infelizmente, o fechamento moral do Congresso. Através de um membro da Mesa, o Supremo acolheu pedido de cerceamento da liberdade de ação desta Casa do povo. O que se fez hoje foi um atentado contra a democracia e vem mostrar o real sentimento do partido que governa, que é fruto do autoritarismo.

Quero chamar a atenção dos intelectuais brasileiros: esse movimento muito se assemelha àquele do cerceamento da liberdade da arte neste País, à tentativa de cerceamento da liberdade de expressão dos jornalistas brasileiros -atos emanados da cozinha diabólica do Palácio do Planalto.

O que se fez hoje? Em ação rápida, cirurgicamente perfeita, deu-se entrada a uma liminar no Supremo Tribunal. Poucas horas depois, essa liminar é concedida parcialmente e é sacado da tribuna um caseiro que teve o pecado apenas da má convivência, de ser testemunha daquilo que era negado. E aí o Governo comete o maior dos seus erros. Deveria ir à CPI, com a convicção da inocência de seu Ministro, e manter a afirmativa de que ele nunca esteve naquela casa.

A tendência natural é dar-se mais crédito à palavra de um ministro que tem serviços prestados à economia brasileira do que à de um caseiro desconhecido. De repente, esse homem - coincidentemente, Senador Mão Santa, é nosso conterrâneo - sai do anonimato para a possibilidade das primeiras páginas nos jornais do Brasil. O seu silêncio, imposto pelo Governo, foi mais forte e mais cruel do que a sua fala. O semblante seguro da sua inocência calou mais forte e deixou mais desapontados os que defendem ou defendiam até então as virtudes do atual Governo.

Será que a Nação brasileira já parou para pensar sobre o ciclo de promiscuidade com o qual convive? Por que estamos discutindo, Sr. Presidente, a questão do bingo neste País? Porque o Governo mandou para cá, estabelecendo o jogo, um projeto feito não por Senadores ou Parlamentares do baixo clero, mas por Parlamentares da elite do PT. Um dos homens de confiança do Governo foi pego numa ante-sala negociando percentuais de lucros na jogatina brasileira, e o Partido começou a reviver jogos que tinham sido fechados pela Justiça ou por outros mecanismos. O jogo passou a ser a menina cobiçada do Governo no seu início - parou porque aconteceu o episódio Waldomiro.

O que se vê, Sr. Presidente, e o que entristece a todos? No passado, quem trouxe a notícia do Pacote de Abril foi um militar. Hoje, quem viabilizou esse ato foi um companheiro nosso por quem temos o maior respeito, por quem temos a maior admiração e que, sabemos de antemão, foi instrumento, foi usado. Por que não foram os Líderes formais do Partido dos Trabalhadores que deram o encaminhamento? Nós sabemos que Tião Viana não é jurista. Nós sabemos que aquela peça não é de sua lavra. Aliás, eu disse aqui diversas vezes e sempre comparei, Senador Paulo Paim, o Senador Tião Viana ao Lima, aquele velho jogador do Santos - o Santos do Pelé e do Carlos Alberto -, que jogava em todas as posições. Ele era deslocado quando das contusões; o Lima era sempre chamado a salvar o time nas horas de necessidade.

Com o Tião Viana fizeram a mesma coisa. Ao longo desses anos, vemos que o Partido, nas tarefas difíceis que encontra, chama o Lima, chama o Tião. E o Tião vem desempenhando essas tarefas.

Na semana passada, fazendo uma referência a isso, eu disse ao companheiro: “ainda bem que o serviço sujo V. Exª não aceita e não faz”. Infelizmente, hoje, cabisbaixo, vejo que o meu querido Lima se prestou a isso. Jamais, como membro da Mesa do Senado, poderia trabalhar contra a Casa. Era a pessoa menos indicada para pedir o cerceamento do funcionamento do Congresso Nacional, porque esse é apenas um primeiro passo, Sr. Presidente.

Eu gostaria, em respeito à opinião pública e à Nação brasileira, ler mais uma vez - não sei se já foi lido, mas é bom que se repita - o que o PT argumenta nessa petição ao Supremo. É preciso que os milhões de brasileiros que acreditaram e foram à praça pública na esperança de um outro Brasil, da transparência, da clareza, escutem e vejam, Senador Mão Santa, o que o PT pediu ao Supremo Tribunal Federal: que não permitisse que se falasse na CPI aqui instalada. Vale a pena, mais uma vez, repetir para os que estão em casa ou para os que a nós vão assistir mais tarde.

É proibido, segundo o pedido do PT, falar sobre o assassinato de prefeitos. Brasileiros, como podemos colocar debaixo do tapete assassinatos misteriosos e sem nenhum esclarecimento como os dos Prefeitos de Campinas e de Santo André, que cada dia que passa mais comprometem o PT e o seu modo de agir?

Segundo, a existência de empréstimos entre integrantes de partidos políticos (mais especificamente do PT); a existência de caixa dois partidário (no PT); as denúncias de que em meados de 90 haveria esquema de arrecadação de fundos junto a fornecedoras de prefeituras (do PT); as denúncias de superfaturamento na Prefeitura de Ribeirão Preto (na gestão do PT); a vinda de pecúnia - Srs. telespectadores e ouvintes, é dinheiro - pretensamente cubana para a campanha eleitoral (do PT); a vida íntima de agentes públicos e políticos que integram as hostes do PT.

Até que concordo com determinada opinião: sim, seria a preservação da intimidade, da privacidade, porque o homem público tem direito a essas opções e não nos é dado o direito de vasculhar sua intimidade. Afora esse item, todos são inerentes da atividade do homem público. Então, o PT em uma linha só podia dirigir-se ao Ministro e dizer: “Não permita, no Brasil, que se apure a promiscuidade na qual nós nos envolvemos, na qual estamos atolados e da qual não sabemos sair”.

Sr. Presidente, hoje é um dia negro para esta Casa, mas é um dia com direito à volta. Dia negro irreversível, sem direito à recuperação desse Partido, pela desfaçatez, pela falta de transparência. Qual é o direito que tem um partido político de pedir a tribunais que não apure mortes de prefeitos, desrespeitando a dor dos familiares? Alguns, Senador Wellington Salgado, tiveram inclusive de deixar o País porque não têm segurança nem tranqüilidade de aqui viver.

Qual é o partido que tem o direito de pedir que não se apure a suposta remessa de dinheiro cubano para usos que a nossa Constituição condena e pune? Querem apurar o quê?

Aliás, o PT, que foi tão pródigo em devassar vidas quando era Oposição; o PT que heroicamente proporcionou ao País, Senador Paulo Paim, a oportunidade de que viesse à CPI, trazido pelas mãos de Eduardo Suplicy, o motorista Eriberto, abrindo aí, de maneira concreta, o caminho da deposição do Collor, é esse PT que hoje cerceia o brasileiro de acompanhar esquemas semelhantes. E aí, Senadora Heloísa Helena, sou obrigado, por dever de justiça, a reconhecer uma coisa do ex-presidente Collor: passou por esse processo, mas não usou desse subterfúgio. Assistiu e acatou, democraticamente, a decisão da Casa do povo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta Casa, a partir de hoje, tem que estar atenta e vigilante para que fatos dessa natureza não se repitam. Não podemos, meu caro Senador Wellington Salgado, deixar debaixo do tapete fatos que a Nação quer saber, de propinodutos a cuecas sujas que precisam ser lavadas.

Esse fato, Senadora Heloísa Helena, está, como diria o Senador Mão Santa, igual a Ulysses Guimarães, “encantado no fundo do mar”. Ninguém fala. Não sei se há um silêncio negociado...

(Interrupção do som.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - (...) ou se não dão importância ao fato. Sei que é preciso que o Brasil apure; é preciso que o Brasil saiba desses fatos até para que tenha a consciência tranqüila de tomar decisões futuras. Não importa que o Presidente da República continue dizendo que são fatos banais ou que nada sabia, porque não temos que prestar conta ao que diz o Presidente da República, mas ao que pede a Nação, porque esta Casa é a sua ressonância, e não podemos nos calar diante de fatos que nos comprometem e nos humilham.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2006 - Página 8582