Discurso durante a 26ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa da candidatura própria do PMDB à presidência da República.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Defesa da candidatura própria do PMDB à presidência da República.
Publicação
Publicação no DSF de 25/03/2006 - Página 9486
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, REALIZAÇÃO, SESSÃO ESPECIAL, SENADO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • ANALISE, POLITICA PARTIDARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), APOIO, CANDIDATURA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • FRUSTRAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), PREJUIZO, APOSENTADO, REGISTRO, VOTO CONTRARIO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Saúdo a Senadora Serys Slhessarenko, que preside com muita elegância esta sessão de sexta-feira, 24 de março; as Senadoras e os Senadores; os brasileiras e as brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo Sistema de Comunicação.

Senador Arthur Virgílio, “Deus escreve certo por linhas tortas”. Atentai bem, brasileiros!

O pai de V. Exª era do PTB, não era, Senador Arthur Virgílio? Entrou no MDB, foi cassado aqui. “Árvore boa dá bons frutos”, isso está também no livro de Deus. “Deus escreve certo por linhas tortas.” O MDB, que veio do PTB, do Trabalhismo do Vargas, comemorou ontem 40 anos. Represento, Senador Arthur Virgílio, o PMDB de verdade, o PMDB de vergonha. Atentai bem, Arthur Virgílio, meditai: são 40 anos!

Ontem, o Senado fez uma reunião. Esse Partido de tanta história nos trouxe a redemocratização, enfrentou os canhões. Deu-nos Ulysses, que Deus encantou lá no fundo do mar; Teotônio Vilela, que, moribundo, pregava a democracia; Tancredo, que se imolou; Juscelino, humilhado e cassado aqui.

Senador Arthur Virgílio, o Partido fez 40 anos ontem. Esse Partido tem mais de oitenta Deputados federais, Senadora Serys Slhessarenko, mais de 22 Senadores, nove Governadores, mais de mil Prefeitos, oito mil Vereadores e mais de dois milhões de filiados.

Ontem, deu-se a sessão comemorativa dos 40 anos do PMDB, e, Senador Arthur Virgílio, Deus me permitiu não estar nela. Sou do PMDB do povo, da história, da vergonha e da verdade. Para preencherem aqui - é a vergonha! -, foram buscar nos gabinetes funcionários, faxineiros e serventes. Aprendi que é mais fácil tapar o sol com uma peneira do que esconder a verdade. Foi a isso que levaram e que estão levando o nosso PMDB.

Ouviu-se a voz vibrante e emocionada de Ramez Tebet e de Pedro Simon, tentando reconduzir, reaproximar o PMDB com o compromisso com o povo, por uma candidatura própria. Não entendo por que um Partido desse tamanho, com tantas pessoas que se julgam capazes, Senador Arthur Virgílio, não adota a postura de Rui Barbosa diante da repetição da história. No início da República, os militares queriam perpetuar-se - Marechal Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto - e convidaram Rui Barbosa a permanecer como Ministro. Atentai bem, Senador Arthur Virgílio! Deram a Rui Barbosa a chave do cofre, o Ministério da Fazenda, mas ele disse: “Não troco a trouxa de minhas convicções por um Ministério!”. Estão trocando as convicções de todos nós, que fizemos a democracia, que fizemos o MDB, o Partido que enfrentou os canhões da ditadura, mas que se está enlameando na corrupção. Ulysses nos ensinou que a corrupção é o maior mal da democracia.

Portanto, esperamos que meditem aqueles que fizeram a história, aqueles militantes, os Vereadores, os Prefeitos, os delegados, os suplentes de delegados, os que se aproveitaram do Partido como uma avenida para chegar ao poder. Como no passado surgiu o movimento do MDB Autêntico, que surja agora o movimento do MDB de verdade, do MDB de vergonha, do MDB que não se vende. É isto o que esperamos: que o PMDB continue ligado ao seu compromisso com o povo, que é a razão de ser do PMDB. Foi tendo isso em mente que Ulysses disse: “Ouçam a voz rouca das ruas”.

Quem está na rua é o povo, que é a destinação correta do nosso Partido. Não entendo esse desserviço à democracia. Não entendo que os vendilhões não tenham condições de se apresentar numa convenção e de disputar. Estou falando de um Partido que tem em seus quadros dois ex-Presidentes da República que cumpriram suas missões em momentos difíceis, Sarney e Itamar.

Dois jovens ofereceram sua coragem e sua inteligência e saíram por aí dando ensinamento a todos os traquinos que estão a vender o PMDB por posições. Essa é a verdade.

Senador Arthur Virgílio, está no livro de Deus que casa dividida é facilmente derrubada. Abraham Lincoln, inspirado nisso, disse: “este país não pode ser metade livre e metade escravo”. Daí, nos Estados Unidos, a federação está forte.

Voltemos ao PMDB. O resultado é que a Câmara está digladiando quem é o Líder. Aqui, somos 22. Não há esse negócio de unidade, não. Arthur Virgílio, aqui a disputa está doze a dez; somamos nomes para tentar até destituir o Líder. Essa é a verdade. Estão enganando o Lula. Não vão levar o PMDB a nada.

E o Lula e o PT estão fazendo um estupro na democracia. Estupro, Senador Arthur Virgílio, é aquele crime odiento em que se pega uma mulher, que se leva para a cama e se força a ter relação sexual. É um dos mais... Até nos cárceres não é perdoado pelos bandidos. E o que se está fazendo é um estupro da democracia. O PT, por intermédio do Lula, quer casar, quer juntar o PMDB com ele; casar para ir para o leito nupcial da eleição, para o banquete da democracia.

Nós não queremos esse pesadelo. Não queremos! É isso que vocês querem? A corrupção, a cueca, dólar, a sem-vergonhice, a falta de ética? Nós não queremos. Estão vendendo o que não vão levar. Não vão!

O PMDB de verdade vai às convenções. Estão aí os dois nomes. Garotinho ganhou e está aí, um homem de luta. Não venham com essa... Atacar é bom. Por que não enfrentaram, palhaços do PMDB? Por que não enfrentaram, diante dos militantes, as convenções? Frouxos, traidores! Por que não se apresenta um nome desses, que tem mais dignidade para convenção, para ser julgado pelos convencionais, pelas bases, pelos militantes? Senador Arthur Virgílio, eles estão sendo vaiados aí fora. Por quê? Esses deviam ir e assumir esse compromisso.

Não existe esse negócio. Somos uma Federação. Esse negócio de dizer que é partido de ilhas... Ilha é uma ova! O partido é da Federação. A Federação é um pacto dos Estados com o comando da União. Nós passamos... Isso é ignorância!

Senador Arthur Virgílio, é como capitania hereditária: um PMDB daqui, um PMDB dali. Que negócio é esse? Foi nos primórdios que Portugal, vendo esta Pátria, mandou ocuparem-na. E pagamos caro por isso, porque, às vezes, justamente pessoas envolvidas com mau comportamento e que tinham dinheiro vinham para o Brasil. Querem voltar à capitania hereditária. Que desserviço! Que indignidade! Que falta de vergonha!

Depois, na história, evoluímos: o Governo Geral, a República, a Federação, o pacto. Senador Arthur Virgílio, isso não existe, como os cartolas estão pregando, mentindo, desonrando.

(A Srª Presidente faz soar campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Faltam quantos minutos para meia hora?

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - V. Exª tem, pelo horário previsto, mais um minuto.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não! O direito é igual para todos. A encantadora Senadora Ana Júlia Carepa usou trinta minutos. Eu somei. Mas eu queria até mais. Gostaria que V. Exª voltasse...

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Senador, continue o seu discurso.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Carreiro, a que horas comecei a falar?

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Exatamente às 12 horas. Já prorroguei cinco minutos e estou prorrogando mais.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Prorrogue para as 12 horas e 30 minutos.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Então, continue falando.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não. Aqui, solamente Deus. O PT já basta querer tirar a presença do PMDB no banquete da democracia, que é uma eleição, mas da tribuna vai ser difícil. Estou aqui porque estou defendendo o PMDB. Estou por ele, porque era um grandioso partido, e foi ele que me trouxe até aqui.

Eu disse certas profecias, Senador Arthur Virgílio. Eu dizia que, desse núcleo duro, nenhum iria entrar aqui. Eu disse isso há três anos. Eu sabia a psicologia.

Queremos a nova geração, essa mocidade conscientizada de que a democracia é do povo, que foi quem a construiu das ruas, gritando: liberdade, igualdade e fraternidade! Derrubaram-se todos os reis para isso. Não vai ser diferente aqui no Brasil.

Estamos aqui para esse PMDB ser forte, para que venham outros, Senador Arthur Virgílio, assim como cheguei aqui. Isso só vai acontecer se esse Partido for grande e acreditado. Não confundam popularidade com credibilidade. Se rasgarem o PMDB, ele perderá essa credibilidade.

Digo isso de cátedra. Na última convenção, votei em Requião para ser o candidato a Presidente. Não participei da negociação. Senadora Serys, tenho meus conceitos: entendo que partido político não é lugar para bandido, não é lugar para ladrão. Daí querermos o melhor para o PMDB. Que ele venha para ser julgado pelo povo, em sua credibilidade e grandeza, e não fuja.

Ouço o aparte do Senador Arthur Virgílio, que revive aqui a história de seu pai, que sofreu na ditadura e que o MDB fez voltar à democracia.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Mão Santa. No aparte a V. Exª, registro que cheguei a ser Deputado Federal pelo PMDB, ainda no período do regime autoritário; fui filiado ao MDB e eleito Deputado Federal pelo PMDB. Um Partido com quarenta anos, com muita história, com forte enraizamento na memória popular e no cotidiano da nossa gente, o PMDB é visto por meu Partido com muito respeito, e, por isso, não nos intrometemos na luta interna que imaginamos faça parte do jogo político e democrático desse Partido. Mas digo a V. Exª, quando registro também os meus parabéns - perdi, infelizmente, a sessão de homenagem ontem - pelos quarenta anos do seu PMDB - Partido que já foi meu quando representava a grande frente democrática contra o regime de força -, que o PSDB está pronto para, no primeiro turno, confrontar-se democraticamente com o candidato que seu Partido escolha e que, havendo segundo turno, não teríamos dificuldade alguma de estarmos juntos. Creio que essa é uma proposta a ser levada com muita seriedade. Estamos prontos para o entendimento em favor de um País que seja livre, sem sigilos quebrados ilegalmente, justo, sem perseguições a caseiros, enquanto os mandarins da corrupção estão soltos; um País fraterno, sem o aparelhamento da máquina de Estado, como estamos vendo hoje; um País, enfim, que se pareça com os sonhos de V. Exª e com os meus sonhos. Muito obrigado. Parabéns a V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço a participação de V. Exª, que representa muito neste momento da democracia e em seu passado tem a história de seu pai.

Quero dizer que, dessa convenção difícil, complicada, saiu um candidato: Anthony Garotinho. Ninguém pode negar a sua vida, a sua luta.

Senadora Serys Slhessarenko, V. Exª sabe por que esse apelido? A inveja e a mágoa corrompem os corações. Os cartolas que estão vendendo o PMDB têm inveja e mágoa porque não têm o povo. Esse apelido se deve ao fato de ele, menino, aos quinze anos, ter trabalhado como radialista. Que exemplo bonito! Naquela época, diziam-lhe: “Vai lá, garotinho, entrevistar aquele jóquei!” Tudo isso aos quinze anos, muita luta!

Perdeu eleições, ganhou eleições. Foi Vereador, foi Deputado, foi Prefeito da sua cidade por duas vezes - o que é importante - e Governador. Renunciou; entregou ao PT. Candidatou sua mulher e ela ganhou. Isso no Estado mais importante do País, o Rio de Janeiro - São Paulo pode ter um pouquinho mais de dinheiro, mas história tem o Rio. Fiz minha pós-graduação no hospital dos Servidores do Estado.

Ontem, Senador Arthur Virgílio, eu não estava aqui. Deus escreve certo por linhas tortas. Se estivesse, ficaria constrangido. O PMDB fez 40 anos, mas cadê a festa? Cadê os Líderes? O Partido tem dois milhões de filiados, oito mil Vereadores, mil Prefeitos, nove Governadores, 82 Deputados Federais, milhares e milhares de Deputados Estaduais, 22 Senadores. Cadê a festa? Olhem o que estão construindo. Deixem o PMDB entregue àqueles que tem o ideal da democracia.

Senadora Serys Slhessarenko, estou encantado por olhar V. Exª. Gosto daquela novela Belíssima. V. Exª está empatando ou ganhando daquelas atrizes. Terá de me aturar, porque vou igualar ao tempo da Senadora Ana Júlia Carepa, do PT. Faltam três minutos, o suficiente para eu dizer e repetir o que disse desta tribuna com a grande decepção daquela medida provisória que tirava dinheiro dos aposentados, dos velhinhos. Não vai haver mais ninguém aposentado. Eu sou médico.

Olha, quem começa a trabalhar cedo é pobre - rico fica parado -, com nove, dez anos. Chegar a 65 anos? Jamais! Eu sou mecânico de gente, sou médico. Uma máquina que foi construída, o automóvel, na inspiração dos engenheiros da máquina humana. Não tem a gasolina? É o alimento. Não se movimenta? Uma máquina de ferro dura cinco, dez anos. A máquina humana vai de 10 anos a 65 anos. Trabalhar 55 anos para se aposentar? Jamais! Está com a coluna toda quebrada. Então, acabou! Foi a pior praga!

Diante daquela medida provisória arrasadora, eu podia ter me vendido! Eles tentaram me comprar! Eu podia ter votado calado, escondido, mas fiz questão de votar aberto. E repito que três coisas só fazemos uma vez na vida: nascer, morrer e votar no PT.

Não, mas a democracia não tem nada com V. Exª e com o PT. Foi o povo. E na democracia temos a sagrada esperança da alternância do poder. E, para isso, queremos o PMDB participando para que o povo, soberano, decida os destinos da Pátria.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/03/2006 - Página 9486