Discurso durante a 20ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre as denúncias contra o Ministro Antonio Pallocci.

Autor
César Borges (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Considerações sobre as denúncias contra o Ministro Antonio Pallocci.
Aparteantes
Ideli Salvatti.
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2006 - Página 8787
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • CRITICA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, TENTATIVA, PRESERVAÇÃO, CARATER PRIVADO, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), RECONHECIMENTO, INEXATIDÃO, DEPOIMENTO, AUTORIDADE.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), INTERNET, RELAÇÃO, SUSPEIÇÃO, IRREGULARIDADE, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), EXPECTATIVA, ORADOR, EXONERAÇÃO, CARGO PUBLICO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Eu lhe agradeço, Srª Presidente, com todo apreço que tenho por V. Exª. Mas é lamentável que a Senadora Ideli tenha se ausentado neste momento, porque, Srª Presidente, eu assisti à reunião da CPI dos Bingos e verifiquei que a linha de defesa do Partido dos Trabalhadores se deu em torno de que deveria ser preservada a vida privada, sem levar em conta o Partido dos Trabalhadores de que, com isso, há um reconhecimento explícito de que o Ministro esteve na casa do Lago Sul, que, lamentavelmente, tem o número 25, o número do meu Partido, na porta. Péssima escolha fez a República de Ribeirão Preto ao alugar essa casa.

Srª Presidente, o importante é que o Brasil, neste momento, tem um Ministro da Fazenda, a principal autoridade financeiro-monetária do País, que não aparece em público desde a viagem do Presidente Lula à Inglaterra. Não despacha mais no Ministério da Fazenda e se reporta apenas à opinião pública por meio de notas. Não vai ao Ministério, porque a imprensa vai assediá-lo e ele não tem como responder às perguntas. Ou seja, temos um Ministro da Fazenda que, reconhecidamente, até pelos Srs. Membros do Partido dos Trabalhadores, nesta Casa, e pela defesa que fizeram de que não se poderia avançar pelas relações íntimas, pessoais do Ministro da Fazenda, cometeu um crime de perjúrio.

Senador Roberto Saturnino, V. Exª é do PT. Ele veio à CPI dos Bingos e disse que não esteve naquela casa. Senadora Ideli, ele disse que não esteve naquela casa. Ele disse a todos nós, não apenas aos Senadores, mas a todo o País. Ele reafirmou de forma categórica que não esteve na casa, ele reafirmou de forma categórica que há muito tempo não tinha relacionamento com a República de Ribeirão Preto, principalmente com o Sr. Buratti, o que não é verdade e está sobejamente demonstrado que não é verdade.

Então, nós temos hoje o Ministro da Fazenda manietado e sobre o qual o Presidente da República diz, por sua vontade imperial, que merece toda confiança e permanecerá no Governo.

Que não se use a desculpa de que a economia sofreria com a saída de um ministro que hoje sofre todo tipo de suspeição! A economia e os seus fundamentos estão assegurados pelos índices que hoje nós verificamos no nível de mercado tão contemplado e apreciado pelo Governo Federal, porque precisa deixar o mercado tranqüilo. O mercado está tranqüilo. Não há o menor problema.

Hoje, o Globo On Line publica As Suspeitas contra Palocci:

            Denúncia de mesada em Ribeirão Preto.

            Rogério Buratti, que foi secretário de Governo de Antonio Palocci em Ribeirão Preto, afirmou que a empresa Leão & Leão pagou, entre 2001 e 2002, uma mesada de R$50 mil ao então prefeito da cidade, Antonio Palocci.

As Suspeitas contra Palocci:

            Suspeita de lobby para bingos.

            Em depoimento ao Ministério Público, Rogério Buratti, que foi secretário de Governo de Palocci em Ribeirão Preto, também teria dito que o então prefeito esteve em 2002 num encontro com dois angolanos, donos de bingos.

E aí vem toda a relação dessas investigações pela CPI dos Bingos.

As Suspeitas contra Palocci:

Acusação de tráfico de influência.

Adhemar Palocci, irmão do ministro da Fazenda, é acusado de tráfico de influência para beneficiar a seguradora Interbrazil. A empresa fez doações para a campanha petista em Goiânia, onde Adhemar foi secretário municipal. Adhemar também é acusado de operar um caixa dois de campanhas petistas em Goiás.

As Suspeitas contra Palocci:

Os dólares de Cuba.

Ex-assessores do ministro em Ribeirão Preto, Ralph Barquete e Vladimir Poletto teriam intermediado remessa de dólares de Cuba para a campanha de Lula em 2002.

As Suspeitas contra Palocci:

Ligações para Juscelino Dourado.

O chefe de gabinete do ministro da Fazenda, Juscelino Dourado, saiu do cargo depois que vieram a público ligações telefônicas dele com o advogado Rogério Buratti. Dourado acabou admitindo que também recebeu Buratti diversas vezes no Ministério da Fazenda. Mas alegou que era só para tratar de assuntos particulares.

As Suspeitas contra Palocci:

O celular do secretário.

Secretário particular do ministro da Fazenda, Ademirson Ariovaldo da Silva, recebeu num celular ligações de Buratti e Vladimir Poletto. Esse telefone já teria sido usado pelo ministro Palocci ainda há época do governo de transição, mas a assessoria garante que o número era do assessor. Foram 1.434 ligações somente com Poletto e Ademirson, de março de 2003 até agosto deste ano, mais de 51 horas de conversas.

As Suspeitas contra Palocci:

Casa do Lago.

Em depoimento na CPI dos Bingos, Buratti revelou que ele e ex-assessores de Palocci em Ribeirão Preto se reuniam numa luxuosa casa no Lago Sul de Brasília. Segundo Buratti, a mansão seria uma “central de negócios”. Em janeiro, também na CPI, o ministro disse que nunca esteve na casa. Dois meses depois, o motorista Francisco das Chagas e o caseiro Francenildo Santos afirmaram na CPI que Palocci freqüentava a mansão.

E isso hoje é reconhecido até pela Senadora Ideli Salvatti, que o Ministro lá esteve, apenas que não é possível invadir a privacidade do Ministro, que esteve praticando...

Essa foi a linha de defesa do PT, para tentar impedir, no Supremo Tribunal, inclusive, o depoimento, e pedindo, reservadamente, o depoimento do caseiro Francenildo.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador César Borges, não autorizo o senhor a dar declarações a respeito do que eu penso, do que eu disse ou do que eu imagino.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Não preciso de sua autorização. Está gravado o que V. Exª declarou.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Porque, em nenhum momento, eu fiz declarações desse porte, como V. Exª está reportando da tribuna.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Por favor, um instante. Por favor.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Declarou. Não preciso de nenhuma autorização de V. Exª. A linha de defesa para pedir uma sessão reservada é que havia fatos privados...

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Reservada e que havia fatos privados.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - ... fatos privados com relação à vida...

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Da vida privada de pessoas.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Por que privada?

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Um instante.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Porque, naquela casa, aconteciam questões de foro íntimo de pessoas.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Então, o Ministro esteve na casa?

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Em nenhum momento eu disse do Ministro. Em nenhum momento.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Não, fatos íntimos revelados pelo caseiro da casa do Lago Sul de número 25?

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Em nenhum momento. Naquela casa aconteciam atos relacionados à vida íntima de pessoas.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Senador César Borges.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Portanto, não ponha na minha boca o que eu não disse, Senador César Borges.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Disse; está explícito.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Não disse, não disse.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - É claro.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Isso aí é inferência e conclusão de V. Exª, que não está autorizado a colocar na minha boca coisa que eu não disse.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Coloco da forma que eu desejar. Na tribuna, é livre. E V. Exª fez uma linha de defesa com o seu Partido, que, para todos nós, está muito claro que, na casa do Lago Sul, esteve o Ministro Palocci, porque não se deseja que se revele a parte íntima, a parte da vida privada. Isso é um reconhecimento explícito - não é implícito, não - de que ele lá esteve. Ou seja, temos um Ministro da Fazenda que mentiu na CPI dos Bingos e que mentiu para a Nação brasileira. Isso é o importante, Senador Antero Paes de Barros. Como manter a principal autoridade monetária deste País, o Ministro da Fazenda, sob essa suspeição? E ele não veio explicar absolutamente nada. Tentou-se calar o Francenildo e invadir, aí sim, o seu sigilo, que é sagrado e que só poderia ser quebrado por ordem judicial. Essa é a verdade a que estamos assistimos.

Mais do que isso, Srª Presidente: o motorista diz hoje ter levado dinheiro ao Ministério da Fazenda. O motorista fala mais. Fala que levava dinheiro, em envelopes, e o entrega aos assessores - o Sr. Ademirson Ariovaldo da Silva. Olhem a suspeição sobre o Ministro da Fazenda!

Há outra testemunha: corretor diz ter visto Palocci com lobistas. Está dito na Folha de S.Paulo - não sou eu que estou dizendo: terceira testemunha apareceu e afirmou ter visto o Ministro Antonio Palocci na companhia de seus ex-assessores da Prefeitura de Ribeirão Preto num imóvel alugado em Brasília. É o corretor Carlos Magalhães, que intermediou a alocação de uma casa no Setor de Mansões Dom Bosco, bairro nobre de Brasília, para o grupo hoje conhecido como República de Ribeirão Preto.

Com isso, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, está sobejamente demonstrado que o Ministro Palocci, por mais simpático, educado e cavalheiro que seja, não tem condições hoje de permanecer no cargo de Ministro da Fazenda, sob pena de termos um Ministro totalmente desacreditado para negociar em nome do País e para ditar as regras necessárias à estabilidade econômica que queremos, sim, para o País.

Era o que eu tinha a dizer.

Obrigado, Srª Presidente.


Modelo1 5/4/242:57



Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/2006 - Página 8787