Discurso durante a 20ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Solidariedade ao pronunciamento da Senadora Patrícia Saboya Gomes. (como Líder)

Autor
Paulo Octávio (PFL - Partido da Frente Liberal/DF)
Nome completo: Paulo Octávio Alves Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. POLITICA SOCIAL.:
  • Solidariedade ao pronunciamento da Senadora Patrícia Saboya Gomes. (como Líder)
Aparteantes
Roberto Saturnino, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2006 - Página 8784
Assunto
Outros > SENADO. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, MULHER, VITORIA, CONCURSO DE BELEZA.
  • SOLIDARIEDADE, DENUNCIA, SENADOR, ALICIAMENTO, CRIANÇA, TRAFICO, DROGA, COMENTARIO, DIVULGAÇÃO, TELEVISÃO, FILME DOCUMENTARIO, MOBILIZAÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, GRAVIDADE, PROBLEMA, ABANDONO, POPULAÇÃO CARENTE, PERDA, INFANCIA, VITIMA, CRIME ORGANIZADO.
  • POSSIBILIDADE, CANDIDATURA, ORADOR, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), REGISTRO, PROGRAMA DE GOVERNO, PRIORIDADE, INCLUSÃO, INFANCIA, JUVENTUDE, EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE, MERCADO DE TRABALHO.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, quero registrar - até para um relaxamento, devido ao momento um pouco tenso que vivemos aqui - que está aqui a Miss Brasil, Carina Beduschi, de Santa Catarina, que está sendo devidamente cumprimentada pelo Senadores Arthur Virgílio e José Agripino, e também a Miss Brasília, que é uma jovem de Taguatinga, Ana Cláudia Pimenta, que foi vitoriosa e ganhou o Concurso Miss Brasília. Então, aqui estão as representantes da beleza da mulher brasileira. Parabéns a todas, aqui devidamente cumprimentadas pelos ilustres Senadores desta Casa.

Ao nos solidarizarmos com a Senadora Patrícia Saboya em seu pronunciamento sobre crianças traficantes, enfatizamos que o envolvimento de crianças e jovens adolescentes brasileiros com o tráfico de drogas deixou de ser, tão-somente, um problema localizado desta ou daquela polícia, deste ou daquele Estado ou comunidade. Faço este apoiamento também em nome do meu Partido, o PFL, com a devida aprovação do nosso Líder, Senador José Agripino.

Com a exibição do documentário “Falcão, os meninos do tráfico”, no programa Fantástico, da TV Globo, neste último domingo, a questão ultrapassou as fronteiras da segurança pública e invadiu todos os lares brasileiros e, principalmente, as nossas consciências e as nossas responsabilidades de dirigentes políticos deste País.

É um problema nacional. Ganhou dimensão social e cultural para toda uma sociedade que trabalha duro pelo progresso, pelo desenvolvimento econômico, buscando firmar-se como Nação soberana e modelar, exemplo para os demais países do planeta.

Não podemos seguir em nossa caminhada rumo ao pleno emprego, a auto-suficiência energética e a soberania econômica, se não riscarmos de imediato de nossa história essa mancha de vergonha e insanidade, algo que faz lembrar os tempos de escravidão.

Como todo cidadão brasileiro, também estou chocado e indignado com o que foi mostrado e vivenciado pelos realizadores do documentário, o rapper MV Bill e o produtor Celso Athayde. Sim, eles prestaram um grande serviço à nação, pois o assunto passou a fazer parte do debate público do Brasil. **

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Permite-me V. Exª um aparte, eminente Senador?

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Pois não.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador Paulo Octávio, cumprimento V. Exª pela oportunidade do pronunciamento que faz porque este, na verdade, é o grande escândalo do País: esta desigualdade, esta injustiça estrutural, esta injustiça de há séculos na nossa República, que demanda providências urgentes, que, a meu juízo, estão sendo iniciadas com o salário mínimo, o Bolsa Família, a agricultura familiar, mas que ainda precisam avançar muito mais. Então, regozijo-me com o bom senso de V. Exª de tratar deste assunto da maior gravidade, que chocou a Nação inteira, e interromper essa série de pronunciamentos acusatórios que, no fundo, só servem para deixar a população perplexa. Cumprimento V. Exª pela substância do pronunciamento que está fazendo.

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Muito obrigado, Senador Roberto Saturnino, grande Líder. Tenho certeza de que o mesmo choque que levei com o documentário apresentado pela TV Globo V. Exª também teve. É triste e é realmente o grande drama do nosso País.

Ninguém de sã consciência, Senador, pode dormir em paz, após ouvir de uma criança com pouco mais de doze anos, metralhadora debaixo do braço, dizer, sem nenhuma expressão de emoção nos lábios ou no olhar: “Se eu morrer nasce outro. Ou melhor ou pior. Se eu morrer vou descansar.”

Isso foi dito por um menino de doze anos.

Um adolescente de 17 anos conta - um dos momentos mais emocionantes é justamente este - que o seu maior desejo, desde pequeno, era visitar um circo, programa que nunca fez porque a sua mãe não pôde levá-lo. Ele diz que ainda hoje sonha em ser palhaço e entrar numa escola de circo. Esse menino já perdeu a mãe e já perdeu a vida.

O flagelo dos meninos armados a serviço do tráfico de drogas nas comunidades mais carentes de vários Estados brasileiros deve ser combatido com o mesmo rigor do flagelo da fome. As raízes são as mesmas: o desemprego, a falta de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento dessas comunidades, carência de escolas e centros culturais e esportivos nestas localidades. Enfim, comunidades abandonadas produzem seus próprios monstros, esses soldadinhos de carne e osso que geralmente morrem antes de completar dezoito anos sem, ao mínimo, terem conhecido um simples brinquedo.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador, V. Exª me permite?

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Senador Tuma, com o maior prazer.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Se eu entendo, V. Exª está referindo-se ao programa do Fantástico.

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL -DF) - Exatamente.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Hoje, pela manhã, vi a parte resumida no jornal da manhã. Posso dizer com toda honestidade a V. Exª que não deu para dormir sossegado. Claro que já tenho os filhos criados e tenho os meus netos, como V. Exª tem os seus filhos. Mas é uma coisa tão triste, tão amarga, aquela mãe dizendo: o meu filho tem três anos, vive aqui no morro, sabe o que é maconha, sabe o que é cocaína e faz perguntas a respeito. Eu vou explicar para ele que o irmão morreu desta forma, sendo um soldado do tráfico. É claro que o autor dessa reportagem teve uma vontade de alma e de coração de mostrar o que acontece, como V. Exª faz da tribuna, jamais mostrando que a polícia agia ou não agia nesse crime. O que ele faz é um apelo para que o Governo, para que a sociedade olhe com mais carinho e evite que se dê continuidade a esse tipo de atividade para crianças que não têm nenhum tipo de oportunidade. E não fez uma referência aos morros do Rio de Janeiro. Ele levou para vários Estados brasileiros. É uma situação tão triste que, às vezes, sem dúvida nenhuma, o Bolsa Família não resolve. Acho que V. Exª está no caminho certo. Vou parar para não me emocionar, mas acredito piamente que alguém vai ouvir o seu grito desta tribuna.

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Senador Tuma, certamente é o nosso grito, é o grito também do nosso Partido, o Partido da Frente Liberal. Estou aqui também falando pelo Senador José Agripino, nosso Líder, e tenho certeza de que estaremos todos alertando a Nação sobre essa grave questão.

Segundo levantamentos de entidades e ONGs ligadas à defesa dos Direitos Humanos, já são mais de seis mil jovens ligados ao tráfico de drogas em todo o País. Que potencialidade perdida! Imaginemos esses jovens praticando esportes, freqüentando escolas com razoável alimentação, produzindo cultura e artes. Quanto o Brasil não ganharia, Senador Romeu Tuma.

Chega! É o momento de disputarmos criança por criança - vamos disputar criança por criança, vamos lá na rua - com esse flagelo nacional que é o crime organizado do tráfico de drogas. Não podemos permitir que nossa juventude perca a esperança, jogue no ralo a saúde e a criatividade tão importantes para essa fase da nossa vida.

Aqui em Brasília, conforme as diretrizes para um plano de governo que tivemos a honra de apresentar à imprensa e aos formadores de opinião pública para o Governo do Distrito Federal, na condição que sou de pré-candidato, está no nosso programa desenvolver projetos que envolvam cada dia mais nossos jovens com atividades educacionais, culturais e esportivas; realizar programas com escolas técnicas preparadoras de mão de obra para o mercado de trabalho e escolas integradas que funcionem em dois turnos, e que nos fins de semana produzam atividades culturais que congreguem as comunidades e as famílias.

É duro, é cruel, é lamentável, mas, acima de tudo, é indigno silenciarmos diante de tamanha barbárie. A juventude carente brasileira, a que vive em favelas, bairros de periferia e entornos, merece outro horizonte.

Vamos nos mirar nos exemplos de Ronaldinho, de Daiane e tantos outros que saíram de comunidades carentes para transformarem-se em gente do bem, exemplos para toda a humanidade.

Por fim, Srª Presidente, quero apoiar o pedido da Senadora Patrícia e solicitar à TV Senado que peça à Rede Globo o direito de retransmissão deste filme, para que seja possível veicularmos várias vezes e estimular o debate em torno deste Brasil real.

Precisamos sensibilizar toda população brasileira para que governos e sociedade civil organizada busquem uma solução para o drama que aflige e que atormenta todo o País: o drama que vivem essas crianças abandonadas que, em sua grande maioria, não chegam a viver até os 18 anos.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/2006 - Página 8784