Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Resposta ao pronunciamento do Senador Wellington Salgado.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Resposta ao pronunciamento do Senador Wellington Salgado.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2006 - Página 8590
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, CIRCUNSTANCIAS, PROVOCAÇÃO, CRISE, GOVERNO FEDERAL, ATUALIDADE, CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, REPUDIO, HIPOTESE, REELEIÇÃO.

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O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Meu caro Senador Wellington Salgado, confesso-lhe que a minha admiração por V. Exª é crescente. A sinceridade das suas palavras me faz não permitir que alguma dúvida fique entre o que eu e V. Exª dissemos.

A diferença que nos separa é que o meu caminho para chegar ao Senado durou 25 anos. Lutei, fiz estágios, aprendi, enlameei os meus sapatos em busca dos caminhos da minha terra. Vi pobreza, vi glória, vi alegria.

V. Exª honra Minas em uma circunstância especial, quando sucede o titular que cumpre brilhante missão no Governo que V. Exª defende. Isso não lhe tira algum mérito. Pelo contrário, engrandece-o, mas V. Exª não pode desrespeitar Minas dizendo que o Presidente Lula amadureceu nesses quatro anos.

Sr. Senador, não podemos tampar o sol com a peneira. Estamos vivendo há dois anos, nesta Casa, em uma crise que teve um começo e não tem fim; numa crise que vai de dólar na cueca a envolvimento de familiares com empresas que concorrem por verbas publicitárias com a Globo e com empresas de televisão. Não podemos dizer que isso é amadurecimento.

Não podemos dizer que é amadurecimento o Presidente da República posar, como o Jornal do Brasil mostra na primeira página, ostentando uma camisa nº 13, desrespeitando a Constituição em prática indevida de propaganda eleitoral fora do tempo. Não podemos dizer que é amadurecimento percorrer o Brasil anunciando obras novas, as quais já foram inauguradas há dois, quatro, cinco e até 30 anos. V. Exª sabe que o Aeroporto de Guararapes, que hoje tem o nome de Gilberto Freire, só por ele foi inaugurada duas vezes. Na minha terra, Piauí, na cidade de Parnaíba, um aeroporto inaugurado pelo Presidente Médici, por intermédio do Ministro Reis Velloso, foi reinaugurado. E ele inovou: inaugurou o mar de Luiz Corrêa, de braços abertos, como se tudo corresse às mil maravilhas. Não podemos dizer que o Presidente amadureceu quando se encanta com o fausto e com a riqueza recebidos na Inglaterra, com a pompa e a circunstância da hospitalidade da Rainha, quando os seus súditos brasileiros passam fome e os seus programas sociais demagógicos não cumprem a sua realidade.

V. Exª tem terras no Piauí. Vá a Guaribas, vá a Floriano saber se o que prega a propaganda instalada pelo Governo, caríssima, é verdade.

Por que Duda Mendonça é herói e é defendido, Presidente? Porque ele consegue fazer da mentira um agente de crescimento da popularidade do Presidente Lula.

Estamos vivendo num País - e aí eu temo - em que, de repente, há momentos de anestesia e outros de amnésia. Nós nos escandalizamos, há 15 anos, com o Fiat Elba do Presidente Collor e não nos estarrecemos com os milhões que familiares do Presidente recebem. Nós nos revoltamos com denúncias infundadas feitas pelo PT contra o Ministro da Saúde e calamos e concordamos com o “Panamá” de corrupção denunciada - está aí a CPI - pelos fundos de pensão no Brasil.

Isso não é amadurecimento. No máximo, é a conivência. Quando falo na anestesia e na amnésia é porque vejo o País assistir o Presidente Lula passear em um jato de 70 milhões, que foi pago antecipadamente, numa modalidade de compra que não existe no mundo para avião, V. Exª sabe melhor do que eu disso, e mais: o avião não ser adequado para atender as condições brasileiras.

Meu caro amigo, o poeta e compositor Billy Blanco diz que “o que dá para rir, dá para chorar”. E nessa campanha eleitoral nós não vamos ter memória seletiva. O PT de ontem que pregava liberdades é o PT de hoje que entra na Justiça para impedir que os Partidos, no horário político, denunciem as suas mazelas, os seus erros e, acima de tudo, a corrupção que aqui campeia.

Tenho a certeza de que V. Exª, hoje, dormirá com a consciência tranqüila. Mas será que o Presidente da República fará o mesmo, sabendo que, a todo custo, o seu Partido, com a sua conivência, tenta botar uma pedra em cima da morte de um Prefeito, como o de Santo André, que, se vivo fosse, seria o coordenador da campanha de Sua Excelência, seria o responsável por sua equipe econômica e que, talvez, o tivesse livrado do episódio Palocci hoje? Isso é amadurecimento? Em que o Presidente amadureceu?

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não tínhamos o direito de exigir um Presidente maduro, que conhecesse a fundo os problemas brasileiros. O Presidente Lula tinha de se cercar de uma equipe de homens sérios, de homens honrados e de homens preparados e competentes e não com essa camarilha que lhe faz conviver há mais de dois anos no submundo das coisas mal-explicadas. Não é esse o amadurecimento de um Presidente da República. Tenho a certeza de que se Sua Excelência tivesse cumprido o compromisso firmado com o Senador Paulo Paim, o sagrado compromisso do salário mínimo, de dobrá-lo, - e V. Exª, Senador Paulo Paim, que tantas vezes vimos, em lágrimas, aqui neste Plenário -, V. Exª pedia apenas que honrasse o que o Partido pregou ao povo brasileiro.

Meu caro Senador Wellington Salgado,o Partido dos Trabalhadores não cumpriu o que prometeu, que era virar as costas para a Alca, romper com o FMI. De inimigo mortal do Fundo Monetário Internacional, tornou-se parceiro e irmão siamês, antecipando inclusive liquidações de débitos para quê? Para aplausos internacionais passageiros em troca da miséria e da fome do povo brasileiro. O amadurecimento do Presidente Lula seria demonstrado no cumprimento de suas promessas com o Fome Zero.

Senador Paulo Paim, a história do PT tem duas faces. É preciso que esse demarcador fique na nossa mente. A silenciosa saída de Frei Betto; a do Assessor de Imprensa Ricardo Kotscho...Estes homens dignos saíram no silêncio do protesto, porque não quiseram denunciar à Nação o que ocorria no Palácio do seu melhor amigo. Saíram! Naquele momento, Senador Paulo Paim, Lula daria uma prova de amadurecimento se perguntasse, de maneira sincera, por que eles estavam desconfortáveis no Palácio. E por que aquela convivência já não era mais tão agradável? Pediram o boné; foram embora. Aí, entraram em campo os Waldomiros, os Silvinhos Pereiras, os Serenos, os Okamottos e outros mais.

Portanto, meu caro Senador Wellington Salgado, espero que a transitoriedade de V. Exª nesta Casa tenha-lhe dado gosto à vida pública, e que V. Exª, que já cumpriu, de maneira honrada, sua tarefa de empresário, honre Minas, vindo para cá, amadurecido, sem emitir conceitos precipitados contra um Presidente que deve muito a Nação, que nele tanto confiou.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2006 - Página 8590