Discurso durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque para as comemorações, em 2006, dos 80 anos da Semana Regionalista, promovida pelo sociólogo Gilberto Freyre, em Recife, em 1926.

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL. HOMENAGEM.:
  • Destaque para as comemorações, em 2006, dos 80 anos da Semana Regionalista, promovida pelo sociólogo Gilberto Freyre, em Recife, em 1926.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2006 - Página 9526
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL. HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, REALIZAÇÃO, SEMANA, CULTURA, AMBITO REGIONAL, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), IMPORTANCIA, ATIVIDADE CULTURAL, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, REGIÃO.
  • HISTORIA, ANALISE, EVOLUÇÃO, IMPORTANCIA, REGIONALIZAÇÃO, TRADIÇÃO, CULTURA, LITERATURA, BRASIL, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AUTORIA, PROFESSOR, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), ESTUDO, OBRA LITERARIA, ESCRITOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).

  SENADO FEDERAL SF -

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SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, nobre Senador Papaléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, minhas senhoras e meus senhores, um continente formado por arquipélagos econômicos e culturais era como Viana Moog via o Brasil, conforme assim se expressou em conferência proferida em 1942. De lá para cá, Sr. Presidente, o Brasil vem-se integrando por intermédio de todos os tipos de estradas, inclusive as eletrônicas e virtuais, e por meio também do processo migratório. Mesmo assim, persistem - a meu ver afortunadamente - diferenças típicas próprias da terra, clima e origens étnicas e culturais de cada região e até de sub-regiões dentro delas.

A diversidade interna do Brasil torna difícil registrar, no campo literário, o começo de cada regionalismo. Ele pode se ter iniciado no Nordeste, com a Casa de Palha, de Franklin Távora, em 1866, mesmo ano da obra O Ermitão de Muquém, publicado pelo mineiro Bernardo Guimarães, sobre tema goiano, demonstrando a força dos diversos regionalismos. Outros escritores regionalistas se sucederam da Amazônia ao Rio Grande do Sul, inclusive passando por São Paulo.

Eu desejaria, por oportuno, dentro desse quadro, registrar o transcurso, em 2006, dos 80 anos da Semana Regionalista, promovida por Gilberto Freyre, no Recife, em 1926, dois anos após a criação do Centro Regionalista do Nordeste. Tal não se passou por acaso, Sr. Presidente.

Pernambuco tem forte consciência de si mesmo e do Brasil, estruturada institucionalmente, diria, desde a fundação do Seminário de Olinda em 1799, instalado pelo Bispo Azeredo Coutinho em 1800, e da Faculdade de Direito do Recife em 1827, mesmo ano da criação de sua irmã, a Faculdade de Direito de São Paulo, do Largo de São Francisco. Da Faculdade do Recife emergiu o grande movimento jurídico e filosófico nacional de Tobias Barreto e Sílvio Romero, na denominada Escola do Recife. A força intelectual de Pernambuco e do Nordeste ficara evidente também na Semana Regionalista do Recife em 1926 - a que já aludi -, ambiente gerador de A Bagaceira, de José Américo de Almeida, em 1928; O Quinze, de Rachel de Queiroz, em 1930; Menino de Engenho, de José Lins do Rego, em 1932; Caetés (1933), e São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos. Ainda no ano de 1933, Amando Fontes publicava Os corumbas, e o potiguar Luís da Câmara Cascudo começava a produzir sua vasta obra, especialmente no folclore.

Era uma ampla constelação nordestina, do Ceará à Bahia, esta com Jorge Amado. Convém salientar, por oportuno e importante, sua contribuição com O País do Carnaval, logo sucedido pelo seu ciclo de Ilhéus, de Cacau a Gabriela, cravo e canela e por muitos outros livros de sua lavra.

De alguma forma, a sua obra teve continuação por intermédio de sua companheira Zélia Gattai sobre a Bahia e o mundo. Daí o artigo de Tristão de Athayde, pseudônimo literário do pensador Alceu Amoroso Lima, intitulado São os do Norte que vêm.

À época, Sr. Presidente - V. Exª era muito jovem -, os nordestinos ainda não eram assim definidos. Chamavam-nos genericamente de “nortistas”, o que compreendia os Estados do Nordeste e do Norte do País. Daí o título do estudo do grande humanista Alceu Amoroso Lima, quando se refere a São os do Norte que vêm.

Já em 1878, José Veríssimo escrevia Quadros Paraenses, seguido por Inglês de Sousa, também sobre a Amazônia. Regionalismo extensivo a São Paulo, com Valdomiro Silveira; Rio Grande do Sul, com Simões Lopes Neto e Minas Gerais, com o primeiro Afonso Arinos, tio do nosso ex-colega de Parlamento Afonso Arinos de Melo Franco.

O regionalismo prossegue intenso e denso na literatura brasileira até os dias atuais com Guimarães Rosa e Ariano Suassuna entre outras expressões do gênio criativo do nosso povo.

Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Semana Regionalista do Recife, em 1926, possuía raízes também sociais, além de culturais. O brasilianista americano Robert M. Levine demonstrou as peculiaridades do nosso federalismo nos albores da vida republicana, a chamada República Velha, deflagradoras de um novo ciclo político, social e cultural com a Revolução de 1930, sob a égide da aliança liberal, que teve, no Nordeste, sua principal base na Paraíba, com a figura de João Pessoa.

Sr. Presidente, Gilberto Freyre, vindo de estudos universitários realizados nos Estados Unidos e Inglaterra, a partir da segunda década do século XX, passara a escrever artigos no Diário de Pernambuco, um dos jornais mais antigos da América do Sul, nos quais ele analisava a realidade brasileira e nordestina, compreendendo então que as idéias estrangeiras precisavam ser reaculturadas para não serem apenas inviáveis imitações.

Talvez, em conseqüência disso, lhe surgiu a idéia de realizar a já citada Semana Regionalista do Recife, reunindo não só escritores, mas também pintores, cientistas sociais e jornalistas, estendendo suas preocupações à alimentação e aos trajes, passando pelo urbanismo e arquitetura. Pode-se dizer que o evento foi, no Brasil, o mais completo até hoje no gênero, inclusive com Manifesto, ensejando significativas reverberações que se prolongam nos nossos tempos.

Ao analisar esse processo cultural, o escritor e crítico literário Wilson Martins questionou, em agosto do ano passado, no Jornal da Poesia, se a formulação do Movimento de 1926 teria sido apenas na forma verbal, pois a primeira edição do seu texto somente apareceu 25 anos depois.

Isso demonstra, na minha opinião, a força intelectual de Mestre Freyre, ao fazer germinar o movimento cultural de envergadura que transvasou do Recife para todo o País e todo o continente. Manoel Diegues Júnior, na mesma direção, opina que, a partir de 1926, os meios culturais de Pernambuco e do Nordeste se agitaram, projetando toda uma geração de escritores, poetas, artistas em geral, produzindo uma contribuição expressiva à compreensão do Brasil e, em particular, do Nordeste.

Alguns críticos pretendem opor a Semana Regionalista, de 1926, do Recife, à Semana de Arte Moderna de São Paulo, de 1922. Na realidade, assim penso, elas se completavam, pois, como é notório, houve igualmente regionalismo na Semana de 1922, com Menotti del Picchia, por exemplo, em Juca Mulato; Cassiano Ricardo em Martim Cererê; e até Raul Bopp, com Cobra Norato, sobre a Amazônia.

Basicamente, o tema das duas Semanas era a proposta de redescoberta cultural do “Brasil brasileiro”, diversificado, porém convergente dentro de si próprio, estabelecendo seus enlaces com os regionalismos estrangeiros. Gilberto Freyre conhecera pessoalmente o regionalista americano Vachel Lindsay, que inspirará, por exemplo, poetas e escritores como Ascenso Ferreira.

Regionalistas de todo o Brasil e modernistas paulistas, cariocas, mineiros e gaúchos - não nos esqueçamos de Carlos Drummond de Andrade, então em Belo Horizonte; Augusto Meyer, em Porto Alegre, e o pernambucano Manoel Bandeira, morando no Rio de Janeiro - deram novo impulso à nossa Literatura, às artes plásticas e até à arquitetura e ao urbanismo. Não olvidemos também a influência modernista, não só estrangeira, em Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Ceschiatti, em Brasília.

Foi, portanto, extensa e não só intensa a repercussão do Modernismo, de 1922, e do Regionalismo, de 1926, que se entrecruzaram e produziram a cultura brasileira.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Marco Maciel, V. Exª me concede um aparte?

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Pois não, ouço, com prazer, V. Exª, nobre Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª é um excepcional homem, de quem todos do Nordeste nos orgulhamos. V. Exª assumiu, por 81 vezes, a Presidência da República, e, em nenhum instante, ninguém do Brasil recriminou V. Exª como Presidente da República. Muito pelo contrário, há uma gratidão pelo equilíbrio e pela maneira como V. Exª presidiu este País.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Obrigado.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Mas não sei se V. Exª é mais vitorioso na política ou como homem da Literatura. V. Exª também representa muito bem a cultura do Nordeste na Academia Brasileira de Letras. No fim de semana, tive a oportunidade de estar presente na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, presidida pelo Senador Antonio Carlos Magalhães, no Rio de Janeiro, quando se prestava uma homenagem a Evandro Lins e Silva, jurista, nascido na minha cidade, Parnaíba. Ele se iguala a Rui Barbosa. Fizemos um pronunciamento. Logo após o ex-Senador Bernardo Cabral se manifestar, eu disse que, talvez, o último livro que Evandro Lins e Silva escrevera fora por nossa inspiração. Fui convidado a ser paraninfo de uma turma de Direito de uma faculdade fundada por mim em Parnaíba, nossa cidade natal. E convenci os alunos de que a homenagem deveria ser transferida a ele, que, já com idade muito avançada, teve dificuldade, só querendo ver as raízes que fez voltar. E assumi o compromisso de dar-lhe um cachê, imprimindo, assim, por meio da colaboração do melhor jornalista do Piauí, Zózimo Tavares, um livreto que se assemelhasse à Oração dos Moços, de Rui Barbosa; foi o último trabalho de Rui Barbosa, também paraninfo de concludentes. Ele não pôde nem ler, mandou um amigo. Fizemos isso. Mas o combinado, com o acompanhamento de Zózimo Tavares, era para ele pedir para ser lançado na Academia de Letras, mas, infelizmente, na data marcada, o Governo do Piauí, que eu representava, transferiu-se para lá - foi na morte de Roberto Campos. Como não coincidia, consegui que um empresário fizesse a festa. V. Exª relembra Gilberto Freyre, que é muito importante. O primeiro livro grande que li, mesmo, foi no curso ginasial, a mando de Zé Rodrigues Silva, o maior professor de Português, que foi meu e educou João Paulo dos Reis Velloso. Lembro-me de quando o Ministro chegou em Parnaíba, eu era Deputado e Lucídio Portella era Governador, um cortejo recebeu-o. De repente, Senador Papaléo Paes, ele disse: “Pára, pára, pára.”. Pararam o cortejo: era a casa do professor. Ele foi prestar uma homenagem. Esse professor me ensinou e o primeiro livro sério que me mandou ler foi de Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala. Ele é isso tudo que V. Exª diz e é quem melhor relata a nossa história no período colonial. Em V. Exª, não sei se é melhor o político ou o homem culto, Senador Marco Maciel, mas, de qualquer jeito, somos orgulhosos desse homem nordestino.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Muito obrigado, nobre Senador Mão Santa. V. Exª lembrou a figura de Evandro Lins e Silva, uma personalidade que todos muito admirávamos e que tinha, também, uma raiz pernambucana.

Sr. Presidente, prossigo e vou sintetizar, para que possa concluir minha oração no tempo que V. Exª me destinou.

Eu gostaria de chamar a atenção que o regionalismo chegou à própria política econômica, por meio da criação da Sudene, para o Nordeste, da Sudam e da Suframa, para a Amazônia, e da Sudeco, para o Centro-Oeste, em projetos de planejamento regional, cujos primeiros passos foram empreendidos na Presidência Kubitschek, com objetivo igualmente de modernizar o País.

Antes houvera a pioneira experiência da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, sem deixar de mencionar também a Comissão do Vale do São Francisco, com planos destinados a fazer o aproveitamento do “Velho Chico”, o rio da unidade nacional, como o batizou o historiador João Ribeiro, para o abastecimento de água das cidades e irrigação, entre outros objetivos.

Também cabe lembrar a criação dos bancos de desenvolvimento regional:, entre eles o Banco do Nordeste, por ter sido o primeiro, e posteriormente, na Amazônia, o BASA e no Sul, o BRDE.

O regionalismo, no que tem de melhor para além dos bairrismos, continua vivo e forte nos dias atuais, num País de vastas dimensões territoriais e grande expressão demográfica. O estudo das experiências estrangeiras de irrigação e o planejamento regional contribuíram para o conhecimento da viabilidade das necessidades nacionais. O regionalismo liga-se diretamente ao federalismo do cultural, político, econômico e social ao institucional.

O regionalismo do Nordeste é tradicionalista quanto à fidelidade às fontes populares, tanto quanto o modernismo, em alguns de seus principais representantes, se diz nacionalista, porém no sentido de preservação de nossas riquezas. Modernismo e regionalismo brasileiros são includentes, jamais excludentes, permeados, explicavelmente, de grande diversidade de opiniões.

Gilberto Freyre, recorde-se, começara suas pesquisas regionalistas pelos regionalismos dos Estados Unidos, no sul daquele país, assistido pelo seu colega universitário Francis Butler Simkins. Outro colega, Rudiger Bilden, de origem alemã, interessava-se mais pela miscigenação com africanos, no Sul dos Estados Unidos e Nordeste do Brasil. Depois, o nosso Freyre se interessou pelo regionalismo provençal de Frederic Mistral, no Sul da França: sempre regiões meridionais caracterizadas por clima quente e por populações miscigenadas com negros na América e com árabes na Europa. 

Foram as primeiras lições de aproximação de Gilberto Freyre à tropicologia, que ele veio a desenvolver num seminário permanente que se realizava, todo o mês, no Instituto Joaquim Nabuco de Estudos e Pesquisas Sociais, criado por lei de sua iniciativa, hoje denominado Fundação Joaquim Nabuco.

Portanto, o regionalismo de 1926 nunca teve nada de regressismo no seu tradicionalismo, do mesmo modo que o defensivo nacionalismo modernista de 1922 jamais enveredou pela xenofobia. As posições pessoais, em ambos os casos, foram moderadas nos dois movimentos.

A obra de Gilberto Freyre teve, como se sabe, repercussão mundial: foi traduzida em muitas línguas, com reedições, e interpretada por professores das melhores universidades nacionais e estrangeiras.

Sr. Presidente, para concluir, gostaria de dizer que trago também à consideração desta Casa o fato de haver sido recentemente lançado, no instante em que se recordam os 80 anos da Semana Regionalista encetada por Gilberto Freyre, o livro intitulado Gilberto Freyre: um vitoriano dos trópicos, de autoria de Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke, brasileira, professora da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e casada com o reputado historiador britânico Peter Burke.

Ela percorre o fio da meada da influência intelectual inglesa em Gilberto Freyre, de início anglo-americana, posto que ele primeiro esteve nos Estados Unidos e somente depois foi para a Inglaterra, até o seu bacharelado na Universidade de Baylor e mestrado na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Depois, ela se reporta à presença de Gilberto Freyre em Oxford, em inconcluso doutoramento. Gilberto Freyre não concluiu o doutoramento porque preferiu voltar ao Brasil para pesquisar e dedicar-se a produzir sua tão admirada obra.

Nas influências pessoais por ele recebidas avultam as de Andrew Joseph Armstrong, humanista e escritor em Baylor, e Franz Boas que veio a fazer escola renovadora dos estudos antropológicos, a partir de Colúmbia.

Outros grandes professores teve ele em Baylor, Colúmbia e Oxford. Beneficiou-se do grande florescimento intelectual geracional entre as duas guerras mundiais, mas fiel ao Brasil, Nordeste, Pernambuco e Recife, como sempre frisava, embora sem bairrismos, uma vez que teve amigos em todo o País e em todos os partidos políticos. Eleito deputado federal, participou da Constituinte de 1946, quando se destacou na luta contra a discriminação racial, cujos direitos foram depois ampliados no projeto de lei de Afonso Arinos de Melo Franco e na Constituição de 1988.

A Inglaterra, chamada vitoriana por descender diretamente dos tempos da rainha Vitória, mudou muito a forma de Gilberto Freyre ver os problemas, como se deduz da análise de dois de seus livros: Ingleses (1942) e Ingleses no Brasil (1948). Daí também haver assumido a defesa da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial, quando se jogava o próprio futuro da Humanidade, conforme ele salientou na conferência denominada Uma cultura ameaçada (A luso-brasileira), que foi pronunciada em 1940.

A professora Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke estuda extensa e acuradamente os itinerários do Mestre Freyre nas fontes dos autores britânicos, que mais influenciaram o sociólogo-antropólogo brasileiro, também nordestino e pernambucano.

Concluo, Sr. Presidente, citando Edson Nery da Fonseca, professor emérito da Universidade de Brasília e considerado um dos mais completos conhecedores da vida e obra de Gilberto Freyre. Ele não hesita em assinalar, em artigo publicado no Jornal do Brasil de 11 de fevereiro de 2006, constituir-se a obra:

Mais do que uma biografia intelectual, o livro da autora paulista radicada em Cambridge é um estudo de literatura comparada, disciplina que, salvo engano, ainda não é oferecida nas universidades brasileiras. Inspirada nas idéias de Schlegel e Goëthe e nos estudos de Madame Stael, a literatura comparada foi fundada, em 1829, pelo francês Abel François Villemain e teve logo seguidores ilustres como Sainte-Beuve e Matthew Arnold e, no século 20, René Wellek, Leo Spitzer e Eric Auerbach, sem esquecer nosso grande contemporâneo George Steiner. Estudando a forte influência de autores ingleses do período vitoriano na formação intelectual e moral de Gilberto Freyre, Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke coloca-se no mesmo nível dos citados comparativistas.

Conclui o professor Edson Nery da Fonseca:

Não exagero nem faço retórica. Como conhecido gilbertólogo - desculpem a nota pessoal - depois de ler e reler o livro Gilberto Freyre: um vitoriano dos trópicos, estou pensando em não mais publicar o volume no qual reuniria tudo o que escrevi sobre o Grande Pensador, de 1945 a 2000. Parafraseando uma referência de Gilberto Freyre a Oxford, em seu diário íntimo, direi que depois do livro de Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke ‘tudo para mim será medíocre’.

            Muito obrigado a V. Exª, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2006 - Página 9526