Discurso durante a 23ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o documentário intitulado "Falcão - Meninos do Tráfico", transmitido pela Rede Globo, no programa Fantástico do último domingo. (como Líder)

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL. DROGA.:
  • Comentários sobre o documentário intitulado "Falcão - Meninos do Tráfico", transmitido pela Rede Globo, no programa Fantástico do último domingo. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2006 - Página 9199
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL. DROGA.
Indexação
  • COMENTARIO, DIVULGAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), FILME DOCUMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, CRIANÇA, TRAFICO, DROGA, IMPORTANCIA, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, GRAVIDADE, INJUSTIÇA, FALTA, EXPECTATIVA, MELHORIA, VIDA, MENOR, CRIME, VIOLENCIA, DESEMPREGO, MISERIA.
  • ANUNCIO, ORGANIZAÇÃO, SEMINARIO, PARCERIA, JUDICIARIO, EXECUTIVO, ENTIDADE, SOCIEDADE CIVIL, OBJETIVO, CONSCIENTIZAÇÃO, JUVENTUDE, COMBATE, DROGA, OFERECIMENTO, ALTERNATIVA.
  • JUSTIFICAÇÃO, APROVAÇÃO, ESTATUTO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, IGUALDADE, RAÇA, FUNDO DE DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO BASICA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pela Liderança do PT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Flexa Ribeiro, desde segunda-feira, estou na expectativa de usar esta tribuna para falar de um tema que já trouxeram a esta Casa diversos Senadores e Senadoras.

Sr. Presidente, acredito que grande parte da população brasileira assistiu, no último domingo, a trechos do documentário da TV Globo, “Falcão - Meninos do Tráfico”, apresentado no Fantástico e produzido pelo rapper MV Bill e pelo produtor Celso Athayde. E como ficamos? Perplexos? Chocados? Perturbados?

A população brasileira foi colocada frente a frente com a realidade de nosso País, de nossas crianças e de nossos jovens. Uma realidade sobre a qual todos falam, mas de que poucos têm consciência.

Sabemos que, daqui alguns dias, não se falará mais desse documentário. Mas sabemos também que essas imagens ficarão gravadas em nossas mentes. Outras tantas pessoas já sabiam disso e, há tempos, buscam alternativas para mudar esse quadro. Uma realidade chocante, como dissemos. É diferente saber da realidade como se ela fosse algo distante de nós - afinal todos sabem que o tráfico e a dependência química aliciam anos após anos milhares de crianças, adolescentes, jovens e adultos. Fato esse que afasta as pessoas do convívio da família, dos amigos e das pessoas de bem.

Estão de parabéns a Rede Globo, a equipe do Fantástico e todos aqueles que colaboraram para que esse fato acontecesse. Acima de tudo, estão de parabéns MV Bill, Celso Athayde e os que, ao longo de seis anos, trabalharam para construir esse documentário.

Sr. Presidente, ao entrar na casa dos brasileiros e brasileiras, o documentário alertou todos os cidadãos, a denúncia foi feita. Como diz a música de MV Bill “(...) Enquanto o rico vive bem, o povo pobre vive mal. Cidade maravilhosa é uma grande ilusão. Desemprego, pobreza, miséria, corpos no chão. As crianças da favela não têm direito ao lazer (...)”

Assistir ao documentário e ver crianças como a que declarou “Se eu morrer, não faz mal. Nasce um outro que nem eu, pior ou melhor. Se eu morrer, vou descansar, é muito esculacho nessa vida”, deixa-nos perplexos com a falta de perspectiva desses jovens. Uma declaração como essa nos revela que os sonhos foram postos de lado. Não é justo que isso aconteça.

O que dizer daquele jovem que, em depoimento, Senador Mão Santa, diz que gostaria muito de conhecer um circo, pediu à mãe, que não pôde levá-lo. O sonho dele era aprender no circo a profissão de palhaço. Ele queria fazer as pessoas rirem, mas o seu destino foi fazer as pessoas chorarem, pela dor e pela violência provocadas pelas drogas. Ele queria cantar a vida, mas, hoje, como traficante, semeia a morte. Todos nós vimos e ouvimos: ele queria deixar o crime. Mas, um ano depois, o que acontece? Ele permanece no tráfico, porque não teve nenhuma oportunidade.

Vimos que a vontade dos entrevistados era ter uma vida digna, sair do crime, encontrar um emprego e poder trabalhar, mas vimos também que não conseguiram. Nosso País tem permitido isso.

Dissemos e ouvimos falar que o Brasil é o País do futuro. Mas como isso poderá ser verdade para essas crianças, se não enxergam esse futuro? Se não vivem, mas sobrevivem? Se elas são, ao mesmo tempo, culpadas e vítimas?

Foi essa realidade que nos levou a conversar com a Senadora Patrícia Saboya Gomes e com o Senador Cristovam Buarque, em outubro do ano passado, e visitar aqui o Presidente desta Casa, Senador Renan Calheiros, quando acertamos fazer uma grande campanha em nível nacional, buscando a recuperação desses jovens. Claro que não mediante um trabalho isolado do Senado, mas em parceria com centenas de ONGs, homens e mulheres que estão nessa luta há muito tempo.

            Faremos um seminário no mês de abril. Será uma ação conjunta com a sociedade.

(Interrupção do som.)

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Quero só lembrar ao nobre Senador que, enquanto eu estava lá, esperando pacientemente, todos tinham um minuto mais dois. Eu acompanhei os trabalhos pacientemente ao longo desses três dias. Gostaria de poder concluir com a mesma tolerância que o Senador Flexa Ribeiro concedeu aos que me antecederam.

O SR. PRESIDENTE (João Batista Motta. PSDB - ES) - Queria dizer a V. Exª que não foi intencional, é porque o som é interrompido automaticamente.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - O Senador Flexa Ribeiro sempre dá mais dois minutos.

Eu esperei três dias para falar. Espero que eu tenha a oportunidade de concluir o meu pronunciamento.

Em resumo, Sr. Presidente, é um seminário que nós queremos fazer em parceria com o Judiciário, o Executivo e a sociedade organizada, dando oportunidades àqueles que nunca as tiveram: os discriminados e marginalizados.

A idéia é despertar nos jovens o senso crítico, a fim de diminuir a motivação do uso de drogas. E quando falamos em drogas, não nos limitamos àquelas consideradas pesadas; falamos também do álcool, Sr. Presidente. Nós todos sabemos como o álcool destrói famílias e vidas.

Sabemos que essa consciência somente será despertada se dermos aos nossos jovens garantia de que podem, sim, sonhar em ter oportunidades.

Por isso, Sr. Presidente, reforçamos essa campanha, pois entendemos que o Senado Federal pode avançar muito nesse sentido. Esse, a nosso ver, é o caminho para que nossas crianças e jovens tenham perspectiva de vida e valorizem a sua própria caminhada. O preconceito deve ser posto de lado, tem de ser eliminado.

Identificamos, com esse documentário, Sr. Presidente, uma falha muito grande da nossa sociedade. Não há dúvidas de que a maioria dos jovens que hoje estão à margem da sociedade também é de afro-brasileiros.

“Falcão - Meninos do Tráfico” cumpre um papel importante. Mostra ao Congresso Nacional a importância e a urgência de aprovarmos, entre tantos, também o Estatuto da Igualdade Racial, que quer dar oportunidade aos afrodescendentes.

Queremos que daqui a algum tempo nossas crianças estejam nas escolas e não com armas na mão. Que elas brinquem de jogar bola, de pipa, de boneca e não de matar um X-9, como elas dizem. Que elas possam pensar em ser médicos, professores - quem sabe? -, Senadores, Deputados, bombeiros ou mesmo um artista de circo, mas não bandidos.

Enfim, Sr. Presidente, concluindo agora, queremos que nossas crianças possam tornar-se adolescentes felizes e adultos capazes de ter uma vida digna e constituir família. Não queremos crianças que, como disse o sociólogo Gláucio Soares, são homens pequenos, sem infância. Queremos crianças que sejam homens e mulheres gigantes e, por isso, termino dizendo que o Fundeb...

(Interrupção do som.)

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - ... o Fundeb visa a um investimento de cerca de R$1,5 bilhão no ensino profissionalizante, ou seja, que a criança, já no ensino básico, aprenda também uma profissão e que não tenha que optar somente pelo tráfico para sobreviver.

O apelo que faço é que aprovemos o Estatuto da Pessoa Portadora de Deficiência, o Estatuto da Igualdade Racial, mas também o Fundeb, para que possamos investir em escolas que preparem as nossas crianças também na sua caminhada, como manda a própria Constituição, saindo do ensino básico aptos para enfrentar o mercado de trabalho.

Era isso o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Parabéns aos realizadores do documentário “Falcão - Meninos do Tráfico”, produzido pelo rapper MV Bill e pelo produtor Carlos Athayde.

            Obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2006 - Página 9199