Discurso durante a 19ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações a respeito da suspensão do depoimento do Sr. Francenildo, ontem, na CPI dos Bingos, em razão de liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Considerações a respeito da suspensão do depoimento do Sr. Francenildo, ontem, na CPI dos Bingos, em razão de liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Heloísa Helena, Mão Santa, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/2006 - Página 8642
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • REPUDIO, DECISÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), SUSPENSÃO, DEPOIMENTO, EMPREGADO DOMESTICO, TESTEMUNHA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, ATENDIMENTO, PEDIDO, TIÃO VIANA, SENADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IMPEDIMENTO, CONTINUAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, TRANSAÇÃO ILICITA, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, PREFEITURA MUNICIPAL, MUNICIPIO, RIBEIRÃO PRETO (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).
  • DETALHAMENTO, DIVERSIDADE, FATO, DEPOIMENTO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, COMPROVAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, ANTONIO PALOCCI, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), FRAUDE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, passamos por um momento de constrangimento na CPI dos Bingos, no depoimento do caseiro da famosa casa de negócios e festas - antigamente, chamava-se casa de negócios, mas agora, Senadora Heloísa Helena, o nome tem de ser ampliado para casa de negócios e festas. Por uma liminar do Supremo Tribunal Federal, pedida pelo Senador Tião Viana, em nome do PT, foi suspensa a audiência pública que estava sendo realizada. É um caso inédito nesta Casa.

É de se admirar, Senador Alvaro Dias, porque este tema de Ribeirão Preto já vem sendo investigado na nossa CPI há praticamente cinco ou seis meses. Já estiveram aqui para depor, em relação a essa questão de Ribeirão Preto, o Ministro Palocci, o Sr. Rogério Buratti - por três ou quatro vezes -, o Sr. Ademirson, o Sr. Juscelino e o Sr. Poleto. O Sr. Ralf Barquete não veio porque já morreu, senão, teria estado aqui. Quer dizer, todos os elementos principais já depuseram na CPI sem que o PT, o Senador Tião Viana ou quem quer que seja tivessem pedido que os depoimentos fossem interrompidos.

Então, no momento em que essa história já está sendo investigada pela CPI, em que já há ligações com os bingos pelas doações dos bingueiros à campanha do Presidente Lula feito por meio desse esquema - já está comprovado, inclusive pelo depoimento do motorista, que os bingueiros estiveram no Ministério da Fazenda. Então, depois de todos esses depoimentos, de uma hora para outra, o PT resolve que não quer mais que esse assunto seja investigado. Por quê? Essa é a pergunta que fica para todo o povo brasileiro. Se eles não querem que investigue...

E hoje os jornais dizem, Presidente Senador Alvaro Dias, que o Presidente Lula foi quem comandou pessoalmente esse esquema para impedir que a investigação prossiga. O que significa que o Presidente Lula não está cumprindo aquela sua promessa que ele sempre repete na televisão: de que quer tudo investigado, de que quer que a CPI investigue. Na realidade, ele não quer - e está trabalhando para isto - que a CPI chegue ao fundo das questões relevantes desses problemas que está investigando.

Mas eu gostaria de tentar fazer um resumo sobre essa questão de Ribeirão Preto, especialmente para aqueles que não a conhecem em detalhe. Na verdade, qual é a situação lá em Ribeirão Preto? Nós tivemos um grupo, que é formado, segundo as investigações, por um mínimo de seis pessoas. Existem outros, mas os principais são estes: o Ministro Antonio Palocci Filho, Sr. Rogério Buratti, o Sr. Ralf Barquete (já falecido); Sr. Ademirson, Sr. Juscelino e o Sr. Poleto.

Então, na realidade, quais são as acusações que pesam sobre esse grupo? As acusações vêm desde o tempo que o Ministro Palocci era Prefeito de Ribeirão Preto. E quem eram essas pessoas? Essas pessoas participavam nos diversos cargos da administração da Prefeitura.

Então, a partir daí, por meio da Câmara de Vereadores e depois de uma série de investigações que foram realizadas, chegou-se à conclusão de que havia uma transferência de recursos da Prefeitura para a empresa Leão&Leão. E para isso era utilizado um contrato do que se chama de “varrição”, quer dizer, de varrer a rua, de limpar a cidade. E, nesse contrato, era feita uma transferência a mais de cerca de 400 mil reais por mês. A partir daí, os membros desse grupo se transferiram para Brasília. Quando o Presidente Lula nomeou o Ministro Antonio Palocci para Ministro da Fazenda, ele trouxe essas pessoas com ele. Quem é que veio com ele? Veio o Sr. Ralf Barquete, que foi o assessor da Caixa econômica; o Sr. Ademirson, que foi secretário particular; e o Sr. Juscelino, que era o chefe de gabinete. E, fora do Governo, vieram também o Sr. Buratti e o Sr. Poleto.

Quer dizer, todo o grupo se deslocou para Brasília com a vinda do Ministro Antonio Palocci. E o que eles queriam fazer aqui? Eles queriam fazer negócio. Chegaram aqui, alugaram uma casa no Lago Sul, pela qual pagaram, à vista, em dinheiro, R$60 mil. Ora, qualquer coisa que se paga em dinheiro, Senadora Heloísa Helena, nesse valor de R$60 mil já é suspeito. Quem vai pagar uma casa à vista sem necessidade? Podia pagar mensalmente.E quem vai pagar em dinheiro R$60 mil?

Então, a partir desse pagamento, a casa começou a funcionar da forma como está na imprensa todo dia. E o caseiro já mostrou, e o motorista já mostrou como era que essa casa funcionava. E começou a agir nos negócios. A primeira ação desse grupo foi exatamente na renovação de contrato da Gtech, quando o Sr. Buratti, juntamente com o Sr. Ralf Barquete, tentaram interferir na renovação desse contrato - coisa já comprovada pela CPI -, inclusive disputando com outro grupo do Governo que tentava interferir, que era o grupo comandado, no caso, pelo Ministro José Dirceu via Sr. Waldomiro Diniz.

Então, o que é que se tem hoje? Tem-se comprovada essa retirada de R$400 mil reais a mais no contrato de varrição para a empresa Leão&Leão. A empresa Leão&Leão, quando recebia o dinheiro, transformava-o em notas fiscais de empresas pequenas, que eram notas falsas, frias, que a polícia já tem, e essas notas fiscais eram transformadas em dinheiro, e o dinheiro, distribuído como propina. Essa é uma operação já conhecida e comprovada não só pela CPI, mas também pela polícia nas investigações, quando o delegado disse que tem os documentos. E a CPI teve o depoimento, além do Buratti, de todos aqueles funcionários que participaram da falsificação - estiveram na CPI para dizer que havia falsificação três funcionários que participaram, por ordem superior, da falsificação.

Então, hoje temos uma fraude comprovada, e o Ministro Palocci, quando o Sr. Rogério Buratti o acusou, disse o seguinte: “Na minha gestão, não vou fazer como o Presidente Lula, que diz que não sabe das coisas. Se aconteceu, eu sei; e, se aconteceu e eu não sei, a responsabilidade é minha, que é o que acontece nesse caso”.

A partir daí, essas pessoas abriram essa casa de negócios e começaram a se entender entre si, porque, quando se abriu o sigilo telefônico dessas pessoas - e a CPI tem esse sigilo telefônico -, obtivemos o registro de centenas de telefonemas entre todos eles. Era um grupo que trabalhava em conjunto. O Sr. Ademirson era o que estava mais perto e o que segurava o telefone do Ministro. É quem andava com o telefone do Ministro, recebia centenas de telefonemas dos outros membros desse grupo.

Houve aquela famosa operação do transporte das caixas, que costumamos chamar dos dólares de Cuba, mas vamos supor que não sejam os dólares de Cuba e seja uísque mesmo. Foram três caixas de uísque transportadas num avião particular cedido por um empresário de Brasília para São Paulo de forma supersuspeita. E quem fez essa operação? O Sr. Poleto e o Sr. Ralf Barquete, em conjunto com empresários amigos do Ministro Palocci.

Srªs e Srs. Senadores, quando esteve na CPI, o Ministro Palocci se contradisse em relação à questão do avião em que ele voou, do empresário Roberto Kurzweil, dizendo, em primeiro lugar, que o avião havia sido pago pelo PT. Depois, o empresário disse que ninguém havia pago e que o avião havia sido emprestado. Em segundo lugar, ele disse que nunca havia ido a essa famosa casa de negócios de Ribeirão Preto. Ora, era de estranhar que ele nunca houvesse ido ali, porque era uma casa montada pelos seus amigos, freqüentada por seu chefe de gabinete, freqüentada por seu secretário particular. Todas as pessoas que estavam ali eram de Ribeirão Preto e praticamente haviam vindo para Brasília com ele, e a casa havia sido alugada em nome deles. Então, nessa época, já era difícil de acreditar.

Depois disso, veio o motorista que servia a esse mesmo grupo, que disse que levou, diversas vezes, o Ministro Palocci... Aliás, levou não. Ele disse que nunca levou porque o Ministro Palocci ia em outros carros, mas ele disse que viu o Ministro Palocci lá três ou quatro vezes.

Agora, vem o caseiro, que disse que viu o Ministro Palocci na casa dez, vinte vezes.

Então, na realidade, o Ministro Palocci mentiu à CPI. Ele não disse a verdade à CPI, a não ser que o motorista esteja mentindo, que o caseiro esteja mentindo, que Rogério Buratti esteja mentindo, que o Brasil esteja mentindo, e o Ministro Palocci, sozinho, esteja dizendo a verdade.

Outra questão também que acho que não é verdadeira é que o Ministro Palocci disse que não era amigo de Rogério Buratti. Ora, o caseiro, na sua linguagem simples, ontem, disse o seguinte: “Bom, se ele não é amigo, o que ele é?” Isso porque realmente não dá para acreditar que o Ministro não tenha sido amigo do Buratti, que foi seu auxiliar, trabalhou na Leão&Leão.

E ele disse que não conhecia o Poleto. Ora, o Poleto era o executivo, era o cara que fazia os pagamentos, que andava com a mala de dinheiro, que alugou a casa. Quer dizer, o Poleto era uma figura importante. Foi ele que transportou os dólares de Cuba no avião. Portanto, ele era aquela pessoa que conhecia todos os detalhes dessa operação.

Assim, é muito difícil acreditarmos, Senador Alvaro Dias, que o Ministro não conhecia o Sr. Poleto. Aliás, o caseiro já disse que eles andavam todos juntos, estavam sempre presentes, e o “Sr. Poleto era o meu chefe” - disse o caseiro. Todos eles chamavam o Ministro de “chefe”, exatamente para que ele não fosse identificado, o que em si já representa uma situação nova.

Para concluir, muita gente pergunta: “O Ministro Palocci vai continuar ou não?” Eu acho que essa é uma questão de foro íntimo do Ministro e do Presidente Lula, que foi quem o nomeou. O Presidente Lula é responsável pelo Ministro que nomeia. Antigamente, o homem público não só tinha que ser correto como também tinha que parecer correto.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não. Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Ontem, até as Lideranças do Governo estavam fazendo certa confusão. Eu, dessa tribuna que hoje V. Exª ocupa com brilho, disse que estava na hora de o Ministro Palocci se demitir das elevadas funções que exerce, por falta de condições efetivas, práticas e até morais de continuar exercendo essa função. Os Líderes do Governo diziam que essa prerrogativa não é do Senador Arthur Virgílio; é do Presidente. Evidente que é. Se fosse minha, eu já o teria demitido.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - É verdade. E minha também, Senador.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Como é do Presidente, e estou cobrando dele que respeite o interesse público e que atenda ao que está virando um anseio nacional mesmo. Agora, ontem, o caseiro foi sinceridade do começo ao fim. Ele é uma pessoa simplória, é mais que uma pessoa simples: sinceridade do começo ao fim. Não há 1% nele de propensão à mentira, porque ele é uma figura até primariamente construída na verdade. Impressionou-me muito e até me comoveu o que foi dito pelo Sr. Francenildo.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Concedo um aparte ao Vice-Líder do Governo presente, Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador José Jorge, acompanhei ativamente o debate de ontem. Não pude vir ao plenário porque tive que acompanhar uma cirurgia do meu filho, mas ouvi pelo rádio uma parte e depois assisti pela televisão. Saí dos debates de ontem com a convicção de que o que o caseiro falou do Ministro, sendo verdade, é muito forte. Porém, como eu disse durante o debate na CPI, ainda acredito na palavra do Ministro. S. Exª reafirma que não participou daquele tipo de coisa e admitiu, com todas as letras, que jamais esteve naquele lugar. Então, somente ele poderá, ou concordando, ou discordando, convencer-nos num outro momento aqui. Estou convencido disso.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Agora, V. Exª acha que, se ele tivesse comparecido da forma como o caseiro disse, ele teria condições de continuar como Ministro?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Acho complexo se ele tiver dito: “Não vim, nunca fiz”, tendo participado. Isso é complicado. O que quero dizer a V. Exª é que ontem ouvi com muita tranqüilidade a parte do depoimento do Sr. Francenildo e preocuparam-me duas coisas. Primeiro, quando ele foi bastante enfático na hora de reconhecer algumas das imagens apresentadas, das fotografias, titubeou em outras, em alguns momentos, falou que era à noite - não tinha muita certeza -, em outras ele tinha absoluta certeza. Na minha opinião, em algum momento foi irônico. Acho que isso depõe contra ele, tira um pouco daquela aura que nós todos estávamos esperando. Espero que ele tenha vindo como todos nós esperávamos: de corpo aberto, desprovido e assim por diante, porque me preocupou se havia alguma orientação. Isso foi o que me preocupou. A ironia dele foi muito ferina ontem. Aquela coisa do “patrãozinho”, não sei mais o quê, a piadinha. É muito sério. É muito sério, porque, não sendo verdade, ao expor o nome de uma pessoa, desconstruir essa exposição no momento de volta é complicado. Fiquei constrangido na pessoa do Sr. Hummel, por ocasião da prisão dele, e depois se configurou que ele era completamente inocente. E aí como é que se refaz a imagem de uma pessoa inocente? Como se faz isso? Então, é nesse sentido que acho que todos nós estamos imbuídos de ouvir a palavra do Ministro. V. Exª e todos nós estamos querendo ouvir se ele vai admitir ou não aquilo. Se não admitir, é palavra contra palavra, e o menino foi muito forte na hora de falar isso. Portanto, Senador José Jorge, resolvi refletir um pouco mais sobre esse assunto. Ontem, houve discussões acaloradas na reunião da CPI, até mesmo por conta do pedido de mandado de segurança para suspender o depoimento; a animosidade...

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - A emoção...

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ...tomou conta da Casa; porém quero dizer a V. Exª que, independentemente desse fato, atendo-me a esse outro problema, fiquei um pouco preocupado com isso. O caseiro, algumas vezes, disse a outros jornalistas que jamais tinha falado com o Ministro, que falou por interfone. E ele estava perdido: “Não, mas ele ia antes, na primeira vez, acompanhado de outra pessoa, até que se acostumou”.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Veio sozinho.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - E o caseiro contou como é que o Ministro se perdeu no caminho na hora de saída; disse também que, se tivesse um celular, poderia ter fotografado. Depois se esqueceu de que tinha um lapso de...

(Interrupção do som.)

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ...que teria visto numa tarde, à luz do sol e assim por diante. Então, penso que há algumas contradições naquele depoimento. Não estou dizendo que seja falso; apenas que há contradições. Que existia uma turma que fazia festa naquela casa, para mim, isso está muito notório. A casa está lá, fotografia, caseiro, motorista, etc. Mas daí a dizer que o Ministro Palocci tem participação nisso tenho dúvidas. É quanto a esse ponto que eu gostaria que aprofundássemos o tema com toda a tranqüilidade que requer a situação. Fiquei até assustado ontem quando ouvi o nosso grande Senador Arthur Virgílio pedindo já a demissão do Ministro. Isso é questão de foro íntimo do Ministro. Só ele poderá dizer imediatamente ao Presidente: “Diante das circunstâncias, apesar da minha inocência, eu me sinto indisposto de continuar”. Mesmo mantendo a inocência dele. É uma decisão pessoal dele. A outra é uma decisão pessoal do Presidente, de dizer: “Diante desses fatos, embora eu ache que o senhor seja inocente, diante dessas condições, tomamos essa decisão”. Pois bem, diante das circunstâncias, eu pediria alguma cautela, porque o caminho de volta inexiste.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Concede-me um aparte, Senador José Jorge?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Infelizmente não vou poder conceder o aparte. Só se forem trinta segundos, porque eu vou viajar agora.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Pois é, mas...

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Vou conceder o aparte ao Senador Mão Santa e à Senadora Heloísa Helena. A Senadora fala primeiro, pois é mais rápida no gatilho.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Senador José Jorge, de fato, sei que V. Exª, como sempre, está aqui presente às sextas-feiras, mas vai precisar viajar. Eu nem ia falar, mas eu me senti estimulada a falar sobre o depoimento belo, simples, honesto, inocente que foi dado ontem pelo Nildo. Por quê? Ele é uma pessoa tão simples, inocente, tão do bem que não tem a maldita e cínica sofisticação para a ironia, para a mentira. Não tem. Quando eu perguntei ao Ministro Palocci, dei detalhes sobre a casa que ele freqüentava. Ele teve toda a chance de ter dito que tinha amizade - não necessariamente ter amizade significa se comprometer com os crimes contra a Administração Pública que o outro poderia estar patrocinando. Ele mentiu. Teve a chance de se corrigir. Não o fez. Imagina se alguém tem sofisticação e ironia, Senador Antero, para responder daquela forma quando eu afirmei: “Mas ele disse aqui que não era amigo do Buratti”. Nildo respondeu assim: “Vixe Maria!”. Ele disse isso com a simplicidade dos inocentes e dos bons, dos que nasceram pobres e não se venderam para ficar de bem com o poder. Ele disse até com a delicadeza dos pobres, dos simples e inocentes: “Vixe Maria!”. Só faltou dizer: “Vixe Maria, Dona! Se aquilo não é amigo...” Desse jeito. “Se aquilo não é amizade...” Depois, eu perguntei: “Mas, meu filho, você confirma mesmo todo o depoimento que você deu?” Ele me disse: “Confirmo até a morte. O problema é que sou pequeno, sou pobre; o homem é rico...” Desse jeito. O que é isso? Pelo amor de Deus! Quero, mais uma vez, fazer um tributo à inocência, à honestidade, ao compromisso com a verdade daquele simples rapaz. Agora, é fato que, numa sociedade elitista e preconceituosa como a nossa, é muito mais cômodo, fácil e sedutor ficar do lado do Ministro do que de um pobre caseiro. Claro que é mais fácil. Não estou dizendo que gente pobre não possa mentir. E mente com direito, porque é tanta gente canalha, grande, mentirosa, ladra que o pequeno às vezes mente, coitado. Agora, é completamente distinto. Aquele depoimento ontem foi um atestado de tanta honestidade... O Senador Arthur Virgílio disse que até se emocionou, porque tudo que ele dizia era tão de pronto que não dava nem para treinar um depoimento daquele. Ele nem conseguia, na sua inocência, articular direito o raciocínio, as palavras; ele ia, de pronto, respondendo às questões que ele vivenciou, falando até detalhes do que ele fazia lá. “Não, eu limpava a churrasqueira; não, ele era um bom patrão. É, mas ele só brigava se eu não ficasse o dia todo para limpar a churrasqueira.” “E como é que o senhor fazia?” “Eu fazia...” Em algum momento, ele disse: “Não, isso aí pode ter sido, mas eu não me lembro direito, pode ter sido de noite.” Eu até lhe fiz uma pergunta, atrapalhando o Senador Alvaro Dias, que falava. Eu disse: “Mas o fato de ser à noite não confundiria o senhor não?” - porque já havia um murmúrio da base bajulatória atrás. Aí, de pronto, ele disse: “Não, porque de dia também eu vi, porque eu fui comprar cerveja quando estavam jogando tênis. Não, eu sei o que eu vi.” Então, se quisessem armar, a coisa mais fácil teria sido isto: pegar outras fotos, de outras pessoas que eram importantes para a CPI. Se fosse para armarem com o rapaz, pegariam outras pessoas importantes para a CPI. Pegariam as pessoas que estavam vinculadas com os bingos e outras coisas mais e treinariam o rapaz para dar justificativa às questões relacionadas aos bingos, se fosse para fazerem uma conspiração. Agora, há muitas pessoas envolvidas nessa conspiração. Realmente, nunca vi uma conspiração como essa, porque conspiração não é assim que se faz. É um monte de gente. É fulana, é fulana, é fulana, é fulana, e fulano, e fulano; há caseiro; há outras meninas; há outras moças, há empresário, há amigo, há ex-amigo, há o assessor do Ministro. São muitas pessoas envolvidas para ser uma conspiração. Então, saúdo o pronunciamento de V. Exª. Apesar da tragédia de ontem, que reproduz a promiscuidade entre o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Judiciário, apesar de tudo isso, penso que devemos é fazer um esforço para prestar um tributo à honestidade, à sinceridade, à inocência e à verdade de um homem pobre. Isso é o mais importante, porque, quando o Senador Alvaro Dias lhe mostrava as fotos, quem ele não conhecia ele apontava de pronto, dizendo: “Conheço não; conheço não; esse sim; esse sim”. Quando ele disse “meu patrãozinho”, foi porque o rapaz o tratava bem. Ele disse que os rapazes o tratavam bem e o pagavam direito. Ele só não podia omitir exatamente o que acontecia.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Mentir, não é!?

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Exatamente. Eu não tenho nada contra fazer festa, absolutamente nada. O universo masculino é diferente do feminino. Eu não tenho problema nenhum com que se realizem fantasias. Está tudo muito bem! Agora, só não pode com o dinheiro público roubado. Aí realmente não tem condição. Roubo do dinheiro público e promiscuidade entre o setor público e o setor privado é só o que não pode. O resto está tudo bem.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Muito obrigado.

Senador Mão Santa, ouço V. Exª, para eu encerrar.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador José Jorge, nunca me permitiram participar dessa CPI e de nenhuma outra. O Senador Ney Suassuna não me escala, e eu fico aqui.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Injustamente.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Mas eu participei, porque sou Senador da República, no caso do médico legista e dei grande contribuição, porque eu fui médico legista. Eu vi que aquele rolo estava grave, porque diretor não dá laudo. São dois que assinam o laudo, e deu no que deu. A nossa contribuição acabou complicando mais. E fui à CPI nesse caso porque se tratava de um homem do Piauí. Eu vi nos jornais e fui. Fiquei decepcionado com a intervenção do Supremo Tribunal Federal, calando aquele piauiense. Depois, fui até ele para dar-lhe a minha solidariedade, porque eu penso que foi um ato indevido e que eles erraram, principalmente em relação a essas dúvidas, com tantas inteligências, Senadores capacitados, e tenho oportunidade de esclarecer. Mas quero dar o meu testemunho como piauiense. Primeiro, o homem é fruto da genética e do meio ambiente. A genética dele é piauiense, é muito boa. Os méritos do Sibá estão aí; ele está separado, como o joio do trigo. Ele é trigo no Acre, no PT, porque a genética dele é piauiense.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - A genética dele é boa também.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - E produto do meio. Atentai bem! Quem é que tem oito anos aqui? Oito anos é muito tempo, Antero Paes! Já conhecemos as virtudes e o caráter de cada um. Estamos há três anos e poucos meses aqui. Oito anos é mais do que uma faculdade de Medicina. Então, se aquele homem não tivesse virtude, jamais um empresário rico... Porque quem tem uma casa daquela, um homem inteligente, de negócio, iria permitir um contrato, carteira assinada de oito anos, para quem não tivesse virtudes? Portanto, ele é um homem virtuoso. Agora lamentamos o ocorrido, e eu faço uma psicanálise: sempre achei esse Palocci muito frio, muito frio. Está aí. Mas o que quero dizer é que conheço a região dele, e ele é produto do meio. Ele é de Nasária, um povoado agrícola de Teresina, cuja vereadora é Carmem Lúcia - eu tenho uma vereadora lá. Esse povoado quer se transformar em cidade. É aquele pessoal do campo, pessoal honrado, trabalhador. Ele está aqui como mais de 200 mil piauienses que vieram buscar trabalho e ajudar a construir Brasília. Então, penso que foi uma grande perda para o Tião, nosso amigo. O Heráclito ontem o comparou com o Lima, que joga em todas as posições; e eu o comparo com o Zico, que foi o atleta mais virtuoso, mais simpático, mais alegre, mais educado, mas perdeu o pênalti. Então, ontem houve essa infelicidade para o Tião de não permitir o fortalecimento da CPI e do Congresso.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Agradeço o aparte ao Senador Mão Santa, porque terei que encerrar.

Considero que o responsável por esse pedido de habeas corpus foi o Presidente Lula, e o responsável também para tomar as providências que o País espera é o Presidente Lula.

Muito obrigado.


Modelo1 5/15/2412:28



Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/2006 - Página 8642