Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações a respeito do depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPMI dos Correios, ocorrido ontem.

Autor
Wellington Salgado (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
Nome completo: Wellington Salgado de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Considerações a respeito do depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPMI dos Correios, ocorrido ontem.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2006 - Página 8588
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • COMENTARIO, DEPOIMENTO, PUBLICITARIO, RESPONSAVEL, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), QUESTIONAMENTO, LIMINAR, HABEAS CORPUS, DESRESPEITO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
  • COMENTARIO, DEPOIMENTO, EMPREGADO DOMESTICO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, INSUFICIENCIA, COMPROVAÇÃO, VINCULAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, quando fui eleito Senador por Minas Gerais, minha prioridade passou a ser a defesa do meu Estado. Essa é a função de um Senador. O Senador é eleito para defender o Estado ao qual pertence. São três Senadores por Estado. E os Deputados Federais, na Câmara, representam o povo.

Eu, que não passei por toda a trajetória política de Vereador, de Deputado, de Prefeito, de Governador, cheguei a esta Casa, onde se encontram homens que fazem a história política deste País.

Todas as vezes que venho à tribuna, sinto um frio na barriga, o que é sinal de que ainda tenho uma paixão imensa e um respeito muito grande pelo Senado. Quem não teve uma paixão por alguém e sentiu aquele frio na barriga ao vê-lo? Então, sinto isso aqui hoje, Senador Mão Santa. E vejam bem o momento que estamos vivendo.

Ontem, tive a oportunidade de participar da reunião da CPMI dos Correios, quando prestou depoimento o Sr. Duda Mendonça. Estava ali um cidadão, um grande publicitário, um homem de sucesso, um homem realizado na profissão. E qual foi seu único pecado, tirando a questão tributária pela qual será responsabilizado pela Receita Federal ou pela Justiça? Ele cumpriu sua função de fazer uma campanha, de fazer seu trabalho, e conseguiu fazê-lo bem feito. Se elegeu ou não elegeu um Presidente, não importa; ele foi contratado para fazer um trabalho, que fez, como fez muitas outras campanhas.

Seu advogado, que estava a seu lado, orientava-o a não falar, e criou-se um clima constrangedor, terrível, como se fosse um desrespeito àquela Comissão Parlamentar, como se a liminar dada, o habeas corpus concedido, fosse um desrespeito também àquela Comissão. Naquele momento, procurei quebrar um pouco o gelo, porque o Duda não falava nada. Conversei com ele, falamos sobre outros assuntos.

Quando cheguei a casa, Senador Heráclito Fortes, não conseguia dormir direito. Aquela cena voltava à minha cabeça a todo momento. Talvez, por eu não ter toda essa experiência política, talvez por não saber ler bem o que estava acontecendo, eu me perguntava: por que eu não disse, naquele momento, ao Duda - e assim o chamo, porque todos o chamam assim - que ele tinha feito simplesmente o seu trabalho? Por que eu não disse que, independentemente se ele trabalhou para o Presidente Lula ou para outros, ele fez apenas o seu trabalho e foi remunerado por isso? Se não recolheu tributo, vai ter de recolhê-lo, vai ser julgado, vai ser responsabilizado.

            Acordei hoje, e isso não saia da minha cabeça. Tomei um café, rodei na cama. Eu não me sentia bem. Faltou alguma coisa, talvez alguma coisa que procuro toda vez que venho ao Senado...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Realmente, quando falamos, o tempo passa rápido, Senador Heráclito Fortes.

Talvez, o que eu procure nos discursos dos Senadores Heráclito Fortes, Mão Santa, ACM, Tasso Jereissati, Paulo Paim, não consegui encontrar ainda.

Hoje, fui à reunião da CPI dos Bingos, por indicação do meu Partido. Sentei-me e comecei a observar tudo o que estava acontecendo, já com meu coração dolorido com o que havia acontecido ontem. Na CPI, já me senti mal ao ver um cidadão simples - como se referiu aqui o Senador José Agripino -, de camisa e de calça, sentar-se lá. Não sei, sinceramente, Senador Heráclito, se combinou alguma coisa, se não combinou; se falaram, se não falaram. Vi um cidadão como nós. Eu também vim de baixo, talvez não tenha sido tão simples como aquele cidadão piauiense. Mas não me senti bem vendo aquele cidadão participando de um jogo, numa estrutura pesada como aquela da CPI. Eu disse até que eu estava sentindo como se estivéssemos no Olimpo, e os deuses, brincando. Foi como eu estava me sentindo. Fiquei olhando e eu estava me sentindo exatamente daquela forma.

Muito bem! Ao mesmo tempo, quando já se liam nos jornais notícias de que ia ser discutido isso, aquilo, tudo o que acontecia na casa, comecei a prestar atenção no depoimento daquele cidadão piauiense, simples. Mas não senti segurança, Senador Heráclito - eu tinha certeza de que V. Exª ia pedir um aparte, ia querer falar -, sinceramente, quando lhe perguntaram: “O senhor viu o Ministro Palocci? Ele entrava num carro com insufilm, chegava...”. E eu, prestando atenção - estou falando do fundo do coração -, pensei: ele vai dar certeza de que viu e vai dizer: “Olha, eu vi”. Mas ele não disse: “Eu vi”. Ele disse: “Falei com ele pelo interfone. Ele entrava, chegava depois, falava...”. Pensei: mas, por que ele não diz: “Eu vi, estive com ele, falei, ele me deu dinheiro: ‘vá comprar cigarro; vá ali fazer isso, um churrasco...’”. Eu não vi, sinceramente.

Não estou aqui para defender o PT. Sou do PMDB.

Eu sabia que V. Exª já ia me pedir um aparte, vou conceder-lhe. Mas quero dizer o seguinte: não quero ter outra noite ruim. Senador Heráclito, Srªs e Srs. Senadores, Sr. Presidente, quero ver as coisas, quero entender, quero saber o que está acontecendo, quero a prova, quero que alguém me diga: “Eu vi, estava ali”. Eu queria que um daqueles quatro que estavam ali, o Buratti - nem sei o nome deles -, dissesse: “Não, estava lá; o Ministro Palocci estava”.

Ao mesmo tempo, o que acontece? Já pregam uma verdade - com todo o respeito aos Senadores desta Casa que fizeram história, aos quais observo muito -, cutucam o Ministro como se fosse manga no pé: “Cai!”, “Não cai!”, “Derruba o próximo!”.

Creio que vivemos um momento difícil este ano, Senador Heráclito. Temos de ter cuidado com tudo o que falamos.

Já vi o Ministro Palocci várias vezes. Não tive nenhum contato pessoal com ele, nunca tive; nunca me sentei com ele para pedir algo no Ministério, para levar uma reivindicação, nada. Tenho o meu Líder e, em qualquer necessidade, converso com ele, o Senador Ney Suassuna. É ele quem me orienta.

Sinto que precisamos analisar os fatos de forma correta, precisamos ter tudo amarrado.

Quando assumi o Senado, recebi o conselho de nunca falar de improviso, de trazer sempre um discurso escrito. Essa foi a primeira lei que me deram no Senado. Morro de inveja do Senador Heráclito, do Senador Pedro Simon e da Senadora Heloísa Helena, que falam com o coração. A Senadora chega ali, pega um papelzinho e fala meia hora, quarenta minutos.

Senador Heráclito, quero mais provas, é uma posição minha. Não quero dormir mal. Também não quero dormir mal por dizer que não acredito naquele cidadão que estava lá. Ele era simples demais para poder ter alguma coisa.

Senador Heráclito, com certeza, aquele cidadão simples vai precisar de alguém para protegê-lo. Não estou falando de crime, de matar, nada disso, mas de proteção na Justiça. Com certeza, vão processá-lo. Quem o levou tem de organizar uma defesa para o cidadão. Creio que disso ele vai ter de se proteger daqui para frente, porque agora começou uma nova história. Talvez, daqui a quinze anos, vamos procurá-lo e querer saber onde ele está e o que aconteceu com ele.

Senador Heráclito e Senador Mão Santa - Senador Mão Santa, não; futuro Ministro do Turismo, se o PSDB ganhar a eleição, Senador Pavan!

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - O Senador Leonel Pavan é democrata e compreensivo. Ele não só vai permitir o aparte como, tenho certeza, vai concordar com ele. Senador Wellington, V. Exª chegou a esta Casa com esse seu jeito simples, bonachão e agradou a todos. O pronunciamento de V. Exª é humilde. V. Exª diz que está aqui por acaso, e isso lembra um pouco o poeta Carlos Pena Filho, que disse que, de repente, “quando nada mais restasse na vida, que se entrasse no acaso e se amasse o transitório”. Estou citando um poeta pernambucano, porque sei das suas relações afetivas com Pernambuco. Mas, acima de tudo, V. Exª é um homem iluminado por não ter tido a oportunidade de abordar, nem de dar conselho...

(Interrupção do som.)

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - O Duda Mendonça veio ontem à CPI não pelos seus acertos, mas pelos seus erros. O Duda Mendonça que foi ontem inquirido foi o mesmo combatido pelo PT quando elegeu o Maluf; o mesmo que foi execrado pelo PT quando elegeu o Pitta, com aquele trenzinho que nunca saiu do papel; e que foi perdoado e consagrado pelo PT. Duda Mendonça, com sua competência, elegeu Lula. Mostrou talvez, quero crer - esta é a minha impressão, Senadora Heloísa Helena -, ao então candidato a Presidente da República, um trabalhador oriundo de Garanhuns, a oportunidade de, pela primeira vez na vida, tomar um vinho de US$5 mil, enquanto a população que o aplaudia passava fome. Mas V. Exª carrega sobre os ombros dois pesos bem maiores do que o meu. V. Exª é Senador por Minas Gerais e, se fechar os olhos, vai ver quantos homens públicos estão ocupando a tribuna que, no momento, é de V. Exª. Um Senador por Minas Gerais, no meu ponto de vista, meu caro Presidente, tinha de ter um lugar de destaque, pelo que Minas Gerais representa na História do Brasil. Segundo ponto: V. Exª é um educador, tem milhares e milhares de alunos pelo Brasil afora. V. Exª jamais poderia aconselhar Duda Mendonça a falar só dos acertos e se calar em relação aos erros, porque V. Exª estaria sendo conivente com a remessa de dinheiro ilegal para fora do País. E foi exatamente para isso que ele veio a esta Casa: para esclarecer o envio de dinheiro para fora. Sabe V. Exª quando isso começou? Na finada CPI do Banestado, quando o PT, ainda virgem e dono de todas as virtudes do mundo, começou a questionar as remessas de dinheiro ilegal de brasileiros para fora do País. Fez vítima o Maluf, mas fez vítima também um diretor do Banco do Brasil, do Banco Central, e fez vítima também o Sr. Duda Mendonça. Aquela pureza do PT, que combatia e esconjurava os que remetiam dinheiro para o exterior, era só falácia. E aí, esse Partido, Senador, foi buscar na sua terra, nas Minas Gerais, o Sr. Marcos Valério, que já era especialista em ajudar partidos por meio de movimentações financeiras. Não tirou dos seus quadros um militante de confiança que tenha vivido toda a história do PT. Ele fez como faz o Real Madrid, que, como não tem jogador que presta, contrata os nossos Ronaldinhos, os nossos Robinhos, enfim, os nossos jogadores. O PT não quis perder tempo. E aí foi o mal. Hoje, quer execrar o Sr. Marcos Valério, mas o Sr. Marcos Valério, conterrâneo de V. Exª, é uma vítima desse processo, é um laranja. Hoje, V. Exª, novamente, foi feliz quando não teve a oportunidade de fazer os questionamentos que, por acaso, passaram por sua cabeça, porque, para que a CPI tivesse tido um final, bastava que o Governo sustentasse a tese, se verdadeira - e acredito que sim - de que o Ministro nunca pôs os pés naquela casa. Mas não, quis desqualificar o depoente e distorcer os fatos, chegando ao cúmulo de recorrer ao vergonhoso expediente de ir ao Supremo Tribunal Federal, emasculando um dos Poderes da República, ao qual pertencemos, que é exatamente o Congresso. V. Exª fez jus ao que diz Eclesiástico: “O homem é dono da palavra guardada e é escravo da palavra anunciada.”. Tenho certeza de que, com seu pronunciamento, seu reconhecimento e sua sinceridade, V. Exª vai sair mais respeitado e mais engrandecido nas Minas Gerais. V. Exª tem direito a tudo isso porque é um homem cheio de virtudes. Convivemos aqui. Não acredito que bom filho como V. Exª é seja má pessoa. Por isso, é protegido pela sorte e não cometeu dois deslizes, que seriam graves para um Senador de Minas e para um professor de tantos alunos no Brasil. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - Senador Wellington, tenho o maior prazer de lhe conceder mais dois minutos, porque é importante o seu pronunciamento, mas V. Exª ultrapassou inclusive o pronunciamento que o Senador Heráclito fez antes.

O seu pronunciamento é brilhante e V. Exª deve dar a explicação para o Senador Heráclito.

O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Senador Heráclito, sabe que tenho uma grande admiração por V. Exª, não só pelo domínio da tribuna, mas pelo conhecimento amplo que tem. Tive a oportunidade de vê-lo várias vezes demonstrando seu saber, assim como o Senador Mão Santa e vários Senadores.

Quero dizer, Senador Heráclito, que, ao chegar ao Senado, não estou procurando decisão do Supremo, não estou procurando decisão de Partido. Estou procurando dormir sossegado. Estou procurando deitar e não ficar a noite inteira rolando na cama ou procurando algum filme na televisão. Acho que esse é o grande segredo da vida: não condenar antes, mesmo que, muitas vezes, as provas estejam bem evidentes. Em política sempre há uma saída, que, de repente, eu não sei, pode ser o contrário da verdade.

Senador Pavan, Presidente desta Casa neste momento, futuro Ministro do Turismo se vencer o PSDB nas próximas eleições, o que acho que não acontecerá, do fundo do coração, vejo o Presidente Lula mais maduro, como um presidente - eu sinto isso, não estou analisando politicamente - que antes estava preocupado com o grupo que estava à sua volta, com poder, e que, hoje, quer autoridade e um momento na História. Por isso eu acho que o Presidente Lula poderá ser muito melhor no próximo mandato do que neste, como também acredito, Senador Pavan - para encerrar de vez, pois faltam 13 segundos -, que, um dia, o nosso Governador Aécio também será um grande Presidente.

Muito obrigado, Senador Pavan, pela paciência e por ter batido esse recorde aqui.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2006 - Página 8588