Discurso durante a 20ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Crença nas instituições e no aparecimento da verdade em relação às denúncias veiculadas contra o governo. Reconhecimento das políticas públicas executadas pelo governo federal em benefício do social.

Autor
Roberto Saturnino (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA NACIONAL.:
  • Crença nas instituições e no aparecimento da verdade em relação às denúncias veiculadas contra o governo. Reconhecimento das políticas públicas executadas pelo governo federal em benefício do social.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Heráclito Fortes, Ideli Salvatti.
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2006 - Página 8789
Assunto
Outros > POLITICA NACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, CRISE, POLITICA NACIONAL, EXPECTATIVA, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, APREENSÃO, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, TUMULTO, BANCADA, OPOSIÇÃO, OCULTAÇÃO, INTERESSE, LIBERALISMO, ECONOMIA, PREJUIZO, POVO, FALTA, DEBATE, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, IMPORTANCIA, RECONHECIMENTO, EVOLUÇÃO, POLITICA SOCIO ECONOMICA, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, creio que nem vou precisar dos dez minutos para dizer o que me vem à mente e ao coração neste momento.

Em primeiro lugar, quero dizer que confio plenamente na consciência política, na inteligência do povo brasileiro, que nos vê, que nos escuta, que lê os jornais, que, enfim, dialoga sobre os acontecimentos que estão ocorrendo neste País. Confio também nas nossas instituições, que são capazes de trazer a verdade.

Há oito ou dez meses, afirmávamos que a verdade apareceria. CPIs trabalharam e trouxeram à tona muitas verdades, assim como a questão do caseiro Nildo e sua palavra contra o Ministro Palocci. Essa questão também será esclarecida e a verdade aparecerá. Não tenho a menor dúvida disso. Confio nas instituições e, no aparecimento da verdade, que resulta do seu funcionamento.

Srª Presidente, ficar escutando neste plenário estes qualificativos de “Governo podre, chantagista, bolchevique, Governo que acabou” me traz à mente coisas que escutei em passado muito remoto, mas que estão aí presentes; a velha vocação udenista de criar escândalos, a velha vocação dos liberais deste País, que sempre serviram ao mercado, sempre serviram às privatizações, sempre serviram, enfim, aos interesses que acabam dominando a capacidade do povo de realizar seus desígnios e o progresso que reflita em benefício deles.

Quer dizer, esse modelo que esteve presente tanto tempo neste País é que produziu essa doença refletida no documentário a que toda a Nação brasileira assistiu chocada e eu também, triste e revoltado, domingo, o grande documentário feito pelo Celso Athayde e MV Bill a respeito da vida do tráfico e do envolvimento das crianças brasileiras, que não têm mais esperança no trabalho, que não têm mais nenhuma expectativa na dignidade vinda do trabalho, em razão de toda essa falta da presença do Estado em políticas públicas capazes de contrariar a tendência de fabricação de injustiça e de concentração que o mercado produz.

Então, é a velha consciência, é a velha vocação de criar escândalos para que não se discuta o Bolsa-Família - tudo bem, gostei de escutar o Senador Romeu Tuma dizer que o Bolsa-Família não basta; também acho que não basta. Quero que vá para frente, que aprofunde mais. O salário mínimo da mesma forma, que se transforme numa política de longo prazo. Temos que decidir e votar isso, uma proposta de recuperação substantiva do salário mínimo a longo prazo; a agricultura familiar; o microcrédito, o Fundeb, que temos a responsabilidade de votar no menor tempo possível, porque é um grande avanço, é uma redenção sobre a população brasileira, que precisa de educação.

Enfim, Sr. Presidente, enquanto essas urgências estão postas e o povo esperando exatamente a crítica sobre aquilo que falta ainda, porque o Governo não é perfeito, tem ainda deficiências que precisam ser corrigidas, não convém esse bombardeio, essa artilharia de acusações que são absolutamente deprimentes e que vão vir à tona. A verdade emergirá. Não depende da nossa altercação, porque a verdade vai aparecer no prazo correto, como toda verdade.

Então, o que é importante é que se reconheçam as políticas públicas que estão sendo executadas em benefício exatamente da justiça social, da melhoria desta situação de desigualdade que leva à descrença da possibilidade de uma vida digna e que leva os meninos a aderirem ao tráfico, conforme mostrou o documentário de MV Bill e Celso Athayde.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Claro, com muito prazer, nobre Senador Heráclito Fortes.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Gostaria que depois V. Exª também concedesse a mim um aparte, Senador Roberto Saturnino.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Roberto Saturnino, V. Exª é um dos Parlamentares desta Casa que a Nação gosta de ouvir. Mas eu lhe perguntaria se a Oposição pode-se calar ou deve-se calar diante dos escândalos constantes que aparecem. V. Exª há de convir que o transporte do dinheiro na mala ou na cueca não foi obra da Oposição, e sim de militantes do PT ou de membros do Governo; que a denúncia do mensalão, feita até por um conterrâneo de V. Exª, Deputado Roberto Jefferson, também não foi obra nossa; que o episódio do Sr. Maurício Marinho não foi obra nossa, assim como o do Waldomiro Diniz. O que a Oposição faz, cumprindo o seu dever - e V. Exª foi um oposicionista brilhante nesta Casa -, é desempenhar um papel de ser a ressonância da Nação. Trazemos aqui o que a Nação cobra nas ruas: esclarecimentos sobre esses fatos. Imagine V. Exª a Oposição se calar diante disso. Não há nenhum espírito lacerdista, como V. Exª quis impor à Oposição atual, embora muitos aqui - e eu me incluo entre eles - tenham admiração pelo ex-Governador do Rio de Janeiro, o Sr. Carlos Lacerda. Mas não, estamos diante de fatos. Cabe ao Governo mostrar o lado positivo; cabe à Oposição criticar. Sempre foi assim, e não vamos desvirtuar o nosso papel.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Senador Heráclito, V. Exª usou a expressão correta. É dever da Oposição fazer essas questões, como o fez V. Exª. Todas essas questões foram levadas para as CPIs e apuradas. Mal ou bem, com atritos aqui e ali, mas foram apuradas de uma forma em que o Governo, a instituição governamental não foi posta em xeque.

Agora, se o tipo de acusação deriva para o mar de lama, muda de categoria.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Temos agora esse episódio desse rapaz, que teve o sigilo bancário quebrado.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Trata-se de um episódio; então, vamos apurá-lo. Isso vai ser apurado, mas não significa que o Governo esteja sufocado, asfixiado por um mar de lama ou por um mar de que sei lá que outra porcaria.

Mas o fato é que isso é o importante, porque o papel da Oposição tem de ser exercido, evidentemente. V. Exª falou corretamente.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Agradeço a V. Exª

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Agradeço o aparte de V. Exª e ouço a Senadora Ideli Salvatti.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Saturnino, ao longo de toda a tarde, V. Exª se manteve atento aos debates. É a primeira vez que V. Exª está utilizando a palavra nesta conturbada sessão e V. Exª vem à tribuna com a voz de alguém da sabedoria da sua idade, da sabedoria dos que acompanharam fatos ao longo da história brasileira que em muitos momentos se assemelham ao que estamos vivenciando hoje. Em muitos momentos!

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - É verdade, Senadora. Por isso eu me referi a eles.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - E foi muito interessante, porque não tive oportunidade de assistir à série JK e fui alertada por nada mais, nada menos do que o Presidente Lula, num dos seus pronunciamento, sexta-feira, em Santa Catarina, quando ele teve a oportunidade de assistir a um dos capítulos. É muito interessante a maneira como determinados fatos ocorreram na história, os tais mares de lama, acusações conturbando e impedindo, em outros momentos, determinados presidentes de governar, principalmente quando estavam afrontando os interesses ou fazendo modificações significativas nos interesses da elite brasileira. O Presidente Lula utilizou, em Santa Catarina, uma expressão assim: “Se formos fazer o exame de DNA dos que hoje falam e dos que falaram antigamente, vamos encontrar muita coincidência”. Então, fico aqui muito satisfeita em ouvir a sabedoria da sua voz, colocando as coisas nos seus devidos lugares, numa sessão tão conturbada, em que vários de nós nos passamos, como costumamos dizer em termos mais populares. Além do mais, V. Exª traz outra questão: muito disso - como já aconteceu em outras épocas e pode estar acontecendo agora - é para encobrir e impedir que as políticas públicas adequadas para a maioria da população prossigam. Então, a Senadora Serys terminou o seu discurso inicial, do qual só escutei o final, de uma forma muito clara: “Deixem o Lula governar”. A Oposição faz oposição, mas deixem o Lula governar, porque a população quer governo, ações, políticas públicas que melhorem o seu cotidiano. E creio que é isso o que apavora tanto e faz com que tenhamos repetição de episódios muito assemelhados a outros que já vivenciamos em nosso País.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Obrigado, Senadora Ideli Salvatti. V. Exª interpretou muito bem o sentimento que me trouxe à tribuna e reforçou enormemente o meu pronunciamento.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador, V. Exª me concede um aparte?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Ouço o Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Roberto Saturnino, sempre tive por V. Exª um carinho pessoal muito grande. Em algum momento, chegamos a nos exacerbar aqui, mas me senti em outro momento capaz de fazer justiça a V. Exª. Mas quero lhe dizer que V. Exª citou várias expressões que eram minhas, precisamente minhas. O apreço que lhe tenho é enorme, mas não há nada que supere a minha consciência da própria liberdade. Não vou pedir licença a V. Exª para fazer oposição da maneira que eu bem entender, não vou. Espero que isso não o ofenda. Quanto a DNA, não tenho nenhum DNA de golpe em mim. Votei nulo em 1970, quando o Sr. Lula votou na Arena. Lula foi arenista em 1966, quando a ditadura se implantava. Não se pode dizer que ele não tinha consciência, porque era um operário que se alfabetizou. Afinal, outros votaram contra. Não é possível! Lembro-me dele quando era olhado com muita desconfiança por nós da esquerda, como alguém que seria vinculado ao AFL-CIO dos Estados Unidos. Não sei nem se V. Exª mesmo já não o julgou com essa dureza. V. Exª e eu temos uma raiz parecida. Não sei se V. Exª já não o julgou com essa dureza que julguei - eu e tantos outros, como Brizola, que era tão companheiro seu. O DNA dele não é tão bom assim, não. Votou na Arena em 1966 e votou na Arena em 1970. Era uma figura que recalcitrava na hora em que se precisava fazer frentes únicas contra o regime autoritário para acumular forças e substituir a ditadura por algo parecido com uma transição. Queríamos pela direta, mas não foi possível, e acabou sendo pela indireta. De maneira bastante hipócrita, orientou seus deputados aqui, sabendo que não eram relevantes no número, a não votarem em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Alegavam que era por causa de Sarney; alegavam que era por causa do Colégio Eleitoral. Ou seja, se todos pensassem como eles, não teria havido a vitória de Tancredo, não teria havido a transição democrática. Tenho certeza absoluta de que V. Exª foi crítico acerbo daquele esquerdismo infantil do PT àquela altura; não tenho dúvida alguma disso. Portanto, devo lhe dizer que, se, na opinião de V. Exª, não há um mar de lama, na minha, há; se, na opinião de V. Exª, as coisas estão andando às mil maravilhas no campo ético do País, eu diria que não estão; se, na opinião de V. Exª, há alguém que seja serviçal do mercado - e discordo bastante de V. Exª em economia -, ninguém mais do que Antonio Palocci seguiu à risca, mais do que todos, o receituário liberal. Quanto ao Presidente Lula governar, ele continua me devendo o que eu pedi dele: uma demonstração clara. Eu o queria em uma escrivaninha, com as mangas arregaçadas, trabalhando, porque não consegui ver isso ainda. Eu o vejo fazendo discurso, discurso e discurso, metendo os pés pelas mãos, falando demais. Mas não vejo uma ação concreta. Eu vejo um homem muito bafejado - e graças a Deus que é assim - por uma conjuntura internacional virtuosa, que não acontece há cinqüenta anos, e mesmo assim apresentando, sem nenhuma crise de fora para dentro, resultados pífios, bastante inexpressivos do ponto de vista do crescimento econômico. Sinceramente me sinto mais do que no direito, mas no dever de fazer oposição a ele. E se de alguma forma o meu palavreado constrangeu V. Exª, eu devo lamentar. Mas se V. Exª veio fazer o seu desabafo e dizer o que sente, quando eu assomo àquela tribuna, eu não vou com menos sinceridade. Eu vou exatamente sentindo o que eu sinto. E o que eu sinto é que há clima de mar de lama, sim; que há clima de garroteamento das liberdades, sim. Eu sinto que preciso lutar por liberdade neste País, nesta quadra, tanto quanto V. Exª e eu lutávamos antes, e tanto quanto o Lula não lutou no início da ditadura, pois ele chegou bem tarde à nossa luta. Ele chegou tardinho, tardinho. Ele não era criança, não. Ele chegou tardinho, tardinho. Ele chegou quando muitos operários já tinham morrido. Ele chegou quando muita gente já tinha sido presa, e ele votando na Arena, votando não sei no que, argumentando que era uma pessoa alienada. Ou seja, DNA por DNA, eu sou muito mais o meu do que o dele. E eu duvido que V. Exª, que conhece os dois DNAs, se tivesse de escolher um deles para sobreviver, por DNA, ficasse com ele. Eu duvido.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Senador Arthur Virgilio, eu fui crítico do Senhor Luiz Inácio Lula da Silva durante muito tempo e do PT também; eu sou recente no PT. Agora, o que eu quero é reconhecer os avanços que estão sendo produzidos depois daquela calamidade do neoliberalismo, que não foi só do Presidente Fernando Henrique, foi desde o Presidente Collor, e que ele está efetivamente mudando. Por quê? Porque parou as privatizações, restabeleceu as políticas desenvolvimentistas das estatais, porque está fazendo os programas sociais. O que eu quero é que ele avance mais. Fiz as minhas críticas também à própria política do Governo e à própria política do Ministro Palocci. Só que eram críticas construtivas. Eu criticava para que fosse feito um avanço maior. Não eram críticas nos termos que hoje escutei aqui. Não. Deus me livre. Não quero, nem de longe passou pela minha cabeça a pretensão de tirar de V. Exª o direito do desabafo. V. Exª disse que teve o mesmo sentimento agora. Também faço a minha crítica dentro do espírito que me parece adequado a esta instituição.

Escuto V. Exª.

O Sr. Arthur Virgilio (PSDB - AM) - Se tem uma coisa que eu respeito em V. Exª é precisamente a honradez. Honradez para mim não é brincadeira.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Devo dizer que da mesma forma o respeito é absolutamente recíproco.

O Sr. Arthur Virgilio (PSDB - AM) - A honradez, tanto para V. Exª quanto para mim, quanto para as demais pessoas, deve ser essa óbvia de V. Exª e eu não termos medo de quebrarem nossos sigilos. O Okamotto tem. É um fato. V. Exª e eu não temos, o Okamotto tem. Também a honradez intelectual...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Arthur Virgilio (PSDB - AM) - ... V. Exª, a considerar neoliberal não só o Governo passado como outros, talvez esteja se referindo ao Governo do Presidente Itamar ou o do Collor mesmo, que tinha esse corte de abertura, enfim, eu não sei que diferenças tão extraordinárias acharia, se se manteve, se se aprofundou a política econômica, se o tal rompimento com o FMI não foi rompimento. Ao contrário, foi a quitação. Foi o primeiro da sala, o mais bom moço de todos que quitou e está com a banca aberta para, ao primeiro problema, correr para lá. Ou seja, V. Exª é crítico de uma política da qual eu não sou crítico. Eu sou crítico da forma como está se comportando no plano moral o Sr. Palocci. Não sou crítico da política dele. V. Exª é. Eu não acho que nem eu nem Palocci sejamos neoliberais. Agora, V. Exª não poderia, a meu ver, cantar louros dos resultados da política econômica que V. Exª combate. V. Exª combate a política de Palocci. Eu digo que não. Eu digo que, sem ela, seria o caos. V. Exª acha que teria uma outra melhor. Mas não dá para, ao mesmo tempo, V. Exª dizer: “Então, foi feita uma grande transformação fundada na política na qual eu, Roberto Saturnino, não creio.” Eu entendo que não houve neoliberalismo em nenhum desses momentos, nem com Itamar nem com Fernando Henrique. Se eu vejo alguma coerência em Palocci, e tenho visto muita, ele não deixaria de privatizar se houvesse um estoque de empresas para privatizar. Eu não consigo imaginar que ele faça a política que está fazendo e não privatize. Quebra dos monopólios. Se meu pai fosse vivo, teria sido contra o meu voto a favor da quebra dos monopólios, tenho certeza absoluta. V. Exª o conheceu bem, e eu, mais do que ninguém, o conheci. Meu pai seria uma pessoa, hoje, talvez ... Meu pai era o Brizola, ia por onde fosse. Por outro lado, quando hoje se comemora a auto-suficiência em petróleo, eu ligo à seqüência de trabalhos que a Petrobras fez, à cultura dessa empresa, ligo à reforma administrativa que se fez no Governo passado, ligo à quebra do monopólio que tornou a empresa mais ágil, menos cartorial, mais firme para competição. Começo em Bilac Pinto, em Getúlio Vargas, começo em Horta Barbosa, vou passando por todos até chegar no Presidente Lula, que recebeu 4% a menos de auto-suficiência. No entanto, estão preparando agora, com Duda Mendonça, isso não é moral, R$30 milhões de propaganda para dar a entender que também a Petrobras foi descoberta neste Governo. Se tem uma pessoa que imagino que vai saber ser coerente e não embarcar nesse canto de sereia é V. Exª, que tem todo o direito de me criticar. Tenho a maior honra de estar aqui debatendo com V. Exª. Aí cobro o tino de V. Exª pelo respeito e pelo carinho que lhe tenho.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Senador Roberto Saturnino, solicito que V. Exª encerre o seu pronunciamento.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Vou encerrar, Srª. Presidente.

            Finalizando, muito brevemente, quero dizer ao Senador Arthur Virgílio, como disse várias vezes desta tribuna, que não acho que a política do Governo Lula seja a mesma política dos governos anteriores. É a mesma política fiscal e monetária, mas política econômica não é só isso. O neoliberalismo é a retirada do Estado, é a privatização, é a entrega total ao mercado, e isso o Presidente Lula reformulou, colocando as empresas estatais a serviço do desenvolvimento.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Nós vimos a privatização do Estado para o Delúbio. O Estado foi privatizado para o Delúbio e para o Marcos Valério.

            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Por favor, por favor.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Estou falando em outros termos. V. Exª está mudando os termos da minha afirmação. Estou dizendo que a política é bem diferente, não só a política de intervenção do Estado, como a política de natureza social. Por conseguinte, é diferente, e quero manter isso que foi o avanço e ampliar esse avanço.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Fazendo soar a campainha.) - Por favor, Senador.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Quando os bancos lucraram mais do que agora? Em que época os bancos lucraram mais do que agora?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Senador, por favor, solicite um aparte.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Saturnino, em que época os bancos lucraram mais do que agora?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Sim, a política monetária e fiscal é a mesma, e claro que a tendência é aumentar mesmo.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Mas o resto havia: o Bolsa-Escola, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, isso tudo havia. Se não houver, há uma explosão social no País.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Não, houve muito avanço. O Fundeb é um avanço significativo, que nós temos de votar.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - E o Fundef não? O Fundef não?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Foi, mas o Fundeb é outro papo.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Mas qual é a diferença?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Solicito ao Senador Saturnino que conceda um aparte ao Senador. Não podemos continuar com esse debate dessa forma!

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - É porque eu pretendia encerrar, mas o Senador Arthur Virgílio não se conformou e, com todo o direito, quer mais um esclarecimento.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Solicito ao Senador Arthur Virgílio, se quiser usar da palavra, solicite o aparte, por favor.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Quando há mais apego e mais respeito ao debate, deve-se prorrogar. Alguém vai para o cinema?

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Solicite o aparte, Senador.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Prorrogue até às 22 horas a sessão.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Solicite o aparte.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - As pessoas lá fora trabalham que é um horror. Aqui, estamos achando que temos de ir para casa às 19 horas para ver a novela?

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Solicite o aparte ao Senador que está na tribuna.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Sim, mas nós estamos fazendo um aparte aqui. Prorrogue, deixe-o falar por uma hora e eu o aparteio por mais o tempo que eu quiser. Agora, não dá para achar que temos de encerrar a sessão. Isso não existe.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Eu não quero falar mais uma hora, não.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - O senhor tem de respeitar, por favor.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - O que quero dizer é que, se o Presidente Lula não tivesse sido eleito, hoje, o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica estariam todos privatizados, porque estava tudo prontinho para privatizar.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Não, é uma suposição de V. Exª.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Só a Petrobras é que não eu sei.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - É uma suposição de V. Exª.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Ela, talvez, precisasse de um pouco mais de tempo.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Não vejo. Como é que se iria privatizar o BNDES? Como se vai lucrar privatizando...

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Pergunto ao Senador Saturnino, por favor! Eu pergunto se o senhor concedeu o aparte ao Senador Arthur Virgílio.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Não, mas o Senador gosta de...

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Não, conceda o aparte, por favor.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Então, eu lhe peço o aparte, Senador.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Está concedido.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Muito bem. Senador, como é que se vai privatizar o BNDES? Como é que se vai imaginar que a infra-estrutura do Município de Maués, no Amazonas, vai ser feita com dinheiro particular? V. Exª é funcionário do BNDES. V. Exª não acredita nisto, que alguém fosse...

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Acredito, acredito, porque eu assisti ao Sr. Roberto Campos, que era um prócer neoliberal, querer privatizar.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Não, mas ele não tinha nada com o governo passado.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Ele criou os bancos de investimentos para isso.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Por favor, Senador Saturnino, está concedido o aparte. Vamos aguardar o término do aparte.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Ele não tinha nada com o governo passado. Ele não tinha nada com o nosso governo.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Senador Roberto Saturnino, está concedido o aparte. Vamos aguardar o término do aparte.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Tem tudo a ver, porque era um neoliberal, com as mesmas políticas. A tese de que o Estado atrapalha, e é preciso...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª vê fantasmas.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Senador Roberto Saturnino, por favor, V. Exª concedeu o aparte. Aguarde o Senador Arthur Virgílio terminar o aparte.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - O Estado hoje é outro, não mais aquele Estado mamute. As privatizações foram boas até do ponto de vista ético. Imagine o Delúbio com mais teles. Não teria havido a revolução das telecomunicações, não teria havido o novo passo que será dado da televisão digital, que teve a ver com o primeiro passo que foi o da quebra dos monopólios. Tenho a impressão de que essa é a compreensão que, inclusive, o Presidente Lula tem hoje com clareza. Essa é a compreensão do Palocci. Não consigo imaginar um governo que governe diferente. Reclamo dele por outros aspectos. Há uma inação administrativa grande.

(Interrupção do som.)

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Há uma propaganda excessiva, que, para mim, chega a ser “fascistizante”. Não posso entrar num avião sem ver a propaganda. Aquilo me irrita. Estou pagando a passagem e tenho que ficar ouvindo aquela propaganda. Ao mesmo tempo, não vejo coerência entre se ter essa política econômica e não se privatizar tudo quanto o Governo privatizou, se porventura o estoque de empresas estatais estivesse à mão. Palocci ia lutar muito por isso. Marcos Lisboa também. E não tenho dúvida de que Lula iria atendê-los. Vamos convir que, até agora, em matéria econômica, V. Exª não foi atendido em nada.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Fui atendido, sim, Senador.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Em quê? Em matéria econômica?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Sim.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª está de acordo com um trilhão de dívida pública interna?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Não. Fui atendido na encomenda da Petrobras das plataformas e dos navios no Brasil e no fato de o BNDES retomar a política de planejamento e financiamento. Fui atendido nos programas sociais a que deram início e em que precisam se aprofundar. Fui atendido no reajuste do salário mínimo. Eu me sinto atendido. Agora, eu quero mais. É diferente!

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª me permite outro aparte? V. Exª é um homem inteligente e um emérito debatedor. Aliás, quando eu pensava como V. Exª, eu queria que V. Exª tivesse sido Ministro da Fazenda lá atrás, se tivéssemos porventura derrotado o regime militar. Mas estamos falando de outra coisa. Estou falando da política econômica. V. Exª tinha muito com o que contribuir, mas nem sua voz nem a de pessoas que pensam como V. Exª foram ouvidas. Nas plataformas já estão falando de corrupção, de propina, de overprice. V. Exª não tem nada a ver com isso. Não estou falando das plataformas. Estou falando que o essencial, que a espinha dorsal do Governo, que é, precisamente, o conjunto de suas políticas macroeconômicas, não teve a contribuição de V. Exª. Entre V. Exª, Paul Singer e, por exemplo, Carlos Lessa, o Governo optou pelos assessores de Palocci, a começar por Marcos Lisboa. É um fato ou não é?

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Na parte fiscal e monetária é, mas há um todo na política econômica. A política econômica tem muitas outras vertentes, tem muitas outras facetas, muitos outros predicados que não apenas...

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Solicito ao Senador Roberto Saturnino que encerre em um minuto, por favor.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Vou encerrar.

Nobre Presidente, agradeço a V. Exª pela condescendência e agradeço ao Senador Arthur Virgílio pelo aparte, que enriqueceu o meu pronunciamento. Eu fiz o que queria fazer: vim a esta tribuna e trouxe minha mensagem de desabafo e de inconformidade com esse tipo de crítica exaltada que se faz, além do limite do construtivo, do que realmente serve à Nação e ao povo.

Muito obrigado a V. Exª.


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