Discurso durante a 19ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas às ações do PT que visam impedir a candidatura própria do PMDB à presidência da República.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Críticas às ações do PT que visam impedir a candidatura própria do PMDB à presidência da República.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/2006 - Página 8694
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MANIPULAÇÃO, IMPEDIMENTO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), LANÇAMENTO, CANDIDATURA, ELEIÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CONCLAMAÇÃO, MEMBROS, COMPARECIMENTO, CONVENÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), DEFESA, IDONEIDADE, CONDUTA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Alvaro Dias, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pela televisão, companheiro Heráclito Fortes - o uso do termo “companheiro” não tem nada a ver com o PT. Foi um homem como nós, médico como nós, atentai bem, Valdir Raupp, Che Guevara, que disse: “Se és capaz de tremer de indignação diante de uma injustiça feita em qualquer lugar do mundo, és companheiro”.

Todo o Brasil está cheio de indignação. Todo o Brasil! Edison Vidigal, político, é candidato lá no Maranhão. O outro, Jobim, queria ser candidato. Essa é a Justiça.

Atentai bem, Senador Arthur Virgílio! Montesquieu pula, estrebucha na sua sepultura diante da ignomínia no Brasil pelos poderes que ele sonhou. O L’État c’est moi acabado com o povo que foi às ruas e gritou: “liberdade, igualdade e fraternidade!” O governo do povo, pelo povo, e para o povo.

Atentai bem, nesses da Justiça, Senador Heráclito Fortes, pulando lá para o mundo político. Não foi isto que Montesquieu idealizou e sonhou, a traquinagem. O PMDB, Senador Arthur Virgílio, do MDB, neto do PTB do pai de V. Exª, aqui cassado.

Dezembro de 2004. Uma Assembléia, uma convenção. O Partido, Senador Heráclito Fortes, decide que quer ter candidatura própria. Não é preciso, Senador Sibá, até o Lula deve entender isso, porque lá no Grêmio Tiradentes, lá no Ginásio São Luiz Gonzaga, eu sabia que a Assembléia era soberana. É a convenção. Essa a vontade. Dezembro de 2004, sucessivas reuniões das executivas e todas elas se mantêm pela candidatura própria.

Atentai bem, Senador Alvaro Dias! Estupro, crime odiento... Senadora Lúcia Vânia, é estupro levar para a cama, forçar uma mulher ao ato sexual. Este é o mais vergonhoso estupro que está na democracia: o PT de Lula quer levar para cama, para o banquete eleitoral, para as eleições, o PMDB, que não quer ir com essa porcaria!

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI. Fora do microfone.) - Casamento de coronel.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É! É o estupro democrático. Nós não queremos, Arthur Virgílio, Heráclito! Que saudade do MDB de Heráclito!

Eu vi, num salão como este, numa assembléia do Piauí, Heráclito, que era do PMDB, se rolar na discussão democrática com outro, mas para prevalecer a liberdade. Então, é a nossa história do PMDB, o PMDB que não tremeu diante dos canhões, diante de Geisel, o PMDB de Ulysses Guimarães e Sobral Pinto.

Atentai bem, Lúcia Vânia! Nem a ditadura ousou isso. O PMDB, na nossa cidade, Heráclito, em 1972, lá em Parnaíba, nós conquistamos, contra a ditadura, contra Médici, a prefeitura. Nem a ditadura impedia o PMDB de participar da democracia. Ulysses, Teotônio Vilela, moribundo, com câncer; Tancredo, que se imolou. Quantas diverticulites operei, Heráclito, na Santa Casa. Mas Tancredo retardou, entrando num fenômeno de septicemia, para fazer a transição democrática. E transitou dessas aos céus. Juscelino, cassado... Mas lutamos pela democracia.

E, agora, o PT impedir o PMDB de ter candidato? Heráclito, V. Exª tem uma história muito bonita no PMDB. Eu até digo o que o cantor diz: ninguém se perde no caminho de volta. Quero convidá-lo para voltar.

Mas quero dizer que nunca dantes o PMDB teve um Presidente tão firme, tão competente, tão digno como Michel Temer. Essa é a inveja e a mágoa dos outros, sem nenhuma liderança.

Atentai bem, ó Heráclito Fortes! Respeito a vivência de V. Exª neste Parlamento. Eu mesmo vi Deputados Federais, que para mim simbolizavam as suas ações, de chofre, se reunirem em número de 53 e retirarem o líder que se mostrou governista. Eu nunca vi uma reação como esta: 53 Deputados Federais destituírem um líder.

Então, depois desse movimento, a executiva se reúne, indignada. Heráclito, eles não foram; eles correram e, vergonhosamente, comprometeram a justiça. Eles fugiram da raia e da luta. Eles deveriam estar lá. Pediram que a executiva se manifestasse, procuraram a traição em nome da justiça.

Ulysses dizia, Ó Arthur Virgílio: ouça a voz rouca do povo. Ouvi, na última reunião, os militantes cantarem. Esses governistas vão atrás de quem dá mais. O coro do outro lado, pátria amada, quer um PMDB sem marmelada. Está aqui a marmelada. Olha, ninguém mais justo. Isso é da cultura. A democracia é do povo e é universal. Essas prévias são da cultura democrática, os países civilizados as fazem.

O militante, o delegado, o suplente, o vereador, o prefeito, o vice-prefeito, o deputado, todos escolheram seu candidato à Presidente da República. É claro, estamos no pluripartidarismo.

Nós não temos a cara do PSDB. Nós não temos a cara do PT, que é o neoliberal do PSDB, mas coligado à corrupção e à vergonha - e não mais só à corrupção, mas à falta de pudor e de exemplo. Nós somos diferentes. Somos o PMDB. Mas o PMDB é do povo e da democracia, ele não faltou.

Estou aqui graças ao PMDB. Esta tribuna, este poder que assumimos em nome do povo, eu o quero, Heráclito Fortes, permitir a outros. Lembro-me de V. Exª começando... Foi nas fileiras do PMDB. Nós lutamos com isso para que outros pudessem, usando esta avenida da democracia, chegar a representar o povo.

Nós estamos aqui com o Presidente e falando no nome dele. Só há um Presidente. Unidade de comando e unidade de direção. É Michel Temer.

E estamos lutando. Estamos lutando. Eu, eu, pessoalmente, há muito. Ó, Deus, eu vos agradeço, por ter me dado a coragem de tanto detectar como profetizar essa corrupção. E Ulysses, Heráclito: o cupim da democracia é a corrupção. E ele nunca que imaginou, Senador Arthur Virgílio, que ia ter tanto cupim neste Brasil, neste Brasil do PT.

Então, nós estamos aqui neste momento para salvaguardar o PMDB, que é da Pátria e da batalha jurídica. É! Senador Álvaro Dias, Shakespeare: “Há algo de podre no reino da Dinamarca”. Aqui no Brasil está tudo é podre. O Executivo? Que podridão! Aqui a podridão que o PT trouxe com o mensalão e que compromete a Justiça. Nós entendemos, nós entendemos, Arthur Virgílio, como Aristóteles, que a coroa da Justiça brilhe mais do que a coroa dos reis! Que a coroa da Justiça esteja mais alta do que a coroa dos santos! E a Justiça é divina. É aquela dos mandamentos da lei de Deus que eu queria, pelo menos, que Lula e o PT aprendessem. Uma delas é o 4º Mandamento: - Não roubarás. Eu e o Brasil cristão. Divina, quando Cristo não tinha, uma tribuna, uma televisão, e subia, às montanhas, e dizia: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Isso não é justiça; isso é malandragem. Isso se arrasta desde 2004. Uma prévia. Marcada. Assisti à última reunião da Executiva. Toda lá. Os outros, Senador Arthur Virgílio - como lá no meu Piauí diz-se - correram da raia. Os outros governistas, para não caírem, se deixaram no chão e foram enxovalhar a justiça. Comprometer.

Olha, bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. O PMDB é esse Partido bem-aventurado. Quarenta anos na próxima semana: de luta, desse ideal, da ditadura, da anistia, das Diretas Já. Agora muito mais, Arthur Virgílio, eu acho que o PMDB tem que ficar forte, porque, pior do que... Na ditadura eles eram mais honestos do que os que estão aí. Eu estudei na ditadura. Tinha universidade que prestava. Então, o PMDB agora, com a coragem que combateu a ditadura, reconquistou a liberdade, a anistia e as diretas. Temos que lutar e voltar fortes para garantirmos neste País a ética, a decência e a dignidade.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Esta é a nossa... E convidamos todos, em nome do Presidente de nosso Partido, a estarem na convenção do PMDB, que é a Pátria, e a Pátria tem que ter Poder Judiciário, Legislativo e Executivo. E o PMDB serve à Pátria.

Concedo o aparte ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Já dizia o velho Ulysses Guimarães: “A pátria é o povo, e o povo vencerá”. Senador Mão Santa, não me é dado o direito de entrar na economia interna de Partidos que não o meu - sou muito cioso desse comportamento -, mas V. Exª, vez ou outra, me faz relembrar aqui o querido e memorável momento que não só eu, mas também o Senador Arthur Virgílio, tivemos no PMDB. Nosso Presidente eventual da Mesa é outro. Tivemos um momento de glória no PMDB, em que Álvaro Dias no Paraná arrastou multidões e fez uma Liderança consolidada. O meu aparte é de solidariedade ao ato, porque um ato de economia interna de um Partido, no meu modo de ver, deve ser decidido nos seus quadros. Não sei em que uma convenção fere a lei, uma convenção é ilegal, principalmente uma prévia, em que o Partido quer apenas ter o direito de dizer o que quer. Mas o meu aparte a V. Exª tem um outro propósito, e o faço com muito carinho e muita sinceridade. São as referências que V. Exª faz ao Deputado Michel Temer. Tive a felicidade de compor a Mesa da Câmara dos Deputados durante quatro anos com o Deputado paulista Michel Temer: S. Exª, Presidente; e eu, 1º Vice-Presidente. Concordo com V. Exª: é um homem fino, educado, firme, determinado, que sabe o que quer e, acima de tudo, um dos melhores juristas deste País. De forma que a minha impressão é de que o Presidente do Partido tomará as medidas necessárias...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - ...para que, em outra instância, essa questão seja revista e a democracia desejada para o PMDB seja praticada como desejam seus militantes no próximo domingo. Felicito V. Exª pelo pronunciamento e espero que essa coincidência crescente de equívocos, todos com o manto do autoritarismo, tenha um basta no Brasil o mais breve possível. Muito obrigado.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Heráclito, agradeço a V. Exª que contribuiu com um amigo seu, Ulysses, para esta grandeza que vivemos: o PMDB.

Mas, Senadora Lúcia Vânia, V. Exª, muito culta, como diz lá o poeta luso “quando a bela e velha Musa canta ou se alevanta”. Eu vi essa musa, Pedro Simon, agora, na Executiva: Ramez Tebet. O PMDB se levantou por esses fatores de dignidade e grandeza.

Senador Heráclito, V. Exª se lembra da ditadura? O nosso caminho foi longo e sinuoso.

Arthur Virgílio, ninguém mais do que V. Exª que teve, não o sacrifício, mas o exemplo do honrado pai, Senador da República. Senador Arthur Virgílio, nós, do PMDB, vencemos eleição para prefeito, no começo dos anos 70, lá na Parnaíba. A reação dos militares foi essa mesmo. Atentai bem, Heráclito! Eu me lembro de que quando entrevistado, de manhã, na Rádio Pindorama, por Deoclécio Dantas, iam tomar e não iam deixar. A ditadura. A ditadura era melhor do que estes. Atentai bem, lá, Deoclécio Dantas, Radio Pindorama: - “Mão Santa, tem um imbróglio aí na Justiça”. Igual a este. A justiça é divina, mas essa é feita por homens passíveis de corrupção. Atentai bem, Heráclito! Deoclécio Dantas me entrevistava nas madrugadas, às seis horas da manhã, o que eu achava daquilo. Estava uma história dessas liminares...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PDMB - PI) - ...para que Elias Ximenes do Prado não assumisse a prefeitura. Aí eu respondi.

O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Senador Mão Santa, V. Exª tem mais 2 minutos.

O SR. MÃO SANTA (PDMB - PI) - Dois são suficientes. Eu respondi, Senador Heráclito: Deoclécio, o que me faz lembrar a história da velha Áustria, Prússia e Alemanha. Havia um moinho. Aí Frederico da Prússia se embelezou, queria adquiri-lo, levá-lo para a sua propriedade, para o seu castelo, e chamou o camponês: “Olha, eu quero comprar esse moinho”. Atentai bem, Senador Cristovam. Aí o camponês disse: “Eu não posso me desfazer desse moinho, porque ele foi de meu avô, de meu pai, e eu conservo a tradição”. “Você sabe com quem está falando? Sou Frederico da Prússia, o rei. Quero o moinho”. Aí o camponês se virou e disse: “Majestade, ainda existem juízes em Berlim”.

E agora eu digo: malandros, traquinas, ainda existem juízes em Brasília para derrubar essa imoralidade! (Muito bem! Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/2006 - Página 8694