Discurso durante a 24ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao transcurso dos 40 anos de fundação do PMDB.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Homenagem ao transcurso dos 40 anos de fundação do PMDB.
Publicação
Publicação no DSF de 24/03/2006 - Página 9282
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (MDB), REGISTRO, HISTORIA, PERIODO, LUTA, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL, ATUAÇÃO, PERSONAGEM ILUSTRE, ESPECIFICAÇÃO, DEFESA, ANISTIA, ELEIÇÃO DIRETA, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE.
  • COMENTARIO, VONTADE, MAIORIA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DEFESA, COMPROMISSO, RESPONSABILIDADE, ALTERNATIVA, POLITICA NACIONAL, APREENSÃO, OPINIÃO, JOSE SARNEY, RENAN CALHEIROS, NEY SUASSUNA, SENADOR, LIDER.
  • DETALHAMENTO, ALTERNATIVA, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PRESIDENCIA DA REPUBLICA, COMENTARIO, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


     O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - “Concorrer com candidato próprio à Presidência da República é uma responsabilidade da qual, a não ser por covardia, não podemos fugir.”

            Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores: Dias atrás, entrei com requerimento junto à Mesa do Senado Federal pedindo uma sessão especial para homenagear o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) que, no dia em 24 de março deste ano, comemora quarenta anos de vitoriosa existência.

O meu objetivo era fazer uma justa homenagem a essa grande agremiação política, uma das mais importantes da nossa vida republicana. Uma homenagem também aos grandes líderes do partido, como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Mário Covas, Franco Montoro e Miguel Arraes.

Assim, vou me concentrar aqui principalmente nos primeiros vinte anos de vida do partido, os vinte anos gloriosos do nosso partido.

O Movimento Democrático Brasileiro surgiu por força de uma reforma partidária imposta pelo regime militar, que decidiu limitar em apenas duas siglas o espectro político nacional. O Movimento Democrático Brasil nasceu como o partido de oposição ao governo vigente, oposição consentida, é verdade. Dizia-se, então, que o se a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que apoiava incondicionalmente o regime militar era o partido do “sim, senhor”, o MDB era mais altivo, era o partido do “sim”, nunca do “sim, senhor”.

Inicialmente, a nova agremiação foi presidida pelo Senador Oscar Passos, que tinha como vice-presidente aquele que seria o principal dos militantes do partido, o deputado paulista Ulysses Guimarães. Os outros vice-presidentes eram os deputados Franco Montoro, também paulista, e Oswaldo Lima Filho, pernambucano.

Ao longo dos vinte anos seguintes, o MDB escreveria uma das mais belas páginas da história brasileira: a nossa longa caminhada em direção ao restabelecimento de um regime democrático.

Façamos uma breve digressão histórica.

Em 1964, instala-se no Brasil um regime arbitrário, comandado pelas forças armadas. Após a derrubada do presidente eleito democraticamente, João Goulart, começa o sistemático desmantelamento das instituições democráticas.

Em 9 de abril, a junta militar liderada pelo general Costa e Silva baixa o AI-1, que cassa os direitos políticos de 102 brasileiros, entre eles João Goulart, Leonel Brizola, Jânio Quadros, Miguel Arraes e Luís Carlos Prestes.

No dia 13 de abril de 1964, surge uma nova lista: com 400 cassações ao todo.

No final de 1965, o AI-2 altera a vigência da Constituição de 1946, ampliando os poderes do presidente (eleito indiretamente) e suprime o multipartidarismo.

Em 24 de março de 1966, no então Estado da Guanabara, o Movimento Democrático Brasileiro, MDB. Naquele mesmo ano, a democracia recebe um novo golpe. O Ato Institucional Número 3 estabelece eleições indiretas para os governos estaduais. Mas, na primeira eleição direta para o Senado que disputa, o novo partido consegue eleger 20 dos seus integrantes.

Em 13 de dezembro de 1968, com o AI-5, o governo fecha o Congresso e suspende as garantias constitucionais. Sindicatos e entidades estudantis são também impedidos de funcionar. A partir daquela data, líderes estudantis, sindicais e políticos passam a ser perseguidos, têm seus direitos políticos cassados ou são obrigados a partir para o exílio.

Cabe, então, ao MDB, partido que tinha como bandeira o respeito às normas democráticas, denunciar as arbitrariedades sucessivas, que passam a ser conhecidas como “casuísmos”. Para cada dificuldade política que enfrentava, o regime militar inventava uma lei de exceção. A repressão se estende a todo e qualquer movimento social. O regime se concentra em cassar todos que se insurgem. Restringido o direito à liberdade e com a imprensa manietada, ganha terreno a corrupção.

É numa pequena margem de liberdade que os líderes e militantes PMDB têm que atuar.

Em uma atitude de protesto e, ao mesmo tempo, de enfrentamento ao regime, o Doutor Ulysses Guimarães, em 1971, lança a sua anticandidatura à Presidência da República. Numa eleição de cartas marcadas, que enfrenta só para firmar posição, o doutor Ulysses tem como companheiro de chapa o jornalista Barbosa Lima Sobrinho, Presidente da ABI.

Nesse quadro de grave crise institucional, o MDB passa a exigir a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, que considera o caminho mais rápido para restabelecer as instituições democráticas.

O início da década de 1970 ficou marcado por uma repressão cada vez mais violenta, que incluía a perseguição e até mesmo o assassinato de líderes políticos de oposição.

Nesse tempo tão amargo, apenas uma voz se insurgia contra o regime: a dos líderes e militantes do MDB, comandados pelo Dr. Ulysses.

Agremiação política que tinha a admiração de estudantes e trabalhadores, o MDB elege 16 senadores em 1974.

A luta pela constituinte, pela anistia e contra a tortura de presos políticos ganha força. As passeatas e atos de protestos, sob a coordenação dos líderes emedebistas, se repetem.

Lembro do nosso presidente Ulysses Guimarães construindo o partido apesar de todas as dificuldades. Havia muito medo. Mas, habilidoso e determinado, o doutor Ulysses comandou uma verdadeira articulação nacional para lutar pela democracia. Era um combate diuturno para alcançar que os direitos básicos de liberdade de expressão e de reunião fossem assegurados para todos os cidadãos.

O Congresso Nacional é forçado a um recesso em abril de 1997. O governo militar edita então o chamado “Pacote” de abril de 1977, restringindo ainda mais as liberdades. Surge a figura dos senadores indicados, chamados “biônicos”, de forma que o governo pudesse manter sua maioria no Congresso Nacional.

Com a crise do petróleo, o “Milagre Econômico” do Brasil de transforma num pesadelo. O país está endividado, em dólares, em função de uma política econômica que não levava em conta o interesse da população e que desperdiçava as verbas públicas em obras faraônicas.

Em 1979, treze anos depois de criado, o partido consegue suas duas maiores vitórias: a concessão de anistia política aos que haviam sido perseguidos pelo regime e a extinção do mais arbitrário dos instrumentos criados pelo regime de exceção, o Ato Institucional Número 5.

Na virada para a década de 80, o povo começa a sair às ruas em protesto. O partido que dava sustentação a essa insatisfação era o MDB, que funcionava como um guarda-chuva para todos os que discordavam do regime.

Por essa época, ganha espaço no partido um dos mais importantes políticos brasileiros do século passado: Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas, que literalmente deu sua vida pela reconstrução da democracia em nosso país.

Com a anistia, os presos políticos são postos em liberdade. Começa, então, o retorno dos líderes políticos brasileiros que haviam sido forçados ao exílio.

Para enfraquecer a oposição, o regime lança mão de mais um casuísmo: decreta o fim dos dois únicos partidos. Forçado pela nova lei, que exigia a palavra “partido” em todas as legendas, o MDB acrescenta um “P” à sigla. Fica sendo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, sob o comando do Dr. Ulysses Guimarães.

Nós considerávamos que ainda não era tempo de dividir a oposição. Pensávamos que deveríamos, todas forças democráticas, seguir abrigados numa mesma sigla, acumulando forças até a Assembléia Nacional Constituinte. Uma vez instalada, seriam extintos os partidos e criadas as novas agremiações, com base nas idéias e princípios e afinidades surgidos nos debates da elaboração da nova Constituição brasileira.

Mas, essa tese não prosperou e em 6 de dezembro de 1980 é aprovado o novo Estatuto do PMDB, eleito o novo Diretório Nacional e a nova Comissão Executiva Nacional.

Em 1981, o Partido Popular, que tinha como líder máximo o extraordinário Tancredo Neves, incorpora-se ao PMDB numa operação que o regime tentou impedir.

A nossa grande luta passou a ser pela eleição direta para a Presidência da República. Em 1984, o PMDB liderou aquela que certamente foi a maior mobilização já vista por este país em torno de uma causa política: a frente popular que ficou conhecida como “Diretas-Já”.

Depois de uma reunião inicial em Goiânia, realizou-se na capital do Paraná o primeiro comício pelas Diretas Já. Com o descontentamento popular no seu ponto máximo, os comícios se sucedem por todo os cantos do Brasil. Os meios de comunicação, subordinados ao regime, tentaram esconder as manifestações de massa em favor das eleições diretas. Foram obrigados, no entanto, a abrir espaços para o assunto depois que veículos da imprensa começaram a ser atacados e virados nas ruas pela ira popular.

Mesmo enfraquecido, o regime decreta Estado de Emergência. Brasília é sitiada por forças militares. Volta a Censura aos meios de comunicação. A emenda Constitucional sugerida pelo Deputado Dante de Oliveira - que permitia eleições diretas para Presidente - é derrotada no Congresso.

Naquele momento, nada mais poderia deter o povo brasileiro na sua ânsia por liberdade. A batalha continuou nas ruas, em grandes manifestações populares que pregavam a eleição de Tancredo Neves, mesmo que no execrado Colégio Eleitoral.

O PMDB une-se a outros partidos na Frente Liberal e lança, no plenário da Câmara dos Deputados, Tancredo Neves para Presidente da República, tendo como vice José Sarney. A batalha final se travaria no Colégio Eleitoral montado pelo próprio Governo.

Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves é eleito, mas não chega a tomar posse. Doente, é internado às pressas na noite que antecedeu a posse. O povo brasileiro passou a acompanha pelos meios de comunicação a luta do presidente eleito contra a doença. Eram diárias e tocantes as cenas de brasileiros, em geral pessoas das mais humildes, orando pela recuperação de Tancredo.

A morte de Tancredo mergulhou o país na tristeza. Foi um grande choque para a população. Em Belo Horizonte, em Brasília, emocionado, o povo se despediu do grande ploítico mineiro.

Srªs e Srs. Senadores, em 1985, com a posse do Senador José Sarney na Presidência, inicia-se a Nova República.

No ano seguinte, em função do Plano Cruzado, estabelecido pelo Ministro Dílson Funaro, o PMDB colhe sua maior vitória de todos os tempos: elege 21 Governadores e 26 Senadores.

Como essa votação esmagadora, o partido elegeu uma bancada expressiva na Assembléia Nacional Constituinte, instalada sob o comando de Ulysses Guimarães.

Orgulhoso, depois de um trabalho exaustivo, o doutor Ulysses apresenta aos brasileiros, no final de 1988, aquela que ele vai chamar Constituição-Cidadã. Trata-se de uma Carta Magna que vinha para garantir instituições democráticas fortes, como nunca antes na nossa história.

Em abril de 1989, o PMDB se reúne para escolha de seu candidato à Presidente da República. Os nomes cotados eram: Álvaro Dias, Waldir Pires, Íris Rezende e Ulysses Guimarães. No final de um processo interno de escolha, Ulysses Guimarães é aclamado candidato do partido.

Nessas eleições, ocorreu uma das maiores surpresas da história republicana, a vitória de Fernando Collor, um aventureiro. Collor era governador de Alagoas pelo PMDB e eu governava o Rio Grande do Sul. Ele chegou a me procurar na época e me disse que iria sair do PMDB, formar um novo partido e se candidatar á presidência da República. Convidou-me para ser vice dele, mas aceitava também a fórmula inversa, ele poderia ser meu vice caso eu aceitasse concorrer. Achei que se tratava de um desequilibrado. Mas, esse homem venceu as eleições, surpreendendo a todos, enquanto grandes líderes ficaram à margem.

Em março de 1991, o doutor Ulysses Guimarães transfere a presidência do Partido ao ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia. Em um discurso emocionado, diz: “Meu filho, PMDB: Vá em frente. Caminhe rumo ao sol, que é luz, não rumo à lua, que é noite. Que Deus te abençoe e a Pátria ateste: Cumpriste o teu dever!”

No ano seguinte, o PMDB teve papel central no processo que levou à cassação do mandato de Fernando Collor. Na verdade, o presidente nunca pensou que as investigações chegassem até ele. Mas, apareceu uma testemunha, uma pessoa singela, um motorista que fez as ligações todas e apresentou as provas que faltavam, os cheques de contas fantasmas que compraram um automóvel com nota fiscal em nome de Collor. Assume, então, a presidência da República um antigo militante do emedebista: o mineiro Itamar Franco.

Com grande habilidade, Itamar Franco forma um governo de coalização nacional. O PMDB desempenha papel de grande destaque na administração Itamar, caracterizada pela estabilização da moeda, retomada do crescimento econômico, criação do Plano Real e restauração da dignidade da função pública.

Viria, então, a maior perda do partido em sua história: a morte do Dr. Ulysses em um trágico acidente de helicóptero. Falecem, na mesma ocasião, a esposa de Ulysses, dona Mora, o ex-ministro Severo Gomes e sua esposa.

No pleito de 1994, o PMDB escolhe Orestes Quércia para concorrer à Presidência da República. Mas já estava desgastado politicamente e não aceitou concorrer na condição de candidato do governo, apoiado por Itamar que tinha uma aceitação popular fantástica. O presidente Itamar Franco lança então o seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, que acaba vencendo a eleição.

Na eleição seguinte, em 1998, trava-se luta interna no PMDB para definir uma posição diante da disputa pela Presidência. Por fim, o partido opta por não ter candidato próprio. E decide não dar respaldo a nenhum dos candidatos. Mesmo sem candidato ao principal cargo da República, o PMDB sai daquela eleição como a maior agremiação partidária nacional.

Em 2002, novamente, o partido decide não apresentar candidato à Presidência da República. Dá apoio ao candidato do PSDB, José Serra, no primeiro turno. No segundo turno, parte do partido respalda Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que saiu vencedor.

Começa, então, uma nova fase na vida do partido, que se estende até hoje. Uma fase menos gloriosa, eu diria.

Mas, na semana passada, o PMDB mostrou, pelo voto de milhares de seus militantes, que quer ter, este ano, finalmente, um candidato próprio à Presidência da República.

Essa é a luta que enfrentamos hoje: para que nosso partido não entre no próximo pleito a reboque de uma outra legenda, numa posição secundária indigna de sua glória e de seus quadros.

Nessa campanha das prévias, caminhamos pelo Brasil inteiro. Há muito tempo não realizamos, no conjunto partidário, uma jornada desse alcance e dessa importância. Tampouco, um grande congresso nacional para debater os rumos do partido e as nossas propostas para o País.

Um partido com a tradição do PMDB não pode se omitir dessa responsabilidade. Na história do Brasil não há exemplo igual de uma partido com a dimensão nacional que alcançou o PMDB. Os partidos nunca não foram fortes e enraizados, com idéias e princípios firmes. Eram mais agremiações restritas aos estados. Só em 1945, com a Constituinte, se formaram partidos mais sólidos. Mesmo assim, não foram construídos com base em doutrinas específicas, mas surgiram tendo como referência a figura do presidente Getúlio Vargas. Os que formavam com a oposição criaram a União Democrática Nacional (UDN), que reunia a elite urbana e setores oligárquicos que estavam fora do poder, além de intelectuais liberais. Já os partidários de Vargas criaram dois partidos: o Partido Social Democrático (PSD), da burguesia rural e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), das massas trabalhadoras que começavam a aparecer.

Quando essas siglas começaram a crescer, veio a ditadura e acabou com a liberdade partidária, impondo o bipartidarismo com a Arena e o MDB. Essa situação permaneceu até que o MDB cresceu tanto e obteve tanto apoio popular, vencendo eleições seguidas, que o regime encontrou outra fórmula para dividir a oposição, Mais uma vez, extinguiram as agremiações e criaram esses partidos que estão aí até hoje.

Tivemos duas esperanças, o PSDB e o PT. Eu hoje me pergunto se não devia ter aceitado o convite do Covas. Eu era Governador do Rio Grande do Sul e ele, dramaticamente, pedia que eu fosse para o PSDB, porque o medo do Covas era que o PSDB ficasse um partido só de paulista e não um partido nacional.

Eu fiquei fiel ao meu partido e o PSDB cresceu. Que pena que o Covas não se elegeu Presidente. Covas era um homem para ser Presidente. O Covas é um homem notável na história deste País. Não ganhou. Aí o PSDB ficou oito anos e aconteceu o que aconteceu.

Outra expectativa foi o PT - 25 anos. Vinte e cinco anos em que o PT parecia o partido que vinha para salvar. O PT era o partido dos cruzados, dos homens santos, dos idealistas, que se formou na sacristia, que tinha o apoio da Igreja, o apoio da credibilidade nacional. Era o grande partido.

E Lula, praticamente um herói, nascido no zero para ser o Presidente. Deu no que deu. Juro que rezei muito para que o PT desse certo. Juro que rezo muito para que o Lula acorde e volte ser o Lula por quem tive tanto carinho e cujas idéias eu tanto respeitei. E não sei o que aconteceu para o Lula de ontem se transformar no Lula de hoje.

E no meio dessa realidade, eu não consigo convencer o Presidente José Sarney, que é o grande líder do nosso partido, nem o Dr. Renan, que é o grande chefe do nosso partido, nem o líder, Senador Ney Suassuna. Nosso querido Renan, que, quando jovem, teve a grandeza, teve a capacidade, teve a competência de pegar o Collor, um guri, de menos de 40 anos, ali, em Alagoas. Quando Collor veio me procurar - eu, Governador do Rio Grande do Sul, em março, dizendo que queria criar um partido para ser candidato a Presidente da República - eu ri. Achei que era um bobo; bobo era eu. Porque ele fez e ganhou. O meu querido Renan apostou e apostou bem, acertou. Ah, se meu amigo Renan tivesse hoje, com a Presidência do Congresso e com a competência que tem hoje, a mesma fé no seu partido.

Nesse conjunto todo, por amor de Deus. Olho para o PT: tem o Lula, o Lula com as duas asas pisadas, amarradas, cuidadas para que ele possa se manter. Nós aqui dando mil garantias para não atingir o Palocci demais, para não atingir demais o Lula, porque achamos que é melhor o Lula e o PT serem réus do que serem vítimas, porque levaria a um impeachment, a uma situação insustentável.

Mas o PT, que é partido de discussão, de reunir, de debater, não abre a boca. O candidato é o Lula e pronto. O PT não vão se reunir, porque, se reunirem numa grande assembléia, vai se cobrar aquilo que foi feito e aquilo que não foi feito, e não tem resposta. Então, não se reúne. O candidato é o Lula.

O PSDB se reúne. Quem se reúne? Uma assembléia? Um diretório Nacional? Reúne o Presidente do Partido, Senador Tasso Jereissati; reúne o Governador de Minas Gerais. Se não tem mais café com leite, é só café. Então, ele tem uma posição importante, e pode decidir. Está lá em Minas Gerais decidindo. E se reúne o ex-Presidente da República. E tem de escolher entre dois. Então, não dá para escolher, porque o Serra foi lá no cartório e assinou: “Eu, Serra, digo que, se for eleito Prefeito de São Paulo, fico até o último dia e, se eu renunciar, ninguém vote em mim para qualquer cargo”. Não renunciou. Então, só tinha o Governador de São Paulo.

Agora, o MDB tem o Presidente Sarney, que foi um grande Presidente. Tenho dito isso e repetido: choro a morte do Dr. Tancredo, porque ele tinha história, tinha biografia, tinha atrás dele a força para fazer. Mas o Dr. Sarney assumiu naquela hora e cumpriu os compromissos. A Assembléia Nacional Constituinte saiu; as grandes reformas que ele prometeu saíram; as tentativas com o plano econômico saíram. Foi um regime democrático, aberto, amplo, respeitoso. Temos os Itamar, que foi um Presidente da República espetacular. Temos o Rigotto. Temos o Requião, duas vezes Governador do Paraná, que está fazendo um Governo excepcional. Temos o Quércia, que, hoje, já está recuperado - porque eu, que fui dos que mais bateu no Quércia, sou obrigado a reconhecer que, em 30 anos, não tem um processo, não tem uma vírgula contra ele. Temos o Garotinho. Temos o Governador de Brasília, que é um segundo Juscelino, está fazendo um Governo fantástico de obra, de realizações. Temos Jarbas Vasconcelos, duas vezes Prefeito em Recife, por oito anos considerado o melhor Prefeito do Brasil, duas vezes Governador, considerado o melhor do Brasil.

Mas, meu Deus, o MDB não tem gente em condições? Temos o Senador Renan, Presidente do Congresso, de atitude brilhante. Temos o Jobim, que está sendo apresentado aí para ser vice. Por que não apresentá-lo para Presidente, já que foi Presidente do Supremo e um homem de grandes qualidades? Então, o MDB não pode, não tem condições, não pode. Por quê? Mas que complexo de inferioridade é esse? Ah, mas agora veio o voto de cima a baixo, a verticalização que nos destruiu. Mas, se o voto de cima a baixo nos destruiu, o que dizer do PT e do PSDB? O MDB tem candidato vitorioso em condições de ganhar no Brasil inteiro. Em São Paulo, vai disputar, mas ganha no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná, Rio de Janeiro e disputa também em Minas Gerais. Temos cerca de 16 Governadores em condições de se reeleger.

E o PT, como vai fazer? Com quem ele vai fazer? E o PSDB, que só tem Governador forte em São Paulo, em Minas Gerais e no Ceará? Vai perder em Goiás. O voto vinculado de cima a baixo atinge todo mundo! O que menos é atingido é o PMDB, que é o que tem mais prefeito, mais vereadores, mais Deputados, mais Senadores, mais governadores, tem mais candidato forte, tem percentual, porque houve um momento em que o PT foi lá para cima e o MDB baixou. Hoje, em nível nacional, nas pesquisas, o PMDB está em primeiro lugar com 22%; em segundo está o PT, com 14%; em terceiro, o PSDB, com 5%. Quer dizer, o PMDB hoje é o Partido que nacionalmente tem o maior percentual de simpatia a seu favor.

Eu, com os meus 76 anos, não tinha por que está aqui a essa altura, eu podia estar em casa; eu podia estar olhando, assistindo. O PMDB podia ficar mais dez anos nessa vidinha de faz-de-conta; não foi o PMDB que pediu, não fomos nós que nos apresentamos. Se o PT tivesse dado certo, era a vez do PT, seria uma reeleição tranqüila, e eu acharia que oferecendo um vice ao PT era a grande saída. Mas a verdade é que hoje a sociedade brasileira não aceita que tenha qu escolher somente entre PSDB e PT, e mais ninguém.

Há uma ansiedade, e as pesquisas mostram isso: 80% respondem que deve haver uma terceira opção. E quem é essa terceira opção se não o velho MDB, com sua história, com sua tradição, com sua biografia? Foi o destino que nos colocou. Não fomos nós que pedimos. Não estamos rompendo portas. Não nos estamos apresentando à força. Colocaram na nossa frente uma responsabilidade de que, a não ser por covardia, não podemos fugir. É claro que temos companheiros nossos com cargos importantes no Governo. Acho isso normal e importante, mas mais importante é que tenhamos uma linha a oferecer à Nação brasileira nesta hora. E podemos fazer isso. Temos condição para fazer isso. Temos para reunir dois Presidentes, Sarney e Itamar, para contar as histórias, as dificuldades e os acertos que eles cometeram.

Por isso, nosso velho MDB faz essa reunião singela, simples, pelos seus 40 anos. Não é com festa, nem com foguete, nem com flores. É singela. Essa reunião até me lembra quando festejávamos o MDB na época da ditadura. Também era singela, só que lá as pessoas não vinham porque podia ter cassação ou outras coisas. Então, era ato de coragem estar presente. Em muitas reuniões do MDB era ato de coragem estar presente. Aqui, não. Hoje estamos numa democracia plena. É verdade que há esses exageros, como a Caixa Econômica brincando com a conta do nosso amigo, mas a democracia existe. Mesmo assim, a reunião é singela. Mas ela tem significado. São 40 anos de uma história que existe. Ninguém tirará o nome do MDB da História do Brasil.

Infelizmente, os Partidos políticos têm pouco a deixar na História do Brasil. Na Independência, foi de pai para filho: “Põe essa coroa na sua cabeça antes que um aventureiro o faça”. A República, um golpe de Estado, ninguém sabia o que estava acontecendo. As leis sociais, numa ditadura, o Dr. Getúlio assinou, e todas as leis vieram. Não há muita participação da vida política partidária. A única é a do MDB no restabelecimento da democracia. A única vez que o povo brasileiro se manifesta, avança, está presente, luta, é o velho MDB na frente, quando reconstitui a democracia.

Lá estavam os Generais. Eu me lembro: olhavam para mim e riam, mais do que agora. “Mas o que vocês querem, vocês, do MDB? Vocês estão brincando! Vocês não reparam que esses Generais do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, vocês não reparam que os grandes meios de comunicação estão todos fechados? Vocês não reparam que os grandes empresários estão fechadinhos? Vocês não reparam que o norte-americano está ali, e, se quisermos fazer um movimento de violência, se os americanos botaram milhares de soldados em São Domingos, quantos não vão botar aqui? Vocês estão ficando com a cara de bobo, rapaz!”. E nós fomos avançando. Fomos avançando e ganhamos

No início, o sentimento era anárquico, cada um dizia o que queria. Fizemos uma reunião no Rio Grande do Sul de todas as lideranças do Brasil, onde definimos o que seria o MDB:

1. Assembléia Nacional Constituinte;

2. Diretas Já;

3. Anistia;

4. Fim da tortura.

São essas quatro bandeiras que o MDB levanta. E líderes, Deputados e Parlamentares do MDB só podem levantar essas quatro bandeiras. Luta armada, guerrilha, voto em branco e não sei mais o quê não é o MDB. Foi a partir dessa organização que nós chegamos lá, partindo do nada. Hoje nós estamos aqui com uma história, com uma biografia, e com o povo olhando.

Já faríamos um grande favor se evitássemos que nessa eleição houvesse o conflito entre PSDB e PT, os dois usando a televisão para cada um contar a história do que o outro fez, e nós olharmos para um e dizermos, “é verdade”; para o outro e repetirmos “também é verdade”. Uma candidatura do MDB, no meio dessa disputa, muda o ambiente da campanha. A campanha mostraria mais o que se vai fazer do que os erros que se cometeu. Estaríamos já prestando um grande serviço à Nação se partirmos para uma eleição tranqüila e serena.

Agradeço, Sr. Presidente, a V. Exª pela gentileza e agradeço aos nobres companheiros a honra da presença. Deixo aqui a minha saudação fraterna ao velho MDB, partido que, ao longo do tempo se nega a morrer, se nega a baixar a cabeça e quer estar presente. Presente ele está, vamos ver até onde Deus permita que avancemos.

Muito obrigado.

 


Modelo1 5/20/249:03



Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/03/2006 - Página 9282