Discurso durante a 24ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao transcurso dos 40 anos de fundação do PMDB.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Homenagem ao transcurso dos 40 anos de fundação do PMDB.
Publicação
Publicação no DSF de 24/03/2006 - Página 9291
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • QUALIDADE, LIDER, SENADO, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), REGISTRO, HISTORIA, LUTA, REDEMOCRATIZAÇÃO, COMBATE, DITADURA, REGIME MILITAR, ELOGIO, ATUAÇÃO, LIDERANÇA, MEMBROS, PERSONAGEM ILUSTRE.

  SENADO FEDERAL SF -

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SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao começar o meu pronunciamento gostaria de agradecer a Deus o privilégio de ser o Líder no Senado dessa imensa força política que é o PMDB, no momento em que se comemora os seus quarenta anos de fundação.

Há quarenta anos, meus amigos, era aberta uma das mais belas páginas da vida política brasileira. Em plena noite escura do regime autoritário, nascia o Movimento Democrático Brasileiro, o glorioso MDB. Nascia para combater o arbítrio, para oferecer à cidadania o instrumento com o qual haveria de fazer a Nação reencontrar-se consigo mesma.

Como bem definiu Alceu Amoroso Lima, “a Oposição no Brasil era como uma grande floresta: cada árvore lançava suas próprias raízes, mas estas uniam-se e se emaranhavam debaixo da terra”, e o MDB surgia como uma espécie de guarda-chuva ou placenta acolhedora para dar abrigo e proteção àqueles que não se conformavam com a dialética da violência promovida pelo Estado de Segurança Nacional, aqueles para os quais resistir era preciso, aqueles que acreditavam na possibilidade de uma travessia rumo ao encontro das liberdades cívicas.

Difícil, muito difícil foi essa longa travessia. Muitos sucumbiram ante a força bruta. Outros foram levados a desistirem da empreitada, tão desigual eram as forças em jogo. Contudo, entre a imensa maioria dos que não se sujeitavam ao poder discricionário, havia o compromisso moral de conduzir altaneira a bandeira da liberdade e da democracia.

Foi assim, muitas vezes lutando contra moinhos de vento, que a luta se fez vitoriosa. Para tanto, foi preciso que, ao lado da legião de militantes, filiados e simpatizantes, em todos os recantos da Pátria, lideranças incontrastáveis conduzissem, com firmeza e serenidade, as inúmeras batalhas contra o autoritarismo.

Foi preciso que existisse Ulysses Guimarães. O velho timoneiro, experiente de antigas lutas e sempre marcado pela defesa intransigente da liberdade e da justiça, soube conduzir, como ninguém, o braço da esperança em águas revoltas. Navegar é preciso, viver não é preciso.

Quem não se recorda de maneira sublime como ele se apropriou do verso latino, que a poética sensível de Fernando Pessoa ainda mais popularizou, para nos ensinar a todos que a luta não seria em vão. Por mais que a alma doesse. Por mais que o corpo fraquejasse.

Pois essa era uma luta na qual a arma mais poderosa seria a palavra e, seu objetivo, o mais nobre de todos: oferecer à Pátria a chance de ser livre!

            Quem não se lembra do anticandidato, do Sr. Diretas Já, vestindo uma camiseta amarela onde se lia “Quero votar para Presidente”?

Como esquecer esse teimoso Moisés redivivo no Brasil do século XX sem se comover ao pensar na difícil trajetória descrita com sensibilidade e ternura por Luiz Gutemberg na biografia Moisés, Codinome Ulysses Guimarães, “para que fossem afinal cumpridos os versículos 5 e 6 do livro do Pentateuco, quando Moisés morre e nenhum homem soube até hoje o lugar do seu sepulcro?

            Foi preciso que o grande Teotônio Vilela se achegasse ao Partido que simbolizava a união das consciências libertárias. Com sua coragem cívica, o Menestrel das Alagoas emocionou o País com sua pregação iluminada, toda ela envolta na ira santa que só os gigantes de espírito podem ostentar.

Quanto mais avançava a doença, mais poderosa se tornava sua voz, mais incisiva sua mensagem, mais forte ecoava seu compromisso imorredouro com a liberdade.

Mais que ninguém, Teotônio nos ensinou, pelas palavras e pelo exemplo vivido, que a vida só tem sentido quando sustentada por princípios e pela absoluta fidelidade a ideais maiores.

Na biografia Teotônio, Guerreiro da Paz, Márcio Moreira Alves, o Marcito, expressa como ninguém o nosso sentimento sobre esse homem extraordinário que comoveu os brasileiros como nenhum outro político.

Palavras de Márcio Moreira Alves:

Não posso vê-lo em pregação sem pensar em Cid, o Campeador. Como o espanhol, também ele serviu a dois partidos tão brutalmente opostos, como mouros e cristãos.

Também ele, quem sabe, enfiado dentro de uma armadura, mantido na sela do bagual por cordas invisíveis, sairá de lance em riste para o campo da batalha, à frente do seu povo na reconquista da liberdade perdida e da pátria vendida.

Foi preciso, meus senhores e minhas senhoras, Srªs e Srs. Senadores, que Tancredo Neves estivesse nessa longa caminhada. De todos os homens públicos que pontificaram na República brasileira, ninguém o superou na capacidade de conciliar posições aparentemente antagônicas, quando em jogo estavam os interesses maiores da nacionalidade.

Ninguém foi mais brilhante do que ele na compreensão exata do significado e da dimensão de cada momento histórico. Por isso, ele foi capaz de encontrar saídas quando tudo parecia perdido. Foi capaz de acender a luz redentora quando a mais fechada escuridão prenunciava crises institucionais.

Mas, antes e acima de tudo, Tancredo nos legou uma lição imortal: conciliar não se confunde com pusilanimidade, serenidade não implica abandono da firmeza, e prudência não significa acovardamento.

Foi assim que, tendo na base a sustentação política do agora denominado Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o nosso querido PMDB, foi possível proceder-se à transição pacífica para o poder civil - e aí o papel do Presidente Sarney foi muito importante.

Os brasileiros sobreviveram a essa traumática travessia e se tornaram mais fortes. Da imensidão do mar de Angra, dos sutis contornos das montanhas de São João Del Rey e do tropel suave das folhas da cana-de-açúcar das Alagoas, três vultos gigantes sorriem no coração da Pátria. Amanhece no PMDB.

Quarenta anos depois o País é outro: economicamente estabilizado e vendo consolidadas suas instituições democráticas.

Há os que, por desconhecimento da História ou deliberada má intenção, não conseguem entender a razão pela qual o PMDB é, ainda hoje, o partido político brasileiro com maior capilaridade nacional, estando presente em todo o País.

Mas, minhas senhoras e meus senhores, o PMDB tem História, isso já foi aqui muito bem retratado pelo Senador Pedro Simon e pelo Senador José Sarney. O PMDB faz História. O PMDB, decisivo para o fim da longa noite do arbítrio, continua sendo fundamental para a governabilidade. Porque ele reflete a alma brasileira. Porque ele traduz os melhores e mais justos anseios do povo brasileiro.

A longa travessia por ele conduzida não tem fim, porque eterno há de ser o Brasil, e perene nosso compromisso com a paz, a justiça, a democracia.

Como Sarney, também digo: viva o PMDB!

            (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/03/2006 - Página 9291